segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Tudo é lindo na política externa norte-americana (sqn)

Obama_Escritorio01
A grande mídia corporativa dos EUA apoia a política externa do governo apresentando um mundo distorcido ao público norte-americano.
Dave Lindorff, lido na Carta Maior em 27/11/2015
Seria a mídia corporativa norte-americana notadamente composta por órgãos de propaganda ou agências de notícias?
Aqui estão alguns pontos a se considerar e, então, o leitor pode decidir. Confira algumas perguntas abaixo e verifique como a mídia corporativa dos EUA geralmente produz suas respostas:
1) Se o Estado Islâmico ou a Al Qaeda deliberadamente atacam civis, como no recente episódio em Paris, indiscriminadamente matando dezenas de pessoas, seria isso terrorismo?Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim
2) Se os EUA deliberadamente atacam civis, como no caso do hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz, Afeganistão, matando indiscriminadamente dezenas de pessoas, seria isso terrorismo?Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não
3) Se o governo chinês assume o controle de uma ilha minúscula, reivindicada por outra nação, e ali instala uma base militar, seria esse um exemplo de agressão, uma violação do direito internacional e uma provocação?Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim
4) Se o governo dos EUA assume o controle e, em seguida, se recusa a renunciar uma porção de uma minúscula ilha, propriedade de outro país, neste caso Cuba, e ali instala uma base militar (como tem feito já por décadas, no caso da Baía de Guantânamo) seria esse um exemplo de agressão, uma violação do direito internacional e uma provocação?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não
5) Se a líder de um partido que ganha a eleição nacional, mas anuncia que, na verdade, é ela que tomara todas as decisões importantes para o governo recém-eleito, como Suu Ky anunciou que fará em Mianmar, seria esse um exemplo de comportamento antidemocrático ou de caudilhismo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não
6) Se um país estrangeiro coloca mísseis apontados para outra nação no território de um país adjacente ao país-destino, como fez a URSS em Cuba, seria essa uma ameaça para o país de destino, no caso os EUA?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim
7) Se os EUA colocam mísseis na Polônia apontados pra Rússia, como fizeram, ou colocam armamento nuclear na Alemanha, também tendo a Rússia como alvo, o que foi feito, seriam essas ameaças para a Rússia?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não
8) Se o Irã proporciona assistência militar aos rebeldes de um país vizinho como Iêmen e tal grupo, os Houthis, com sucesso derrubam um autocrata do poder, seria isso subversão?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim
9) Se os EUA financiam organizações dentro de outro país que organizam protestos, marchas e atentados sangrentos que, finalmente, derrubam o governo eleito, como os EUA fizeram na Ucrânia, seria isso subversão?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não
10) Se o Irã, signatário do Tratado de não Proliferação Nuclear, pretende desenvolver capacidade de refino do urânio-235, o que um dia poderia ser usado para fabricar armamento nuclear, mas concorda com inspeções e supervisão internacional, seria essa uma grave ameaça à estabilidade regional no Oriente Médio e à paz mundial?
Resposta objetiva: Não, já que existe outra poderosa nação com armamento nuclear no Oriente Médio, com a capacidade de obliterar totalmente o Irã – ou seja, Israel.
Resposta da mídia: Sim
11) Se Israel, que nunca assinou o Tratado de não Proliferação, se recusa a permitir inspeções em suas instalações nucleares, é conhecido por ter centenas de armas nucleares, bem como os aviões e mísseis para enviá-los a qualquer lugar, seria essa uma grave ameaça à estabilidade regional no Oriente Médio e à paz mundial?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não
12) Se uma pessoa revela, por dinheiro, a uma potência estrangeira, o funcionamento interno do sistema de interceptação de sinais da Agência de Segurança Nacional (NSA), bem como as identidades de centenas de agentes da inteligência secreta dos EUA, como fez o espião israelense Jonathan Pollard, seria ele um inimigo dos Estados Unidos?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não
13) Se uma pessoa revela, em ato de princípio e enquanto denunciante, sem compensação financeira, a espionagem ilegal e inconstitucional contra cidadãos norte-americanos da NSA, como fez Edward Snowden, agora exilado, seria ele um inimigo dos Estados Unidos que deve, portanto, ser castigado?
Resposta objetiva: Não
Resposta da mídia dos EUA: Sim
14) Se terroristas pró-Estado Islâmico em Paris disparam contra feridos, vítimas de seus atentados de terror, seria esse um exemplo da barbárie e um crime digno da condenação de todo o mundo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim
15) Se vídeos mostram as forças de defesa israelenses atirando na cabeça de um palestino, ferido e deitado na rua, seria esse é um exemplo de barbárie e um crime de guerra digno da condenação de todo o mundo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta de mídia dos EUA: Não (não foi sequer noticiado).
Evidentemente que essa lista poderia continuar, mas as evidências tornam óbvio e incontestável que a grande mídia corporativa dos EUA trabalha em sintonia, essencialmente apoiando a política externa dos EUA e apresentando um determinado mundo para público norte-americano, de forma muito distorcida e pró-governo.
Porque isso acontece, uma vez que essas agências de notícias são, majoritariamente, não diretamente financiadas ou controladas pelo governo, como são em países onde se espera que a mídia seja arma de propaganda, é uma história complicada, que vem há muito tempo sendo explicada claramente por especialistas como Noam Chomsky e Edward Herman.
Independente da lermos sobre o assunto, a realidade é clara para qualquer um que preste a mínima atenção: a mídia dos EUA, particularmente quando trata de assuntos externos, mas também quando trata de assuntos como a inteligência e a espionagem doméstica, não pode ter nossa confiança por apresentar a verdade, nem algo que minimamente se aproxime da verdade.
Gostaria de salientar aqui que evidências sólidas em torno desse desrespeito intencional a verdade por parte da mídia corporativa podem ser encontradas aqui em nossa própria e humilde organização de pequenas notícias, ThisCantBeHappening!. Nos últimos quatro anos, nós denunciamos:
  • papel da CIA em orquestrar o caos sectário e terrorista no Paquistão.
  • papel central da justiça e da inteligência norte-americanas na coordenação do esmagamento brutal do movimento Occupy nas cidades por todo os EUA.
  • O conhecimento prévio e total falta de preocupação ou ação do FBI sobre os planos bem documentados em Houston que tratavam dos grupos conhecidos e não identificados que conspiravam para assassinar líderes do movimento Occupy por meio de “rifles de longo alcance”. (O FBI enviou memorandos sobre esta trama para escritórios regionais do FBI e para o quartel-general, mas nunca agiu para impedi-la e nunca prendeu qualquer um dos envolvidos na trama).
  • A administração Obama deliberadamente escondendo provas forenses dos médicos legistas turcos que mostravam que membros da força de defesa de Israel executaram brutalmente Furkan Dogan, um garoto norte-americano de 19 anos a bordo da embarcação humanitária em Gaza, Mavi Marmara, e não fizeram nada para punir os assassinos.
  • O assassinato, pelas mãos de um agente do FBI, de um jovem imigrante checheno, Ibragim Todashev, na Flórida, que havia sido interrogado por tal agente e por um policial de Boston em seu próprio apartamento (Todashev pode ter tido provas de que o FBI tinha trabalhado com os irmãos Tsarnaev antes da explosão da maratona de Boston). Série em três partes: perguntas obscuras 1perguntas obscuras 2 e perguntas obscuras 3.
Essas e outras histórias, que foram relatadas e publicadas, e que foram amplamente cobertas pelos meios de comunicação alternativos, não foram nem ao menos mencionadas pela mídia corporativa dos EUA. Assim como a maioria dos importantes comunicados são ignorados sem qualquer aviso pela imprensa corporativa. Tais informações, portanto, não chegam a grande parte da população norte-americana que obtém suas informações inteiramente através das fontes corporativas tradicionais.
Tradução: Allan Brum.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será avaliado pelo moderador, para que se possa ser divulgada. Palavras torpes, agressão moral e verbal, entre outras atitudes não serão aceitas.