Tem dias em que a ficha cai.
Chega de conversa fiada.
Basta de falsa objetividade.
Que se abra o jogo.
Que se ford.
Vamos ao problema.
A reabertura do caso Ford, com a condenação da montadora a devolver o dinheiro gaúcho que pegou adiantado, não usou e não entregou, dá o que pensar.
Foi a maior manipulação ideológica do Rio Grande do Sul moderno. Uma guerra sem quartel e estratégica.
Não uma guerra ideológica da esquerda contra a Ford.
Uma guerra ideológica da direita contra o governo Olívio Dutra. Um pretexto para atingir o petismo.
Uma vingança contra a chamada arrogância do PT.
Se a Ford não tivesse ido embora, talvez a direita tivesse lhe pedido para fazer isso, pois nunca uma ruptura de contrato foi tão benéfica e providencial para a propaganda ideológica da direita gaúcha.
A Ford queria mundos e fundos.
Antônio Britto estava disposto a dar tudo.
Olívio Dutra teve a coragem de ponderar.
O antipetismo gaúcho é tão visceral, tão xiita, tão fanático e fundamentalista, que precisava de um motivo para se vingar dessa pedra no sapato. Encontrou. O PT incomodava demais. Havia desbancado os tradicionais donos do poder.
Nada mais inadmissível. Um verdadeiro pecado mortal. Tinha de ser punido por essa ousadia.
Certamente houve erros na condução da negociação com a Ford.
O PT cometeu erros ao longo da sua curta trajetória. A lista é longa das suas babadas.
Olívio Dutra também errou.
A Ford cometeu mais erros ainda. Na época, tinha um presidente medíocre e arrogante que não sabia e não queria negociar. Representava a poderosa Ford e pretendia impor no grito todos os seus desejos.
Queria tudo: isenção de impostos, adiantamentos, infraestrutura, mamão com açúcar, privilégios sem fim.
Uma multinacional não aceita ser tratada como qualquer empresa. Quem abre uma empresa, paga impostos. Salvo de for uma montadora messiânica. Ao cair fora, a Ford aplicou um cambalacho de vigarista barato.
Partiu com a grana dos gaúchos.
A mídia amiga da direita deitou e rolou. Convenceu os convencidos de que a Ford havia sido expulsa. Afetou a consciência dos mais simples e dos mais ideológicos. Deliciou-se dando as cartas e jogando de mão.
Falava sozinha. Foi a época de ouro do conservadorismo na mídia gaúcha.
Tudo tem um preço: o da Ford era alto demais.
A manipulação ideológica em torno do caso Ford continua rendendo. É o hit mais tocado pela direita.
Ainda toca o coração dos incautos.
Dizem que os petistas são xiitas, radicais e ultrapassados. Muitos, claro, são. Mas nem todos.
Desconheço gente mais xiita do que os da tribo dos antipetistas. É um fundamentalismo rasteiro, primário, rastaquera, carregado de ódio e de simplificações, do tipo petista come criancinha e vomita heresias.
Eu não sou petista. Não tenho partido. Nunca terei.
Tenho é paciência para levar anos analisando certos fatos.
Tem muita gente que deveria pedir desculpas a Olívio Dutra. Gente que, se o PT estivesse no governo gaúcho agora, nem ficaria a favor da devolução do dinheiro pela Ford. Essa montadora é cara-de-pau.
Desenterrei tudo sobre o caso Ford. Estudei o dossiê como quem se prepara para uma tese. Mergulhei na história. Não hesito em afirmar: a saída da Ford foi um motivo para esculhambar o petismo. Continua sendo.
Só há coisa a repetir: queremos nosso dinheiro.
O resto é conversa para reacionário dormir feliz.
De Juremir Machado da Silva
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