quarta-feira, 15 de setembro de 2010
PERSPECTIVAS CULTURAIS DO PÓS-LULA
Vivemos a perspectiva de que o próximo presidente da República venha a se chamar Dilma Rousseff ou José Serra.
Como a área cultural não é muito afeita à elucubração política (age sempre como se fosse um apêndice da grande unidade holística nacional), resolvi propor neste artigo o vulgar e impreciso exercício de imaginar o futuro. Após Gilberto Gil e Juca Ferreira, qual será o futuro do Ministério da Cultura?
Examinemos primeiro o cenário que parece mais cristalino: Dilma vencerá. Está na ascendente, cresce em todas as pesquisas e tem a sólida presença de Lula a garantir sua escalada.
Dilma é apoiada por uma coalizão que tem como protagonistas o PT, o PMDB, o PCdoB, o PSB e o PTB, entre outros.
Então, vamos por partes, dissecando antes qual poderá ser a postura da nova presidente.
O Ministério da Cultura, que não existia no governo Itamar, que foi claudicante (para não dizer inexpressivo) no governo Fernando Henrique Cardoso e finalmente se tornou atrativo no governo Lula (orçamento de mais de R$ 2 bilhões, cheio de estruturas influentes, como a Ancine, o novo Iphan e o Ibram), pode ser encarado de duas maneiras por Dilma: 1) como uma área estratégica, influente, fundamental no desenvolvimento, na afirmação geopolítica, e de grande potencial econômico; ou 2): um ministério de aluguel que pode ser usado como moeda de troca na consolidação de alianças políticas, emprestável a quem falar mais alto.
Na possibilidade de Dilma considerar que a hipótese 1 é a mais razoável, ela terá mais trabalho. Poderá manter no cargo Juca Ferreira (atualmente licenciado do Partido Verde por tempo indeterminado, homem ligado à esfera de influência do governador mais bem avaliado do PT, Jacques Wagner, da Bahia, e inegavalmente um dos mais leais ministros de Lula).
Mas observadores de dentro do MinC acham que a Era Juca poderá findar em Primeiro de Janeiro, pela própria necessidade de renovação da nova mandatária (e também pelo que está explicado no PS1, logo abaixo).
Fora da hipótese Juca Ferreira - Segunda Parte, entram as apostas.
Do lado do Partido dos Trabalhadores, sobem à superfície os nomes de Sergio Mamberti (que já foi “ministeriável” em 2006) e Ângelo Vanhoni (atual presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados). São os que estão na linha natural da sucessão, se é que isso existe. Mas há uma personagem que parece entrar com força nessa disputa: a filósofa Marilena Chauí, que já militou na área durante o governo Erundina, em São Paulo, e é ligada a Marta Suplicy (que sobe forte em direção ao senado).
Do lado do mais forte aliado do governo, o PMDB, os nomes são muitos. Começando pelo escritor Fernando Morais, que conhece a área e já foi secretário de Educação em São Paulo. Mas há também na lista os nomes de Marcos Villaça (da Academia Brasileira de Letras, muito ligado a José Sarney, forte aliado do governo), Ângelo Oswaldo (militante do patrimônio histórico de MG) e Ângela Gutierrez (empresária e colecionadora, uma das mais ativas militantes da área cultural de Minas Gerais, o que abriria perspectivas em alianças regionais).
Do PCdoB, apresentam-se os nomes de Célio Turino (ex-secretário de Gil e Juca Ferreira no MinC) e Jandira Feghali (Secretária de Cultura do Rio de Janeiro, ligada à área em âmbito regional).
Do PSB de Ciro Gomes (que se diz "100% envolvido na campanha de Dilma"), emerge a grande surpresa da bolsa de apostas: o nome da atriz Patricia Pillar, mulher de Ciro e que é considerada sua conselheira técnica para assuntos de cultura e arte.
A “zebra”, digamos assim, viria do PTB: o vice-prefeito de São Bernardo, Frank Aguiar, que teve destacada atuação na área no Congresso Nacional e hoje é o homem forte de Luiz Marinho, golden boy de Lula no ABC paulista.
Tem ainda os emergentes do próprio Ministério da Cultura, cuja atuação e desenvoltura são elogiadas até por gente da oposição, como Silvana Meirelles (coordenadora do Programa Mais Cultura), Manoel Rangel (todo poderoso diretor da Ancine, Agência Nacional de Cinema) e Alfredo Manevy (segundo homem na hierarquia do MinC, hoje o mais aguerrido combatente do ministério, aquele que dá a cara a tapa).
Caso José Serra leve a faixa presidencial, o cenário é mais nebuloso. Sempre teve dificuldades com o setor, a começar pelo seu imbroglio com Emanuel Araújo. Seus aliados na área enfrentam turbilhões no momento, como é o caso de João Sayad, o mais graduado colaborador na área, que dirige controversa reformulação na Fundação Padre Anchieta. Andrea Matarazzo, secretário de SP, não é do ramo, apenas tapa um buraco.
Dois nomes femininos surgem então com força na bolsa de palpites: Milu Villela, do Itaú, que tem ampla expertise no tema e é muito bem aceita entre o empresariado; e a empresária carioca Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso, poderosa e influente apoiadora do serrismo nas últimas três eleições.
A atriz Regina Duarte tem boa folha corrida de serviços prestados ao tucanato, mas não parece disposta a se tornar uma potencial Cortina de Vidro das pedras da área cultural, sempre muito conflagrada.
PS1: Há quem aposte que uma das jogadas de Dilma será mudar o equilíbrio da balança entre homens e mulheres na composição do seu ministério. Teria intenção de nomear mais mulheres (o Ministério da Cultura nunca foi dirigido por uma mulher). Temos aí então, qualquer que seja o presidente, as seguintes ministeriáveis: Marilena Chauí, Jandira Feghali, Silvana Meirelles, Patricia Pillar, Milu Villela, Paula Lavigne.
PS2: Parte desse tabuleiro eu formei ouvindo aqui e acolá figurões da política cultural no País. É certo que o PMDB, que sempre abocanha muitos ministérios em qualquer governo, está com os olhos voltados para a área de Educação, mas é algo de que o PT não parece disposto a abrir mão num eventual governo de “continuidade”, segundo ouvi. Como o partido já conseguiu assegurar a vice-presidência, pode ser que se contente com um ministério como o de Turismo. A Cultura, nesse caso, seria um prêmio adicional, porque no ano que vem haverá Vale-Cultura, uma nova Lei de Incentivo (com suculentos fundos de incentivo direto), uma nova legislação de direitos autorais, entre outros tipos de upgrade na gestão cultural.
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