Os Estados Unidos caíram na real: o bloqueio a Cuba acabou por se transformar em péssimo negócio para os norte-americanos. Abriu possibilidades de novas correlações de forças, especialmente, com a chegada da China, para financiar grandes negócios na América do Sul. O exemplo recente é o empréstimo chinês de US$3,5 bilhões à Petrobras. Enquanto as forças internas, associadas como sócias menores das grandes potências ocidentais, tentaram e tentam destruir a grande empresa de petróleo nacional, com amplo apoio dos sobrinhos de Tio Sam, os chineses optaram pela ação contrária, apoiar a estatal toda poderosa, cuja influência no continente sul-americano é total, ao lado do BNDES, para atuar na integração econômica das Américas Sul e Centro Americana. Washington aprendeu, enfim, que se seguisse o caminho do bloqueio perderia completamente o mercado sul-americano para os chineses, que, inclusive, utilizando o Porto de Mariel, construído com apoio do BNDES, financiador de empresas brasileiras, para tocar a obra, anseiam ganhar, mais facilmente, o mercado de Tio Sam. A supressão do bloqueio norte-americano a Cuba é o reconhecimento do fracasso do bloqueio para os interesses dos próprios norte-americanos.
A direita burra brasileira, sempre apoiada pelos editoriais da grande mídia – O Globo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo –, símbolo do entreguismo nacional, não conseguiu, ainda, perceber que foi a ação do governo nacionalista lulista-dilmista, por meio do maior banco de desenvolvimento da América Latina, o BNDES, que acelerou o reatamento das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba.
Evidentemente, tudo caminhou mais rápido, depois que o BNDES irrigou empresas nacionais para construir, em Cuba, o Porto de Mariel, sob encomenda do governo cubano.
Pronto o porto, apareceu o quadro maior que a obra descortinou em termos de integração econômica continental, acelerando a aproximação da China com Cuba, com a América Central e América do Sul.
Os chineses, abarrotados de dólares, com suas reservas cambiais trilhonárias, acumuladas ao longo dos últimos trinta anos de prática de economia de mercado sob governo intervencionista, direcionando o rumo dos acontecimentos – taxa de juro baixa, taxa cambial competitiva e abertura às multinacionais no mercado chinês com compromisso de exportação –, assustaram Washington, levando-a acabar com o bloqueio à Cuba.
Do contrário, as mercadorias norte-americanas perderiam mercado para a invasão das concorrentes chinesas, favorecidas pelo financiamento do banco chinês de investimento, com o qual se associam potências econômicas europeias – Alemanha, França, Inglaterra, Itália –, levantando preocupações generalizadas na terra de Tio Sam.
O governo brasileiro, na América Central e na América do Sul, está fazendo o que os governos capitalistas sempre fizeram: financiar empresas para exportar serviços de engenharia, empreitando em larga escala, acoplando exportação de serviços às exportações de bens gerais: máquinas, equipamentos, partes, peças e componentes etc.
Copiou o Brasil o esquema financeiro largamente desenvolvido pelos Eximbanks, amarrando financiamento à exportação de bens e serviços.
Quando o governo petista passou a fazer isso, usando o BNDES, emergiu pressões internacionais intensas, porque, certamente, viram nas empresas brasileiras de engenharia, altamente, qualificadas concorrentes fortes.
Ninguém chuta cachorro morto.
O que fez a grande mídia tupiniquim?
Começou a dizer que essa exportação de capital, bens e serviços, era ruim para o País, pois estava tirando pão da boca dos brasileiros para colocá-lo na mesa dos outros, dos cubanos etc., argumento completamente burro, preconceituoso e colonizado.
Jamais a grande mídia criticou tal comportamento dos governos capitalistas desenvolvidos, revelando-se, assim, a cabeça colonizada das elites econômicas brasileiras, sócias menores do capital internacional, empenhadas em barrar o desenvolvimentismo nacionalista, favorecido por bancos públicos
Obama, logo depois da bancarrota financeira de 2008-2009, lamentou que os Estados Unidos não possuíssem banco nacional de desenvolvimento, tipo BNDES, para apoiar o setor produtivo, a fim de enfrentar a crise global.
Lula e, em seguida, Dilma tiveram o BNDES, bem como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, para garantirem investimentos, apoiarem o mercado interno e melhorarem distribuição da renda, valorizando salários, como estratégia econômica anticíclica.
A indústria nacional teria quebrado, se essa estratégia nacionalista – apoio ao mercado interno, valorização do poder de compra dos trabalhadores e expansão de programas sociais distributivistas – não tivesse sido colocada em prática.
A classe média, que, com ódio, agora, vai às ruas contra Dilma, não percebeu nada e não tem consciência de que estaria arruinada sem a melhor distribuição da renda nacional sob governo nacionalista.
O Porto de Mariel, em Cuba, é fruto de estratégia desenvolvimentista nacionalista.
A palavra de ordem de Obama, no Panamá, em seminário empresarial, na companhia de 34 chefes de Estado, foi de reconhecimento de que o império de Tio Sam não tem mais pretensão de interferência indevida na vida das nações latino-americanas para impor sua vontade.
Isso é uma meia verdade.
A verdade inteira é a de que as estratégias econômicas nacionalistas estão comprovando capacidade para abrir espaço ao desenvolvimento sul-americano e centro-americano sem apoio dos Estados Unidos, na linha da interferência histórica que Obama diz pretender remover.
Cerca Washington Cuba para entrar no jogo comercial que o início de atividades do Porto de Mariel abre no plano global no momento em que a concorrência capitalista se acirra sob impulso de guerras monetárias entre as potências em crise.
Mantida retórica do bloqueio comercial, como ocorreu nos últimos 53 anos, por parte de Tio Sam, de forma arrogante e prepotente, o prejuízo para as empresas norte-americanas se torna inevitável.
E o sistema monetário internacional, sob comando do dólar, tende a ir para o sal.
Washington se revela cada vez mais ansiosa e preocupada com as ações dos Brics, cujo banco Brics caminha para fazer o papel do Banco Mundial, sob domínio norte-americano.
A China, que deverá ser atuante, de forma decisiva, nas relações comerciais com as Américas do Sul e Central, intensificará concorrência com os Estados Unidos a partir de maior aproximação com as economias sul e centro-americanas.
Por sua vez, a América do Sul, aproximando-se dos chineses, no compasso de nacionalismo desenvolvimentista, vai se livrando do hegemonismo de Washington no continente.
Com apoio de bancos de desenvolvimento, como o BNDES, os sul-americanos disporão de maior força financeira e econômica para criar nova realidade nas relações comerciais com os Estados Unidos.
O Porto de Mariel é a prova concreta desse novo tempo.
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