Em 16 de outubro, a sociedade brasileira tomou conhecimento de dois fatos emblemáticos desta campanha. Em São Paulo a polícia apreendeu em um gráfica 2,1 milhões de panfletos clandestinos contra Dilma a acusando de apoiar o aborto. Na edição de hoje a Folha de São Paulo traz matéria revelando que Mônica Serra, mulher de Serra, fez um aborto de um filho do candidato.
O encontro destes fatos é emblemático por vários motivos. Em primeiro lugar, por a Folha de São Paulo demorar uma semana, após Sheila Canevacci, ex-aluna de Mônica Serra revelar o fato na internet. Uma semana de silêncio ensurdecedor da grande mídia de um fato decisivo sobre um tema trazido pela candidatura do próprio Serra ao centro do debate sucessório. Uma semana em que a blogsfera desvendava sozinha todo o caso, com outras alunas detalhando o relato de Mônica. Com nomes e sobrenomes ( Kátia Figueiredo, que mora atualmente na Suécia, Ana Carla Bianchi, Ana Carolina Melchert e Érika Sitrângulo Brandeburgo, entre outras estudantes, residentes aqui no país). Do resto da mídia nem uma palavra. Do Jornal Nacional nem um frame.
O relato não tem nada de sensacionalista, ao contrário, é repleto de humanidade:
Contou que, nas aulas, as alunas se sentavam em círculos, criando uma situação de intimidade. Enquanto fazia gestos de dança, Monica explicava como marcas e traumas da vida alteram movimentos do corpo e se refletem na vida cotidiana.
Segundo a ex-estudante, as pessoas compartilhavam suas histórias, algo comum em uma aula de psicologia.
Nesse contexto, afirmou, Monica compartilhou sua história com o grupo de alunas. Disse ter feito o aborto por causa da ditadura.
Ainda de acordo com a ex-aluna, Monica disse que o futuro dela e do marido, José Serra, era muito incerto.
Quando engravidou, teria relatado Monica à então aluna, o casal se viu numa situação muito vulnerável.
"Ela não confessou. Ela contou", diz Sheila Canevacci.
Outra aluna:
- Eu confirmo aqui o depoimento da Sheila Ribeiro. Foi aquilo mesmo. A professora Monica Serra nos relatou que havia feito um aborto em um período difícil da vida do casal, durante a ditadura militar. Foi um fato tocante, que marcou a todas nós. Lembro-me que o assunto surgiu quando ela falava sobre a dissociação do corpo e a imagem corporal, que até hoje dirige meu comportamento – disse.
Este fato dramático na vida de qualquer casal não deveria jamais frequentar as páginas do noticiário político, não fosse o fato do próprio casal casal ter transformado a campanha eleitoral em uma cruzada de moralismo tão oportunista quanto (sabemos agora) hipócrita. Uma campanha de panfletos apócrifos, de Mônica falando a um eleitor que Dilma é a favor de matar criancinhas, do obscurantismo cultivado pelos métodos mais baixos.
Podemos não saber o tamanho eleitoral que Serra sairá desta eleição, mas sua estatura moral, sim. E ela é nenhuma.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
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