quarta-feira, 29 de abril de 2015

BNDES acelerou reatamento dos EUA e Cuba

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Porto de Mariel, Cuba.
Os Estados Unidos caíram na real: o bloqueio a Cuba acabou por se transformar em péssimo negócio para os norte-americanos. Abriu possibilidades de novas correlações de forças, especialmente, com a chegada da China, para financiar grandes negócios na América do Sul. O exemplo recente é o empréstimo chinês de US$3,5 bilhões à Petrobras. Enquanto as forças internas, associadas como sócias menores das grandes potências ocidentais, tentaram e tentam destruir a grande empresa de petróleo nacional, com amplo apoio dos sobrinhos de Tio Sam, os chineses optaram pela ação contrária, apoiar a estatal toda poderosa, cuja influência no continente sul-americano é total, ao lado do BNDES, para atuar na integração econômica das Américas Sul e Centro Americana. Washington aprendeu, enfim, que se seguisse o caminho do bloqueio perderia completamente o mercado sul-americano para os chineses, que, inclusive, utilizando o Porto de Mariel, construído com apoio do BNDES, financiador de empresas brasileiras, para tocar a obra, anseiam ganhar, mais facilmente, o mercado de Tio Sam. A supressão do bloqueio norte-americano a Cuba é o reconhecimento do fracasso do bloqueio para os interesses dos próprios norte-americanos.
A direita burra brasileira, sempre apoiada pelos editoriais da grande mídia – O GloboO Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo –, símbolo do entreguismo nacional, não conseguiu, ainda, perceber que foi a ação do governo nacionalista lulista-dilmista, por meio do maior banco de desenvolvimento da América Latina, o BNDES, que acelerou o reatamento das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba.
Evidentemente, tudo caminhou mais rápido, depois que o BNDES irrigou empresas nacionais para construir, em Cuba, o Porto de Mariel, sob encomenda do governo cubano.
Pronto o porto, apareceu o quadro maior que a obra descortinou em termos de integração econômica continental, acelerando a aproximação da China com Cuba, com a América Central e América do Sul.
Os chineses, abarrotados de dólares, com suas reservas cambiais trilhonárias, acumuladas ao longo dos últimos trinta anos de prática de economia de mercado sob governo intervencionista, direcionando o rumo dos acontecimentos – taxa de juro baixa, taxa cambial competitiva e abertura às multinacionais no mercado chinês com compromisso de exportação –, assustaram Washington, levando-a acabar com o bloqueio à Cuba.
Do contrário, as mercadorias norte-americanas perderiam mercado para a invasão das concorrentes chinesas, favorecidas pelo financiamento do banco chinês de investimento, com o qual se associam potências econômicas europeias – Alemanha, França, Inglaterra, Itália –, levantando preocupações generalizadas na terra de Tio Sam.
O governo brasileiro, na América Central e na América do Sul, está fazendo o que os governos capitalistas sempre fizeram: financiar empresas para exportar serviços de engenharia, empreitando em larga escala, acoplando exportação de serviços às exportações de bens gerais: máquinas, equipamentos, partes, peças e componentes etc.
Copiou o Brasil o esquema financeiro largamente desenvolvido pelos Eximbanks, amarrando financiamento à exportação de bens e serviços.
Quando o governo petista passou a fazer isso, usando o BNDES, emergiu pressões internacionais intensas, porque, certamente, viram nas empresas brasileiras de engenharia, altamente, qualificadas concorrentes fortes.
Ninguém chuta cachorro morto.
O que fez a grande mídia tupiniquim?
Começou a dizer que essa exportação de capital, bens e serviços, era ruim para o País, pois estava tirando pão da boca dos brasileiros para colocá-lo na mesa dos outros, dos cubanos etc., argumento completamente burro, preconceituoso e colonizado.
Jamais a grande mídia criticou tal comportamento dos governos capitalistas desenvolvidos, revelando-se, assim, a cabeça colonizada das elites econômicas brasileiras, sócias menores do capital internacional, empenhadas em barrar o desenvolvimentismo nacionalista, favorecido por bancos públicos
Obama, logo depois da bancarrota financeira de 2008-2009, lamentou que os Estados Unidos não possuíssem banco nacional de desenvolvimento, tipo BNDES, para apoiar o setor produtivo, a fim de enfrentar a crise global.
Lula e, em seguida, Dilma tiveram o BNDES, bem como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, para garantirem investimentos, apoiarem o mercado interno e melhorarem distribuição da renda, valorizando salários, como estratégia econômica anticíclica.
A indústria nacional teria quebrado, se essa estratégia nacionalista – apoio ao mercado interno, valorização do poder de compra dos trabalhadores e expansão de programas sociais distributivistas – não tivesse sido colocada em prática.
A classe média, que, com ódio, agora, vai às ruas contra Dilma, não percebeu nada e não tem consciência de que estaria arruinada sem a melhor distribuição da renda nacional sob governo nacionalista.
O Porto de Mariel, em Cuba, é fruto de estratégia desenvolvimentista nacionalista.
A palavra de ordem de Obama, no Panamá, em seminário empresarial, na companhia de 34 chefes de Estado, foi de reconhecimento de que o império de Tio Sam não tem mais pretensão de interferência indevida na vida das nações latino-americanas para impor sua vontade.
Isso é uma meia verdade.
A verdade inteira é a de que as estratégias econômicas nacionalistas estão comprovando capacidade para abrir espaço ao desenvolvimento sul-americano e centro-americano sem apoio dos Estados Unidos, na linha da interferência histórica que Obama diz pretender remover.
Cerca Washington Cuba para entrar no jogo comercial que o início de atividades do Porto de Mariel abre no plano global no momento em que a concorrência capitalista se acirra sob impulso de guerras monetárias entre as potências em crise.
Mantida retórica do bloqueio comercial, como ocorreu nos últimos 53 anos, por parte de Tio Sam, de forma arrogante e prepotente, o prejuízo para as empresas norte-americanas se torna inevitável.
E o sistema monetário internacional, sob comando do dólar, tende a ir para o sal.
Washington se revela cada vez mais ansiosa e preocupada com as ações dos Brics, cujo banco Brics caminha para fazer o papel do Banco Mundial, sob domínio norte-americano.
A China, que deverá ser atuante, de forma decisiva, nas relações comerciais com as Américas do Sul e Central, intensificará concorrência com os Estados Unidos a partir de maior aproximação com as economias sul e centro-americanas.
Por sua vez, a América do Sul, aproximando-se dos chineses, no compasso de nacionalismo desenvolvimentista, vai se livrando do hegemonismo de Washington no continente.
Com apoio de bancos de desenvolvimento, como o BNDES, os sul-americanos disporão de maior força financeira e econômica para criar nova realidade nas relações comerciais com os Estados Unidos.
O Porto de Mariel é a prova concreta desse novo tempo.

Top 10 do bestiário neoconservador para o século 21

Explosão populacional, antropologia criminal do século 21, o hype dos assexuados, fantasmas vermelhos soviéticos e a fantástica revelação de que a Terra é plana e que há uma conspiração para esconder de todos essa verdade extraordinária. Prepare-se! O futuro poderá ser construído a partir de ideias que supostamente teriam sido superadas pelo progresso científico, processo civilizatório ou simplesmente pelas transformações políticas e sociais das últimas décadas. Ideias conservadoras que no passado foram criadas para deter mudanças ou revoluções, hoje são resgatadas pela mentalidade neoconservadora sob uma nova roupagem high tech, nova nomenclatura e o charme das teorias conspiratórias. O “Cinegnose” fez uma lista dos dez principais renascimentos de ideias antigas e até sinistras que parecem encontrar o fértil terreno no radicalismo e fundamentalismo atuais.
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10) Neomalthusianos, Second Life e suicídio
Para os neoconservadores o grande responsável pelos problemas humanos é o próprio homem. Mais precisamente, homens pobres que insistem em se reproduzir. No passado, quando o pensador inglês Thomas Malthus (1766-1834) argumentou que a quantidade de habitantes no mundo é desproporcional à quantidade de alimentos e recursos naturais, o problema demográfico restringia-se a uma questão econômica.
No campo econômico o malthusianismo seria facilmente desconstruído pela evidência das contradições das leis de mercado e distribuição desigual da riqueza – o problema não é de produção mas de distribuição desigual pelo mercado.
Agora os neomalthusianos associam a questão à qualidade de vida e ecologia – ter muitos filhos não é autossustentável: destrói mananciais, seca represas, produz lixo...
Por isso os neomalthusianos se modernizam e se aliam a soluções high techs e fundamentalismos religiosos bizarros. Por exemplo, o cientista chefe da Nasa, Dennis Bushnell, propõe despachar os seres humanos (ou pelo menos suas consciências) para redes eletrônicas conectadas às neuronais. Para ele, a única solução para alterações climáticas e limitação dos recursos naturais é eliminar a ação danosa humana, mandando suas consciências para um mundo virtual.
Viveríamos uma espécie de Second Life, mantendo inerte nossos corpos – sobre issoclique aqui.
Fundada em Massachusetts, a Church of Euthanasia afirma: “Salve o planeta, mate-se”. Para a igreja, suicídio, aborto, canibalismo e sodomia seriam formas legítimas de evitar a procriação humana, considerada um parasitismo no planeta Terra.
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9) Genes e seleção natural: De volta à selva
Desde a derrota dos nazistas e de toda a sua ideologia da raça pura e eugenia na 2ª Guerra Mundial, o paradigma dos determinismos biológicos (raça, sangue, hereditariedade, darwinismo social etc.) caiu em desgraça. Principalmente porque o desenvolvimento das Ciências Sociais, Psicanálise e Linguística demonstraram que a sociedade é uma instituição simbólica e o homem um ser antes de tudo cultural.
Freud encontrara uma dimensão entre as funções corporais e a alma: o psiquismo; e a Linguística de Saussure a Roland Barthes descobrira que as instituições sociais são entidades semiológicas.
Mas a descoberta do DNA nos anos 1950 marcaram a transição para a genética molecular: o DNA como parte de cromossomos que contém os genes. O que faltava para Mendel (o pai da moderna genética, 1822-1884), Galton (o inventor da Eugenia, 1822-1911) e todos os geneticistas nazis fora descoberto: um código que poderia explicar o comportamento humano, o passado e o futuro. E, mais importante, poderia ser manipulado.
Tudo já está escrito na natureza: o gene hetero, o gene gay, genes defeituosos que produziriam do câncer à esquizofrenia etc. O que fizeram o Darwinismo social (a seleção natural das selvas trazida para a sociedade) e a Eugenia, retornam disfarçadas em uma roupagem high tech.
Por exemplo, para Steve Rud (O gay e a biologia) o gay é uma invenção da natureza para acelerar ou desacelerar o crescimento populacional. Com a atual “ameaça de superpopulação” o instinto genético de sobrevivência inibiria a heterossexualidade.
Os neomalthusianos do item anterior passam a ter um surpreendente grande aliado na genética molecular. Se tudo é seleção natural e instinto de sobrevivência da espécie, temos uma perigosa matriz de raciocínio que poderá ser extrapolada para qualquer área da sociedade... genes e instintos são mais poderosos do que o livre arbítrio.
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8) A gloriosa volta de Lombroso
Quem assistiu ao filme Minority report: A nova lei (2002) ficou impressionado com uma polícia do futuro capaz de prender criminosos antes que eles pudessem cometer o delito: a Divisão Pré-Crime da Polícia de Washington DC, com ajuda dos pré-cogs(espécie de videntes), antecipava os crimes e gravavam premonições nos computadores, como provas para a prisão do futuro criminoso.
Pois, no século 19, Cesare Lombroso (médico e criminalista italiano, 1835-1909), acreditava que isso seria possível, mas não com ajuda de videntes mas com a ciência de Darwin – criar a identidade do criminoso através de aspectos físicos: formação craniana, mandíbula, forma de andar, cor, raça etc. Se o crime é uma patologia, deveria haver um tratamento preventivo pelo enquadramento dos criminosos potenciais.
Com a evolução das Ciências Sociais e Antropologia, esses estudos foram rebatidos no Direito e Criminologia como racistas e preconceituosos: os aspectos físicos foram substituídos pelos sociais no estudo da criminalidade.
Mas os neoconservadores são capazes de ressuscitar Lombroso e torna-lo relevante para o século 21. Em sites jurídicos brasileiros como o “Universo Jurídico”, textos como “Onda de crimes ressuscita Lombroso para o Direito Penal” de um jurista descreve como “Lombroso retorna com vigor” graças à “escalada de corrupção, violência e criminalidade que varre o País”.
Cuidado! A Divisão Pré-Crime pode estar de olho em você!
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7) Assexuados, românticos, hetero-românticos
Esqueça a revolução sexual trazida pela pílula anticoncepcional nos anos de 1960, o esforço das pesquisas de Freud a Wilhelm Reich para desvendar os mecanismos repressivos da sociedade contra o sexo e o prazer, a luta das feministas pelo amor livre, Simone De Beauvoir e o ativismo de Betty Friedan.
De repente a mídia transforma em um hype a curiosidade pelos assexuados: jovens que não sentem atração sexual. O sociólogo Mark Carrigan, por exemplo, fala em assexuados românticos e não românticos – em alguns casos haveria atração, mas não íntima fisicamente. Apenas para “dividir coisas”. São os “hetero-românticos” – sobre isso clique aqui.
Ao mesmo tempo, com o retorno do fundamentalismo religioso (na política com o terrorismo internacional e na cultura como resposta ao relativismo dos valores), virgindade ou “guardar o coração” passa a ser considerada “uma benção”.
Agora procuram não mais se basear em noções como pecado, castigo ou culpa, mas em pesquisas supostamente científicas (sempre as “pesquisas”, capazes de justificar até impeachments contra presidentes eleitos) como a family psychology de que pessoas que esperam para fazer sexo depois do casamento são “mais satisfeitos”.
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6) Militares, salvem-nos!
Com a suposta “escalada de corrupção, violência e criminalidade que varre o País” que justifica a volta gloriosa de Lombroso no item 8, muitos começam a clamar por um retorno “constitucional” dos militares ao poder no Brasil. Se no passado tudo foi feito através de um golpe trágico e supostamente necessário já que os comunistas “ameaçavam” o País, agora tudo será “constitucional” e fundamentado nas “pesquisas” (sempre as pesquisas!) de insatisfação popular contra a presidenta Dilma.
Para além da evidente falta de lógica da proposta (é constitucional substituir o sufrágio universal por pesquisas por amostragem?) a proposta reflete a mentalidade esquizoide do neoconservadorismo: em um governo de exceção sem partidos, sindicatos ou Congresso, haveriam pesquisas ou manifestações de rua como aquelas que pedem um golpe militar?
O mais curioso é que jovens bem abonados (“coxinhas”) que apreciam drogas e baladas contraditoriamente apoiam ardorosamente um golpe militar. Se soubessem o que foi a ditadura militar nos anos 1970, saberiam que por suas práticas, por assim dizer “notívagas”, seriam enquadradas como suspeitas de “práticas comunistas”.
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5) Matem crianças, prendam adolescentes!
Segundo o historiador francês Philippe Ariès no livro clássico História social da infância e da família, nos séculos 16 e 17 a infância era ignorada. Crianças eram tratadas com liberdades grosseiras e brincadeiras indecentes. Não havia sentimento de respeito e nem se acreditava na inocência delas. Vestiam-se como fossem pequenos adultos eram qualificados como enfants – aqueles que não sabem falar.
O avanço civilizatório das Ciências Sociais, Psicologia e Pedagogia faria ver nelas uma fase da vida diversa do adulto que deveria ser cercada de cuidados e atenção garantir o futuro delas e da própria sociedade.
A redução da maioridade penal para os 16 anos quer tornar o adolescente um criminoso qualquer. Mas pela fúria punitiva dos neoconservadores e protofascistas, o correto para muitos seria a punição se estender à própria infância, como demonstram as reações à morte do menino Eduardo, baleado por fuzil da polícia no Morro do Alemão (RJ): fotos nas redes sociais de crianças exploradas pelo tráfico, portando armas de forma desafiadora – a polícia “faria um favor” em eliminar esses “futuros traficantes”, dizem postagens mais exaltadas nas redes sociais.
Parece ser esse o “espírito da lei” por trás da redução da maioridade penal: o retorno ao Código Hamurabi. No fundo, esse item conecta-se ao item 8 da gloriosa volta de Lombroso – poderíamos antever nas características físicas da criança seus futuros crimes?
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4) A ressurreição de Pavlov e Skinner e o mar revolto da terceirização
Com exceção das experiências com ratinhos em laboratórios, o comportamentalismo (a crença de que o comportamento humano pode ser condicionado de forma instintiva, assim como os animais) de Pavlov (1849-1936) e Skinner (1904-1990) tinha sido soterrado pelo humanismo da pedagogia piagetiana e pelos estudos do inconsciente e psiquismo da Psicanálise: o homem não é o simples resultado mecânico dos estímulos do meio – ele possui uma vida psíquica interior própria com impulsos, desejos e fantasias.
Por isso, desde as Escola de Relações Humanas, passando pela Teoria do Capital Humano e da Gestão do Conhecimento até chegar aos taoísmos da gestão e os paradigmas holísticos, todas acreditavam que capital e produtividade não eram apenas o suficiente para a criação de valor na empresa: era necessário o “capital do conhecimento” e a “iniciativa individual”.
A globalização e os tempos bicudos pós-crise das bolhas da Internet em 2000 e do mercado imobiliário em 2008 e o derretimento da Zona do Euro mandaram às favas esse viés humanista. Voltamos à natureza selvagem do capital com a terceirização e a irresponsabilidade social com o fim dos direitos trabalhistas.
E o “capital humano”? Vire-se com a psicologia motivacional, literatura de autoajuda e Programação Neurolinguística (PNL). Todos com um quê dos velhos Pavlov e Skinner, só que dessa vez com um novo vocabulário: reprogramação mental, força da mente, foco em objetivos e assim por diante.
No mar revolto da mão-de-obra autônoma e sem direitos, só restará se agarrar a essas boias furadas motivacionais. Afinal, olhe sempre para o lado brilhante da vida, quer dizer, no “reforço positivo” dos ossinhos que o treinador dá ao cachorro obediente.
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3) O fantasma imortal do marxismo soviético
Há mais de um século os comunistas assombram o mundo ocidental, desde que o governos dos EUA enquadraram Hollywood com o Código Hays em 1930 com regras restritivas aos conteúdos dos filmes, com medo de que comunistas estivessem infiltrados na indústria cinematográfica com a sinistra intenção de envenenar os corações e mentes americanas.
Não adiantou a Queda do Muro, a Perestroika de Gorbachev, a União Soviética ser desmantelada e a máfia russa dominar o Estado outrora comunista. O fantasma vermelho continua assombrando a mente neoconservadora – talvez porque na sua falta de identidade social ou nacional, necessite de algum tipo de inimigo externo para manter o ego unificado.
Pois agora o “marxismo soviético” (Isso mesmo! Alguns mais exaltados em manifestações de rua falam dele...) se transformou em bolivarianismo: União Soviética, Simón Bolívar, ouro de Cuba de outro highlander (Fidel Castro) alimentando o PT, o fantasma também imortal de Hugo Chaves... Será que os Iluminatis também são soviéticos?
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2) “Cada gota conta”
Esse é o lema de campanhas educativas para que cada cidadão faça a “sua parte” e economize água. Por trás desse slogan esconde-se o estranho retorno da filosofia positivista de Auguste Comte (1798-1857) do século 19. Para o positivismo a sociedade funcionaria por meio de um mecanismo newtoniano: causa e efeito e eventos que se acumulam (1+1+1...) até formar um Todo.
Através do estudo de cada parte chegaríamos ao Todo por adição. Desde Hegel (A verdade é o Todo) até chegar à fenomenologia e a psicologia Gestalt descobriu-se que, na verdade, o Todo não é a soma das partes. Confirmado pela Teoria do Caos na Física, constatou-se que a dinâmica é complexa, caótica, com saltos qualitativos (a velha dialética de Hegel) e atratores estranhos semelhante à mecânica dos fluidos.
Isso significa que as mudanças sociais não ocorrem com ações aditivas, mas por quebras de ordens e paradigmas.
Mas a má consciência neoconservadora, culpada por se sentir alienada, esconde-se nas pequenas ações que supostamente transformariam o mundo. “Cada um faz a sua parte”, é o mantra neoconservador da ideologia da sustentabilidade: se cada um reciclar seu lixo, economizar água e energia, plantar uma árvore etc., o mundo magicamente se transformará.
Entre o indivíduo e o Todo não haveriam estruturas, ordens ou paradigmas que resistem e se defendem para não serem quebradas. Para o neoconservador, a sociedade é a mera soma de indivíduos isolados.
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1) O mundo é plano!
E agora a cereja do bolo, a chave de ouro de todo esse revival de ideias conservadoras que acreditávamos superadas: a incrível revelação de que na verdade a Terra é plana. Os membros da Sociedade Internacional Terra Plana de Pesquisas(Ifers) localizada em Dove (Reino Unido), liderado pelo carismático pintor hiperrrealista e fotógrafo canadense Matt Boylan, na verdade ressuscitam as ideias de uma Zetetic Society fundada em 1883 na Inglaterra (que, por sua vez, se fundamentava em concepções esotéricas antiquíssimas) que propunha o “método científico Zetético” e uma “astronomia Zetética”.
Certamente é a mãe de todas as teorias das conspirações. Essencialmente é assim: a Terra é um disco coberto por uma cúpula e rodeado por uma parede de gelo que mantem os oceanos cerrados. O Sol e a Lua são apenas estrelas errantes. O programa espacial é uma farsa e não existem satélites. Os testes nucleares em grande altitude que EUA e URSS fizeram no final da década de 1950 foram tentativas de fazer furos na cúpula, mas não obtiveram sucesso. A gravidade zero não existe – tudo o que vimos foram simulações em aviões a grande altitude.
Esqueça Ptolomeu na Antiguidade, a circunavegação de Fernão de Magalhães em 1552 ou as soluções de Newton e Einstein para o conceito de gravidade. Por alguma intenção conspiratória sinistra, os poderes mundiais querem esconder de todos a verdade.
Segundo informações, o movimento cresce arrebanhando por ano 200 novas almas – a maioria britânicos e norte-americanos.
Certamente é uma ideia exótica e bizarra depois de séculos de progresso científico, assim como a Igreja da Euthanásia do item 10. Mas esse top 10 do bestiário neoconservador é preocupante por ser um evidente sintoma de que há algo de errado na Cultura nesse início de novo século.
Lembre-se que os nazis na 2ª Guerra Mundial acreditavam na convicção esotérica de que a Terra era oca, de onde saiam discos voadores e os deuses da Hyperborea... Sobre isso leia o livro O despertar dos mágicos dos historiadores franceses Louis Pawells e Jacques Bergier.

Massacre: Polícia do tucano Beto Richa deixa centenas de servidores públicos feridos no Paraná

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Ambulâncias tiveram dificuldade de se aproximar da Assembleia Legislativa para socorrer feridos. “Professores estão sendo massacrados”, diz sindicato. Vinte e cinco soldados foram intoxicados.
Centenas pessoas ficaram feridas em cerca de uma hora e meia de repressão da polícia do governador tucano Beto Richa a servidores que protestam desde o início da semana contra um projeto de lei que altera as regras de custeio da Paraná Previdência, no Centro Cívico, em frente à Assembleia Legislativa. O projeto promove perdas em direitos previdenciários do funcionalismo a pretexto de socorrer as finanças do estado. Os professores, em greve, estão acampados desde segunda-feira, dia 27/4, no local.
Ambulâncias tiveram dificuldade de se aproximar para socorrer os feridos, uma vez que a Tropa de Choque da Polícia Militar fez um cordão para isolar o prédio da Assembleia e lançou bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral e jatos de água.
Havia entre os feridos, que chegaram a 200 pessoas, idosos, crianças e deficientes. Uma senhora que se apoiava nas grades do prédio da Assembleia foi alvejada à queima-roupa por um disparo de bala de borracha no meio das costas enquanto a polícia avançava contra os manifestantes.
O deputado Rasca Rodrigues (PV) e um repórter foram mordidos por um cachorro da PM. Entre as forças de repressão, 25 soldados intoxicaram-se com o gás lacrimogêneo lançado por seus colegas.
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O governo Richa é acusado pela oposição, que tenta protelar a votação, de promover ação “truculenta”, ao enviar policiais militares para cercar a Assembleia Legislativa. “São trabalhadores organizados fazendo uma mobilização não para conquistar direitos, mas para não perdê-los. O governo não tem diálogo nenhum com o setor público e ainda por cima manda colocar a polícia”, disse o deputado federal Enio Verri (PT/PR).
Os feridos procuraram refúgio na prefeitura de Curitiba. “Parece uma praça de guerra”, publicou no Twitter o prefeito Gustavo Fruet (PDT). No prédio do Executivo municipal, a menos de 100 metros da Assembleia, servidores foram obrigados a deixar seus postos de trabalho por causa do gás lacrimogêneo. A todo tempo servidores apelavam para que a polícia parasse de atirar. “Os professores estão sendo massacrados”, denunciou o presidente do sindicato da categoria, Hermes Leão.
A maioria dos deputados deixou o plenário, mas o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), recusou-se a parar a sessão, que já tem os votos favoráveis de 31 dos 54 deputados estaduais.
Enquanto deputados governistas falavam na ação de supostos Black Blocs, o deputado Nereu Ramos (PMDB) ironizou: “São Black Blocs armados de giz e avental”. O também peemedebista Requião Filho foi mais realista: “Nós, como poder, deveríamos nos envergonhar do que aconteceu aqui hoje”.
Pouco antes do início da sessão, os senadores Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT) reuniram-se com líderes do governo e da oposição para pedir que os deputados esperassem ao menos um parecer do Ministério da Previdência solicitado pelo próprio governador antes de seguirem com a votação, o que não demoraria mais do que alguns dias.
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Gleisi advertiu que um eventual parecer negativo pode impedir o Paraná de ter acesso a repasses voluntários da União e inviabilizar uma certidão que garantiria ao estado acesso a empréstimos. A base governista optou por seguir com a pauta apesar dos protestos e da advertência de Gleisi. “Por que a pressa?” questionou o deputado Anibelli Neto (PMDB). “Porque esse governo quebrou o estado”, respondeu ele mesmo.
O projeto de lei em votação na Assembleia Legislativa foi encaminhado pelo Executivo para alterar a previdência estadual. O governo paranaense quer tirar 33 mil aposentados com mais de 73 anos do Fundo Financeiro, sustentado pelo Tesouro estadual e que está deficitário, e transferi-los para o Fundo de Previdência estadual, pago pelos servidores e pelo governo, que está superavitário.
Clique aqui para ver o massacre de Curitiba.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Lava-Jato: Quando os vídeos mentem

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Imagem errada da cunhada de Vaccari simboliza uma investigação feita sem isenção, onde os suspeitos só podem confessar, delatar ou apodrecer.
É certo que o juiz Sérgio Moro, que autorizou a prisão de Marice Correa Lima, a cunhada do tesoureiro do PT João Vaccari Neto, ficou devendo um pedido formal de desculpas a prisioneira. Marice ficou presa por 6 dias, em Curitiba, sem que houvesse um fiapo de prova contra ela.
Pode-se perguntar, será que o Conselho Nacional de Justiça, que tem a missão de zelar pela atuação dos juízes, irá examinar o comportamento de Moro?
Também pode-se perguntar por alguma providência junto ao Ministério Público, que fez o pedido de prisão e tentou até manter Marice na cadeia num regime mais duro.
Será que o Conselho Nacional do MP irá debater o assunto? Poderá extrair algum ensinamento desse episódio?
Assistiu-se, neste caso, a uma demonstração de desrespeito pelos direitos humanos mais elementares, em especial pela regra que ensina que toda pessoa é inocente até que se prove o contrário.
Depois de todas essas ressalvas, deve-se reconhecer que vivemos uma situação tão absurda, tão estranha, que Marice pode ser considerada uma pessoa de sorte.
Ela ficou presa por seis dias, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, como suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás, com base numa prova grotesca: imagens de um vídeo de uma máquina bancária na qual faria depósitos clandestinos para sua irmã, Giselda, casada com Vaccari.
O escabroso encontra-se na imagem, sabemos agora: a pessoa que é retratada, fazendo depósitos num caixa eletrônico, simplesmente não é Marice.
É a própria Giselda, a mulher de Vaccari – e essa descoberta, clamorosa, absurda, mudou a história de Marice. Também coloca dúvidas sobre a prisão do próprio Vaccari, como você poderá ler mais adiante.
Sem a imagem errada, ela ficaria presa por mais quatro dias, como já fora resolvido por Sérgio Moro, prorrogando seu regime de prisão temporária. Quem sabe acabaria presa por meses, como acontece com a maioria dos primeiros detidos da Lava-Jato, que desde novembro foram entregues a carceragem, onde enfrentam a alternativa de confessar e deletar, ou apodrecer.
Longe de uma atuação equilibrada, que ouve as partes, pondera e analisa os pontos da defesa e da acusação com igual boa vontade, pondera, o que prevalece aqui é a vontade de punir e punir.
Marise só conseguiu livrar-se da prisão porque as cenas gravadas pela máquina eletrônica constituem um flagrante técnico, insubstituível, único e vexaminoso.
Como tantas pessoas ouvidas na Lava-Jato, Marice foi levada para prestar depoimento e, embora tivesse explicado cada uma das acusações, não lhe deram crédito algum. Suas negativas foram vistas como falta de disposição para colaborar. A segurança nas respostas, como agravante: prova de sangue frio.
Ela saiu do interrogatório para a cadeia. Ninguém achou muito estranho – pois as cenas da Lava-Jato são assim mesmo.
Como se estivesse preparando o que iria acontecer, dias antes o líder do PSDB Carlos Sampaio aproveitou uma sessão da CPI do Petrobras – aquela dos roedores – para falar da cunhada de Vaccari em termos ofensivos.
Nos últimos dias, uma revista chegou a escrever que “de acordo com as investigações, Marice operava uma central de propinas em casa.”
Um jornal disse que havia a “suspeita” de que ela de que estivesse “foragida”. Sua presença no Panamá, como uma das responsáveis pelo trabalho administrativo de um congresso da CSA, Central Sindical das Américas, foi apresentada como cascata. Bastava uma ligação por DDI e uma consulta ao Google para saber que se trata de uma das principais centrais sindicais do mundo, nascida em 2008, fundada com apoio da CUT, liderada por militantes de vários países, inclusive dos Estados Unidos.
Quando a prisão temporária estava para vencer, o Ministério Público entrou com pedido para que sua permanência na cadeia fosse transformada em prisão preventiva, que pode ser mantida por tempo indeterminado. Os procuradores escreveram: “Tudo indica que Giselda [mulher de Vaccari] recebe uma espécie de ‘mesada’ de fonte ilícita paga pela investigada Marice, sendo que os pagamentos continuam sendo feitos até março de 2015. Nesse contexto, a prisão preventiva de Marice é imprescindível para a garantia da ordem pública e econômica, pois está provado que há risco concreto de reiteração delitiva”.
Juristas experientes sabem que acusações genéricas como “perigo para a ordem pública” costumam encobrir a falta de fatos concretos e provas contundentes. Podem até emocionar o público em determinadas conjunturas mas não alimentam o bom Direito.
São uma herança genérica da “ameaça a segurança nacional” que era o fantasma favorito da ditadura militar. Convivem melhor com o silêncio dos acusados, a falta de direitos de defesa. No Brasil da Lava-Jato, um traço marcante é a falta de habeas-corpus para presos sem culpa formada – outro traço do AI-5, que começou com a suspensão do habeas-corpus.
O juiz Sergio Moro examinou o pedido do MP. Não atendeu à solicitação para mudar o regime de prisão da nova detida, mas prolongou o regime anterior.
Num despacho assinado para explicar a decisão, Moro fez questão de referir-se aos supostos depósitos de Marice para dizer: “A extensão temporal [dos delitos] assusta o juízo.” Ele ainda salientou que “nem mesmo as sucessivas prisões decorrentes do andamento da Operação Lava-Jato intimidaram Marice.”
A sorte de Marice é que, desta vez, não foi apenas o despacho de Moro que chegou aos meios de comunicação. O vazamento incluiu um presente envenenado, que os jornalistas não se deram ao trabalho de conferir. Disse um portal, dois dias antes da soltura de Marice:
“Câmeras de segurança de caixa eletrônico mostram Marice fazendo depósito na mesma hora em que entrou dinheiro na conta da mulher do ex-tesoureiro do PT. Ela havia negado ter feito tais operações.”
Fiasco autoritário.
Um trabalho típico de quem é capaz de classificar uma senhora como perigo para a “ordem pública e econômica” mas não é capaz de distingui-la da irmã.
Comprovado o desastre, cabe extrair algumas lições. Marice foi presa como coadjuvante de um enredo no qual João Vaccari Neto é apresentado como personagem principal, ao menos até agora.
Visto com frieza, os argumentos para soltar Marice deveriem ser reconsiderados para se avaliar a sorte de Vaccari.
A presença da cunhada na denúncia era uma tentativa de dar materialidade à visão de que ele residia no centro de um universo de propinas e verbas clandestinas que não só ajudavam alimentar os cofres do PT, mas também enriqueciam a família.
Vaccari sempre sustentou que fez seu trabalho rigorosamente dentro da lei. Sustenta por exemplo que nunca se encontrou com o doleiro Alberto Youssef, que fazia a lavagem de recursos para o esquema – nunca foi desmentido e pelo visto não o será. Pode estar errado? Pode. Mas é preciso provar.
Quando as provas contra Marice se desfazem, é razoável perguntar por que o próprio Vaccari continua preso. Depondo hoje à tarde na CPI da Petrobras, o executivo Augusto Mendonça Neto, do grupo Toyo Setal, admitiu a existência de um cartel de empreiteiros e pagamento de propinas para diretores da Petrobras. No que diz respeito a Vaccari, contudo, por duas vezes, respondendo ao deputado Leo Britto (PT/AC) Mendonça Neto assegurou que era outra coisa: “Tenho todas as contribuições detalhadas, os comprovantes entregues, no meu depoimento (da delação premiada).”
Você pode acreditar ou não. Mas, em todo caso, deve lembrar-se de que todos são inocentes até prova em contrário. Como todos aprenderam, às vezes, até os vídeos mentem.

Sérgio Moro entre a legalidade e um jogo de truco



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“Fugitiva” no Panamá, a Marice de Moro não era Marice: era Giselda.
O herói substituto de Joaquim Barbosa na narrativa conservadora, tão confiante na cumplicidade da mídia, não hesitava em ver o que as imagens da câmera negavam.
Conta-se que em uma revista semanal de conhecida isenção jornalística, repórteres não raro recebem um título pronto e a recomendação expressa: providenciar um texto “investigativo” que o justifique.
O juiz Sérgio Moro e a equilibrada equipe responsável pela Operação Lava-Jato poderiam ter feito estágio na referida redação, com a qual, aliás, mantém laços de simpatia recíproca e de valores compartilhados.
Mesmo que não o tenham feito há sinais preocupantes de comungarem um singular método Paraná de investigação nessa sua cruzada como paladinos contra a corrupção, assim incensados com direito a pôster épico na primeira página da Folha de São Paulo.
Armados de uma sentença – como os títulos prévios da mencionada revista –, eles se puseram a campo para compor um lego jurídico em que as peças servem na medida em que se encaixam nos espaços reservados.
Tudo recortado pelas lâminas de um primarismo, cujo fio da meada se resume a um juízo de valor: a corrupção no Brasil nasceu – e morrerá, se depender da monarquia de Curitiba – junto com o PT.
A última e mais desconcertante evidencia de que a Nação está ao sabor desse jogo de cartas marcadas em que a investigação cumpre papel acessório à sentença, foi a prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, de sua esposa, Giselda Rousie de Lima, e da cunhada, Marice Corrêa de Lima.
Quatro dias após a prisão da cunhada de Vacari, em 17/4 – antes declarada foragida e assim denegrida pelo jornalismo isento durante as 48 horas em que se encontrava em um Congresso sindical no Panamá, o juiz Sérgio Moro pediu a prorrogação de sua detenção.
Justificando-a, em pomposa declaração à mídia, praticamente sentenciou a investigada.
“Embora Marice não tenha sido identificada nominalmente, os vídeos apresentados não deixam qualquer margem para a dúvida de que a pessoa em questão é Marice Correa de Lima”, afirmou o juiz Sérgio Moro, no feriado da última terça-feira (Globo.com, 21/4/2015 12h22)
O responsável pela Lava-Jato respaldou sua esférica assertiva no exame de imagens das câmeras de segurança de um banco, a partir das quais o “método Paraná” de investigações corroborou a manchete preconcebida.
Aquela nacionalmente martelada nas horas seguintes, que atribuía à Marice Corrêa de Lima a responsabilidade por depósitos considerados suspeitos na conta da irmã, Giselda (esposa do tesoureiro do PT).
Pronto. Mais uma porta da corrupção petista arrombada pelo “método Paraná”.
No pedido de prorrogação, Moro alegou que a medida “oportunizará” novo depoimento de Marice “na qual ela poderá esclarecer ou não sua participação nos depósitos em espécie realizados na conta da esposa de João Vaccari Neto e as circunstâncias que envolveram esses fatos”.
O “método Paraná” de investigações sustentava que entre 2008 e 2014, a mulher de Vaccari, Giselda Rousie de Lima recebeu cerca de R$323 mil em depósitos da ordem de R$10 mil mensais.
As quantias em alguns casos teriam sido depositadas em caixas eletrônicos.
O vídeo alardeado por Moro, de março de 2015, fecharia a peça condenatória contra Marice. Seria ela a mulher que aparece em uma agência bancária, efetuando um depósito.
“Assim, tudo indica que Giselda recebe uma espécie de “mesada” de fonte ilícita paga pela investigada Marice [em depósitos] feitos até março de 2015”, diziam os procuradores, segundo o portal Globo.com.
Em depoimento à Polícia Federal, Marice, em vão, afirmou não ter feito nenhum depósito para Giselda em março de 2015.
Sim, em vão, porque o “método Paraná” já tinha seu labirinto decifrado.
“Nesse contexto, a prisão preventiva de Marice é imprescindível para a garantia da ordem pública e econômica, pois está provado que há risco concreto de reiteração delitiva”, defendia o MPF, que ainda pedia a apuração da viagem dela ao Panamá, “pois levanta suspeitas da manutenção de depósitos ocultos no exterior, como por diversas vezes se verificou com outros investigados nesta operação”.
O juiz Sérgio Moro foi além.
O herói substituto de Joaquim Barbosa na narrativa conservadora avaliou como “perturbadora a extensão temporal aparente da prática criminosa” por parte de Marice Corrêa de Lima.
No mesmo despacho em que determinou a prorrogação da prisão temporária, o magistrado menciona que há registros de envolvimento de Marice no escândalo do “mensalão”.
Vai por aí o “método Paraná”.
Atire primeiro.
Pergunte depois.
O constrangimento do ambiente jurídico é que as fotos e vídeos sobre os quais se baseou o assertivo e pomposo ajuizamento de Moro neste caso desmentem o preconcebido de forma clara, serena e ostensiva.
Será apenas um ponto fora da curva na Lava-Jato? Ou a síntese de um ambiente condenatório embalado pela cumplicidade irrestrita daqueles que em vez de arguir incensam o flerte com o arbítrio?
Agora se sabe, da boca do próprio juiz Moro, que Marice não era a mulher dos vídeos que, há dois dias, ele dizia “não deixarem qualquer margem para a dúvida de que a pessoa em questão é Marice Correa de Lima” (Globo.com, 21/4)
A mídia tolamente hipnotizada ou deliberadamente cínica, em boa parte cúmplice do “método Paraná” de sentenciar antes, para investigar depois, olhava para as fotos dos vídeos publicadas em suas próprias página como os bobos da corte da fábula do Rei Nu: elogiava a fina seda do monarca de Curitiba.
E Moro estava despudoramente nu de razão neste caso.
Mas de tal forma confiante no silencio obsequioso da mídia aliada que não hesitava em expor ao ridículo suas palavras, lado a lado das fotos que as contradiziam.
E a mídia nada disse diante do exclamativo estupro das evidências.
Nada disseram os colunistas da indignação seletiva nas longas, constrangedoras últimas 48 horas em que as fotos circularam como a criança da fábula que gritava “o rei está nu, o rei está nu”.
Foi preciso o próprio rei admiti-lo para jornalismo genuflexo, de novo, endossa-lo.
As irmãs Giselda (esposa de Vaccari) e Marice (cunhada) são parecidas.
Mas não são iguais.
Da análise pedestre, a olho nu, sem a ajuda dos recursos digitais hoje disponíveis, avultava a diferença entre a cunhada condenada pelo “método Paraná” e a imagem capturada pela PF das câmeras do caixa automático.
Quem fazia o depósito a Giselda nos vídeos era a própria Giselda.
Só Moro não via – ou não podia ver sem ter que descartar mais uma peça teimosa do lego com o qual quer levar o PT ao inferno, a Petrobras ao fundo do pré-sal, as empreiteiras nacionais a falência e o Brasil ao buraco sem fim. Ou pelo menos tentá-lo até 2018, quando então, os bobos da corte que hoje elogiam a seda fina de seu traje invisível vestiriam outro monarca para catapultá-lo ao trono do Brasil.
Erros acontecem.
Evitá-los é o dever de todos.
Sobretudo, porém, é o dever de um juiz não ceder à sulforosa sofreguidão dos que antepõem aos fatos – e às fotos – a sua opção política, temerariamente envelopada em força de lei, como se a investigação legal fosse um jogo de truco cuja principal matéria prima é o blefe contra adversários políticos marcados para morrer.
O caso Marice/Giselda pode não ser um ponto fora da curva na circularidade vertiginosa em que evolui a Lava-Jato.
Não se faça juízo prévio dos fatos em investigação neste episódio ou em qualquer outro em questão.
Não só da Lava-Jato, mas também da extensão imponderável dos ilícitos no Metrô de São Paulo ou no escândalo de Furnas em que, segundo depoimento público do doleiro Alberto Youssef – esquecido pela monarquia de Curitiba – Aécio Neves e a irmã desfrutaram de um comissionamento de longos cinco anos a US$100 mil por mês.
Dê-se a todos a isonômica e devida presunção da inocência.
Antes que condenações prévias, a exemplo do caso caricatural das irmãs Marice/Giselda, subordinem o ambiente jurídico brasileiro ao arbítrio de um rei nu e ao elogio da seda fina que o veste por parte dos bobos da corte.

Espalhe a verdade: Mitos sobre Lula



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Lula é vítima de boatos e mentiras há muitos e muitos anos, desde que passou a representar uma séria ameaça aos grupos que controlaram o país durante décadas a fio. Leia aqui alguns dos principais boatos, saiba a verdade e ajude a divulgar as informações reais.
Lula_Mitos02_Forbes
Lula saiu na capa da Forbes e é um dos homens mais ricos do Brasil
Uma falsa capa da Forbes, revista norte-americana de economia e negócios, circula há alguns anos pela internet. Ela mostra Lula como principal personagem do ranking dos homens e mulheres mais ricos do mundo, elaborado todos os anos pela revista.
Para começar, trata-se de uma montagem grosseira. Uma simples busca nos arquivos da publicação comprova que a tal capa nunca existiu. Mesmo assim, o boato se espalhou tanto que a própria Forbes fez questão de publicar um desmentido, em 2013.
O nome de Lula jamais constou do ranking anual de bilionários dessa ou de qualquer outra revista, pela simples razão que Lula não é e jamais foi bilionário.

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Lula_Mitos03_FriboiO filho do Lula é dono da Friboi, de um avião, da Torre Eiffel e da Casa BrancaOutro mito famoso diz respeito a um dos filhos do ex-presidente, Fabio Luís Lula da Silva, que nos boatos é identificado como Lulinha.
“Denúncias” anônimas afirmam, sem apresentar fontes, que Lulinha é milionário, tem uma mansão faraônica e um avião de US$50 milhões e é um dos donos da empresa JBS, da marca de carnes Friboi. Mais uma mentira. Lulinha não é sócio da empresa, nunca teve avião e a foto da suposta mansão que pertenceria a ele mostra, na verdade, a bela sede da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz(Esalq/USP), em Piracicaba.
Lulinha pediu a abertura de inquérito policial para investigar as origens desses boatos, com o objetivo de identificar e punir os responsáveis. Os verdadeiros donos da Friboi são o empresário Joesley Batista e sua família.
Fontes que revelam a verdade
O próprio dono da Friboi
Esalq-USP
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Lula_Mitos04_CancerLula está com câncer no pâncreas, no pulmão e até já morreuLula foi acometido por um câncer de laringe em 2011. Desde o início, a doença do ex-presidente foi tratada com toda transparência, a pedido do próprio Lula. O diagnóstico e as etapas do tratamento, até o desaparecimento do câncer, em 28 de março de 2012, foram amplamente divulgadas. Desde então, os exames periódicos feitos pelo ex-presidente são divulgados, em notas médicas que atestam a boa saúde dele. A última vez que Lula fez exames foi em 15 de novembro de 2014 e a nota divulgada pela equipe médica afirma o seguinte: “Todos os exames apresentaram resultados normais”.
Fontes que revelam a verdade
Hospital Sírio-Libanês
Brasil 247
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Lula_Mitos05_AposentadoriaLula recebe aposentadoria por invalidezEm 1964, aos 18 anos, o ex-presidente sofreu um acidente na Metalúrgica Independência, em São Paulo, onde trabalhava. Lula recebeu uma indenização à época e continuou trabalhando durante vários anos, sendo eleito posteriormente presidente da República. Boatos espalhados pela internet dizem que ele recebe até hoje uma aposentadoria por invalidez, o que não é verdade. Quem recebe esse benefício não pode trabalhar e receber salários de qualquer espécie, muito menos como representante do povo.
Fontes que revelam a verdade
Ministério da Previdência Social
Lei nº 8.213 (Seção V, Subseção I)
Consultor Jurídico
Revista Trip
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Lula_Mitos06_ComparacaoLula deu sorte e já pegou a economia bombandoO Brasil se transformou radicalmente desde a eleição de Lula – de um país para poucos, passou a ser em um país para todos.
Poucos países conseguem crescer com inclusão social, num ambiente de plenas liberdades democráticas. O Brasil se orgulha de ser um deles.
Das grandes economias do mundo, nenhuma outra gerou 21 milhões de empregos, garantiu ganho real de 70% para o salário mínimo, triplicou os investimentos em educação, retirou 36 milhões de pessoas da miséria e promoveu 42 milhões à classe média – com inflação dentro da meta, dívida pública em queda, reservas internacionais sólidas e crescente protagonismo no cenário mundial.
Com FHC, quem mandava no Brasil era o Fundo Monetário Internacional (FMI). Isso mudou. O país que era obrigado a cortar investimentos, empregos e programas sociais para cumprir as metas do FMI hoje é dono do próprio nariz e – surpresa! – empresta dinheiro ao FMI.
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Lula_Mitos07_Bolsa_FamiliaLula não criou o Bolsa Família: Ele já pegou tudo pronto!Os programas sociais do governo tucano eram dispersos, não tinham um eixo estratégico, e beneficiavam pouquíssima gente. Eram pouco mais que uma vitrine. Foi Lula, em 2003, quem unificou vários programas e multiplicou seu alcance e o volume de recursos, transformando-os em políticas de Estado.
O governo Lula mostrou que os pobres não eram o problema do Brasil e sim parte da solução para que o país crescesse e se tornasse mais igual. Por isso, o investimento em políticas sociais cresceu oito vezes: de R$3 bilhões para R$25 bilhões. Hoje, graças ao Bolsa Família, 36 milhões de brasileiros e brasileiras estão fora da pobreza extrema.