sábado, 17 de abril de 2010

Lula x FHC: dá para comparar?


Lula deve concluir seu mandato com um alto índice de popularidade


Mesmo com base em números irrefutáveis, a análise muitas vezes acaba em crítica à oposição

O plano do Partido dos Trabalhadores (PT) de termos este ano uma eleição plebiscitária, entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), já tem uma estratégia anunciada - a comparação dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1994 - 2002) e de Luiz Inácio Lula da Silva (2002 - 2010). Nesse embate, cada lado conta vantagem. Mas analisando friamente os resultados de cada governo, quem será que fez realmente mais pelo País? Na visão do economista, mineiro de Contagem, José Prata Araújo, fundador do PT e autor do livro "O Brasil de Lula e o de FHC" não tem dúvida que Lula ganha de goleada.

Na análise de Prata, que não é desapaixonada, só reconhece um momento de "glória" na era FHC e mesmo assim ainda considera que o crédito não lhe é devido - o Plano Real, que abriu as portas para a estabilização econômica do País e reduziu uma inflação de 2500% para 10%. Para ele o "Pai" do Real foi o ex-presidente Itamar Franco (PR), mesmo FHC tendo sido o ministro da Fazenda na época. Prata não reconhece a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), dos medicamentos genéricos e muito menos dos projetos de distribuição de renda, base para o Bolsa Família.

Ele afirma que mesmo petista e defensor de Lula, apresenta comparativos dos dois governos em 85 tabelas simples e análises bastante didáticas que explica os principais números do período nas várias áreas do governo, da economia aos setores sociais. Mesmo com base em números irrefutáveis a análise muitas vezes acaba em crítica à oposição.

"Esse livro na verdade, apenas digamos assim, fundamenta tecnicamente o próprio ponto de vista popular. Quando terminei esse livro eu tive a sensação interessante que o governo Lula é até melhor do que ele divulga, tem muito mais obras", avalia.

Segundo José Prata, a comparação é feita a partir do início dos governos FHC e Lula para mostrar quem teve a evolução mais positiva. Observa que em primeiro lugar compara a economia do País. "Se diz muito que o governo Lula foi uma continuidade do governo FHC, eu mostro que não.

Nos anos FHC o Brasil quebrou duas vezes. Com o Lula o País enfrentou a pior crise nos últimos 30 anos e respondeu de forma positiva".

Diz que o Brasil cresceu para dentro, para o mercado interno. O crescimento, segundo ele, tem relação a distribuição de renda, com o bolsa família, com o aumento do salário mínimo, com os benefícios da previdência, com mais empregos. "O País realmente passou por grandes turbulências e não quebrou".

ERA FERNANDO HENRIQUE
Início de esperança e o fim maculado

Um dos ícones da luta contra a ditadura, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso assumiu o governo em 1º de janeiro de 1995, com uma sólida base parlamentar. Isso permitiu a continuidade da política econômica e a aprovação de inúmeras reformas constitucionais, inclusive com a"redução do Estado"

FHC aprovou a quebra dos monopólios estatais nas áreas de comunicação e petróleo, bem como a eliminação de restrições ao capital estrangeiro, possibilitando a criação do programa de Desestatização, que culminou com a privatização de 70 empresas públicas que renderam 250 bilhões de reais.

Na área de Educação foi criado o Fundef l e foi implantado o programa Toda Criança na Escola, ampliando para próximo de 97% o percentual de crianças de 7 a 14 anos na Escola. Na Saúde, o SUS saiu do papel; o programa da Aids tornou-se referência com a distribuição de medicamentos gratuitos; os medicamentos genéricos foram viabilizados; as equipes da Saúde da Família passaram de 300 em 1994 para 16 mil em 2002 e na questão agrária foi implantado o programa de reforma agrária.

Em seu governo, FHC dobrou o gasto em programas de assistência social, de uma média anual de R$ 15 bilhões até 1994 para R$ 30 bilhões em 2002. Aconteceu no governo FHC a criação, em maio de 2000, da Lei de Responsabilidade Fiscal, que colocou um freio nos gastos de gestores públicos.

Com a continuidade do Plano Real o País encurtou o número de pobres de 35% para 28% da população. A estabilidade econômica não conseguiu, no entanto, estancar crises, como a do setor elétrico que devido aos baixos investimentos e a uma longa estiagem, sofreu um colapso, causando o "apagão". Apesar dos avanços, o governo FHC teve seu final maculado por indicadores ruins. O desemprego chegou a 9,14%, uma das taxas mais altas da história. Além disso, FHC deixou o governo com um índice de popularidade baixíssimo, cerca de 30%.

De Marcelo Raulino

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