terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Corrigida, dívida externa deixada pela ditadura atingiria US$1,2 trilhão, quatro vezes a atual

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Iniciado há exatos 50 anos, o regime militar deixou como herança uma dívida externa que permaneceu impagável ao longo da primeira década da redemocratização.
Ao final de 1984, último ano completo sob a ditadura civil-militar, o Brasil devia a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto, ou seja, de toda a renda gerada no país. Eram US$102,1 bilhões para um PIB – que indica a capacidade nacional de pagamento – de US$189,7 bilhões.
Em proporções de hoje, seria como se o Brasil devesse US$1,2 trilhão, o quádruplo da dívida externa atual. Mas a situação era ainda mais dramática porque, na época, dois terços do endividamento externo era de responsabilidade do governo federal, principalmente, dos Estados e dos municípios.
Hoje, a dívida externa pública, na casa dos US$120 bilhões, representa pouco menos de 40% da dívida externa total, enquanto as reservas em dólar do Banco Central superam os US$370 bilhões.
No governo militar, a dívida começou a crescer nos anos do “crescimento econômico” recorde que alimentava o poder político do regime. O desempenho do país, porém, começou a decrescer, como mostram os resultados dos ministros da Fazenda mais longevos desde o golpe de 1964.
Do “milagre econômico” de Delfim Netto à derrocada gerida por Ernane Galvêas, a escalada da riqueza deu lugar à disparada da inflação e a multiplicação da dívida foi decisiva no processo. A dívida rondava os 25% do PIB até 1979, quando deu um salto impulsionado pela elevação brusca das taxas de juro internacionais. Na época, o preço do petróleo havia subido muito e os países ricos tentavam conter a inflação.
O Brasil teve de estimular as exportações para gerar os dólares necessários para o pagamento da dívida. Para isso, deixou as cotações da moeda norte-americana subirem, o que tornava as exportações mais baratas, mas, em compensação, encarecia os produtos importados.
O resultado foi estagflação, a rara e temida combinação de economia estagnada e inflação acelerada, e ajudou a apressar a retirada dos militares. Os pagamentos da dívida só foram regularizados em 1994, após acordo com os credores para reduzir o montante devido e os juros.

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