terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A corrupção endêmica e o aparelhamento tucano em São Paulo

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Segundo um dos maiores juristas do país, o PSDB conseguiu aparelhar um sistema de controle sobre a Assembleia Legislativa, as polícias, o Judiciário e o MP.
Garantindo que não desistirá de denunciar “a impostura política que prevalece neste país sob a forma constitucional”, o jurista Fábio Konder Comparato, uma das maiores autoridades do mundo Jurídico do país, analisa a fragilidade da democracia brasileira, a corrupção endêmica no país e, também, a sistemática blindagem dos escândalos que envolvem o tucanato em São Paulo.
Em diálogo com a reportagem Operação Abafa: Como os tucanos se mantêm no poder, o jurista avalia que o PSDB “conseguiu aparelhar um sistema de controle, ou pelo menos de influência dominante, sobre a Assembleia Legislativa, as Polícias e também, em grande parte, o Judiciário e o Ministério Público”. Além de “montar igualmente um esquema de controle do eleitorado, esquema esse, aliás, vinculado à corrupção”.
Konder Comparato também recupera as origens e as características da corrupção brasileira, um “mal endêmico” desde os tempos coloniais, denunciando “o costume da privatização do dinheiro público, usado pelos oligarcas como uma espécie de patrimônio pessoal”. Vale destacar que, atenta a esse “costume”, a Carta Maior vem recuperando uma série de escândalos de corrupção que, na prática, não deram em nada. Leiam também:Tucano bom é tucano solto e A sociologia da honestidade de FHC.
Nesta entrevista, o professor Konder Comparato alerta sobre a inexistência de uma verdadeira democracia em nosso país: “O povo jamais teve qualquer espécie de poder político no Brasil”. Um exemplo? A própria Constituição brasileira que determina ser da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar referendo e convocar plebiscito. “Somente os mandatários do povo tem poder para autorizar as manifestações de vontade deste!”, denuncia.
Confiram a entrevista:
A CORRUPÇÃO DOS ÓRGÃOS OFICIAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO
Como é possível avançar no combate à corrupção, apesar do bloqueio e das manobras sistemáticas que impedem, por exemplo, investigações e CPIs no Estado de São Paulo?
Fábio Konder Comparato
 – O PSDB acha-se no governo do Estado há mais de um quarto de século. Durante esse tempo, conseguiu aparelhar um sistema de controle, ou pelo menos de influência dominante, sobre a Assembleia Legislativa, as Polícias e também, em grande parte, o Judiciário e o Ministério Público. O partido conseguiu, além disso, montar igualmente um esquema de controle do eleitorado, esquema esse, aliás, vinculado à corrupção. A eliminação dessa máquina de poder partidário somente ocorrerá quando tivermos introduzido em nossa organização constitucional algumas medidas, como a eleição do chefe do Ministério Público estadual pelos seus pares, e a autonomia da Polícia Judiciária em relação à chefia do Poder Executivo. Enquanto tais medidas não existirem, é preciso usar dos poucos recursos disponíveis pelos cidadãos, como a ação popular e outras ações judiciais, bem como representações junto ao Ministério Público, ou até mesmo o Conselho Nacional de Justiça ou o Conselho Nacional do Ministério Público, em Brasília. Como se percebe, não é um jogo fácil.
A CORRUPÇÃO NO BRASIL, COMO UM MAL ENDÊMICO
O senhor vem alertando que a corrupção é um mal endêmico no Brasil. Tivemos algum avanço?
Konder Comparato
 – Denomina-se endemia uma doença infecciosa que ocorre habitualmente e com incidência significativa numa determinada população. Pois bem, falando simbolicamente, a corrupção dos órgãos públicos no Brasil é uma endemia cujas primeiras manifestações irromperam já no primeiro século da colonização. Assinale-se que, quando em 1549 aqui chegou Tomé de Souza, o primeiro governador-geral do Brasil, ele trazia consigo um Ouvidor-Geral, ou seja, chefe dos serviços de Justiça e Polícia, e um Provedor-Mor, ou seja, o encarregado de dirigir os assuntos econômicos da colônia. Pois bem, ambos haviam sido acusados de desviar dinheiro do Tesouro Régio, quando ainda estavam em Portugal. Ao aqui chegar, o Ouvidor-Geral enviou um ofício enviado ao Rei de Portugal, para declarar que o quadro geral da colônia configurava “uma pública ladroíce e grande malícia”. Note-se que, à época, os administradores para cá enviados pela metrópole haviam comprado seus cargos públicos, costume já consolidado em Portugal. Aqui chegando, a fim de amortizar o valor da compra de seus cargos e para compensar o sacrifício de viver nesta colônia atrasada e distante, tais administradores procuravam de qualquer maneira ganhar dinheiro. Para tanto, associavam-se aos senhores de engenho e grandes fazendeiros, participando de seus negócios; quando não se tornavam, eles próprios, senhores de engenho ou proprietários de fazendas. A partir de então, institucionalizou-se a associação permanente dos potentados econômicos privados com os grandes agentes estatais, formando o grupo oligárquico que até hoje comanda este país. Estabeleceu-se desde então o costume da privatização do dinheiro público, usado pelos oligarcas como uma espécie de patrimônio pessoal. Ou seja, corruptos são apenas os que se vendem por dois tostões de mel coado. É o tema do conto de Machado de Assis, Suje-se gordo! Sem dúvida, a operação Lava-Jato parece ter sido o começo de uma mudança nessa longa tradição. Mas é preciso dizer que tal operação tem sido ostensivamente seletiva, pois deixa de lado todas as ladroíces cometidas nos governos anteriores ao PT no poder, abusando do vício dos dois pesos e duas medidas.
DEMOCRACIA INEXISTENTE
Quais os entraves e caminhos que ainda precisamos percorrer para que o poder, efetivamente, “emane do povo”?
Konder Comparato
 – Para resumir o assunto, o povo jamais teve qualquer espécie de poder político no Brasil. Fala-se habitualmente em reconquista da democracia com o término do regime de exceção empresarial-militar instalado em 1964, e o restabelecimento das eleições. Mas nestas, a vontade popular é sistematicamente falseada pela influência do poder econômico dos oligarcas e as práticas ardilosas dos políticos profissionais. Pior ainda: na nossa política, desde os tempos coloniais temos tido uma tradição de dissimulação do poder oligárquico por meio de belas instituições oficiais ocultando a realidade. Nossas Constituições, por exemplo, desde a primeira de 1824, são peças puramente retóricas, incapazes de enfraquecer e, menos ainda, de extinguir o regime oligárquico. A atual “Constituição Cidadã”, por exemplo, declara em seu art. 14 que a soberania popular é exercida, além do sufrágio eleitoral, pelo plebiscito, o referendo e a iniciativa popular legislativa. Mais adiante, porém, o art. 49, inciso XV vem precisar que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar referendo e convocar plebiscito”. Ou seja, trocando em miúdos, somente os mandatários do povo tem poder para autorizar as manifestações de vontade deste! É, literalmente, a submissão do mandante à autoridade do mandatário. E quanto à iniciativa popular, a direção da Câmara dos Deputados já fixou, desde o início de vigência da Constituição, que os milhares de assinaturas necessárias à apresentação de um projeto de lei de iniciativa popular devem ser reconhecidas, uma a uma, pelos funcionários daquela Casa do Congresso Nacional. É exatamente por isso que até hoje nenhum projeto dessa natureza foi votado e aprovado pelo Congresso Nacional. Revoltado contra esse embuste jurídico oficial, tentei atuar. Em 2004, em nome do Conselho Federal da OAB, apresentei à Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados um projeto de lei de regulamentação do art. 14 da Constituição, para eliminar a interpretação de que o Congresso Nacional tem poderes acima do povo soberano, em matéria de plebiscitos e referendos. O projeto ainda não foi votado em plenário na Câmara, mas já um substitutivo apresentado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania por um deputado do PT veio reafirmar, com outras palavras, que somente o Congresso Nacional tem o poder de autorizar o povo soberano a votar em plebiscitos e referendos. Em 2005, apresentei a dois Senadores um anteprojeto de Proposta de Emenda Constitucional, introduzindo em nosso país o instituto de recall; isto é, do referendo revocatório de mandatos políticos. O povo elege e pode, portanto, destituir o representante eleito. Obviamente, após nove anos de tramitação, a proposta foi desaprovada em plenário. Mas saibam que não desistirei de denunciar a impostura política que prevalece neste país sob a forma constitucional.

Vídeo mostra Capez, envolvido na máfia da merenda, protestando contra Dilma. Pode?

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Acusado de participar da máfia da merenda em São Paulo, o tucano Fernando Capez, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, foi às ruas contra Dilma e contra “corrupção” gritando contra a presidenta ao lado dos revoltadinhos online e off-line.
Capez, que é, pasme, procurador de Justiça, portanto, membro do Ministério Público paulista, e sua sorridente mulher, que trabalha na Procuradoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo, foram à passeata contra a corrupção vestindo uma camiseta amarela com a figura da mão do ex-presidente Lula com o dedo amputado estampada em preto e a inscrição “Fora Ladrão”.
Olhe só quem chama o ex-presidente Lula de ladrão. É o final dos tempos!
Clique aqui para assistir ao vídeo.

A descoberta do Brasil !



Ainda é comum encontrarmos, nos livros didáticos, que o Brasil foi descoberto no dia 22 de abril de 1500 (século XVI). Nossos professores ensinam (nos dizem) e os alunos aprendem (decoram) e todos saem com a nítida ideia que foi descoberta nesta data é por que, antes, ninguém sabia da existência do mesmo. Isso do ponto de vista dos europeus. Afinal de contas, existiam milhões de nativos (índios) vivendo nesse novo continente!

Nestas histórias escritas (livros e derivados) ou orais (aulas e palestras) se fala sobre os Tratados celebrados entre Espanha e Portugal e sempre passam a ideia que eles ainda não sabiam da existência das terras que serão descobertas. Entre esses tratados o mais conhecido é o Tratado de Tordesilhas (1494), onde ficou definido que as terras descobertas a leste do Paralelo de Tordesilhas iriam pertencer a Portugal e as terras a oeste iriam pertencer à Espanha. Vejam bem, os representantes do governo espanhol e português assinaram tratados de terras que não sabiam da existência! Vocês acreditam mesmo que eles assinaram tratados para explorarem terras que não sabiam existir? Alguém em sã consciência assinaria um tratado de alguma coisa que pensa não saber existir?

Já faz algum tempo que é de conhecimento, científico, a existência destas terras muito antes da assinatura destes tratados. Já era de conhecimento dos europeus, principalmente franceses, a existência de terras no Oceano Atlântico e era comum o comércio da tinta vermelha e móveis, fabricados do pau-brasil, entre os franceses e holandeses. Existem vários documentos comprovando que os franceses faziam comercio com os nativos na América. O que os franceses e europeus imaginavam era que as terras, existentes, eram ilhas no Oceano Atlântico e ainda não se davam conta que as terras na realidade é um imenso continente.

Na Região Norte e parte da Região Nordeste, os habitantes creditam a descoberta do Brasil ao espanhol Vizente Yáñez Pinzón. Na realidade, nosso país foi descoberto (tomado posse) na parte oeste de Tordesilhas pelos espanhóis e na parte leste pelos portugueses. Infelizmente nas nossas escolas a descoberta dos espanhóis (que chegaram primeiros que os portugueses) é ocultada nos nossos livros de história e o mais grave é que na realidade dois espanhóis (Vizente Yáñez Pinzón e Diogo de Lepe) chegaram, as terras brasileiras, primeiro que Pedro Álvares Cabral.

Mesmo nos tempos atuais, os nossos livros de História e Geografia trazem a informação que o Brasil foi descoberto em 1.500 (século XVI) e a América em 1457. Essas informações levam a termos perguntas um pouco constrangedores por parte de alguns alunos mais observadores. Já fui questionado várias vezes como pode o Brasil ser descoberto em 1500 se a América foi descoberta em 1457? A pergunta do aluno tem certa lógica. Sabiam da existência de um continente e não sabiam da existência do Brasil! É claro que os portugueses sabiam que existia um continente, mas eles não sabiam que as terras que eles descobriram fazia parte do continente. Eles pensaram ter descoberto uma grande ilha e só posteriormente ficou esclarecido que fazia parte de algo maior, um continente.

Para entender o caso Brasif-FHC

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Jonas Barcellos é amigo dos omi.
A coluna abaixo foi publicada na Folha, em 21 de março de 2006, quando a Brasif resolveu vender suas operações para uma empresa suíça. A Brasif foi apontada pela jornalista Mirian Dutra como a empresa pela qual Fernando Henrique Cardoso garantia a suplementação de sua (de Mirian) renda no exterior.
1) Todas as lojas da Brasif eram concessões obtidas nos anos anteriores na Infraero – foram concessões públicas entregues de graça à empresa. E concessões únicas junto à Secretaria da Receita federal.
2) O valor atualizado (em reais) dos US$100 mil remetidos por FHC é de R$357 mil (supondo US$1,00 = R$1,00). Provavelmente FHC não terá dificuldade em comprovar a posse desse valor e a maneira como a saída foi declarada em seu Imposto de Renda.
3) Caso se for aplicar a FHC a mesma métrica com que o Ministério Público Federal mede a de Lula, se terá as duas pontas de forma muito mais nítida: uma empresa que envia dinheiro para uma jornalista, a pedido de FHC; e a mesma empresa sendo beneficiada por privilégios únicos em sua atividade.
Aqui a coluna de 23 de março de 2006, com as explicações da Brasif para os privilégios que obteve.
A Brasif explica:
Jonas Barcellos é um mineiro maneiro, simpático, 69 anos, dono da Brasif, que desde o início dos anos 80 controla o free shop dos principais aeroportos brasileiros. Jonas entra em contato para tentar esclarecer o questionamento de ter vendido para uma empresa suíça, a Duty, por US$250 milhões, uma empresa cujo maior goodwill são os privilégios fiscais, já que a grande fonte de faturamento é a concessão para vender produtos isentos de impostos nos aeroportos internacionais brasileiros. Sua intenção é aplicar o dinheiro em projetos álcool-químicos, seguindo as recomendações do conselheiro da empresa, Eliezer Baptista.
Vamos entender um pouco mais do negócio Brasif. Em quase todos os aeroportos internacionais brasileiros ela tem o monopólio ou quase monopólio das vendas de free shops.
Segundo o diretor jurídico Cyro Kurtz, não haveria monopólio nem contrato de concessão. São duas peças separadas. Uma delas, atos declaratórios da Secretaria da Receita Federal, outorgando autorização para importar sem Imposto de Importação e sem IPI – de acordo com o Decreto-Lei 1.455/76.
Outra, a locação do espaço nos aeroportos, por meio de contratos de cessão de uso de área pela Infraero. Só que são locais especialíssimos, já que os únicos que ficam antes da alfândega e onde os viajantes podem comprar até US$500,00 em produtos sem impostos. Kurtz diz que a isenção não é da Brasif, mas do passageiro – de qualquer modo, ele só poderá exercer em loja Brasif.
Garante também que não houve privilégio na outorga, porque houve licitação. Mas não houve concorrentes nas licitações em São Paulo, Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Florianópolis. Houve no Rio de Janeiro e em Recife, que ela venceu. Perdeu em Salvador, mas tornou-se fornecedora do vencedor.
Segundo Kurtz, a falta de competidores para disputar o mais ambicionado espaço comercial do país se deve ao fato de a atividade ser muito complexa, embora o país tenha grandes lojas varejistas.
Em todos os casos, houve apenas a primeira licitação. Depois, a Brasif garantiu a prorrogação do contrato por meio de um dispositivo do Código Brasileiro de Aeronáutica que se aplica a todas as lojas para amortização de novos investimentos feitos em sua ampliação ou por questões de reformas de aeroportos, levando em conta as constantes transformações a que os aeroportos estão sujeitos. A prorrogação obedece a uma tabela, e os investimentos precisam ser devidamente comprovados. A questão é que, no caso da Brasif, cada prorrogação do contrato de locação prorroga automaticamente o de isenção alfandegária.
Kurtz nega, igualmente, que exista monopólio no uso do espaço alfandegado. A qualquer momento a Infraero poderá locar outras áreas, diz ele. E por que não fez até agora? Porque está satisfeitíssima com os serviços prestados pela Brasif, segundo ele.
due diligence dos suíços nada comprovou de irregular na atividade –nem a coluna insinuou irregularidade. Mas permanece a questão: o goodwill que foi vendido aos suíços decorre de privilégios fiscais.
A seguir, uma matéria da colunista Lu Lacerda, do iG, sobre outras amizades de Jonas. Aliás, em matéria de política, Jonas sempre foi absolutamente ecumênico: ajudava tanto o PSDB quanto o PT.
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O candidato à Prefeitura de São Paulo José Serra foi visto, na tarde desta sexta-feira [2/3/2012], saindo com o empresário Jonas Barcellos da Loungerie – loja de roupas íntimas no Leblon, localizada no prédio da Brasif, uma das empresas de Barcellos.
A empresária que passava pensou que ambos estivessem comprando presentes para suas mulheres. O fato é que o prédio é de Jonas, e a loja, de sua mulher, Paula Barcellos.
Conclusão: o assunto entre ambos, certamente, abrange valores muito além do custo de algumas calcinhas.

O neofascismo e o “povinho de merda”

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Começo o texto fazendo uma confissão: errei.
Recebi, pelo Facebook, um texto de resposta à uma carta de um norte-americano, que vivia aqui, e que chega à conclusão de que o problema do Brasil é... você, brasileiro.
“Você é o problema”, diz o tal Mark Mason.
Achei que era uma bobagem tão grande que rebarbei a boa resposta feita – e enviada ao blog – pelo Diego Quinteiro. Mas comecei a ver a repercussão na rede, o uivar dos vira-latas que não podem ver um amontoado de besteiras escrito em inglês para sonorizar sua vira-latice.
Então respondo, certamente sem a paciência do Diego.
Mark usa como exemplo o que ele supõe ser a atitude do brasileiro: estar num carro que, de noite, esbarra “arranca o retrovisor de um carro supercaro” e que, encontrando o dono do carrão no dia seguinte, vai silenciar.
Pode até ser, Mark.
Mas, calma aí.
Vocês, mundo afora, fizeram mais que arrancar retrovisores.
Mataram milhões de pessoas. Saquearam países. Colocaram negros em currais muito depois de que aqui, com todos os perrengues racistas, não tivemos apartheid legalizado, nem Ku Klux Klan.
E quando não fizeram diretamente, como no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, ajudaram a fazer, com as ditaduras no Brasil, no Chile, na Argentina, no Irã, nas banana republics da América Central.
Nem por isso estamos dizendo ao povo norte-americano que “você é o problema”.
Em poucos lugares do mundo – e um deles é aqui – vocês podem andar na rua e serem bem tratados e admirados.
Você mesmo diz, em outro texto que “a menos que você esteja falando com um agente imobiliário ou uma prostituta, é provável que as pessoas não vão ficar animadas porque você é norte-americano”.
Mas você é capaz de dizer, numa redução abjeta, que até casou com “uma de suas garotas.”
Não, amigo, você casou com um ser humano, não importa se brasileira, japonesa, queniana, coreana.
Não com “one of your girls”.
Você diz que, durante algum tempo, achou que o colonialismo era a razão de nossas desgraças. Mas, agora, deixou de achar.
Então, faz o seguinte: manda devolver tudo o que se tirou deste país, do ouro que Portugal saqueava e ia parar com os ingleses ao ferro, ao açúcar, ao café, a tudo o que mandamos para fora num sistema de trocas internacionais injusto.
Aí você pode dizer à vontade que o problema do Brasil é o nosso “egoísmo”, que, pobre coitado, não vai além de querer proteger nossas famílias, não o nosso país.
Você diz que “brasileiros pagam tudo parcelado, porque eles querem sentir e mostrar que eles podem ter aquela supertevê mesmo quando, na realidade, eles não tenham dinheiro para pagar”.
Mark, você passou quatro anos no Brasil e não aprendeu nada. Eu compro remédio na farmácia parcelado, porque é o mesmo preço.
É, cara, o sistema financeiro que vocês impõem ao país é tão maluco que comprar asupertevê a vista ou em dez vezes custa o mesmo, o que quer dizer que se paga, automaticamente, um sobrepreço que, adivinha, o pessoal do sistema financeiro, que é todinho “agringalhado” nos impõe.
Sua turma, Mark, que acha o brasileiro “um povinho de merda” não consegue ver que as deficiências deste povo e até a cultura comportamental que frequentemente se vê é obra,sorry, do que sua cultura nos impôs de consumismo, de competitividade, de “money makes the world go around”.
Aqui tinha até uma lenda arcaica de que “dinheiro não traz felicidade”, que, claro, eu não ouso repetir. Mas, sabe, Mike, ainda resiste aqui um pouco, um pouquinho, de brio.
Você pode ser admirado por uns guris e gurias que acham que Miami é a Paris do século 21. E, por causa disso, com a delicadeza dos brasileiros que fazem tudo para que vocês nos entendam, sou gentil e pergunto: “Mark, what did you mean is vá catar... ‘vá catar coquinho’?”
Se quiser, senta aí e baixa a bola. Se não, “porta da rua, serventia da casa”. So if you wanna go, walk right out that door.

Não foi Serra quem nomeou a irmã de Mirian. Foi o “puro” presidente FHC

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“Cunhada” de FHC, que há 15 anos recebe de tucanos no Congresso sem trabalhar, é militante contra a corrupção.
Margrit Dutra Schmidt, irmã da jornalista Mirian Dutra, que teve um romance de seis anos com o então senador Fernando Henrique Cardoso, recebe salário de assessora no Congresso há 15 anos, mas nunca compareceu ao trabalho. Ela bate o ponto diariamente.
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Conforme demonstrou o Tijolaço, sua primeira nomeação foi feita pelo próprio FHC, em 27 de março de 1995, para o cargo em comissão de diretora do Departamento de Classificação Indicativa, no Ministério da Justiça.
A essa altura a irmã, Mirian, já vivia no exílio na Europa com o filho que ela e FHC acreditavam ser do presidente da República.
A revelação de que Margrit é funcionária fantasma foi feita por Lauro Jardim, em O Globo.
O jornalista foi quase um porta-voz da emissora quando atuava na Veja. Não é possível confirmar se foi retaliação por Mirian ter dado entrevista denunciando que a Globo tentou apagá-la da História da emissora.
Em sua página no Facebook, Margrit é uma discreta militante contra a corrupção. Refere-se ao ex-presidente Lula como Molusco e denuncia Dilma por “cultuar” Getúlio Vargas e Leonel Brizola. “O Brasil acabou. E tem gente que defende esta corja”, sentencia.
Margrit “trabalhou” nos gabinetes de Arthur Virgílio e Lúcia Vânia, antes de receber salário como assessora fake de José Serra. Isso demonstra que o PSDB teve papel ativo no acobertamento da existência de Mirian, ao lado da mídia e da empregadora da jornalista, a TV Globo:
Irmã de Mirian Dutra é desconhecida por “colegas” de gabinete de SerraTucano nega de Margrit seja fantasma e diz que ela trabalha de casaGuilherme Amado, via O Globo em 19/2/2016
O senador José Serra emprega em seu gabinete do Senado, como funcionária fantasma, Margrit Dutra Schmidt, irmã de Mirian Dutra Schmidt, conforme informou o blog do jornalista Lauro Jardim, no site de O Globo. Margrit vai diariamente, de manhã e à noite, registrar sua digital na entrada principal do Congresso, a Chapelaria, mas não cumpre expediente. Serra negou que ela seja fantasma e disse que Margrit trabalha de casa, prática vetada no Senado.
Margrit foi cedida pela liderança do bloco da oposição para o gabinete de Serra em 30 de março de 2015. Na quinta-feira, portanto quase um ano depois, O Globo entrevistou dez dos 15 funcionários do gabinete de Serra em Brasília. Dos entrevistados, nenhum sabia dizer o que Margrit faz. Alguns sequer sabiam de sua existência.
– Margrit? Você está confundindo. Eu estou com ele desde o começo do mandato. Não tem nenhuma Margrit aqui – afirmou um funcionário do gabinete.
Margrit está na República Dominicana, conforme a própria confirmou a O Globo na quinta-feira:
– Estou na República Dominicana, de banco de horas. A ligação está muito ruim – disse ela.
O telefonema caiu e, embora informada sobre o tema da reportagem, Margrit não voltou a atender aos outros telefonemas.
Serra afirma que pediu à liderança da oposição a cessão de Margrit porque “desejava que ela se dedicasse a um projeto na área de educação”:
– Ainda é um projeto sigiloso, peço que você não adiante o que é. Lançarei em breve. Queria alguém que me ajudasse em questões não econômicas. Conheço a Mag há muitos anos. Tenho relações pessoais e intelectuais – afirmou Serra.
Num primeiro momento da entrevista, Serra afirmou não saber ao certo se Margrit trabalha ou não de casa. Depois, ao ser informado pelo O Globo de que os funcionários haviam dito que não a conheciam, Serra disse que “imagina(va)” que Margrit trabalhe de casa. Finalmente, o senador afirmou:
– Ela trabalha (de casa). Meu gabinete tem pouco espaço, não tem sala para todo mundo.
Margrit não ingressou no Senado por meio do gabinete de Serra. Trabalha no Senado há 15 anos. Em seus anos no Parlamento, a assessora trabalhou no gabinete do ex-senador Arthur Virgílio (PSDB), hoje prefeito de Manaus, e da senadora Lúcia Vânia (PSB/GO), ex-tucana, quase sempre cedida pela liderança do bloco de oposição.
Nunca foi ao Senado trabalhar. A situação se manteve até Álvaro Dias assumir o cargo, em março passado, e decidir demiti-la.
Virgílio afirmou que Margrit era “uma funcionária normal” de seu gabinete. Dias confirmou que a demitiu, mas não quis responder a outras perguntas.
– Não seria ético eu falar nisso. Não sou mais do PSDB.
A senadora Lúcia também não quis comentar.
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PS do Viomundo: Margrit será demitida do Senado, informa Ricardo Noblat, que escreveu uma patética coluna detonando Mirian e em defesa da Globo. Ele mesmo diz: “Mirian reclama, hoje, de pouco ter trabalhado quando de Lisboa foi para Londres e, de lá, para Barcelona. Ora, então por que não voltou? Ou por que continuou recebendo salário da Globo sem pegar no pesado?”. A pergunta é outra, Noblat: por que a Globo pagou US$7 mil mensais a uma correspondente que não trabalhava? Hein? A demissão de Margrit é o começo da represália. Começou o assassinato de reputação de Mirian.

Tratamento distinto para duas Mirians: FHC negociou cala-boca de dentro do Planalto

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Mirian Cordeiro, no programa eleitoral de Fernando Collor, também apareceu repetindo denúncias sem provas no Jornal Nacional; o dia da despedida de FHC (ao lado de Ruth) e Mirian Dutra no Globo Repórter, em 1994, uma de suas raras aparições como repórter em Portugal, depois do exílio
As últimas horas foram tragicômicas, pelo esforço dos fãs do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em desqualificar Mirian Dutra e o próprio debate que ela gerou ao dar entrevista para a revista BrazilcomZ, da Espanha – mais tarde, acrescentou detalhes falando à Folha.
Isso, ainda que FHC tenta admitido a existência do contrato fictício da empresa Brasif.
Que eu tenha lido, disseram que ela recebeu dinheiro do PT para mentir, que é uma tentativa de tirar o foco do tríplex e do sítio respectivamente visitado e frequentado por Lula, que ela age movida pelo ódio típico de uma ex. Num país machista como o Brasil, eu não estranharia nem se dissessem que Mirian seduziu FHC e enredou o pobre senador, 30 anos mais velho do que ela, numa armadilha com o objetivo de extorqui-lo continuamente.
Triste, né? FHC, um sociólogo que se dizia de esquerda e foi casado com a antropóloga Ruth Cardoso, defendido pela turma que culpa mulher pelo estupro.
Os dois – FHC e Mirian – tiveram um relacionamento duradouro, cujos detalhes são assunto estritamente privado. Mirian apresentou o seu lado da moeda e FHC está certo ao não travar um debate público sobre isso.
Podemos deixar a hipocrisia de lado?
Quantos homens e mulheres – de poder ou não – têm seus flings, casos, namorados, amantes e assim por diante?
Não foi um orgulho para os franceses o fato de o presidente François Mitterrand ter sido enterrado na presença da mulher e da amante?
Hillary Clinton, nos Estados Unidos, um símbolo feminista para parte do eleitorado, não engoliu as patéticas escapadas do Bill para preservar sua própria carreira política? Quem somos nós para julgar?
Porém, não me parece “assunto pessoal” quando um homem poderoso, um senador que tem ao seu lado o PIB e a mídia do Brasil, decide comprar o silêncio de uma ex-namorada.
Mirian decidiu ter o filho (pouco importa de quem).
Vocês já se colocaram no papel dela, uma jornalista que estava prestes a ter o segundo filho? Que mãe não sacrificaria sua vida pessoal – que foi o que ela fez – para ter condições de dar o melhor aos filhos? Enquanto isso, FHC preservou sua carreira!
Espantoso, na verdade, é a conspiração de silêncio que, em nome da candidatura de FHC ao Planalto, ocorreu. Com a conivência pessoal e, pior, institucional, daqueles que mais tarde se beneficiariam das políticas de FHC.
Mirian denunciou que foi levada a dar uma entrevista falsa à revista Veja. E ela não mentiu. Leiam que coisa patética a nota publicada pela coluna Gente da revista Veja, segundo a jornalista engendrada por FHC com o diretor da Veja Mário Sérgio Conti, aquele que “entrevistou” o Felipão:
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Sim, sim, eu sei: Mirian poderia ter se negado a mentir. Mas, com uma filha de 8 anos – e grávida – quem era a parte frágil na história?
A Globo divulgou hoje [18/2], no Jornal Hoje, uma nota:
A TV Globo não interfere na vida privada de seus colaboradores. Esclarece, porém, que jamais foi avisada por Mirian Dutra sobre o contrato fictício de trabalho e que, se informada, condenaria a prática. A emissora informa ainda que em junho de 2004 (e não em 2002) o contrato de colaboradora de Mirian Dutra foi alterado, com mudanças em suas atribuições, o que acarretou nova remuneração, tudo segundo a lei vigente no país em que trabalhava. Por último, a TV Globo jamais foi informada por Mirian Dutra sobre seu desejo de regressar ao Brasil. Ao contrário, ela sempre manifestou o interesse de permanecer no exterior. Durante os anos em que colaborou com a TV Globo, Mirian Dutra sempre cumpriu suas tarefas com competência e profissionalismo.
Tudo, de fato, é discutível, menos a afirmação de que a empresa “não interfere na vida privada de seus colaboradores”.
Sem mais, nem menos, Mirian foi despachada para Portugal? Ela assume que pediu a transferência, mas a Globo não sabia o motivo?
Não faz sentido a emissora abrir mão de uma repórter em Brasília e continuar pagando o salário dela sem que ela ralasse tanto quanto os outros correspondentes. Isso não existe!
Depois, Mirian foi transferida para Barcelona, segundo Palmério Dória por influência de Alberico Souza Cruz, o todo-poderoso do jornalismo da Globo na época.
Mas, vamos combinar? A Globo NUNCA teve escritório, nem correspondente na Espanha. Criou um, de repente, para acomodar Mirian? Pagou a ela US$7 mil mensais de salário até 2004 (na versão da Globo) sem que ela tivesse uma presença constante, quase diária, no ar?
Eu fui correspondente da Globo em Nova Iorque. Todo dia tinha trabalho, muito trabalho.
Palmério Dória, em artigo anterior, já havia estimado o “custo do exílio”:
FHC, quando era ministro da Fazenda, isentou de CPMF todos os meios de comunicação. Em 2000 houve o Proer da mídia, que custou entre US$3 bilhões e US$6 bilhões aos cofres públicos. Ele também mudou a Constituição para permitir que a mídia brasileira, então falida, pudesse contar com 30% de capital estrangeiro. E autorizou que o BNDES fizesse um empréstimo milionário à Globo.
Sobre abortos: sim, é um assunto pessoal. Mas, que fique o registro: muita gente da classe média para cima torce o nariz para o tema por causa da culpa de ter feito ou bancado o aborto alheio. Enquanto isso, mulheres pobres morrem por causa da hipocrisia dos que falsamente se dizem engajados em “preservar a família”.
FHC nunca foi hipócrita neste assunto. Ele perdeu uma eleição para prefeito de São Paulo para o carola Jânio Quadros entre outros motivos por não dizer claramente, em um debate, que acreditava em Deus. Se fez algo incomum em campanhas, como montar num jegue e dizer que tinha “um pé na cozinha”, não foi muito além do que fazem outros políticos para ganhar votos.
O mesmo, no entanto, não se aplica à hipocrisia da Globo.
Em 1989, Roberto Marinho apoiou abertamente a candidatura de Fernando Collor de Mello contra Lula. Dedicou até um Globo Repórter ao “caçador de marajás”.
Na reta final, Mirian Cordeiro apareceu na propaganda oficial de Collor, acusando Lula – que na época do namoro não era casado – de ter pedido a ela que abortasse a filha Lurian e sugerindo que o candidato do PT era racista (ver vídeo abaixo).
No dia seguinte, o Jornal Nacional “repercutiu” o assunto, ou seja, deu asas a um tema que favorecia Collor, ainda que com a suspeita de que o depoimento tivesse sido comprado. Na descrição da própria Globo:
No Jornal Nacional do dia seguinte, os dois lados foram ouvidos. A jornalista Maria Helena Amaral, ex-assessora de Collor, denunciou que Mirian Cordeiro havia recebido dinheiro do PRN para aparecer no programa eleitoral do partido. Mas a ex-namorada de Lula disse que participou do programa espontaneamente e confirmou as denúncias contra o candidato do PT.
Uma forma tinhosa de promover o assunto com “equilíbrio”.
Mirian Cordeiro negou ter recebido 200 mil cruzeiros novos para fazer a denúncia, mas confirmou ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho que estava por conta da campanha de Collor, 45 dias depois dele ter sido eleito!
Mirian_Cordeiro_Lula
A Globo ainda defendeu, em editorial de O Globo, no dia do debate final entre Collor e Lula, que os brasileiros tinham o direito de saber detalhes da vida pessoal dos candidatos.
O jornal dos Marinho apresentou Collor, que usara o depoimento de Mirian Cordeiro no programa eleitoral, como vítima de Lula!
Confiram um trecho:
Nos Estados Unidos, por exemplo, com frequência homens públicos veem truncada a carreira pela revelação de fatos desabonadores do seu comportamento privado. Não raro, a simples divulgação de tais fatos os dissuade de continuarem a pleitear a preferência do eleitor. Um nebuloso acidente de carro em que morreu uma secretária que o acompanhava barrou, provavelmente para sempre, a brilhante caminhada do senador Ted Kennedy para a Casa Branca – para lembrar apenas o mais escandaloso desses tropeços. Coisa parecida aconteceu com o senador Gary Hart; por divulgar-se uma relação que comprometia o seu casamento, ele nem sequer pôde apresentar-se à Convenção do Partido Democrata, na última eleição norte-americana. Na presente campanha, ninguém negará que, em todo o seu desenrolar, houve uma obsessiva preocupação dos responsáveis pelo programa do horário eleitoral gratuito da Frente Brasil Popular de esquadrinhar o passado do candidato Fernando Collor de Mello. Não apenas a sua atividade anterior em cargos públicos, mas sua infância e adolescência, suas relações de família, seus casamentos, suas amizades. Presume-se que tenham divulgado tudo de que dispunham a respeito. O adversário vinha agindo de modo diferente. A estratégia dos propagandistas de Collor não incluía a intromissão no passado de Luís Inácio Lula da Silva nem como líder sindical nem muito menos remontou aos seus tempos de operário-torneiro, tão insistentemente lembrados pelo candidato do PT. Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Mirian Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.
Um salto de 1989 para 2012.
A vida privada de Lula foi considerada “noticiável” pela revista Época, dos irmãos Marinho, que escalou sete repórteres – SETE! – para fazer uma denúncia baseada em suposições.
Rosemary de Noronha nunca assumiu ter tido um caso com Lula, nem divulgou documentos comprometedores. Ainda assim, virou notícia em toda a mídia!
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Voltem comigo, agora, no tempo.
Vejam como FHC descreveu o dia em que deixou o poder, em 2003, numa entrevista a Mário Sabino, da Veja:
Depois da cerimônia, rumamos, eu e Ruth, para o aeroporto, onde muita gente amiga nos esperava para a despedida. Foi aí que a emoção mais pessoal começou. Abracei assessores que haviam trabalhado comigo durante oito anos seguidos, que faziam parte do meu cotidiano. Embarcamos, então, para São Paulo, ainda no avião presidencial. Ao chegar, troquei de roupa e seguimos para o avião comercial que nos levaria a Paris. Nesse momento, relaxei, tive uma sensação boa de dever cumprido – tanto no plano institucional como no individual. [...] Dormi, então, a minha primeira noite de mortal comum. No dia seguinte, eu e Ruth fomos a Chartres sozinhos, para visitar a esplêndida catedral gótica – um passeio maravilhoso em todos os aspectos, mas principalmente pelo fato de não estarmos mais acompanhados de comitiva, seguranças e repórteres. Recuperei, enfim, minha privacidade. Em Paris, também dispensei os serviços que a embaixada queria me prestar e voltamos a andar de metrô, como sempre fizemos. Uma delícia – e com um efeito muito didático. Porque uma coisa é o Planalto; outra é a planície. Na planície, você é promovido a povo.
Ou seja, FHC aproveitava Paris na condição de “povo”, acreditando ter um filho – um filho! – exilado na Europa. A essa altura, Mirian era bancada pelo salário da Globo. Mais tarde, conta, precisou de um complemento, pago por um empresário.
O empresário a que Mirian Dutra se refere é Jonas Barcellos, que mais recentemente deu caronas em seu avião para Lula – e foi denunciado por isso.
Numa entrevista à revista Veja, publicada em abril de 1999, Jonas admitiu que seus amigos eram “um ativo oculto”. Dentre eles, Jorge Bornhausen, que foi vice-presidente da Brasif e comandou o PFL durante o governo FHC.
Segundo Mirian Dutra, o pefelista Antônio Carlos Magalhães, aliado de Bornhausen, ligado à Globo e todo-poderoso nos bastidores do governo FHC, recomendou a ela que não voltasse ao Brasil.
Conhecendo os bastidores do poder como ela, Mirian, conhecia – tinha sido repórter de política em Brasília –, como enfrentar um presidente da República, a emissora mais poderosa do Brasil – que dava a ela um salário – e o trator ACM, ainda mais tendo dois filhos para criar?
O fato documentado e inescapável é o seguinte: FHC acreditava ter tido um filho com Mirian, que por sua vez assinou um contrato de fachada com a Eurotrade/Brasif para receber pagamentos via paraíso fiscal.
FHC disse a ela que era dinheiro pessoal, dele. Foi remetido do Brasil, via Banco Central? Ou saiu de uma conta no Exterior? A conta, que ele admite ter em Madri, foi declarada ao imposto de renda?
O documento divulgado por Mirian reforça a versão segundo a qual um presidente da República, no exercício do poder, negociou com uma empresa que detinha uma concessão do governo, a Brasif, o pagamento de um salário falso para a ex-namorada. Um cala-boca.
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O contrato entre Mirian Dutra e a Eurotrade/Brasif foi assinado no dia 16 de dezembro de 2002. Faltavam duas semanas para o presidente FHC deixar o Planalto.
Se a versão de Mirian é verdadeira, FHC teve de pedir o favor a Jonas Barcellos, o dono da Brasif, algum tempo antes de o contrato ter sido assinado.
Com um detalhe importante, mencionado pelo Luis Nassif: os negócios de Jonas Barcellos floresceram nos dois mandatos de FHC.
Por muito menos, Bill Clinton quase sofreu impeachment nos Estados Unidos.
Como o caso de Mirian Dutra só aflorou agora, mais de 25 anos depois do namoro, obviamente não terá impacto retroativo.
O fato é que, com a ajuda da Globo, uma das Mirians derrotou Lula em 1989; e, com a omissão e/ou acobertamento da Globo – e da mídia em geral – FHC se elegeu presidente em 1994.
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Por que clubes preferem ganhar menos com a Globo do que fechar com a Turner

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Em meio às negociações que se iniciaram para vender os direitos de transmissão para tevê fechada de 2019 a 2023, uma pergunta logo vem à tona sobre o assunto: por que um clube prefere receber R$60 milhões da Globo/SporTV a receber pelo menos R$550 milhões da Turner/Esporte Interativo pelo mesmo produto? Com os números em mãos, optar pela proposta da Turner parece ser uma decisão óbvia. Mas a equação que leva à escolha dos clubes é bem mais complexa do que apenas olhar a diferença robusta de valor.
Será que vai dar certo?A começar pelo know-how. Os clubes que estão tentados a manter o acordo com a Globo já sabem com quem conversam, com quem negociam, em como seu produto será exposto e tem consciência de como sua marca será tratada pela emissora. No caso da Turner, há uma incógnita: terá o canal estrutura o suficiente para comportar o Brasileirão? Terá a empresa norte-americana a mesma qualidade de transmissão?
Contra isso, a Turner tenta mostrar toda a sua atuação nos Estados Unidos, com números de audiência e relatórios de publicidade, alegando que não é uma aventureira. A ideia é passar segurança para os clubes que fiquem tentados a dizer sim.
Há outro aspecto em que a Globo se envolve e que, pelo menos a princípio, a Turner não mencionou interesse em colocar a mão: logística. Quando faz os pacotes de viagens para seus funcionários, a emissora já repassa aos clubes todo o esquema para chegar e sair do local do jogo, a recomendação de hotel para ficar e o voo a se pegar. Em caso de falha, há quem responsabilizar.
Medo de retaliaçãoPor mais que fechem com a Turner no mercado fechado, boa parte dos clubes sabe que seu produto ainda é mais visível quando o jogo é transmitido na tevê aberta. O Esporte Interativo, entretanto, ainda não pretende entrar na competição pelos direitos de transmissão desse mercado com a Globo.
Por isso, os clubes têm medo de sofrerem retaliação. Ao fechar com o Esporte Interativo e deixar o SporTV de lado, os times acreditam que poderiam sumir das grades de programação da Globo, deixando de ter sua marca exposta em horários nobres, como domingo à tarde e quarta-feira à noite. Isso seria ruim para o time e também para os parceiros e patrocinadores, que ligam o sinal de alerta antes de colocarem um caminhão de dinheiro para aparecer nos uniformes.
Pay-per-view e visibilidade restritaNão só na tevê aberta, como mostrou o tópico acima, mas há algo que coloca uma pulga atrás da orelha em alguns clubes. Se poucos clubes fecharem com o Esporte Interativo, o canal poderia ficar com poucos jogos para transmitir. Isso significa que os mesmos times estariam na grade a todo momento, o que faria seus torcedores fugirem do pay-per-view, diminuindo rentabilidade em outra propriedade de marketing.
Aqui, vale destacar que o Esporte Interativo só poderá transmitir o jogo dos times que comprar o direito. Por exemplo, se fechar com Santos, Inter e Grêmio, poderia transmitir apenas a partida entre eles. Quando o Santos fosse jogar contra o Corinthians, por exemplo, a partida não poderia ser transmitida em nenhum outro canal fechado, uma vez que cada clube tem acordo com uma emissora diferente.
Além disso, o alcance do Esporte Interativo ainda é menor do que de outros canais. O SporTV, por exemplo, está em operadoras como a Vivo TV e a SKY, onde o Esporte Interativo ainda não tem previsão de entrada.
Conservadorismo em tempos de criseMuitos investidores preferem fechar o bolso em tempos de crise. Aparentemente, o Esporte Interativo caminha em direção inversa, mas não inspira confiança nos clubes. Há o receio de que a promessa não seja cumprida e que tudo não passe de uma empolgação.
Na ótica dos clubes, em tempos difíceis, a empresa poderia não cumprir com tantos acordos e os deixaria em situação complicada frente a Globo e ao SporTV. Por isso, haveria uma série de garantias financeiras que seriam exigidas para que o negócio fosse firmado.
O Esporte Interativo já divulgou nota admitindo que oferece valores muito maiores e ainda destacou que espera que isso ajude os clubes a se desenvolverem e fortalecerem seu time, o que melhoraria o nível técnico do campeonato de forma geral.