segunda-feira, 30 de março de 2015

“Pagamento de propina na Petrobras transcende o PT e o PSDB.”

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O professor Pedro Henrique Pedreira Campos da UFRRJ.
O historiador Pedro Campos, autor de livro sobre elo entre empreiteiras e ditadura, fala que esquemas vem dos anos 50.
Gil Alessi, via El País Brasil em 18/3/2015
Nem durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, como disse a presidenta Dilma, nem no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, como afirmou o delator da Lava-Jato Pedro Barusco. Nenhum dos dois partidos foi pioneiro quando o assunto é corrupção na Petrobras, segundo Pedro Henrique Pedreira Campos, professor do Departamento de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Campos é autor do livro Estranhas catedrais: As empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar (Editora da UFF, 2014), que mostra como as mesmas construtoras que hoje estão no banco dos réus da operação Lava-Jato já pagavam propinas e se organizavam em cartéis durante o regime militar. E até antes.
O título, ele explica, é uma referência a “Vai Passar”, gravada por Chico Buarque em 1994, que cita as “estranhas catedrais” erguidas no país das “tenebrosas transações”.
El País  Com a Lava-Jato há um debate sobre a origem da corrupção na Petrobras. Quando começou a corrupção na estatal?
P.H.P.C.
 – Existe um jogo de empurra para ver de quem é a culpa, e isso fica muito à mercê dos conflitos políticos atuais. O problema transcende as principais siglas partidárias, PSDB e PT. A prática de pagamento de propina na Petrobras vai além disso. Pode ser que tenha surgido no governo do FHC e do Lula um esquema para financiamento de campanha. Este tipo específico de procedimento talvez tenha sido criado nestes governos, com o envolvimento de diretores da estatal e repasse para partidos. Mas isso é apenas um indicativo de quão incrustadas na Petrobras estão estas construtoras. Muitas dessas empresas prestam serviço para a estatal desde 1953, e existem registros de que essas práticas ilegais já existiam nesta época.
El País – A corrupção é a exceção ou a regra no mercado das construtoras?
P.H.P.C. –
 A impressão que tenho, e temos indícios disso, é de que a prática de cartel é institucionalizada no mercado de obras públicas. As vezes existem conflitos, mas o que impera é o acordo, os empresários não querem uma luta fratricida, porque isso reduziria as taxas de lucro deles, então eles tentam dividir os serviços. E isso remonta há muito tempo, desde a década de 50, quando o mercado de obras publicas no Brasil começa a se firmar.
El País – Qual era a situação das grandes construtoras antes ditadura?
P.H.P.C. –
 Na segunda metade da década de 50, com a construção de Brasília no governo de Juscelino Kubitschek e a as obras de infraestrutura rodoviária, as empresas começaram a prosperar. Antes de JK elas tinham apenas alcance local e regional: eram empreiteiras mineiras, paulistas e cariocas que realizavam obras em seus respectivos Estados. Naquele período elas não tinham sequer o domínio sobre técnicas para obras hidrelétricas, por exemplo.
El País – Como era a relação das empreiteiras com os militares?
P.H.P.C. –
 Elas foram sócias da ditadura. Nisso a Camargo Corrêa se destaca. O dono era muito próximo do regime, e ela financiou a Operação Bandeirante, que perseguiu militantes de esquerda no país. As empreiteiras tiveram uma participação importante no golpe de 1964, que foi um golpe civil-militar. Várias associações de empresários foram antessalas do golpe, que contou com uma participação intensa do setor de construção. E depois elas colheram os frutos deste apoio.
El País – Qual construtora que mais cresceu durante a ditadura?
P.H.P.C. –
 A Odebrecht, que hoje é uma gigante do mercado, era muito periférica antes da ditadura. Era uma pequena empreiteira nordestina, bastante secundária. Não participou das obras do plano de metas do JK, nem das rodovias, mas ela cresce de maneira impressionante durante o período de exceção. Em grande parte porque ela tinha uma presença muito forte junto à Petrobras, que na época tinha muitas obras no Nordeste. Quando a estatal começou a crescer, a Odebrecht foi junto. E à partir daí ela conseguiu o contrato do aeroporto do Galeão (RJ).
El País – O que deu força às empreiteiras brasileiras na ditadura?
P.H.P.C. –
 O decreto presidencial 64.345 de 1969 estabeleceu uma reserva de mercado paras empresas brasileiras, que caiu como uma luva para elas, que não tinham como concorrer com as estrangeiras. [Segundo o texto, “só poderão contratar a prestação de serviços de consultoria técnica e de Engenharia com empresas estrangeiras nos casos em que não houver empresa nacional devidamente capacitada”] O decreto facilita a formação de cartel entre elas, aumentou muito o volume de recursos e obras que as construtoras passaram a obter de contatos públicos. Com esse dinheiro elas vão adquirir tecnologia para realizar outras obras, como aeroportos supersônicos, as usinas nucleares, etc. Com o decreto elas passaram a tocar as obras do chamado “milagre econômico” da ditadura, o que permitiu que elas obtivessem lucros altíssimos e aprofundassem as práticas de cartel e corrupção no governo.
El País – Não havia investigação destas práticas irregulares na ditadura?
P.H.P.C. –
 [Essas práticas] não eram coibidas. Muitas vezes obras eram contratadas sem concorrência, isso era muito comum na época. As investigações sobre práticas de cartel eram raras, os mecanismos de controle estavam amordaçados, não havia Ministério Público e a imprensa era censurada.
El País – Existe algum indício de que durante a ditadura haviam pagamentos de propina?
P.H.P.C. –
 Naquele período vinham menos denúncias a público, mas isso não quer dizer que não houvesse corrupção. Há indícios que havia um sistema de propina institucionalizado naquela época. Documentos do Serviço Nacional de Informação indicam que haviam pagamentos irregulares, e que alguns agentes públicos seriam notórios recebedores de propina e comissões. Isso era muito comum e corriqueiro no período. Com o fim da ditadura isso passa a vir mais a público.
El País – Com a democratização, o modus operandi das empreiteiras mudou?
P.H.P.C. –
 Houve uma mudança bastante pronunciada, que segue a mudança da organização do Estado. Durante a ditadura as atenções das empreiteiras estavam voltadas para o poder Executivo – ministérios e empresas estatais, principalmente. E quando o país se abre para a democracia a correlação de forças muda, e elas tentam se adaptar. Elas passam a atuar junto às bancadas e aos partidos políticos, porque o Legislativo ganha força. Elas passam a ser ativas para obter emendas parlamentares e verba para obras. Existe inclusive no Congresso uma bancada da infraestrutura, e eles são bastante afinados com o desenvolvimento das empresas.
El País – Existe um mito de que durante a ditadura a corrupção era menor. Isso se comprova factualmente?
P.H.P.C. –
 Eu diria que a corrupção era mais difundida e generalizada, pela falta de mecanismos fortes de fiscalização.
El País – As empreiteiras ainda influenciam as decisões do Estado?
P.H.P.C. –
 Acho que sim, elas são muito poderosas. Estamos vivendo um momento singular, elas estão bastante acuadas, mas elas são muito importantes no Parlamento, no processo eleitoral e para pautar as políticas públicas. Vimos no governo Lula a retomada de vários projetos que foram concebidos durante a ditadura, como a transposição do rio São Francisco e a construção de Belo Monte, por exemplo. E isso remete ao poder que esses empresários continuam tendo no governo. “Quem faz o orçamento da republica são as empreiteiras”, disso o então ministro da Saúde Adib Jatene em 1993. O fato é que os empresários fizeram uma transicão de muito sucesso para a democracia. Elas haviam se apropriado de parte do Estado durante a ditadura, e continuam lá na democracia.
El País – Os acordos de leniência que o governo quer assinar com as empresas da Lava-Jato são uma ferramenta que pode mudar a maneira das empreiteiras atuarem?
P.H.P.C. –
 Historicamente elas já estiveram envolvidas em vários escândalos. E a lógica da política brasileira é colocar panos quentes e continuar adiante. A linha do governo é clara: estão na defesa declarada dessas empresas. Para mudar a relação do Estado com as empresas no Brasil seria preciso uma mudança profunda, repensando o sistema de financiamento eleitoral, e criando alternativas às empreiteiras privadas no país.

Os reais motivos do inconformismo da elite reacionária

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A elite se consolida alicerçada em práticas de corrupção. Por isso o fim do financiamento privado de campanha não é uma pauta de seus protestos.
Observando as manifestações de sexta-feira, dia 13/3 – convocadas pela CUT e movimentos sociais – e de domingo, dia 15/3 – convocadas pelo Movimento Brasil Livre e pelo Vem pra Rua – fica claro o acirramento da divisão existente na sociedade brasileira. Embora saiba que a realidade é complexa, para fins de análise, considerarei apenas os aspectos mais relevantes.
De um lado, os pobres e parte da classe média progressista fazendo pressão para que o governo Dilma avance para a esquerda, ou seja, para que amplie e aprofunde as reformas sociais e políticas.
Do outro lado, os ricos e parte da classe média conservadora, desejando o retorno à direita, com tudo o que isso significa.
Em minha opinião, engana-se quem pensa que estes últimos querem apenas tirar a Dilma da Presidência. O que eles querem mesmo é um país socialmente desigual, machista, racista, homofóbico e alinhado com os EUA.
É preciso atentar que os avanços conseguidos pelos governos Lula e Dilma nestes aspectos, incluindo os avanços dos BRICS, estão construindo uma nova realidade insuportável para a elite e para a parte da classe média que se julga elite. Isso é notório nas redes sociais: quem frequenta, sabe do que estou falando.
No entanto, a elite propriamente dita quer sim o impeachment da Dilma, porque estão muito seguros de que seu governo contraria e continuará contrariando os seus interesses. Ao contrário do que alguns afirmam, penso que ela não acha que tanto faz ter a Dilma ou o Michel Temer no comando do executivo federal.
Com todo o respeito ao vice-presidente, e à parcela progressista do PMDB (Requião, Pezão, Eduardo Braga, entre outros), a elite econômica acha que num governo presidido por Temer, pressionado pelo grupo do deputado Eduardo Cunha, conseguirá mudanças que garantam seus interesses e a estratégica preservação do status-quo na área de Comunicação. Acredita que conseguirá, sem dificuldade, implantar o regime de concessão na exploração do pré-sal. Que conseguirá acabar ou reduzir bastante a política de conteúdo local, no âmbito da Petrobras, entre outras questões relevantes.
Em síntese, essa elite pensa que conseguirá voltar a ser o foco do direcionamento das políticas do governo federal, em todas as áreas. Como no período 1500-2002!
Já a classe média conservadora, com muita ou pouca renda, diz temer o “comunismo” que os governos do PT estão implantando (sic). Para conseguir o apoio destes, as elites construíram um modelo ideológico, que lhes garante a necessária adesão, votos e manifestações. A insuficiente politização dos governos do PT e do próprio partido contribui para deixar parte da população à mercê dessa “lavagem cerebral” anti-PT.
O que essas pessoas entendem por “comunismo do PT”?
  • Garantia do direito à moradia digna para os pobres, aumento de renda para a classe média e renda mínima para os miseráveis. Garantia de sistema de saúde, de educação e de assistência social público e universal. Baixo nível de desemprego. Além desses, programas como Mais Médicos, Brasil Sorridente, UPAs, Escolas Técnicas e Universidades públicas são considerados, por essa classe média, um desperdício de recursos.
  • Redução das desigualdades sociais. Para essa parcela, bolsa de estudos para os seus filhos estudarem fora do país é algo desejável. Já Prouni, Fies e cota para negros é uma excrecência a ser abolida. Para ela, pobre se quiser subir na vida tem que estudar e trabalhar bastante. Como se as condições históricas econômicas, sociais e culturais fossem minimamente favoráveis a isso. O ponto alto da raiva dessa classe média contra o PT é o fato de Lula, um operário, analfabeto (segundo ela), ter se tornado presidente do Brasil, se reeleger e, ainda por cima, ter garantido a sucessão para a Dilma. Mas o pior de tudo, para ela, talvez seja a possibilidade de Lula voltar à Presidência em 2018!
  • Criminalização do racismo e política de cotas. Onde já se viu garantir aos afrodescendentes os mesmos direitos dos brancos? Para elas, negros só podem ascender por mérito, e olha lá!, como se as condições históricas fossem permeáveis a isso.
  • Criminalização rigorosa do machismo e políticas de emancipação e autonomia das mulheres. Aqui também essa parcela da classe média entende que é um direito histórico dos homens poder agredir esposa, namorada, filha, irmã ou colegas de trabalho. Sempre foi assim! Porque agora tem que ser diferente? Não é à toa que o termo mais utilizado para se referir à Dilma é “vaca”! Além do mais, que história é essa de Lei Maria da Penha, para punir os machões? Autonomia econômica? Uma ova! “Lugar de mulher é na cozinha”.
  • Criminalização rigorosa da homofobia e políticas públicas para a parcela LGBT da sociedade brasileira. A recente punição da Justiça ao ex-candidato Levy Fidélix, por declarações homofóbicas, são inaceitáveis para os conservadores. Um governo que defende esses direitos tem mais é que cair, pensam eles!
  • Interferência na ordem econômica e na geopolítica mundial, com a consolidação dos BRICS, o que significa alinhamento com China, Rússia, Índia e África do Sul, bem com o recém-criado fundo próprio para desenvolvimento destes países, similar ao FMI. Esse movimento diminui a dependência em relação aos EUA, sendo considerado por eles uma afronta a nossos irmãos do Norte. Fingem não ver que esse movimento foi tão bem sucedido que até a Alemanha está interessada em fazer parte disso!
Finalmente, ouso dizer que a corrupção, para o movimento anti-Dilma, nunca foi e jamais será um problema real. Mas essa bandeira é levantada porque “não pega bem” lutar pela volta da desigualdade social, do machismo, do racismo, da intolerância aos LGBT e da dependência aos EUA. Ao contrário, bradar contra a corrupção – de preferência do PT, é claro! – garante uma boa imagem aos manifestantes.
A elite econômica e boa parte da classe média conservadora se consolidam e crescem alicerçadas em práticas de corrupção. São elas o poder corruptor, sem o qual não existiriam corruptos. No que depender delas, o financiamento de empresas privadas às campanhas eleitorais continuará vigindo.
Dito tudo isso, fica a triste constatação de que quanto mais os governos de esquerda fazem avançar uma pauta progressista, socialista, mais irrita os defensores do status-quo de antes de 2003.
Essa tensão, portanto, tende a aumentar, porque temos governos progressistas e de esquerda, não só no âmbito federal, mas em estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e em cidades importantes como São Paulo.
Não resta a esses governos alternativa ao avanço das políticas econômicas e sociais. Mas para isso ser viável, há que aumentar sensivelmente a participação social, em espaços atrativos para a parcela progressista da sociedade. Há missão também para os movimentos sociais e para os partidos de esquerda. Mas me restringirei aos governos.
Atualmente, a correlação de forças nos é desfavorável e ela não será alterada somente com ações e comunicação eficazes. É fundamental termos um processo de tomada de decisão e controle social que garanta o necessário empoderamento da sociedade na defesa de um governo de esquerda. Quanto mais conscientes dos porquês das decisões, maior dificuldade terá a direita para a sua lavagem cerebral.
Quem nunca vivenciou um processo eficaz de participação social na gestão talvez tenha dificuldade de entender o que estou dizendo. Por isso, pretendo fundamentar essa tese em artigos futuros, com maior nível de detalhamento e de exemplos bem sucedidos.

Suiçalão: Lista do HSBC inclui artistas, cineastas e escritores do Brasil

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Jô Soares, Claudia Raia, Edson Celulari, Marília Pêra, Maitê Proença e Ricardo Waddington estão na lista do HSBC.
Claudia Raia, Edson Celulari, Jô Soares, Tom Jobim e família de Jorge Amado, entre outros, estão nos arquivos do banco suíço.
A lista de brasileiros com contas secretas no banco do HSBC na Suíça inclui, segundoreportagem publicada pelo jornal O Globo na segunda-feira, dia 23/3, artistas, cineastas, escritores e músicos do País.
Entre os nomes divulgados estão o do apresentador da Rede Globo Jô Soares, dos atores Maitê Proença, Marília Pêra, Francisco Cuoco, Claudia Raia e Edson Celulari. Quatro membros da família de Jorge Amado estão na lista do HSBC, além de Tom Jobim e dos irmãos Andrew Waddington (cineasta) e de Ricardo Waddington (diretor da TV Globo). O cineasta Hector Babenco e o publicitário Roberto Medina também têm registros no banco.
No período investigado pelo projeto SwissLeaks, entre 1988 e 2007, a conta de Jô Soares não tinha saldo. Maitê Proença abriu uma conta no banco suíço em 1990 e tinha, em 2006/2007, US$585,2 mil. Em conta conjunta, Claudia Raia e Edson Celulari contabilizavam US$135,7 mil.
Marília Pêra, segundo os registros, abriu a conta em 1999. Em 2006/2007, ela dispunha de US$834 mil no HSBC suíço. As contas da família de Jorge Amado estavam no nome do próprio escritor, falecido em 2001, da esposa Zélia Gattai, morta em 2008, e dos dois filhos, Paloma e João Jorge. De acordo com o banco, a conta da família estava zerada em 2006/2007.
A conta conjunta dos irmãos Waddington também estava zerada em 2006 e 2007.
Em resposta à reportagem do jornal O Globo, as celebridades citadas no caso disseram não ter conhecimento sobre qualquer conta no banco suíço. Em outros casos, alguns explicaram ter realizado todas as operações financeiras de forma legal.
Entenda o casoNo início de fevereiro, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), divulgou o projeto SwissLeaks, por meio do qual foram expostos quase 60 mil arquivos com detalhes sobre mais de 100 mil correntistas do HSBC e suas movimentações bancárias, entre 1988 e 2007.
As contas bancárias reveladas somam mais de US$100 bilhões depositados em filiais do banco por correntistas ao redor do mundo.
À época, os dados sobre as correntes foram vazados pelo ex-funcionário do banco Herve Falciani. As informações foram entregues por ele a autoridades francesas, em 2008. Com o projeto SwissLeaks, mais de 140 jornalistas em 45 países investigam os nomes envolvidos no caso.
Até o momento, foram descobertas contas secretas, no HSBC da Suíça, de 6,6 mil brasileiros. Estima-se que os depósitos de correntistas brasileiros no paraíso fiscal possa chegar a US$7 bilhões.

As estratégias de destruir o SUS para mercantilizar a saúde

As estratégias de destruir o SUS para mercantilizar a saúde

by bloglimpinhoecheiroso
SUS_DolarSe privatizada, a saúde deixa de ser um bem público como direito social para se tornar mais um produto inserido na dinâmica capitalista global.
A proposta de destruir o SUS, na tentativa de privatizar a saúde pública brasileira, tem início no governo FHC e veio embrulhada no contexto do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. De fato, a Reforma fez parte da ação governamental como componente da estratégia neoliberal, compreendida por três ações básicas: a) substituição ao que se chamou de administração pública burocrática e clientelista por uma administração gerencial ou nova administração pública; b) modificação do sistema previdenciário, transformando-o em fundos de investimento; c) privatização de empresas e serviços públicos passíveis de reverterem seus objetivos sociais para a busca do lucro. O princípio básico da proposta sintetizava-se na administração gerencial, estabelecida nas relações de mercado, inclusive naquelas atividades consideradas como bens e serviços públicos em geral, especialmente a saúde e a educação. A implantação dessa política assumiu procedimentos açodados do governo, quando até mesmo aspectos formais não foram de todo resolvidos na premência de impor o novo modelo e por concepção autoritária de governar. Segundo COSTA FILHO: “... o processo [referindo-se à Reforma] se afasta de qualquer padrão democrático na medida em que se constrói sobre o informalismo e o lobby, de natureza intrinsecamente excludente” (COSTA FILHO, 1997, p. 188). Com tal formulação, a Reforma se apresentou excludente, autoritária e na confirmação do caráter intransitivo do Estado brasileiro quanto à acessibilidade popular da informação-pública e de resistência às conquistas sociais.
Todavia, a reforma do aparelho estatal, empreendida por FHC, ficou inconclusa diante da perspectiva distorcida da realidade socioeconômica e geopolítica do país, do inconsistente aspecto operacional, e da rejeição tácita pelos segmentos populares da sociedade. Porém, a sua essência resistiu e se consolidou. As agências autônomas, por exemplo, foram estabelecidas e fortalecidas, e se mantiveram insuladas no posicionamento de total independência do governo e, como sói acontecer, das classes populares, dialogando intensa e diretamente com grandes grupos econômicos e financeiros e representantes da elite burocrática. Bem como as proposições neoliberais se radicaram nas demais esferas de governo.
O entendimento, enfim, é de que a reforma do Estado FHC avançou até onde foi possível e politicamente satisfatória ao capital. Haja vista que à época houve a promulgação da Emenda 29, com previsão de garantia de recursos para a saúde pelos governos dos municípios, dos estados e federal. Porém, enfaticamente, a Emenda 29 transparece ser parte da estratégia para disciplinar os recursos da saúde que, revestida no simulacro de uma proposta com alcance popular, viabilizaria os investimentos de interesses privados a ser completada com a destruição do SUS. Contudo, os segmentos capitalistas ligados à saúde não puderam contar com o timing político favorável à reversão em benéficos próprios das perspectivas de mobilização dos recursos públicos financeiros em montantes colossais e garantidos que a nova emenda constitucional projetava. Primeiramente, houve a necessidade política de dar tempo ao tempo para o governo se refazer do esforço despendido na venda das empresas estatais a preços aviltantes. Fatos que não deixaram de melindrar a opinião pública, mesmo tendo sido um processo realizado com a escamoteação de informações sobre o processo de desestatização e o deliberado cerceamento de participação da sociedade civil, principalmente das classes populares, no debate que o assunto exigia.
A alternativa prudencial parece ter sido a de aguardar momentos propícios para, então, voltar à privatização de atividades com notório interesse social e sujeitas à mobilização política de segmentos populares que se sentissem prejudicados, como, por exemplo, a saúde pública, previdência social, grandes extensões do território nacional destinado à agricultura em larga escala, e, no plano dos negócios, as vendas do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e o que ainda havia de público na Petrobras. Todavia, a alteração do mando político no cenário nacional, em 2003, alterou substancialmente essas pretensões.
A partir de 2003, os setores privados voltaram à carga com o objetivo de mercantilizar a saúde no Brasil, com o apoio sustentado na parceria com o Banco Mundial, instituição que, segundo RIZZOTTO (2000), age nos “... interesses político/ideológicos e econômicos que tem permeado determinados processos, aparentemente favoráveis à consolidação do SUS, mas que em realidade modificam substancialmente a configuração original deste Sistema”. Como parte de sua estratégia, essa instituição financeira internacional publicou, em 2008, o livro Desempenho hospitalar no Brasil: em busca da excelência, de autoria de Gerard La Forgia e Bernard Conttolenc, representantes da Interhealth Soluções em Saúde e da Universidade de São Paulo. Em síntese, os autores procuram apontar a incapacidade de o sistema hospitalar brasileiro se apresentar em níveis de eficiência exigidos para atender a demanda (sic) crescente, e, implícita e explicitamente, indicam como solução a privatização do sistema de saúde, portanto, com a exclusão dos princípios da equidade, universalidade e gratuidade no formato original do SUS, sustentado na CRFB, Art. 196, e Leis nº 8080/1990 e 8142/1990.
A eficiência do aparelho estatal, alinhada no discurso neoliberal desses autores, é estabelecida na lógica recursos/custos/oferta/demanda/lucro em saúde, e deverá se propagar, continuamente, na fundamentação da aliança entre o Estado e o mercado de saúde. Não é difícil compreender que o estratagema é permitir o processo de cessão paulatina, pelo Estado, dos aparelhos de saúde, concomitante com o repasse de recursos públicos, perdão de dívidas e incentivos fiscais a grandes grupos privados constituídos segundo as regras do terceiro setor, seguradoras e grandes empresas de hospitais. No tempo em que se enalteceriam, com instrumentos de marketing político, os direitos individuais e não mais da sociedade como pedagogia-subliminar de controlar e transformar as necessidades de saúde em demandas de serviço.
A proposta dessas políticas de saúde não se efetiva a partir das causas de aumento das necessidades de saúde (promoção e proteção de saúde; prevenção, tratamento e reabilitação de doenças), mas nas formas de encontrar condições (infraestrutura hospitalar, tecnologias de última geração, geralmente importadas, centralização de atendimentos em grandes hospitais em cidades polos, com o objetivo de ganhos de escala, transportes de pacientes, precarização do exercício da medicina, etc.) para dar conta do aumento da demanda (sic). Em outras palavras, a qualidade da saúde dá lugar à quantidade de atendimento. Isto é, a saúde deixa de ser um bem público como direito social. Para se afirmar no contexto das definições segundo as planilhas de custo, como forma de se manter os riscos financeiros sob o controle rígido em busca do máximo lucro, expressão objetiva da gestão por resultados, conforme explicito na Reforma de FHC. Os objetivos da saúde deixariam de ser a conquista do bem viver, quando, então, passariam a ser geridos, não no enfrentamento das causas de necessidades vinculadas aos limites e fragilidades das pessoas, mas a partir de adequações dos recursos determinados pela imagem-objetivo do lucro. Em resumo, a necessidade de saúde transformar-se-ia, pois, em demanda de saúde, por conseguinte em mercadoria a ser pesada, vendida e comprada, por quem, evidentemente, tivesse dinheiro.
A proposição se completa na mensuração de resultado das ações na saúde através de metodologias externas de controle de qualidade ou autorregulação. Uma prática ilusória, pois o atributo saúde implica uma dimensão qualitativa e subjetiva que transcende qualquer método externo. Ademais, o corporativismo na autorregulação é decisivo diante da avidez do capital representado por grandes organizações privadas de saúde, as agências reguladoras e o próprio Bird. A estratégia é, assim, desmontar, política e midiaticamente, a estrutura brasileira de saúde fazendo romper os ganhos sociais representados pelo SUS, com o sucateamento final do aparelho estatal de saúde, a partir da restrição do investimento público e da renuncia fiscal pelas diferentes esferas de governo em favor dos planos privados de saúde, pelo menos até quando o sistema permanecer nas mãos do Estado e a saúde como direito social estiver viva na consciência da sociedade civil, para, então, doar ou subordiná-lo à iniciativa privada, organizações do terceiro setor, cooperativas de saúde e seguradoras em geral.

Um outro dia na vida do Perfeito Idiota Brasileiro

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Algum tempo atrás escrevi sobre o PIB. O Perfeito Idiota Brasileiro.
Ele ia para o trabalho ouvindo a CBN e antes de dormir via o Jornal da Globo. Nos intervalos, lia Merval, Reinaldo Azevedo e Villa. Tinha por ídolo Joaquim Barbosa.
E agora, nestes trepidantes dias de 2015, o que faz o nosso PIB?
Bem, as leituras se ampliaram, dada a oferta de colunistas dedicados a pessoas como ele.
Agora, pela manhã, a caminho do serviço, ele alterna a CBN com a Jovem Pan. Gosta de ouvir Sheherazade. Que sua mulher jamais saiba, mas às vezes tem sonhos eróticos com Sheherazade.
Aquela voz, aqueles cabelos. Será que ela faria um daqueles comentários durante o sexo? …
Na Jovem Pan o PIB também aprecia os comentários de Marco Antônio Villa.
Um cabeça.
Numa entrevista com Haddad, Villa massacrou-o. Provou que o futuro pertence aos carros, e não às bicicletas.
Londres, Paris, Nova Iorque, Copenhague, Amsterdã, todas elas estão na contramão da história. Investem em ciclovias.
“Villa poderia dar consultoria a elas”, pensou PIB depois de ouvir Villa enquadrar Haddad.
Também aumentou o número de gênios que ajudam PIB a formar sua opinião. Ele agora sempre passa os olhos pelo blog de Constantino, da Veja.
A expressão “esquerda caviar” é uma inspiração divina, pensa PIB. Para ele, um sinal dos problemas atuais da humanidade é que o mundo dá atenção a economistas como Piketty e ignora sábios como Constantino.
PIB leu que Constantino, a bordo de uma bolsa-esposa, foi para Miami. “É a chance de os norte-americanos descobrirem seu talento”, deduz PIB.
Rapidamente, prevê PIB, o livro de Constantino sobre a esquerda caviar será traduzido em inglês. Piketty será reduzido a nada, na comparação.
Caviar left...
Com a publicação do livro, Constantino chamará a atenção da presidência norte-americana. Poderá ser um conselheiro econômico da Casa Branca.
Por que não um Nobel?
Na verdade o Brasil já merecia um Nobel faz tempo por realizações literárias. Como os suecos puderam ignorar o livro de Ali Kamel que diz que não somos racistas?
E além do mais é um livro fininho…
O debate sobre o racismo contemporâneo foi reescrito ali. Os brancos é que são vítimas de preconceito no Brasil. Os brancos e os héteros.
Até quando vamos ter de suportar a ditadura gayzista?
Nas noites de segunda, Roda Viva é obrigatório. Augusto Nunes, o Brad Pitt de Taquaritinga, é maravilhoso.
Faz perguntas sensacionais. Perguntou a Lobão, por exemplo, o que ele achava da Dilma. Como alguém pode fazer uma pergunta tão profunda e tão surpreendente?
PIB ri também com os artigos de Augusto Nunes da Veja. Compartilha todos. Finalmente alguém para falar das bebedeiras de Lula, pensou PIB.
Claro que, para falar naquele tom, Augusto Nunes tem que ser um homem que jamais passou do primeiro copo de cerveja.
Em Taquaritinga, os pais devem ser muito rigorosos ao ensinar a seus filhos os males da bebida...
PIB ouviu falar também de um novo site, o Antagonista. O editor é tão modesto que, quando trabalhava na Veja, transformou uma edição especial sobre seu romance numa simples reportagem de meia dúzia de páginas.
Poderia ter colocado seu livro na primeira posição dos mais vendidos, mas preferiu pô-lo, singelamente, apenas entre os dez mais.
Tenho de ler... O nome é brilhante. Antagonistas por causa de antas. O outro editor escreveu um livro sobre antas, e então uma coisa puxou a outra. Não ficou nenhuma ponta solta.
Todas as noites, uma passagem por Gentilli é obrigatória.
Nasceu para fazer rir.
PIB gostava, particularmente, da maneira como Gentilli lidou com um negro que reclamou de piadas racistas. Ofereceu bananas.
Como ele pode ter tanta inspiração?
O respeito de PIB pela Justiça brasileira cresceu ainda mais depois que um juiz considerou que não havia racismo nas bananas oferecidas por Gentilli.
Temos de acabar com a ditadura do politicamente correto.
Nas últimas semanas, a vida de PIB tem sido particularmente agitada. No dia 15 de março, vestiu a camisa da seleção e foi para a Paulista.
Um pouco de vaidade não faz mal a ninguém, e então PIB pintou o rosto de verde e amarelo.
Boas chances de chamar a atenção da imprensa. Só que não havia imprensa. Alguém falou que os jornalistas estavam com medo de apanhar, mas PIB não acreditou.
Viu vários filmes em que jornalistas cobriam guerra como se cobrissem concursos de receitas de pudim.
Heróis.
Quis ser original na placa que carregaria. E então escreveu: “Fora Foro de São Paulo”. Não tinha a menor ideia sobre o que era o Foro de São Paulo, mas Constantino falava disso o tempo todo, e então sua frase era oportuna.
PIB cantou o hino na Paulista. Quer dizer, fez que cantou. Ninguém é perfeito, e PIB fazia tempo que esquecera a letra.
Voltou para casa cheio de amor pelo Brasil e pelos colunistas que o faziam ser quem era, um PIB.
Estava cansado à noite, mas ainda tinha pela frente as panelas. Jamais imaginara que bater panelas pudesse ser tão excitante.
Hummm… o que é isso?
Isso era uma ereção cívica.
PIB, depois de muito tempo, solicitou a mulher à noite para algo além de um prato de comida.
Na cama, consumado o sexo, PIB se sentiu o rei do mundo. E gritou isso, não em português, que seria muito clichê, mas em inglês, como em Titanic.
Sua mulher não entendeu nada, mas fazia tempo que ela desistira de compreender o marido.
Nem banho ele foi tomar.
Dormiu direto, aquele sono límpido, majestoso, inviolável típico do Perfeito Idiota Brasileiro.

Lençol freático, o melhor reservatório para águas de chuva


Esses tempos de crise hídrica em vários regiões e centros urbanos do país tem virtuosamente servido a um despertar de leigos e especialistas para certos aspectos de ordem hidrológica que somente não se destacaram antes porque nessas mesmas regiões que hoje sofrem com a falta do recurso hídrico predominava uma certa cultura da bonança hídrica, no âmbito da qual era inimaginável uma circunstância de escassez grave e prolongada.

O absurdo das perdas de água nas canalizações de distribuição, o enorme desperdício por parte os usuários finais, a criminosa poluição das águas urbanas, o desmatamento generalizado dos mananciais, a perda quase total do volume hídrico de chuvas ocasionais, compõem alguns desses paradoxos e aberrações.

No caso específico do melhor aproveitamento das águas de chuva o país pode, a partir dessas constatações, dar um enorme salto de qualidade em um período de tempo razoavelmente curto, com resultado fantástico para o balanço hídrico de suas cidades. Até porque em regiões como São Paulo, e especialmente em épocas como as de crise hídrica, como a atual, choca-nos testemunhar o enorme desperdício de boa água quando de chuvas torrenciais urbanas. É um paradoxo, como uma cidade em crise hídrica pode permitir que tal caudal de água boa se esvaia pelo sistema de drenagem sem um mínimo aproveitamento?

Precisamos distinguir nesse caso dois tipos de aproveitamento de águas de chuva: o direto e o indireto.

Sobre o armazenamento direto, não há dúvida que os reservatórios domésticos e empresariais de águas de chuva para usos mais brutos, como lavagem de pisos internos, praças, arruamentos, autos, regas de vegetação, descargas sanitárias, operações em caldeiras e processos industriais, etc. em muito aliviariam o sistema público de oferta de água tratada potável. Pode-se inclusive pensar em grandes reservatórios urbanos subterrâneos implantados em áreas urbanas circunscritas, nas quais, pelo tipo e consolidação da urbanização presente, o grau de contaminação das águas de escoamento superficial fosse mais baixo e tolerável. O piscinão do Pacaembu, na cidade de São Paulo, seria um bom exemplo. Essas águas passariam por algum mínimo tratamento local e poderiam após ser utilizadas para vários fins que não exigissem sua potabilidade.

Mas há também a excepcional e esquecida possibilidade de armazenamento indireto, ou seja, armazenamento da água de chuva devidamente infiltrada no solo e acumulada nas camadas que compõem o substrato geológico das cidades; em outras palavras a água subterrânea. É conhecida a propriedade das cidades em impermeabilizar os terrenos e impedir a infiltração das águas de chuva, lançando-as rápida e diretamente nos sistemas de drenagem superficial, que ao fim, através de córregos e rios as conduzem e levam para fora do município. Se, através de uma série de dispositivos, como os próprios reservatórios domésticos e empresariais aliados à capacidade de infiltração, a disseminação de bosques florestados, a obrigatoriedade de adoção de pisos e pavimentos drenantes, etc., a cidade aumentar sua capacidade de infiltrar águas de chuva estaremos “abastecendo” o grande reservatório subterrâneo com milhões de metros cúbicos de boa água; a ser retirada e aproveitada através da instalação de uma rede de poços profundos. Essa alternativa ainda trará uma enorme colaboração na redução de riscos de enchentes urbanas.

Nisso tudo está, obviamente, envolvida uma questão de mudança de cultura e muito esforço educativo. Não há o que esperar, mãos à obra.

Em Israel, uma vitória contra a paz

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O gesto recorda tempos sombrios.
Reeleito pela quarta vez consecutiva nas parlamentares, o premier mais longevo da história do país mostra sua face.
Conseguir a maioria de assentos no Parlamento por parte do Likud, o partido de Benjamin Netanyahu, nas legislativas de terça-feira, dia 17/3, parecia menos previsível do que nos três pleitos anteriores. O povo israelense está dividido. Precisa de mais segurança? Ou de uma sociedade mais igualitária, e um país onde, segundo o Banco de Israel, 20 famílias controlam empresas que representam metade do valor total do mercado de ações do país? Pesquisas de intenções de voto davam vantagem à União Sionista, liderada pelo líder trabalhista Yitzhak Herzog e, em segundo lugar, a Tsipi Livni, no comando da sigla centrista Hatnua.
O programa da União Sionista é redistribuir as riquezas. E, além da economia, Herzog e Livni preocuparam-se com a segurança do país. Herzog, de 54 anos, mantém boas relações com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. O líder trabalhista é favorável ao congelamento de assentamentos na Cisjordânia. Acredita na chamada “solução de dois Estados”. Portanto, cerca de 20% de árabes israelenses, parte de uma população de 8 milhões no território de Israel, representado por um bloco esquerdista no Knesset, apoiaram Herzog. Isso sem levar em conta legendas centristas, centro-esquerdistas, esquerdistas e ecológicas.
Netanyahu raramente aborda o tema da paz. Em vez de redistribuição da riqueza, prefere falar sobre como evitar a recessão a afetar o mundo. Nisso, diga-se, ele se saía bem, para alegria da mídia neoliberal do Ocidente, inclinada a descurar dos menos favorecidos. No entanto, além da desigualdade galopante, o custo de vida em Israel é elevadíssimo. Para se ter ideia, em 2013, quando cobri as eleições parlamentares de então, o preço dos imóveis havia crescido 40%. O déficit orçamentário era de 8 bilhões de euros.
Já no plano de política de vizinhança, apoiado pelos costumeiros falcões, Netanyahu finalmente disse o que sempre murmurou: “Enquanto eu for premier, não haverá um Estado Palestino”. Vale lembrar: até o ano passado, Netanyahu negociava com o presidente da Autoridade Palestina Abbas a possibilidade de uma “solução de dois Estados”. A mediação cabia ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry. No entanto, para angariar votos, o que não faria o veterano Netanyahu do alto dos seus 65 anos? Impedir a criação de um Estado Palestino é, na visão de Netanyahu, medida de segurança, embora a chamada comunidade internacional comece a registrar a brutalidade de Israel contra os árabes-israelenses e os palestinos.
Outra medida de segurança a fazer parte do discurso de Netanyahu, é claro, tem sido o Irã. Enquanto Barack Obama finalmente fazia algo de interessante e encontrava-se em Teerã para dar continuidade às negociações, Netanyahu aceitou o convite do presidente da Câmara dos EUA, o republicano John Boehner, para exprimir as percepções dele sobre o Irã. Era 3 de março. O objetivo de Netanyahu: defender Israel de um “acordo ruim”. Para a oposição norte-americana, no entanto, o presidente israelense mergulhou em uma delicada questão bipartidária nos EUA, com claras intenções de esnobar o democrata Obama. James Baker, ex-secretário de Estado, avaliou, em entrevista à rede de TV CBS, como “um erro” a decisão de Netanyahu de se dirigir a deputados norte-americanos, tanto mais às vésperas do pleito em Israel. Em miúdos, Netanyahu violou princípios básicos de protocolo diplomático.
A partir do voto, o premier tem seis dias para formar uma maioria no Parlamento. A mídia de Israel informava, horas após Herzog ter admitido a derrota na quarta-feira, dia 18/3, que Netanyahu já iniciara os contatos destinados a levar a cabo a composição. A saber com Naftali Bennett, ultradireitista líder do partido Lar Judaico, favorável ao incremento dos assentamentos na Cisjordânia. Ele teria um cargo no gabinete. Outro, Avigdor Lieberman, leão de chácara moldávio com QI baixo (tive o desprazer de entrevistá-lo). É adorado pelos russófilos, a viver em guetos em Tel-Aviv, onde se fala principalmente o russo. Os russos (e israelenses nacionalistas) o veneram por suas posições reacionárias. Liberman propõe até pagar a árabes-israelenses para se mudarem para a Palestina, ou o que sobra dela.
Israelenses nos bairros de predominância russa, onde aluguei quartos de hotéis, gostam dos russos: quase todos são brancos, loiros de olhos azuis. É o mesmo branqueamento que houve no Sul do Brasil e na Argentina no século 19. Os israelenses são, em grande parte, racistas. Basta ver Netanyahu convidar os judeo-franceses após os atentados de 11 de janeiro, que deixaram 17 mortos, a se mandarem para Israel. Comentou um editorialista doHaaretz, diário israelense de língua inglesa: “Trocam o antissemitismo francês pelo racismo israelense”. Mas não é bem assim. O israelense não é aberto como se imagina ao judeu. O etíope, o judeu e o negro, não serão bem-vindos. A loira russa é outra coisa.
Netanyahu precisa, nesses próximos dias, do apoio de Moshe Kahlon, deputado do Likud, que passou a liderar uma agremiação centrista chamada Kulanu. Como aliado de Netanyahu parece atípico. Mostra-se interessado em favorecer questões sociais e econômicas. Ganhou, porém, dez cadeiras no Knesset. Trata-se de um joker no jogo de formações políticas. Ex-ministro das Comunicações e da Segurança do Estado, cansou-se da prepotência de Netanyahu. Mas o premier, por exemplo, usou velhas frases de Kahlon ao elogiá-lo durante sua campanha. O elogiado, claro, não achou graça. A realpolitik tem sua força de persuasão, contudo, e Kahlon neste exato instante está disposto a flertar com o desafeto. É o jogo do poder. Kahlon poderia ser decisivo para o futuro de Netanyahu.
As histórias se repetem. E as personagens tragicômicas, idem. Lembro-me, em 2013, em Israel, de Yair Lapid, ex-jornalista líder da legenda Existe um Futuro. Uma correspondente norte-americana, sorriso nos lábios, anunciou tratar-se “do homem mais sexy de Israel”. Lapid, jovem, pregava negociações de paz com a Palestina. Mas em Ariel, assentamento ilegal na Cisjordânia, ele havia dito: “Não acho que os árabes queiram a paz”. Ademais, não acreditava em um futuro que dividiria Jerusalém entre judeus e muçulmanos. Resultado: foi ministro de Netanyahu. Kahlon, a “esperança”, ficará ao lado de Netanyahu. Ele não é nada diferente de Lapid.
Surpreende (ou não?) a postura dos presidentes norte-americanos. Ingenuidade ou fingimento? De verdade, eles são controlados, em grande parte, pelo voto dos lobbies judeus, como o Aipac. Mesmo assim, uma exceção poderia ser Obama. Ele parece ter acordado. Até quinta-feira, dia 19/3, não havia dados os parabéns de praxe a Netanyahu. A Casa Branca falou em “retórica a dividir a opinião pública”, por parte do governo israelense. Mais: “Condenaram Israel por incitar o povo israelense em um vídeo de 28 minutos gravados por Netanyahu, a promover a corrida às urnas porque os “árabes israelenses estão sendo transportados de ônibus, em massa”.
Parece que Obama resolveu esclarecer o quadro. Mas e quando ele for substituído, em breve, pelo novo presidente?

Trensalão tucano: Justiça aceita denúncia contra cartel

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A nova ação corresponde a contratos realizados pela CPTM no período de 2000 a 2007, quando o estado foi governado pelos tucanos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, além de Claudio Lembo, à época no PFL
A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de São Paulo e deu início a uma nova ação contra onze empresas acusadas de formar um cartel para obter contratos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). No primeiro processo aberto por causa do cartel, em janeiro, quinze empresas haviam sido acionadas.
A nova ação corresponde a contratos realizados no período de 2000 a 2007, quando o estado de São Paulo foi governado pelos tucanos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, além de Claudio Lembo, à época no PFL. A CPTM também irá responder pelas irregularidades.
De acordo com os promotores responsáveis, as multinacionais se uniram para fraudar licitações e negociar qual delas venceria a disputa. Segundo apuração do esquema, as negociações eram feitas a partir de pagamentos de propina a funcionários públicos.
O MP exige que as companhias paguem uma indenização de quase R$2,5 bilhões ao Estado. São rés as empresas Siemens, Alstom, Bombardier, Mitsui, Temoinsa, Tejofran, MPE, MGE, Ttrans e CAF (a espanhola e sua filial brasileira).

Hora da política estilo mandacaru


Hora da política estilo mandacaru, que não dá encosto e nem sombra
Há um ditado popular nordestino que diz: “Mandacaru não dá encosto nem sombra”, já que no lugar de folhas possui espinhos, muito usado para tipificar alguém que não é solidário: “Fulano é igual a mandacaru”.
“Mandacaru” (Cereus jamacaru), palavra de origem tupi que significa “árvore ou fruta de espinheiro que se come”, é também chamado de “cacto candelabro”, “cardeiro”, “cardeiro-rajado”, “cardo”, “jamacaru”, “jumacuru”, “mandacaru-de-boi”, “mandacaru-de-feixo”, Pytaia arbóreae e “tuna”.
É um cacto nativo do Brasil em regiões onde o solo é arenoso ou de clima semiárido. De porte arbóreo, o mandacaru pode crescer até cinco metros; não dá folhas, apenas espinhos de até 20 centímetros; dá flores grandes, que abrem à noite e fecham com o sol, fonte de alimento para abelhas e pássaros; e produz um fruto comestível, tipo baga, de coloração avermelhada, polpa branca e gelatinosa com sementes pretas, de sabor quase doce.
Para a gente nordestina, o mandacaru é lendário e profético, pois, quando ele floresce, é um aviso, por pior que seja a seca, de que é tempo de plantar porque a chuva virá! É um cacto típico da caatinga – medra até entre rochas, caso exista um pouco de areia. Resiste às secas mais inóspitas e sobrevive a temperaturas superiores a 45°C, além de resistir até -7°C. É o símbolo do Nordeste.
Felipe Araújo destaca: “A identificação do mandacaru com o povo nordestino e sua cultura não está somente relacionada aos períodos de estiagem. Por apresentar características como durabilidade, adaptabilidade e beleza, é comumente identificado com o povo nordestino no folclore popular por sua resistência em áreas de difícil sobrevivência”.
“Xote das Meninas”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, eternizou o mandacaru: “Mandacaru, quando fulora na seca/ É sinal que a chuva chega no sertão/ Toda menina que enjoa da boneca/ É sinal que o amor já chegou no coração”. O cantor e compositor Chico César louvou a beleza ímpar do símbolo da resistência nordestina em “Flor do Mandacaru”: “Manda, caru/ Uma flor dessa do sertão/ Uma flor de cardo/ Pra alegrar meu coração/ … Manda, caru/ Flor de mandacaru pra mim/ Pelo correio ou de caminhão/ Num barco do São Francisco/ Peço que você se apresse/ Que a saudade é ruim/ Manda, caru/ Flor de mandacaru pra mim”.
A analogia da política com o mandacaru só explodiu em minha mente quando vi e ouvi o então ministro da Educação Cid Gomes na Câmara dos Deputados, no último dia 19, desnudando a sua alma e lavando o peito de milhões de brasileiros, que há muito contestam o súbito enriquecimento de muitos parlamentares, cujo único meio de vida é a política. Há algo errado e tenebroso por aí.
Aquilo foi uma emboscada de mandacaru, mas, como nordestino experiente, Cid Gomes sabia que “só quem senta em pé de mandacaru é passarinho” e “acunhou”… Não resisti, tuitei: “Não tenho a menor simpatia pelo estilo dos irmãos Gomes (Ciro e Cid), mas tiro meu chapéu pra Cid Gomes hoje! #CidMeRepresenta”.
Cid Gomes não disse, mas decorre da sua contundente fala a compreensão de que, para que parlamentares, nos âmbitos municipais, estaduais e federal, introjetem o republicanismo no cotidiano de suas vidas, a política brasileira tem de adotar o estilo mandacaru: não dar encosto nem sombra.
Tarefa nada fácil, mas possível, como forma necessária para cercear a corrupção típica de achacadores: o “toma lá dá cá!” – um pedágio jagunço.

Cid Gomes disse mais em um minuto do que Aécio poderá dizer em oito anos

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Ao expor a maneira de ser e agir de parte do Congresso, Cid Gomes foi a voz popular que Aécio e Cunha não podem ser.
Ex-ministro escancarou com que tipo de pressão Dilma está sendo obrigada a lidar, com os parlamentares eleitos em 2014. É inegável que o povo percebe o ambiente de acordos entre deputados.
Numa semana em que a mídia tradicional turbinou a repercussão das manifestações “contra a corrupção” de domingo, dia 15/3, o fato político realmente relevante aconteceu dentro do plenário da Câmara, quando o agora ex-ministro da Educação Cid Gomes (Pros) disse em alto e bom som que aquela Casa Legislativa abriga “achacadores” – gente que só pensa em vantagem pessoal e partidária em vez de atuar republicanamente na construção de uma sociedade equilibrada e de um país que tenha como meta e missão a erradicação de toda forma de injustiça.
As declarações de Cid Gomes mostram que a oposição ao governo federal também vive seu inferno astral, em franca crise política, por escolher o caminho do quanto pior, melhor. É inegável que a imagem dos parlamentares cronicamente opositores está desgastada.
Mais além: ficou claro que Cid Gomes disse mais em um minuto de sua fala na Câmara dos Deputados do que o senador e candidato derrotado à Presidência Aécio Neves deveria dizer como oposição, mas nunca poderá nem conseguirá dizer.
O povo não entende a atuação dúbia do PSDB de atacar só o PT e poupar partidos da base governista como o PP e o PMDB. O povo enxerga jogo de cena, acordos velados de bastidores e um velho jeito de fazer política voltado a preservar privilégios só para os “amigos”. Privilégios que chegam à impunidade.
No fundo, Cid Gomes falou o que líderes da oposição, da qual Aécio é a face mais midiática, teriam obrigação de dizer e, se dissessem até poderiam melhorar suas chances nas urnas. Mas nunca veremos, ao fim dos oito anos de mandato como senador que o tucano tem até 2018, ele fazer um discurso como o de Cid, simplesmente porque tem “rabo preso”, por puro interesse político eleitoreiro.
A parte do PMDB e do PP que Cid Gomes classificou como de achacadores é aquela que apoiou Aécio em 2014. Alguns ostensivamente e outros, veladamente.
O episódio, que pode ter criado um embaraço para o Executivo, mas escancarou à população com que tipo de gente a presidenta Dilma está sendo obrigada a lidar, com o Congresso eleito pelo voto em outubro passado, começou com mais um fato ampliado pela mídia em sua ofensiva golpista.
Cid Gomes havia feito uma avaliação em ambiente restrito criticando a parcela de deputados que, segundo ele, usava seus mandatos para emparedar o governo e obrigando-o a acatar suas demandas, desejos e vaidades, ainda que em prejuízo do país e da sociedade brasileira.
A declaração vazou para a imprensa, tornou-se pública, resultou em editoriais e bravatas, abriu uma crise entre o então ministro e a Câmara dos Deputados, que o convocou para “explicar-se”, em mais um evento que se previa um espetáculo para a televisão.
Cid Gomes, porém, disse respeitar o Parlamento, mas repetiu, agora publicamente, todas as críticas aos que se aproveitam de compor a base aliada do governo, com seus partidos nomeando ministros e secretários, mas agem como oposição.
Disse muito claramente que os partidos que desejam fazer oposição deveriam “largar o osso”. Chegou a dirigir-se diretamente ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), respondendo que preferia ser chamado de mal-educado do que de “achacador”, como Cunha estava aparecendo nas manchetes dos jornais.
A confusão foi grande com deputados que vestiram a carapuça e usaram termos ofensivos contra o ex-ministro. Cunha, com sua aversão crônica pela democracia, cortou o microfone de Cid, que retirou-se da Casa. Ao sair, em entrevista, reiterou o que havia dito e defendeu os esforços da presidenta Dilma para tentar qualificar a política e da árdua luta para a combater a corrupção em ambiente adverso.
Em seguida pediu demissão pelo “sincericídio”, pois é óbvio que, por mais que muita gente pense igual à ele, é impossível ter responsabilidade de governar e, ao mesmo tempo, declarar guerra aberta e pública à boa parte de base governista na Câmara.
Cid Gomes vocalizou o que a base eleitoral de Dilma Rousseff nas ruas e nos lares brasileiros vive. A sensação de que o Congresso, de forma generalizada, está pouco ou nada se importando com o eleitorado. E que nada barrará a oposição capitaneada por PSDB e DEM para atingir seus objetivos políticos.

Recordar é viver: 14 escândalos de corrupção envolvendo Aécio, o PSDB e aliados

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São muitos os escândalos de corrupção que lançam suspeitas não apenas sobre o candidato Aécio Neves, mas também sobre seus colegas tucanos e aliados.
O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, se apresenta como o candidato da ética e da moralidade, mas são muitos os escândalos de corrupção que lançam suspeitas não apenas sobre ele, mas também sobre seus colegas tucanos e aliados. Escândalos esses em torno dos quais o PSDB opera para que não tenham destaque da mídia e não sejam investigados. Confira aqui 14 deles:
1 – Escândalo da Petrobras: valor ainda não contabilizado
O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, adora criticar a candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff, pelo suposto envolvimento de petistas no escândalo da Petrobras. As investigações, entretanto, apontam também para o possível envolvimento de lideranças tucanas. Em depoimento, o ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, afirmou ter pago propina ao ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que morreu este ano, para ele ajudar a esvaziar uma CPI criada em 2009 para investigar a Petrobras.
2 – Desvio das verbas da saúde mineira: R$7,6 bilhões
Na última terça (14), no debate da Band, a presidenta Dilma acusou Aécio Neves de desviar R$7,6 bilhões da saúde quando foi governador de MG. O tucano disse que ela estava mentindo e, então, Dilma convidou os eleitores a acessarem o site do Tribunal de Constas do Estado (TCE). Naquela noite, o site saiu do ar, segundo o TCE devido à grande quantidade de acessos. Nesta quarta (15), o site voltou, mas os documentos citados por Dilma desapareceram por cerca de 4 horas, até a imprensa denunciar a manobra. A presidenta do TCE, Adriane Andrade, foi indicada por Aécio e é casada com Clésio Andrade (PMDB), seu vice-governador no primeiro mandato.
3 – Aecioporto de Cláudio: R$14 milhões
Quando era governador de Minas Gerais (2003-2010), Aécio construiu cinco aeroportos em municípios pequenos, todos eles nas proximidades das terras de sua família. O caso mais escandaloso foi o de Cláudio, com cerca de 30 mil habitantes e que já fica próximo a outro aeroporto (o de Divinópolis, há apenas 50 quilômetros). A pista, que foi construída a 6 quilômetros da fazenda do presidenciável, fica nas terras do tio-avô de Aécio, desapropriadas e pagas com dinheiro público. Quem cuida das chaves do portão são os primos de Aécio. Custou R$14 milhões aos cofres mineiros.
4 – Relações com Yousseff : R$4,3 milhões
O doleiro Alberto Youssef ficou conhecido nacionalmente devido ao seu envolvimento no escândalo da Petrobras. Mas a Polícia Federal também investiga os serviços prestados palas empresas de fachada do doleiro para uma outra estatal, a mineira Cemig, controlada há anos pelo PSDB de Aécio Neves, principal líder do partido no Estado. As suspeitas é que a Cemig tenha sido usada para engrossar o caixa do grupo, através da parceria com a empresa Investminas, uma sociedade de propósito específico, criada para construir e operar pequenas hidrelétricas, cuja única operação comercial foi uma parceria firmada com a Cemig. Vendida à Light, a participação na sociedade rendeu à Investminas, em poucos meses, R$26,586 milhões, um ágil surpreendente de 157%. Três semanas depois, R$4,3 milhões foram depositados pela Investminas na conta MO Consultoria, empresa de fachada usada por Youssef. As suspeitas é que tenham sido destinados a pagar os agentes públicos envolvidos na operação. O caso ainda está sob investigação.
5 – Favorecimento aos veículos da família Neves: valor não contabilizado
Nem Aécio Neves e nem o governo de MG divulgam qual a fatia da publicidade oficial do estado foi parar nos meios de comunicação da família do presidenciável, de 2003 até agora. E a falta de transparência, claro, gera suspeitas. A família Neves controla a Rádio Arco Íris, retransmissora da Jovem Pan em Belo Horizonte, e as rádios São João e Colonial, de São João del Rei, além do semanário Gazeta de São João del Rei. Aécio é sócio da Arco-Íris com a mãe e irmã mais velha, Andrea que, quando ele foi governador, era coordenadora voluntária do grupo de assessoramento do governo que tinha como atribuição estabelecer as políticas de comunicação do governo e aprovar os gastos em publicidade.
6 – Nepotismo em Minas
Aécio diz que é a favor da meritocracia, mas, além de receber pelo gabinete do pai, em Brasília, quando morava no Leblon, de 1980 a 1983, não deixou de empregar parentes quando governou Minas. A lista é longa. Oswaldo Borges da Costa Filho, genro do padrasto do governador, foi presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico e Minas Gerais. Fernando Quinto Rocha Tolentino, primo, assessor do diretor-geral do Departamento de Estradas e Rodagem (DER/MG). Guilherme Horta, outro primo, assessor especial do governador. Tânia Guimarães Campos, prima, secretária de agenda do governador. Frederico Pacheco de Medeiros, primo, era secretário-adjunto de estado de governo. Ana Guimarães Campos e Júnia Guimarães Campos, primas, servidoras do Servas. Tancredo Augusto Tolentino Neves, tio, diretor da área de apoio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Andréia Neves da Cunha, irmã, diretora-presidente do Serviço de Assistência Social de Minas Gerais (Servas). Segundo Aécio, o trabalho da irmã era voluntário.
7 – Mensalão tucano 1: pelo menos R$4,4 milhões
Trata-se do esquema de desvio de verbas de empresas públicas armado em Minas Gerais, em 1998, para favorecer a reeleição do então governador tucano Eduardo Azeredo. Além dos políticos tucanos, os acusados são os mesmos responsabilizados pelo chamado “mensalão petista”: o publicitário Marcos Valério e os diretores do Banco Rural. Entretanto, embora tenha acontecido antes, o esquema tucano ainda não foi julgado. E mais, não o será pelo STF, mas pela justiça comum. O processo está engavetado há tanto tempo que vários envolvidos já se beneficiaram pela prescrição. Pela denúncia feita pelo Ministério Público, foram desviados pelo menos R$4,4 milhões. Mas os valores são discutíveis: como as operações de algumas empresas públicas, como a Cemig, ficaram de fora da denúncia, há quem defenda que possa ser bem maior.
8 – Mensalão tucano 2: R$300 mil
As conexões dos tucanos com o esquema de Marcos Valério são profundas. O candidato derrotado ao governo de Minas Gerais pelo PSDB nas eleições deste ano, Pimenta da Veiga, é alvo de um inquérito da Polícia Federal que investiga porque ele recebeu, em 2003, um total de R$300 mil de agências de publicidade de Marcos Valério.
9 – Máfia do Cachoeira: valor não contabilizado
Em 2012, o Congresso instalou uma CPI para investigar as relações entre a máfia do bicheiro Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados. Entre os públicos, estavam o ex-senador Demóstenes Torres (à época filiado ao DEM), o então governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) e o então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusado de prevaricar ao descontinuar as investigações da Polícia Federal. Entre os agentes privados, destacaram-se veículos de imprensa, como a revista Veja, e empreiteiras, como a construtora Delta. Em função da pressão política dentro do parlamento, para aprovar seu relatório final, o deputado Odair Cunha (PT/MG) teve que retirar os pedidos de indiciamento de jornalistas e do ex-procurador geral. O mandado de Demóstenes no Senado foi cassado, mas, por decisão do ministro do STF, Gilmar Mendes, o mais afinado com o ideário tucano, ele teve o direito de reassumir sua vaga de promotor em Goiás.
10 – Cartel dos metrôs de SP e DF: pelo menos R$425 milhões
O escândalo vem de longa data, mas até agora nenhum político foi punido. Envolvem dois casos diferentes, mas com relações entre si: o Caso Alstom, a multinacional francesa que teria subornado políticos ligados ao governo Alckmin para ganhar o contrato da expansão do metrô de SP, e o Caso Siemens, a empresa que admitiu ter formado cartel com outras 13 para fraudar as licitações do metrô de SP e do DF. A Siemens entregou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) uma série de documentos que comprovam que o governo tucano tinha conhecimento da formação do cartel. Reportagem da IstoÉ estimou em R$425 milhões os prejuízos para os cofres públicos. No Caso Alstom, a PF indiciou, por corrupção passiva, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB), ex-ministro do governo FHC.
11 – Privataria tucana: R$124 bilhões
Registradas e documentadas no livro A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Junior, as denúncias revelam os descaminhos do dinheiro público desviado pelos tucanos na era das privatizações, instaurada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu então ministro da Fazenda, José Serra. Resultado de 12 anos de investigação do ex-jornalista da Isto É e de O Globo, o livro irritou o ninho tucano. Serra o classificou como “lixo”. FHC, como “infâmia”. Aécio Neves, como “literatura menor”. Pelos cálculos do deputado Protógenes Queiroz (PCdoB/SP), delegado da Polícia Federal que atuou no caso, o montante desviado dos cofres públicos pelos tucanos para paraísos fiscais chega a R$124 bilhões.
12 – Emenda da reeleição de FHC: valor não contabilizado
Em 1997, durante o governo FHC, a Câmara aprovou a emenda que permitiria a reeleição presidencial. Poucos meses depois, começaram a pipocar as denúncias de compra de votos pelo Executivo para aprovação da matéria. Um grampo revelou que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre, receberam R$200 mil cada um. Na gravação, outros três deputados eram citados de maneira explícita e dezenas de congressistas acusados de participação no esquema. Nenhum foi investigado pelo Congresso nem punido. Apesar das provas documentais, o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, engavetou as denúncias. No ano seguinte, FHC se reelegeu para um novo mandato. Brindeiro foi nomeado para um segundo mandato no cargo.
13 – O caso da Pasta Rosa: US$2,4 milhões
Em 1995, servidores do Banco Central que trabalhavam em uma auditoria no Banco Econômico encontraram um dossiê com documentos que indicavam a existência de um esquema ilegal de doação eleitoral, envolvendo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e Antônio Calmon de Sá, dono do Econômico e ex-ministro da Indústria e Comércio da ditadura. O esquema apontava a distribuição ilegal de US$2,4 milhões dos bancos a 45 políticos que se candidataram nas eleições de 1990, entre eles o José Serra (PSDB), Antônio Magalhães (do antigo PFL, hoje DEM) e José Sarney (PMDB). O ex-banqueiro Ângelo Calmon de Sá foi indiciado pela Polícia Federal por crime contra a ordem tributária e o sistema financeiro, com base na Lei do Colarinho-Branco. Nenhum político foi punido por causa do escândalo.
14 – Caso Sivam: valor não contabilizado
Primeiro grande escândalo de corrupção do governo FHC, o Caso Sivam, que estourou em 1995. envolve denúncias de corrupção e tráfico de influência na implantação do Sistema de Vigilância da Amazônia. O ponto alto foi quando o vazamento de gravações feitas pela Polícia Federal expôs uma conversa entre o embaixador Júlio César Gomes dos Santos, à época chefe do cerimonial de FHC, e o empresário José Afonso Assumpção, representante da empresa norte-americana Raytheon no Brasil, em que ambos defendiam os interesses dessa última no Sivam. E foi justamente a Raytheon que arrematou, sem licitação, o contrato de US$1,4 bilhão. O escândalo também envolvia ministros e outros assessores de FHC, além de empresas brasileiras. Em 1996, o deputado Arlindo Chinaglia (PT/SP) protocolou pedido de instalação de uma CPI, que só saiu em 2001, mas de forma esvaziada. Como tinha maioria no parlamento, o governo FHC conseguiu abafar as denúncias. Ninguém foi punido