É hora de jogar as “qualis” fora. As “qualis” são o subproduto da marquetagem. São as pesquisas “qualitativas”. Com base nelas, a campanha de Dilma, na reta final do primeiro turno, achou que estava tudo “tranquilo” e que a eleição estava decidida. Na internet e nas ruas, duas semanas antes, quem tem faro já percebia que a boataria religiosa e a campanha de calúnias estava a mil.
Ok. Veio o segundo turno. Um amigo me diz que o PT achou melhor deixar Lula de fora da campanha, porque as “qualis” mostram que é preciso reforçar a imagem da Dilma. Ela precisa ganhar luz própria.
Sabe o que eu acho? Joguem as qualis fora e chamem o Lula.
Sejamos objetivos: a Dilma não vai reforçar imagem nenhuma em duas semanas. A Dilma tem uma história respeitável, e pode ser boa administradora. Mas a Dilma, como candidata, só existe por causa do Lula.
Foi Lula quem levou Dilma dos 4% e do quase anonimato, para os 55% que ela chegou a ter em agosto. Agora, os gênios da marquetagem acham que é preciso “guardar o Lula”.
Lula será usado na hora certa, dizem alguns. A hora certa era na volta do segundo turno, quando Dilma sofreu o maior ataque conservador da história brasileira recente. Lula era (e é) o escudo que pode impedir essa campanha caluniosa e nefasta de fazer mais estragos.
Agora, nem é a hora de discutir a opção preferencial pelo marketing e por um tipo de política (adotada por parte do lulismo) que nega a política.
Agora é hora de dizer: tragam o Lula. Lula é a vitória. Guardar o Lula no Palácio é o que Serra quer.
Sobre os números das últimas pesquisas, é preciso dizer o seguinte: podemos desconfar das pesquisas, mas é preciso não brigar com os fatos. Com alguma forçadinha pra um lado ou outro, elas mostram – sim – algumas tendências inequívocas:
- Serra cresceu bastante do primeiro para o segundo turno; teve 33 milhões de votos no dia 3, e agora parece ter conquistado mais 12 milhões (dos 20 milhões de votos) que Marina recebeu no primeiro turno;
- Dilma cresceu pouco; teve 47 milhões de votos dia 3, e parece ter conquisado entre 4 e 5 milhões, no máximo (aí incluídos os poucos eleitores de Marina mais à esquerda, e parte do eleitorado de Plinio).
Dilma teve 47% dos válidos dia 3. E agora tem algo entre 52% e 54%.
Serra teve 33% dos válidos. E agora tem algo entre 44% e 47%.
É muito provável que a quinzena final da eleição traga Dilma e Serra em empate técnico. Para a petista, o que é mais grave não são osnúmeros, mas a tendência: Serra está em alta, e ela está praticamente parada.
Isso significa que Dilma caminha inexoravelmente para a derrota? Não.
Lembro da campanha de 89. Collor chegou ao segundo turno com o dobro de votos que Lula. Só que Lula chegou em alta – como Serra agora. Lula foi o beneficiário de uma onda que uniu Brizola, Covas, Miguel Arraes e Luiz Carlos Prestes numa grande frente de centro-esquerda. Lula foi subindo, como foguete. Collor, impávido, não reagia.
Dez dias antes da eleição, uma pesquisa chegou a apontar vantagem no lmite da margem de erro: Collor 48% e Lula 44% (algo assim, não tenho os números extads agora). Aí, Collor reagiu. Levou à TV a bomba atômica: um depoimento nojento de uma ex-namorada de Lula (mãe da filha dele), dizendo que Lula era a favor do aborto. A bomba atômica freou o crescimento de Lula – que parecia caminhar para a vitória certa (apesar de ainda estar atrás nas pesquisas).
Pois bem. Dilma não deve usar os métodos nojentos que Serra utiliza. Mas Dilma tem a bomba.
A bomba é Lula. Serra não segura o confronto com Lula.
Ah, mas o confronto é com a Dilma – ela é que precisa segurar a peteca. Não. Esse é o jogo que Serra quer.
Lula precisa ir pra TV e dizer a verdade: “votar no Serra é jogar fora os avanços dos últimos anos; o PSDB governa para os ricos; vocês querem isso?”
Lula tem mais força do que bispos católicos, Globo, Veja e as difamações. Dilma não segura sozinha. Não há vergonha nenhuma em assumir isso: Diolma é Lula. Lula é Dilma.
O resto é marquetagem.
É hora de jogar a marquetagem fora.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
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