Em Murici (AL), vítimas dos temporais procuram acampamentos porque não querem ficar em abrigos públicos
Famílias dizem não conhecer ideologia dos movimentos e esperam reconstruir no campo o que perderam na cidade
Famílias que tiveram suas casas destruídas pelos temporais que atingiram Alagoas há uma semana estão buscando refúgio nos acampamentos de trabalhadores rurais sem terra, na região de Murici (a 60 km de Maceió).
Os desabrigados desconhecem a ideologia dos movimentos. Dizem que procuram acampamentos porque não desejam ficar em abrigos públicos e têm esperança de reconstruir no campo o que perderam na cidade.
A Folha visitou ontem três áreas invadidas pelos sem-terra em Murici. Duas delas são controladas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e uma pelo MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra). Em todas, encontrou famílias de desabrigados.
PAU-A-PIQUE
"Os movimentos sociais apoiam quem não tem nada, e aqueles que nos procuram são acolhidos", diz o coordenador dos acampamentos Seridó e Aroaz, do MST, Francisco de Assis Santana, 53.
Segundo ele, as duas áreas, juntas, possuíam 180 famílias sem terra. Após a tragédia das chuvas, mais 30 famílias se uniram a elas em busca de apoio.
É o caso do agricultor José Quitério da Silva, 32, que morava próximo ao centro de Murici com a mulher e quatro filhos pequenos. "Perdi tudo, só conseguimos salvar os documentos", disse ele.
Silva conseguiu abrigo no acampamento Seridó, onde passou a viver com a família em um barraco de pau-a-pique de cerca de 15 m2.
Ele afirma que não entende nada da ideologia do MST e que deseja agora um pedaço de terra para plantar. Mas o sonho de reconstruir sua casa na cidade também continua -ele não quer que a família cresça no campo. "Aqui é ruim para as crianças", diz.
No acampamento Cabocal, controlado pelo MLST, o líder sem terra Milton Leite Cavalcanti, 50, afirma que já recebeu dez novos moradores, todos desabrigados da chuva. Novos barracos estão sendo erguidos no local.
Segundo ele, com o aumento do número de acampados, a cota de alimentos dos sem-terra no acampamento está sendo reavaliada. Nas áreas invadidas pelo MST, sem-terra estão colhendo milho, mandioca e feijão.
De FÁBIO GUIBU
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