domingo, 1 de março de 2015

Mais uma vez, Obama falha ao promover golpe de Estado na Venezuela

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O presidente Obama com seu conselheiro para a América Latina, Ricardo Zuniga, e a conselheira nacional de segurança, Susan Rice.

Mais uma vez, a administração Obama tentou mudar pela força um regime político que lhe resiste. A 12 de fevereiro, um avião da Academia (ex-Blackwater), disfarçado como aeronave do exército venezuelano, devia bombardear o palácio presidencial e matar o presidente Nicolas Maduro. Os conspiradores tinham previsto colocar no poder a antiga deputada Maria Corina Machado e fazê-la aclamar, de imediato, por antigos presidentes latino-americanos.
O presidente Obama tinha prevenido. Na sua nova doutrina de Defesa (National Security Strategy), ele escreveu: “Nós ficaremos do lado dos cidadãos cujo exercício pleno dos direitos democráticos está em perigo, tal como é o caso dos Venezuelanos”. Ora, sendo a Venezuela, desde a adoção da constituição de 1999, um dos mais democráticos Estados do mundo, esta frase deixava pressagiar o pior, no sentido de a impedir de prosseguir na sua via de independência e de redistribuição de riqueza.
Foi a 6 de fevereiro de 2015. Washington tinha acabado de terminar os preparativos para o derrube das instituições democráticas da Venezuela. O golpe de Estado tinha sido planejado para 12 de fevereiro.
A “Operação Jericó” foi supervisionada pelo Conselho Nacional de Segurança (NSC), sob a autoridade de Ricardo Zuniga. Este “diplomata” é o neto do presidente homônimo do Partido Nacional das Honduras, que organizou os “putsches” de 1963 e de 1972 a favor do general López Arellano. Ele dirigiu a antena da CIA em Havana, (2009-11) onde recrutou agentes, e os financiou, para formar a oposição a Fidel Castro, ao mesmo tempo que negociava a retomada das relações diplomáticas com Cuba (finalmente concluída em 2014).
Como sempre, neste tipo de operação, Washington vela para não parecer implicado nos acontecimentos que orquestra. A CIA agiu através de organizações pretensamente não-governamentais para dirigir os golpistas: a National Endowment for Democracy (Contribuição Nacional para a Democracia– NdT) e as suas duas extensões, de direita (International Republican Institute) e de esquerda (National Democratic Institute), Freedom House (Casa da Liberdade), e o International Center for Non-Profit Law (Centro Internacional para Assistência Jurídica Gratuita – NdT). Por outro lado, os Estados Unidos solicitam sempre os seus aliados para subcontratar certas partes dos golpes, neste caso, pelo menos, a Alemanha (encarregada da proteção dos cidadãos da Otan durante o golpe), o Canadá (encarregado de controlar o aeroporto internacional civil de Caracas), Israel (encarregado dos assassinatos de personalidades chavistas) e o Reino Unido (encarregado da propaganda dos “putschistas”). Por fim, mobilizam as suas redes políticas a estarem prontas ao reconhecimento dos golpistas: em Washington o senador Marco Rubio, no Chile o antigo presidente Sebastián Piñera, na Colômbia os antigos presidentes Álvaro Uribe Vélez e Andrés Pastrana, no México os antigos presidentes Felipe Calderón e Vicente Fox, em Espanha o antigo presidente do governo José María Aznar.
Para justificar o “putsch”, a Casa Branca tinha encorajado grandes companhias venezuelanas a açambarcar, mais do que a distribuir, as mercadorias de primeira necessidade. A ideia era a de provocar filas de espera diante das lojas, depois infiltrar agentes nas multidões para provocar tumultos. Na realidade se existiram, de fato, problemas de aprovisionamento, em janeiro-fevereiro, e filas de espera diante das lojas, jamais os Venezuelanos atacaram os comércios.
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Antigo nº 2 da ISAF no Afeganistão, o general Thomas W. Geary é hoje em dia o encarregado de Inteligência no SouthCom.
Para reforçar a sua atuação econômica o presidente Obama havia assinado, a 18 de dezembro de 2014, uma lei impondo novas sanções contra a Venezuela e vários dos seus dirigentes. Oficialmente, tratava-se de sancionar as personalidades que teriam reprimido os protestos estudantis. Na realidade, desde o princípio do ano, Washington pagava uma importância – quatro vezes superior ao ordenado médio – a gangues para que eles atacassem as forças da ordem. Os pseudo-estudantes mataram, assim, 43 pessoas em alguns meses, e semearam o terror nas ruas da capital.
A ação militar era supervisionada pelo general Thomas W. Geary, a partir do SouthCom em Miami, e Rebecca Chavez, a partir do Pentágono, e subcontratada ao exército privado da Academia (antiga Blackwater); uma sociedade atualmente administrada pelo almirante Bobby R. Inman (antigo patrão da NSA) e por John Ashcroft (antigo Attorney General – procurador geral – da administração Bush). Um avião Super Tucano, de matrícula N314TG, comprado pela firma da Virginia, em 2008, para o assassinato de Raul Reyes, o n° 2 das Farc da Colômbia, devia ser caracterizado com um avião do exército venezuelano. Ele deveria bombardear o palácio presidencial de Miraflores e outros alvos, entre uma dezena deles predeterminados, compreendendo o Ministério da Defesa, a direção da Inteligência e a cadeia de televisão da Alba, a TeleSur. Dado o avião estar estacionado na Colômbia, o QG operacional da “Jericó” tinha sido instalado na embaixada dos Estados Unidos em Bogotá́, com a participação direta do embaixador Kevin Whitaker e do seu adjunto Benjamin Ziff.
Alguns oficiais superiores, na ativa ou reformados, haviam registado, com antecedência, uma mensagem à Nação, na qual anunciavam ter tomado o poder a fim de restabelecer a ordem. Estava previsto que eles subscreveriam um plano de transição, publicado, a 12 de fevereiro, de manhã, pelo El Nacional e redigido pelo Departamento de Estado dos EUA. Um novo governo teria sido formado, dirigido pela antiga deputada Maria Corina Machado.
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O golpe de Estado deveria colocar no poder Maria Corina Machado. Em 26 de janeiro, ela recebeu, em Caracas, seus principais cúmplices estrangeiros.
Maria Corina Machado foi a presidente da “Súmate”, a associação que organizou e perdeu o referendo revogatório contra Hugo Chavez Frias, em 2004, já́ com o financiamento da National Endowment for Democracy (NED) e os serviços do publicitário francês Jacques Séguéla. Apesar da sua derrota, foi recebida com toda a pompa pelo presidente George W. Bush, no Salão Oval, a 31 de maio de 2005. Eleita como representante pelo Estado de Miranda, em 2011, ela tinha aparecido de súbito, a 21 de marco de 2014, como chefe da delegação do Panamá na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ela fora, de imediato, demitida do seu lugar de deputada por violação dos artigos 149 e 191 da Constituição (da Venezuela – NdT).
Para facilitar a coordenação do golpe, Maria Corina Machado organizou, em Caracas, a 26 de janeiro, um colóquio, “O Poder da cidadania e a Democracia atual”, no qual participaram a maior parte das personalidades venezuelanas e estrangeiras implicadas.
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Pouca sorte! A Inteligência Militar venezuelana vigiava as personalidades suspeitas de ter fomentado um complô, anterior, visando assassinar o presidente Maduro. Em maio último, o procurador de Caracas acusava Maria Corina Machado, o governador Henrique Salas Römer, o ex-diplomata Diego Arria, o advogado Gustavo Tarre Birceño, o banqueiro Eligio Cedeño e o empresário Pedro M. Burelli, mas, eles negaram a autoria dos “e-mails” alegando que tinham sido falsificados pela Inteligência Militar. Ora é claro, eles estavam todos conluiados.
Ao rastrear estes conspiradores a Inteligência Militar descobriu a “Operação Jericó”. Na noite de 11 de fevereiro, os principais líderes do complô, e um agente da Mossad, foram presos e a segurança aérea reforçada. Outros foram apanhados no dia 12. No dia 20 as confissões obtidas permitiram deter um cúmplice, o prefeito de Caracas, Antônio Ledezma.
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O prefeito de Caracas, Antônio Ledezma, era o agente de ligação com Israel. Viajou secretamente para Telavive, em 18 de maio de 2012, para se encontrar, lá́, com Benjamin Netanyahu e Avigdor Lieberman. Ele representava o chefe da oposição venezuelana, Henrique Capriles Radonski.
O presidente Nicolas Maduro interveio imediatamente, na televisão, para denunciar os conspiradores. Enquanto, em Washington, a porta-voz do departamento de Estado fazia rir os jornalistas, que se recordavam do golpe organizado por Obama nas Honduras, em 2009 – quanto à América Latina –, ou mais recentemente da tentativa de golpe na Macedônia, em janeiro de 2015 – quanto ao resto do mundo –, declarando a propósito: “Estas acusações, como todas as precedentes, são ridículas. É uma prática política estabelecida de longa data, os Estados Unidos não apoiam mudanças políticas por meios não constitucionais. As mudanças políticas devem ser realizadas por meios democráticos, constitucionais, pacíficos e legais. Nós temos verificado, em várias ocasiões, que o governo venezuelano tenta desviar a atenção das suas próprias ações, acusando para isso os Estados Unidos, ou outros membros da comunidade internacional, por causa de acontecimentos no interior da Venezuela. Estes esforços refletem uma falta de seriedade por parte do governo da Venezuela, em fazer face à grave situação com a qual está confrontado”.
Para os venezuelanos este golpe, falhado, coloca uma questão seria: como manter viva a sua democracia se os principais líderes da oposição estão na prisão, pelos crimes que se aprestavam a cometer contra a própria democracia? Para aqueles que pensam, erradamente, que os Estados Unidos mudaram, que não são mais uma potência imperialista, e, que agora defendem a democracia no mundo inteiro a “Operação Jericó” é um tema de reflexão inesgotável.

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