Voltando às ruas pela segunda vez, as manifestações contra o governo da presidenta Dilma Rousseff, no domingo, dia 12/4, foram marcadas pelo esvaziamento de público e de bandeiras consistentes. Por outro lado, a rede social Twitter, a tag #AceitaDilmaVez ocupou o primeiro lugar nos trending topics. Imagens satirizando as manifestações invadiram as redes sociais, como o Facebook. A grande mídia tradicional procurou, por meio de plantões na televisão, durante todo o dia, chamar as pessoas para as mobilizações, ainda assim não atingiu as expectativas. Uma postagem no Twitter no portal UOL chegou a ser feito com uma imagem do protesto anterior, que reuniu muito mais gente.
Em entrevista à Adital, Marcelo Lavenére, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e integrante da Secretaria Executiva da Coalizão pela Reforma Política e Eleições Limpas no Brasil, analisa que é de se lamentar que as manifestações tenham tomado um viés tão partidário. “Ficou claro que a manifestação é partidária. Em São Paulo, por exemplo, o governo liberou catracas do metrô, facilitou o acesso, apoiando, claramente, os protestos. Há um pensamento golpista, retrógrado, que não contribui para o desenvolvimento do país. Não se pode usar o povo como instrumento de política partidária. Liberdade da mídia é diferente de libertinagem”.
As manifestações estavam previstas em mais de 400 cidades brasileiras, organizadas por sete movimentos: Diferença, Vem pra Rua, Foro de Brasília, Tô na Rua, Movimento Brasil Contra a Corrupção, Movimento Limpa Brasil e Movimento Brasil Livre. Segundo dados da Polícia Militar (PM), a cidade de São Paulo teve o maior público: 275 mil pessoas, o que representa um quarto do registrado pela própria PM na manifestação anterior, no dia 15 de março deste ano. Em Brasília, informe da PM contabilizou 20 mil pessoas na manifestação. Um novo protesto está previsto para acontecer em 20 de maio.
Segundo Lavenére, se antes se percebia uma preocupação com temas como corrupção, impunidade, nos recentes protestos, predominou o pedido de impeachment da presidenta Dilma. “Percorrendo as manifestações, não vi pedidos pela reforma política, que é algo que independe de partido. Essa pregação do impeachment é fomentada pela grande mídia e é absolutamente leviana, não contribui para a estabilidade do país. As pessoas não sabem que esse é um processo sério, que exige comprovação”.
Lavenére aponta que nos atos de 12 de abril percebeu um aumento nos pedidos de intervenção militar, o que é algo preocupante. Para ele, esse tipo de reclame não é pelo país ou contra a corrupção, mas um discurso raivoso, de inconformidade e reação a um governo popular. “Se analisarmos a ação do panelaço, percebemos que foi um panelaço de panelas cheias e importadas, de pessoas que nunca foram ao SUS [Sistema Único de Saúde] ou pegaram ônibus.” Ficou evidente nas últimas manifestações a polarização de “uma direita que se reorganiza e quer ocupar os lugares conquistados pelo povo.”, a exemplo do que ocorre em países como a Bolívia, Equador e Venezuela. As recentes pautas tratadas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ) como a redução da maioridade penal, a terceirização dos trabalhadores, demonstram o conservadorismo. “É preciso respeitar a normalidade democrática”.
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