segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Michel Temer terá de decidir como pretende entrar para a história


Por um desses caprichos do destino, na sessão em que Eduardo Cunha acatou um dos pedidos de impeachment de Dilma, houve o episódio que desequilibrou o jogo em favor da presidente: o destravamento da pauta fiscal.
O maior fator estimulador do impeachment era o travamento da economia, a sensação alimentada por seus defensores de que nada seria pior do que a continuidade do governo Dilma. Para tanto, contribuiu em muito a irresponsabilidade institucional da oposição e da mídia, fazendo o jogo do quanto pior, melhor.
O destravamento da pauta mudou o jogo. Mostrou que o governo conseguiu sensibilizar o bom senso dos parlamentares e reduzir o espaço dos incendiários. Pode começar a governar. O que poderia levar a um novo travamento seria justamente a tese do impeachment.
Ou seja, a perspectiva de caos saiu do colo de Dilma para o colo dos impichadores. Quem se oferece para recolher a bomba e pagar a conta?
É aí que entra o fator Michel Temer.
O papel de TemerTemer não é um jovem irresponsável. Tem idade, senioridade, envergadura intelectual para disputar um lugar na história. É isso que o move, não a ambição de uma carreira política inviável pela própria idade.
Mesmo tendo papel relevante na Constituição de 1988, sua carreira política não foi marcante. Pelo contrário, enquanto secretário de governo em São Paulo e deputado, pavimentou-a com o pragmatismo comum ao meio. Como vice-presidente, pouco lhe foi dado fazer.
Nesses momentos de neblina e cerração, cresce a relevância das figuras referenciais. Temer pretende ser uma delas, aglutinando a nação em torno dele. Seu sonho seria uma nação unida a favor do impeachment recorrendo a ele. Com sua senioridade, pairando acima das paixões, ele receberia o fardo do poder, destravaria a economia, montaria uma nova frente hegemônica e em 2018 entregaria a Presidência de um país pacificado ao novo eleito. E correria para o abraço da história.
Lamento informar o douto constitucionalista, mas a cena acima é inviável por vários motivos.
Com o destravamento da pauta fiscal, o jogo inverteu: a aposta na ingovernabilidade pulou para as mãos dos defensores do impeachment. A alternativa agora é entre três anos de um governo medíocre, ou um salto no escuro, com todos os componentes de uma radicalização política.
Em vários setores da opinião pública já se firmou a convicção de que o impeachment é golpe. As manifestações dos últimos dias, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), sindicatos, movimentos sociais e juristas da turma de Temer mostram que haverá reação pesada se o impeachment se firmar.
Haja Força NacionalAlém disso, o projeto econômico brandido pela frente de apoio a Temer prevê o desmonte da rede social criada pela Constituição que Temer ajudou a construir.
Haja Força Nacional e polícias militares para conterem a reação geral. A piora na economia se dará em um quadro de profunda conturbação social.
Temer terá estrutura emocional para atropelar sua biografia e tornar-se um Arthur Bernardes do século 21, com três anos de estado de sítio e sem a legitimidade do voto popular, ainda que da República Velha? Será alvo de ódio de metade do país, sem se tornar ídolo da outra. Os primeiros tiros contra ele, disparados por Ciro Gomes, são um pequeno ensaio do que o espera se prosseguir avalizando o golpismo.
Não apenas isso.
A frente que pretende sustentar Temer é formada por dois partidos – PMDB e PSDB – divididos em várias ilhas de poder, sem um comando unificado e com uma enorme quantidade de candidatos a fichas sujas.
Na fase mais crítica da sua impopularidade, Dilma tem a blindagem de uma vida pessoal impoluta. Temer terá a seu lado Paulinho da Força, Aécio Neves, os despojos de Eduardo Cunha e os fantasmas da Lava-Jato.
Se prosperar a tese do impeachment, o que se terá serão três anos de estado de sítio virtual, seguido da eleição de um anti-Temer.

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