segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Ministro dos Transportes: ‘Malfeito há em todo lugar’
De passagem pelo Rio Grande do Norte, o ministro Alfredo Nascimento (Transportes) foi inquirido sobre as denúncias de corrupção no escritório local do Dnit.
“Não sou fiscal. Eu sou ministro de Estado. [...] As falhas e malfeitos existem em todos os lugares”, disse ele.
Em novembro de 2010, a PF levou ao asfalto a ‘Operação Via Épia’. Prendeu sete pessoas. Realizou nove batidas de busca e apreensão de documentos.
O inquérito apura desvios de pelo menos R$ 2 milhões em obras de duplicação de uma rodovia, a BR 101. Um empreendimento do PAC.
Entre os encrencados está Fernando Rocha, superintendente afastado do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
Investiga-se também o engenheiro Gledson Maia. Foi preso em flagrante, num restaurante de Natal.
Os agentes pilharam Gledson no instante em que almoçava com um empresário. Sobre a mesa, uma mala com R$ 50 mil –propina, segundo a PF. Ele nega.
Gledson trabalhava no Dnit por indicação do tio, o deputado federal João Maia (PR-RN). No Estado, Maia é a principal estrela do PR, partido presidido por Nascimento.
Um dos compromissos do ministro no Rio Grande do Norte foi uma vistoria em trecho da BR 101, a rodovia que a PF esquadrinha.
No domingo passado (23), submetido a chuvas fortes, um pedaço da rodovia afundou. Abriu-se uma cratera.
Pois bem. O ministro vistoriou o buraco tendo a tiracolo o deputado João Maia, o tio do engenheiro acusado de morder empresários.
A despeito disso, Nascimento sentiu-se à vontade para defender o seu partido. Disse coisas assim: “As pessoas não têm nada a ver com a vinculação que elas tenham”.
Ou assim: “O PR é responsável pelo Ministério dos Transportes e eu sou ministro e presidente nacional do partido...”
“...Agora quando se pratica o malfeito, se pratica em qualquer atividade profissional. Se o jornalista praticar um malfeito, você se responsabiliza pelo malfeito que ele fez, sendo jornalista? Claro que não”.
Leia abaixo trechos da entrevista de Nascimento:
- A vinda do sr. ao Estado também é para fiscalizar essa questão de denúncias de superfaturamento em obras do Dnit no RN? Não sou fiscal. Eu sou ministro de Estado. Não era ministro quando isso ocorreu. Não vou permitir que ocorra esse tipo de problema. Se ocorrer, o responsável sera demitido. As falhas e malfeitos existem em todos os lugares.
- Mesmo com essa investigação, o consórcio de empresas continua executando as obras da BR-101? Os recursos são do Ministério dos Transportes e as empresas contratadas estão executando a obra, que no contrato tem prazo de conclusão previsto para agosto de 2011. [...] As obras estão sob controle. [...] Quanto ao rompimento da BR-101 isso foi uma fatalidade e nós viemos aqui atendendo pedido da governadora [Rosalba Ciarlini] com ação imediata para ter uma solução definitiva...”
- Qual a posição do PR em relação a essa investigação no Dnit do RN? As pessoas não têm nada a ver com a vinculação que elas tenham. O PR é responsável pelo Ministério dos Transportes e eu sou ministro e presidente nacional do partido. Agora, quando se pratica o malfeito, se pratica em qualquer atividade profissional. Se o jornalista praticar um mal feito, você se responsabiliza pelo malfeito que ele fez, sendo jornalista? Claro que não. Não podemos prejulgar e culpar todos os componentes do PR, se um componente do PR pratica malfeito. Assim a gente estaria generalizando. Isso acontece... Tem gente boa e gente ruim em tudo o que é lugar. Mas, independentemente de ser do partido, se fez errado, sai.
Alfredo Nascimento segue o manual. Ocupa um ministério prenhe de obras em nome de seu partido. Abre os órgãos de sua pasta à ocupação companheira.
No instante em que pipoca um escândalo, diz que os malfeitos estão "em todo lugar" e que “as pessoas” do partido “não têm nada a ver” com coisa nenhuma.
De quebra, o ministro desfila na borda do abismo ciceroneado pelo deputado que empurrou para dentro da máquina um sobrinho-problema. Uma beleza.
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