“Vamos defender o que é nosso. Defender a Petrobras, defender a democracia e o processo de revolução social que o Brasil vive nos últimos 12 anos.”
Clarisse Meireles (texto e fotos), com colaboração de Léa Maria Aarão Reis, viaCarta Maior
“Em vez de ficar chorando, vamos defender o que é nosso. Defender a Petrobras, que é sinônimo de defender o Brasil, os trabalhadores brasileiros, a democracia e o processo de revolução social que o Brasil vive nos últimos doze anos”, conclamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de terça-feira, 24 de fevereiro, quando, ao lado de sindicalistas, intelectuais, jornalistas, artistas, petroleiros e militantes de movimentos sociais, participou de ato em defesa da Petrobras na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro.
Organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), o ato, chamado de “Defender a Petrobras é defender o Brasil”, reuniu centenas de pessoas no auditório lotado da ABI. Do lado de fora, aqueles que não puderam entrar assistiram ao evento num telão.
Presentes para dar apoio à Petrobras diante da campanha de descrédito da empresa que tomou parte da opinião pública nacional estavam o líder do MST João Pedro Stédile, o escritor Eric Nepomuceno, o físico Luiz Pinguelli Rosa, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, Wadih Damous, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, a presidente da UNE Virgínia Barros, o economista Márcio Pochmann, o ex-presidente do PSB Roberto Amaral e o jornalista Luis Nassif, além de líderes sindicais como o presidente da CUT Vagner Freitas, e José Maria Rangel, coordenador da FUP.
No início do ato, foi prestada homenagem às trabalhadoras e aos trabalhadores que tiveram suas vidas interrompidas em acidentes de trabalho.
Ao chegar ao auditório, Lula foi recebido com comoção e gritos de “Olê olê olê olá, Lula Lula”, parte do jingle da campanha de 1989 que nunca foi esquecido. Prova viva da popularidade daquele que é considerado o melhor presidente que o Brasil já teve.
Lula lembrou que é preciso diferenciar os responsáveis pelos crimes cometidos dentro da Petrobras dos milhares de petroleiros honestos que trabalham para fazer da empresa a maior da América Latina em valor de mercado e a maior produtora de petróleo entre as empresas de capital aberto, e detentora de reconhecimento e prêmios internacionais, como o OTC Distinguished Achievement Award, considerado o mais importante prêmio da indústria de petróleo, recebido no início de fevereiro.
“Os petroleiros não têm que ter vergonha. Se eu fosse petroleiro, vestia esse uniforme para passear no domingo. Tenho orgulho de ter visto esta empresa crescer, de ter inaugurado o novo Cenpes, de ver a empresa voltar a construir plataformas com 65% de conteúdo nacional”, lembrou Lula, destacando que é preciso punir os responsáveis sem desestabilizar a empresa.
“A Petrobras não pode ser prejudicada por essa campanha, nem os acionistas ou toda a cadeia de produção que envolve a empresa. É isso que está em jogo. No caso da Petrobras, o objetivo é punir a empresa e criminalizar a política. E no Brasil estamos vendo a criminalização da ascensão social de uma parte da sociedade brasileira. A elite não se conforma”, afirmou, apontando a irresponsabilidade de parte da imprensa que publica acusações como provas e condena antes da Justiça.
“A ideia é criminalizar antes. Começa o processo pela sentença. O problema sério é que se eu conto uma inverdade muitas vezes, ela vira verdade no inconsciente de milhões e milhões de pessoas. É a aplicação da teoria do domínio do fato para tudo”, disse.
Otimista, apesar de tudo, lembrou ter chegado à Presidência duas vezes (e Dilma outras duas) sem o apoio da grande imprensa.
“O povo consegue fazer suas próprias análises. Já passei por muitas coisas nesse país. Sou filho de uma mulher analfabeta. O mais importante legado que ela me deixou foi o direito de andar de cabeça erguida”, concluiu, dizendo-se sempre a postos para defender a democracia e a reforma política.
José Maria Rangel, coordenador da FUP, falou também do orgulho de trabalhar na empresa que não deve ser abalado diante do “fuzilamento” de imagem que está sofrendo agora.
“Temos que ter vergonha de uma empresa que ajudou a participação do setor de petróleo e gás a saltar de 3% para 13% do PIB? Uma empresa que investe no nosso país R$300 milhões por dia? Que de 40 mil empregados próprios passou para 86 mil na era Lula e Dilma? Uma empresa que colaborou para a indústria naval passar de apenas dois mil empregos para 90 mil hoje? Uma empresa que investe mais em pesquisa e desenvolvimento do que as outras sete maiores empresas do país juntas? Por isso descobrimos o pré-sal. Temos muito de que nos orgulhar. A Petrobras é de cada cidadão brasileiro”, disse Zé Maria.
Virgínia Barros, presidente da UNE, lembrou que a espetacularização de uma série de denúncias vazadas de forma seletiva atende a interesses de setores conservadores.
“Se há palavras que não combinam com a direita brasileira são ética e transparência. Esta incursão conservadora é pelo desmantelo de um dos nossos maiores patrimônios, daqueles que não se conformaram com o regime de partilha, com a política de conteúdo nacional. Por isso hoje aqui reunidos os estudantes se solidarizam com essa defesa da Petrobras, que é também a defesa do povo e do destino do nosso país”.
O encontro também divulgou o Manifesto em Defesa da Petrobras e do Brasil, que destaca: “A investigação, o julgamento e a punição de corruptos e corruptores, doa a quem doer, não pode significar a paralisia da Petrobras e do setor mais dinâmico da economia brasileira”. O documento está disponível aqui.
Manifestações populares de apoio à empresa estão agendadas para o dia 13 de março, em várias cidades do Brasil.
Algumas aspas do ato.
Roberto Amaral“Precisamos despertar a atenção do país, da sociedade, da nação, para os riscos que corremos com esse esforço de desestabilização da Petrobras – e do governo. Isso não se encerra com o processo contra a Petrobras. Ele é a ponta de um imenso iceberg que tem por finalidade desestabilizar, manietar e acovardar o governo. Cabe à sociedade reagir porque foi ela quem conquistou a democracia, o petróleo, a Petrobras, e é ela quem assegurará a democracia agora.
A juventude de hoje é a mesma que estava na frente da luta para tentar impedir o golpe, e, antes, para assegurar a posse de Jango. Os jovens e os operários sempre estiveram à frente, nesses momentos decisivos. Mas temos que dialogar mais com a juventude. Há dificuldades no nosso diálogo e sobretudo para mobilizá-los em um momento em que o governo corta verbas da Educação e o reajuste se faz em cima dos direitos dos trabalhadores. Mas a Une fará uma grande reunião, em São Paulo, antes do próximo dia 13 de março e, aos poucos, os sindicatos vão se incorporando.”
Wadih Damous“As forças democráticas têm que sair do canto do ringue, ir para a rua, e é preciso que haja também uma ofensiva jurídica. Estamos vendo, por parte de um juiz e por parte de alguns fedelhos procuradores da República, um ataque ao ordenamento jurídico brasileiro, à legalidade e à Constituição. Uma série de princípios constitucionais estão sendo desrespeitados em nome de um suposto combate à corrupção. Na verdade, não se trata de um combate à corrupção, mas de um ajuste de contas político-partidário. As forças democráticas, aqueles que defendem o Estado Democrático de Direito, aqueles que sabem a importância de termos uma ordem jurídica estável, sabem também a importância de defendê-la. É por isto que estamos aqui hoje. Espero que este ato marque o fim do silêncio das esquerdas.”
Eric Nepomuceno“Este ato é o começo do fim de um silêncio que não devia ter começado. A esquerda está correndo o risco de perder o espaço da rua. Estava inquieto com a quietude, com a inação da esquerda. Mas acho que vai começar uma reação que é urgente.”
João Pedro Stédile“É um ato de grande significação. Aqui estamos representados em todos os grandes seguimentos organizados da sociedade para defender a Petrobras porque ela está sofrendo do mal do petróleo. Desde que foram descobertas as reservas do pré-sal, a Petrobras atraiu os grandes interesses do capital internacional para se apropriar dele. Estes casos de apuração de corrupção, que devem ser investigados, são apenas a ponta do iceberg. Na verdade, os tucanos querem romper com a Lei de Partilha e privatizar a principal riqueza do povo brasileiro hoje que é o gás e o petróleo. A influência da Globo é muito grande. Todos os dias ela martela a situação como se fosse apenas um caso de corrupção. E tentando responsabilizar a presidenta. O passo seguinte seria o seu impedimento. Mas os setores organizados da sociedade têm forças acumuladas para fazer um trabalho intenso. Saímos daqui criando comitês populares, indo para a rua para defender a Petrobras, como já está marcado para o próximo dia 13, fazendo manifestações por todo o Brasil. Não entregaremos a Petrobras para ninguém porque mais que uma empresa, a Petrobras é patrimônio do povo brasileiro.”
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