terça-feira, 12 de outubro de 2010
A falta que faz uma imprensa livre
O ex-diretor das obras do Rodoanel, citado por Dilma Rousseff no debate, finalmente reapareceu nas páginas de jornal. E dizendo, ameaçadoramente, “não me deixem só″ aos dirigentes tucanos e ao seu “desconhecido” José Serra – vejam a que ponto vai a hipocrisia, dizer que “não conhece” o nome do homem a quem deixou a tarefa de dirigir a mais importante obra de seu Governo, em São Paulo”.
Mas não se anime em achar que a imprensa, agora, investigará os fatos sombrios que já foram noticiados a seu respeito, como a matéria da Istoé que o acusava de ter ficado com R$ 4 milhões arrecadados como “caixa-2″ para a campanha serrista.
Se você olhar a reportagem – a entrevista de Souza é um primor de arrogância e um claro chamado a ser protegido pela máquina tucana – pode até ter a impressão de que o jornal, finalmente, resolveu fazer jornalismo.
Mas basta reparar algumas circunstâncias para ficar com um bando de tucanos atrás das orelhas sobre o que está sendo feito.
A repórter Andrea Michael – não faço um juízo de valor, mas um registro de fato – é a mesma que é acusada de produzir informações favoráveis ao banqueiro Daniel Dantas no processo e que teve sua prisão preventiva pedida pela Polícia Federal na Operação Satiagraha, prisão que, igualmente registro foi negada pelo juiz Fausto de Sanctis. Isso não a desqualifica como pessoa ou profissional mas o jornal, até para preservar sua repórter, deveria evitar a coincidência de que tenha sido a mesma repórter que, no dia 27 de agosto, foi escalada para fazer uma matéria desmentindo as acusações da revista, onde os advogados de “Paulo Preto” dizem que vão processar os jornalistas.
Nesta matéria, por sinal, não há sequer uma referência ao episódio, dois meses antes, da prisão do engenheiro, acusado de receptação, ao tentar vender uma jóia roubada da loja de alto luxo paulista Gucci, igualmente publicada pela Folha, no dia 15 de junho, episódio de pleno conhecimento do jornal, portanto.
Aliás, a Folha não pode alegar, sequer, que esta acusação de receptação o torne fonte menos crível, pois não se escusou de abrir manchetes para o tal “consultor” duplamente condenado por posse de objeto roubado e, também, moeda falsa. Desta vez, porém, a chamada é discreta, muito distante das letras garrafais com que se acusou de corrupção a sra. Erenice Guerra.
Não pode haver defesa mais enfática de que se apurem todas as irregularidades e muito menos alguém nega que uma imprensa livre e ativa seja uma ferramenta inigualável de combate à corrupção. Mas quando esta imprensa retém informação, a publica de forma seletiva e parcial, em função do quanto ela prejudica ou beneficia a candidatura de sua predileção, trai o seu papel de informar.
E polui, pela omissão e pelo dirigismo do que publica, as próprias liberdades democráticas, que tem seu maior alicerce no esclarecimento e na escolha livre da população no processo eleitoral.
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