quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Che Guevara: Há 48 anos era assassinado o verdadeiro modelo de revolucionário

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Em 8 de outubro de 1967, Ernesto Che Guevara foi assassinado na Bolívia. Depois de sua morte, ele foi instantaneamente transformado em um símbolo do compromisso e do heroísmo revolucionários. Até hoje, Che vive nos corações dos povos solidários.
Com informações de vários sites, em 8/10/2015
Ernesto Guevara de la Serna nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário, importante cidade industrial da Argentina, em uma família classe média alta. Seu pai, o arquiteto e engenheiro civil Ernesto Guevara Lynch, era um militante político, tendo participado de vários comitês e organizações de ajuda aos países democráticos. Apoiou a resistência republicana na Guerra Civil Espanhola, nos anos de 1930, participou de campanhas para brecar a propaganda nazista nas Américas na Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, fez oposição ao governo de Juan Perón. A mãe, Cella de la Serna, era igualmente ativista, tendo sido presa diversas vezes por sua militância política. Durante a juventude de Che, a casa dos Guevara vivia repleta de republicanos espanhóis e militantes socialistas.
Aos 2 anos, Che Guevara sentiu os primeiros sintomas de asma que o atormentaria ao longo da vida. Para minimizar os efeitos da doença, a família foi para Alta Gracia, perto da Cordilheira dos Andes, à procura de um clima mais saudável. Mais tarde, Ernestito, como era chamado pelos parentes, começou a praticar esportes como natação, futebol, ciclismo e rugby. Ao contrário do que se poderia imaginar, ele não desenvolveu uma personalidade fraca e indolente por causa da doença. A enfermidade tornou-se um desafio que ele aceitou sem nenhuma autocompaixão. Outra coisa curiosa que aconteceria depois: Che foi dispensado do serviço militar argentino por incapacidade em virtude da asma.
Quando Guevara tinha 12 anos, sua família mudou-se para Córdoba, segunda maior cidade da Argentina, e foi viver próxima de uma favela. O menino brincava diariamente com as crianças pobres do lugar, uma atitude pouco comum para um filho de classe média alta. Nessa época, ele começou a pegar gosto pela leitura, pois seus pais tinham cerca de 3 mil livros em casa. Che tomou contato com a poesia, filosofia, história e arqueologia, dentre outros assuntos. Com isso, abriu novos horizontes e quis conhecer novos lugares. A primeira viagem foi uma travessia do território argentino de bicicleta promovida por uma empresa local. Em cada cidade que parava, comprava vários livros e, desde essa época, começou a escrever um diário, hábito que manteve por toda a vida.
Em 1944, quando tinha 17 anos, a família Guevara transferiu-se para a capital Buenos Aires, centro cultural e político da Argentina. Ele havia decidido fazer Medicina, mas continuava atraído por viagens e aventuras. Em dezembro de 1949, ainda não tendo terminado o curso, começou uma longa viagem de motocicleta em direção ao Chile com seu amigo Alberto Granados. A idéia era rodar todo o continente, conhecendo os povos, as condições de vida, a história e a geografia da América Latina. Passaram pela maioria dos países, mas os que marcaram mais Guevara foram a Bolívia, a Venezuela e o Peru. Nessa viagem, Guevara começa a ver a América Latina como uma única entidade econômica e cultural. Granados, recém-formado em Medicina, ficou na Venezuela trabalhando num sanatório para leprosos e Che voltou para a Argentina para completar seu curso.
Início da inquietação
Em março de 1953, ele se formou em Medicina com especialização em alergia, mas percebeu que ainda não estava preparado para se tornar um médico. Resolveu voltar para a Bolívia. Em um de seus diários, Che relatou: “Quando comecei meus estudos de Medicina, a maioria de meus ideais revolucionários ainda não existia. Como grande parte das pessoas, eu estava em busca de sucesso [...]. Mas, quando comecei a viajar por toda a América, entrei em contato com a pobreza, a fome e a doença [...]. Vi a degradação e a repressão. Então comecei a entender que havia outra coisa tão importante quanto ser famoso, que era ajudar essa gente.”
Em La Paz, capital da Bolívia, Guevara teve contato com vários grupos políticos, especialmente exilados argentinos. Um dos novos amigos, Ricardo Rojo, era um advogado argentino que escapara das prisões do regime de Perón. O plano de Guevara era se encontrar com Alberto Granados na Venezuela, mas Rojo o convenceu a acompanhá-lo até a Guatemala, “onde as coisas estão acontecendo”. Em 1950, os guatemaltecos tinham elegido o presidente Jacobo Arbens Guzmán, um esquerdista moderado que prometera dar seqüência ao programa de reformas sociais iniciado em 1944, quando fora deposto o último regime militar. Arbens estava sobre fogo cerrado das elites locais e dos interesses norte-americanos.
Para chegar à Guatemala, Guevara, Rojo e um grupo de argentinos fizeram uma difícil viagem pelo Peru e Equador, de onde pegaram um barco para o Panamá. O transporte foi obtido graças à interferência de um político socialista chileno, Salvador Allende, que 20 anos depois seria presidente de seu país e terminaria assassinado durante um sangrento golpe militar.
Do Panamá, o grupo foi para a Costa Rica, onde vivia uma grande comunidade de exilados latino-americanos, incluindo alguns remanescentes do ataque ao quartel de Moncada em 26 de julho de 1953. Os cubanos garantiram que voltariam a Cuba para derrubar Fulgêncio Batista, mas, de acordo com Rojo, nem ele nem Guevara os levaram muito a sério.
Primeira luta
Em janeiro de 1954, eles chegaram à Guatemala para mergulhar em um universo político conturbado. Foi lá que Guevara conheceu a peruana Hilda Gadea Acosta, com quem se casou mais tarde. Ela daria importante contribuição a sua formação política. Também foi lá que conheceu o cubano Nico Lopez, um dos líderes do ataque a Moncada, e que, no futuro, apresentaria Guevara a Fidel e Raul Castro, no México.
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Em agosto de 1961 no Uruguai, Che discursa para os chefes da economia da Organização dos Estados Americanos. Foto de Bettmann / Corbis.
Na Guatemala, o exército invasor norte-americano operava a partir de Honduras, sob o comando da CIA – serviço secreto dos Estados Unidos – e com a aprovação do presidente Dwight Eisenhower. Guevara ficou impressionado com a facilidade com que um governo popular era esmagado. “A última democracia revolucionária da América Latina – a de Jacobo Arbens – caiu como resultado da fria e premeditada agressão conduzida pelos EUA [...]. Quando a invasão norte-americana começou, tentei juntar um grupo de jovens como eu para contra-atacar. Na Guatemala era necessário lutar e quase ninguém lutou. Era necessário resistir e quase ninguém resistiu”, escreveu Guevara.
Durante a invasão, Che foi guarda voluntário durante o blecaute, nos momentos em que a cidade estava sendo bombardeada. Ele também pediu para ir para o front, mas não foi autorizado. As exortações de resistência feitas por Guevara foram suficientes para colocar seu nome na lista negra dos golpistas. Avisado pelo embaixador argentino de que sua vida e de sua esposa estavam em perigo, eles se refugiam na embaixada.
As experiências na Guatemala foram importantes para a construção de sua consciência política. Foi lá que Che se autodefine como revolucionário e se convenceu da necessidade da luta armada, de tomar a iniciativa contra o imperialismo. “Quando estava na Guatemala de Arbenz, comecei a tomar nota e pensar sobre quais seriam as responsabilidades de um médico revolucionário. Então, depois que vi a agressão norte-americana, entendi uma coisa fundamental: para ser um médico revolucionário, você primeiro precisa de uma revolução”, escreveu certa vez.
Guevara iria atrás dela, mas, inicialmente, precisaria sair vivo da Guatemala. Recusou a oferta de um salvo-conduto para voltar para a Argentina. Resolveu ir para o México, porque se tratava de um país mais hospitaleiro para os refugiados políticos. Chegando lá com um amigo guatemalteco, os dois viraram fotógrafos de rua para sobreviver. Depois de algum tempo, Guevara foi trabalhar no setor de alergia do Hospital Geral da Cidade do México, ao mesmo tempo que lecionava na Universidade Autônoma do México. Um dia encontrou no hospital o cubano Nico Lopez, que o levou para conhecer um compatriota recém-chegado à capital mexicana: Raul Castro.
Encontro com Fidel
Hilda Gadea relata em uma carta que Che e Raul se tornaram amigos, passando a se encontrar todos os dias. Ela descreve Raul como “um dedicado revolucionário, que era aberto, seguro de si, muito claro nas exposições de suas idéias”. Em julho de 1955, Raul apresenta a Guevara seu irmão mais velho: Fidel Castro. Foi amizade à primeira vista.
Che escreveu como se deu o primeiro encontro: “Encontrei Fidel em uma dessas noites frias da Cidade do México. Lembro que nossa primeira discussão foi sobre política internacional. Algumas horas mais tarde, bem de madrugada, já tinha me decidido que participaria da expedição do Movimento 26 de Julho, que em breve pretendia iniciar uma revolução em Cuba. Depois de minhas experiências pela América Latina e principalmente na Guatemala, era necessário muito pouco para me convencer a me juntar a qualquer revolução contra a tirania. Fidel causou boa impressão em mim. Ele estava absolutamente certo de que iríamos para Cuba. Uma vez lá, nós lutaríamos e que, lutando, venceríamos. Seu otimismo era contagiante. Tínhamos de agir e lutar para a consolidação de nossa posição. Era necessário parar de hesitar e começar a luta real. Para provar ao povo cubano que podia confiar em sua palavra, disse em um de seus famosos discursos: ‘Em 1956, nós devemos ser homens livres ou mártires.’ Este era o anúncio que, antes do fim do ano, ele desembarcaria em algum lugar de Cuba no comando de uma força expedicionária.”
Treinamento e embarque
Guevara passou a se dedicar inteiramente à causa. Sob a orientação de Alberto Bayo, um veterano da Guerra Civil Espanhola, de 63 anos, cerca de 80 homens começaram um treinamento de combate em uma fazenda perto da Cidade do México. Os exercícios de simulação consistiam em táticas de guerrilha, operações de ataque e manobras para confundir os inimigos em montanhas e na selva. O grupo suportava marchas de 15 horas por terrenos difíceis, subindo morros, cruzando rios e abrindo caminho no mato, aprendendo e aperfeiçoando os procedimentos de emboscada e de retirada rápida. Em pouco tempo, Che – apelido dado pelos cubanos, que significa “irmão”, em guarani – se tornaria o aprendiz mais dedicado de Bayo.
Nesse meio tempo, Fidel levantava fundos para conseguir realizar a insurreição. Em julho de 1956, a fazenda foi descoberta e 20 pessoas, entre elas Fidel, Guevara e Bayo, foram presas. Libertados um mês depois, tiveram de agilizar o embarque, pois temiam a pressão da polícia mexicana. Planejaram começar a revolução em novembro de 1956.
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A foto de Alberto Díaz Gutiérrez, conhecido como Alberto Korda, eternizou o mito.
Com os fundos arrecadados pelo Movimento 26 de Julho, foi possível comprar o barcoGranma – “vovó, em inglês –, que não era dos melhores, armas, munições e suprimentos médicos. Guevara seria o médico da expedição. Em 25 de novembro de 1956, o Granmalevantou âncora do porto de Tuxpan, levando a bordo, em seus 17,5 metros de extensão, 82 homens que mudariam a história de Cuba e do mundo. A viagem foi conturbada. Vários homens marearam durante o percurso e Guevara sofreu forte crise de asma.
O plano de Fidel era desembarcar, em 30 de novembro, perto da cidade de Niquero, na província de Oriente, cerca de 650 quilômetros de Havana. A chegada coincidiria com um levante em Santiago de Cuba, capital da província, comandado pelo líder estudantil Frank País. O objetivo era juntar forças com os rebeldes de Santiago, criando um movimento de duas pontas, rural–urbano, para atrair a população para a causa revolucionária. O levante eclodiu na data marcada, mas foi esmagado antes que Fidel e seus homens chegassem à praia, em 2 de dezembro.
Depois de sete dias no mar, o exército revolucionário desembarcou, mas não no local previsto onde estariam os suprimentos. Estavam a 16 quilômetros ao Sul, nos mangues da praia Colorado. O Granma encalhou na areia e logo foi descoberto pela Guarda Costeira. Os rebeldes precisaram nadar até a praia, perdendo vários equipamentos importantes, e tiveram que andar horas pelo terreno pantanoso até encontrar terra firme.
Guevara descreveu essa passagem em seu diário Reminiscências da guerra revolucionáriada seguinte forma: “Nós encontramos terra firme, nos perdemos como sombras ou fantasmas, marchando em resposta a algum obscuro impulso psíquico. Havíamos enfrentado sete dias de constante fome e enfermidades durante a travessia do mar e nos defrontamos com três dias ainda mais terríveis em terra. Exatamente dez dias depois de nossa partida do México, nas primeiras horas do dia 5 de dezembro, após uma noite de caminhada constantemente interrompida pela fadiga e por períodos de descanso, encontramos a área paradoxalmente conhecida como Alegria de Pío.”
Os rebeldes de Fidel estavam sendo cercados pelo Exército cubano nos canaviais de Alegria de Pío. Os aviões, que circulavam o local, começaram a abrir fogo. Aconteceu uma correria desenfreada em busca de abrigo seguro. Che atendia alguns companheiros que estavam com ferimentos leves, quando um homem, querendo se refugiar, deixou cair seu carregador de munição. Guevara estava com a sacola de medicamentos cheia, seria impossível carregar as duas coisas por causa do peso. Foi aí que ele tomou a decisão de ser um revolucionário: pegou a munição e largou os medicamentos para trás, correndo para o meio do canavial.
Depois de muito andar para não serem capturados pela Guarda Rural de Batista, foram contabilizadas as perdas. Dos 82 homens que desembarcaram do Granma, apenas 17 sobreviveram. Nico Lopez havia morrido e Che teve ferimentos leves no peito e no pescoço.
Destino: Sierra Maestra
Os rebeldes planejaram começar a revolução por Sierra Maestra, uma alta cadeia montanhosa de Cuba. A região era habitada por camponeses pobres e analfabetos, que lavravam pequenas roças para subsistência. As terras pertenciam a latifundiários, que pegavam uma parte de seus lucros. Em 1956, era praticamente impossível que a tropa regular de Batista conseguisse chegar ao local, pois era um lugar selvagem e não havia caminhos pela mata. Os treinamentos no México seriam úteis para os revolucionários nessa hora.
Em janeiro de 1957, Fidel e seu exército, agora com 20 homens, decidiram realizar um ataque para mostrar que o Movimento 26 de Julho estava vivo e ativo. Atacaram um pequeno posto da Guarda Rural na foz do rio La Plata. Conseguem capturar algumas armas e munições. Em fevereiro, Herbert Matthews, repórter do New York Times, foi à Sierra Maestra e fez uma longa entrevista com Fidel. Quando a reportagem saiu no jornal, o movimento ganhou notoriedade internacional, despertou simpatias e, principalmente, legitimidade. O governo de Fulgêncio Batista foi forçado a reconhecer que havia um exército rebelde em atividade dentro de Cuba.
Os revolucionários impressionavam as pessoas por seguirem um novo código de conduta bélica. As tropas regulares de Batista torturavam e executavam seus prisioneiros, além de cometer atrocidades contra civis. Já os rebeldes de Sierra Maestra tinham como norma liberar todos os soldados governamentais e jamais maltratar as pessoas da população local. Ao assumir princípios humanistas, os revolucionários conquistaram a confiança dos camponeses. Eles se mantinham firmes aos ensinamentos de José Martí, o herói nacional.
Ao longo de 1957, aumentava lentamente o número de rebeldes. Nesse mesmo ano, Fidel concede a Che a patente de comandante, posto que até então apenas ele próprio possuía, e o colocou na liderança da Segunda Coluna do Exército Rebelde. Depois de quase um ano em Sierra Maestra, os revolucionários perceberam que a semente estava germinando. Em toda parte de Cuba, surgiam protestos contra o governo. As forças de Fidel, agora com cerca de 300 combatentes, estavam bem organizadas. Ele e Che montaram fábrica de munição, escolas, clínicas, cozinhas coletivas, oficinas de trabalho, um jornal e uma estação de rádio na região (a Rádio Rebelde). Os camponeses receberam terras e se sentiam livres das arbitrariedades cometidas pela Guarda Rural.
Em abril de 1958, as forças anti-Batista no campo e nas cidades convocaram uma greve geral imaginando que o ditador fosse renunciar, mas o movimento fracassou. Em maio, o governo colocou 10 mil homens em Sierra Maestra, apoiados por tanques e aviões. A ofensiva durou quase três meses, porém o exército de Batista, desorganizado e não sabendo lutar nas montanhas, limitou-se a bombardear vilas e povoados, matando dezenas de civis.
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Che e Fidel em Sierra Maetra.
Batalha final
Em agosto, as tropas regulares se retiraram do campo de batalha. Sierra Maestra estava nas mãos dos revolucionários. O comandante-em-chefe agora planejava sua ofensiva final para tomar o controle das grandes cidades. Fidel e Raul marcharam com 200 homens para Santiago de Cuba, onde receberiam o reforço de outros 600 rebeldes para tentar ocupar a cidade. Enquanto isso, Che Guevara, com 148 homens, atravessava a província de Las Villas, em direção às montanhas Escambray e à cidade de Santa Clara. Camilo Cienfuegos comandava uma coluna de 82 homens, movendo-se paralelamente às forças de Che. O alvo dele era Havana.
Em dezembro, Guevara recebeu a missão de tomar toda a província de Las Villas, cortando a ilha em duas partes. Em questão de dias, com brilhantes manobras táticas, ele conquistou toda a província, exceto a capital, Santa Clara. Defendida por 2 mil soldados, a cidade contava com apoio aéreo. Guevara tinha apenas 200 homens. Os arredores de Santa Clara se renderam rapidamente com as tropas governamentais evitando o combate, mas o controle do centro da cidade custou três dias de luta e convencimento dos soldados governistas. Com a tomada de Santa Clara em 31 de dezembro de 1958, não havia mais nenhum obstáculo entre os rebeldes e Havana.
Santiago de Cuba continuava cercada pelas forças de Fidel e Raul. O comandante militar da cidade telefonou para Batista dizendo que não poderia manter a cidade por muito tempo. Sabendo que seu exército estava aniquilado e nada mais poderia fazer, às 3 horas da madrugada do dia 1º de janeiro de 1959, o ditador, juntamente com alguns comparsas, fugiu de avião para a República Dominicana com medo de ser morto. Prudente, Fulgêncio Batista já havia transferido para o exterior uma fortuna estima em US$ 800 milhões, amealhada em anos de saque do Tesouro Nacional.
Quando Fidel soube da fuga de Batista, preparou-se para marchar sobre Santiago. O comandante militar da cidade, no entanto, rendeu-se sem oferecer resistência e Fidel entrou pacificamente na cidade. De Santiago, Fidel irradiou um apelo ao povo de Havana, conclamando-o a evitar violência e manter-se vigilante pela justiça. Prometeu que as forças rebeldes adentrariam as cidades de Cuba para restabelecer a ordem e impedir a contra-revolução. “A ditadura desmoronou”, disse ele, “mas isso não significa que a revolução tenha triunfado. Revolução, sim! Golpe militar, não!”
Fidel pediu que Guevara e Cienfuegos seguissem para Havana. Em 2 de janeiro de 1959, eles entraram na cidade e assumiram o controle das instalações militares para evitar qualquer reação do Exército. No mesmo dia, Fidel começou sua lendária travessia de 800 quilômetros por toda extensão de Cuba, fazendo discursos e entusiasmando a multidão. Ele chegou em Havana em 8 de janeiro. A luta militar havia sido ganha. Agora, os revolucionários tinham pela frente o igualmente espinhoso trabalho de criar uma nova sociedade.
Em suas reflexões sobre a vitória final dos rebeldes, Che escreveu o seguinte: “A ditadura de Batista criara o necessário fermento, com sua política de opressão das massas e manutenção de um regime de privilégios. Privilégios para os servos do regime, para latifundiários parasitas e comerciantes. Privilégios para os monopólios estrangeiros. Um vez que o conflito começou, as medidas repressivas do governo e sua brutalidade, em vez de diminuírem a resistência popular, fortaleceram-na. A desmoralização e a falta de vergonha da casta militar facilitaram a tarefa. A rudeza das montanhas em Oriente e a incapacidade tática do inimigo também fizeram sua parte. A guerra, contudo, foi vencida pelo povo, por meio da ação de sua vanguarda armada (o exército rebelde), cujas armas básicas eram seu moral e sua disciplina.”
Dever cumprido
Depois de seu trabalho como médico e comandante das tropas rebeldes, Che foi proclamado “cidadão cubano de nascimento” e, no governo revolucionário, assumiu o posto principal do Banco Nacional de Cuba. Em seguida, foi para o Ministério da Indústria, onde desenvolveu uma política econômica voltada à diversificação da agricultura e à industrialização a fim de reduzir a dependência externa. Guevara também foi embaixador cubano, tendo visitado vários países, inclusive o Brasil, em 1960, onde foi condecorado pelo presidente Jânio Quadros, ansioso para demonstrar que o País tinha uma política externa independente.
Che ficou no cargo até abril de 1965, quando saiu de Cuba para levar a Revolução para outros países. Além disso, tinha suas dúvidas quanto à excessiva aproximação cubana com os soviéticos, posição que deixou bem clara nos encontros nos quais participou na época. Queria voltar a voar, não se prender a uma revolução. Já tinha dito a Fidel, antes de entrar para o exército rebelde cubano, que “vou retomar minha liberdade de revolucionário depois do triunfo da Revolução Cubana”. Deixou Cuba e uma carta a Fidel, que dizia num trecho o seguinte: “Sinto que cumpri a parte de meu dever que me atava à Revolução Cubana em seu território e me despeço de ti, dos companheiros, de teu povo, que já é meu. Faço formal a renúncia de meus cargos na direção do partido, de meu posto de ministro, de meu posto de comandante, de minha condição de cubano... Outras terras do mundo reclamam o concurso de meus modestos esforços... Até a vitória, sempre. Pátria ou Morte!” Assim foi para o Congo, onde tentou organizar uma guerrilha, que acabou sendo frustrada. Retornou em segredo para Havana e dali partiu, em outubro de 1966, para as selvas bolivianas, levando alguns guerrilheiros cubanos para encontrar outros homens na Bolívia, de onde empreenderiam uma guerrilha similar à que saiu vitoriosa em Cuba.
Mesmo com cerca de 50 homens em território boliviano, as tropas de Che venceram algumas lutas contra os inimigos. Mas, isolados nas montanhas da Bolívia, Che Guevara e seus companheiros foram denunciados ao Exército boliviano. Em 8 de outubro de 1967, eles foram encurralados num despinhadeiro e poucos escaparam. Che, ferido na perna, ficou preso na cidade de La Higuera. O governo boliviano estava diante de um dilema: executar Guevara ou levá-lo a julgamento. Esta última hipótese foi descartada imediatamente por René Barrientos, presidente boliviano na época. O banco dos réus exporia La Paz a uma campanha internacional por sua libertação.
Guevara foi interrogado por agentes da CIA e da inteligência boliviana. Em seguida, foi destacado um oficial para executá-lo. O soldado disparou várias vezes. Che estava morto.
Poucas horas depois, vários repórteres e fotógrafos chegaram em La Higuera e foram levados para uma lavanderia onde o corpo de Guevara fora colocado em exposição. A notícia se espalhou pelo mundo, mas, durante dias, houve uma discussão internacional sobre a veracidade da morte do guerrilheiro. Todas as especulações terminaram em 15 de outubro, quando Fidel Castro anunciou que realmente Guevara tinha sido capturado e executado na Bolívia.
Em seu discurso, profundamente emocionado, Fidel pronunciou o seguinte: “Raramente pode-se dizer de um homem com maior justiça e com maior precisão o que vou falar sobre Che: ele foi um exemplo puro de virtudes revolucionárias; ele foi um ser humano extraordinário; um homem de extraordinária sensibilidade. Che era um homem de total integridade, um homem de supremo senso de honra, de absoluta sinceridade. Um homem de hábitos estóicos e espartanos, cuja conduta nenhuma mácula pode ser encontrada. Ele constituía, dentro de várias virtudes, o que podemos chamar de o verdadeiro modelo revolucionário.”
Os restos mortais de Guevara, depois de ficarem 30 anos enterrados num cemitério clandestino na Bolívia, foram identificados e exumados em julho de 1997. Atualmente, eles se encontram enterrados n Mausoléu Ernesto Che Guevara, na cidade de Santa Clara, em Cuba.
Mesmo se não levarmos em conta seus sucessos e frustrações durante toda sua vida, Ernesto Che Guevara, por si só, serviu como um símbolo da dedicação revolucionária, cujas ações foram sempre consistentes e em harmonia com seus ideais morais. Ele morreu lutando por esses ideais, mas continua vivo nos corações de todos os povos solidários.
Segunda versão sobre sua morteMesmo com cerca de 50 homens em território boliviano, as tropas de Che venceram algumas lutas contra os inimigos. Mas, isolados nas montanhas da Bolívia, Che Guevara e seus companheiros foram denunciados ao Exército boliviano. Em 8 de outubro de 1967, eles foram encurralados num despinhadeiro e poucos escaparam. Segundo Ricardo Rojo, em seu livro Meu amigo Che, Guevara havia recebido vários tiros na luta da cidade de La Higuera. Ela estava sentado no chão com as costas apoiadas na parede, respirando com dificuldade, quando o capitão Gary Prado, chefe da companhia dos Rangers que o capturou, disparou uma rajada de metralhadora de cima para baixo. O tiro de misericórdia foi dado pelo coronel Andrés Selnich, superior hierárquico de Prado, com uma pistola 9mm. A bala atravessou-lhe o coração e o pulmão. Che estava morto.
Assim, segundo relato do jornalista José Alcazar, quando o oficial destacado para execução hesitava em puxar o gatilho, ele olhou fixamente para ele e disse: “Bem, vai em frente, seu filho da puta, me mata!”

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