Fernando Lugo chegou à presidência do Paraguai em 2008 com apoio ativo dos movimentos sociais e populares, encerrando 61 anos de governos corruptos e autoritários do Partido Colorado. Para conquistar essa vitória histórica nas urnas foi necessário constituir uma ampla coalizão eleitoral, composta por forças democráticas e de esquerda, como o Tekojoja, e também por setores conservadores e de centro-direita.
O vice-presidente, do Partido Liberal, que mantém uma tensa relação com o presidente Lugo desde antes da posse; e as forças da direita e da grande imprensa, bem como o oposicionista Partido Colorado, que, após décadas no poder, segue mantendo controle sobre importantes espaços institucionais no Executivo, no Judiciário e nas Forças Armadas; vêm sistematicamente tentando desestabilizar o governo. O presidente Lugo denunciou publicamente essas tentativas golpistas, e recebeu a solidariedade dos líderes da Unasul. Também por isso, foi importante politicamente a negociação sobre a hidrelétrica de Itaipu, realizada com sucesso entre Paraguai e Brasil: o governo Lula agiu solidariamente e reconheceu a legitimidade dos pleitos apresentados pelo governo paraguaio.
O foco mais recente de crise foi o surgimento de uma suposta guerrilha, o Exército do Povo Paraguaio (EPP), que a direita acusa de ter relações com as Farc. Para combater as ações do EPP, o governo Lugo declarou estado de exceção nos cinco departamentos em que se registram ações dos supostos guerrilheiros, e enviou tropas do Exército. Para o Ministro do Interior do governo, o EPP não é uma guerrilha, mas um grupo de criminosos, e os setores da direita “que estão perdendo seus privilégios, estão utilizando o EPP para desestabilizar o presidente Lugo”.
Essa difícil conjuntura política motivou as forças populares e a esquerda paraguaia a reagir e impulsionar duas grandes iniciativas que podem abrir um novo ciclo político-organizativo e de mobilização no país. A primeira delas foi o lançamento da Frente Guasu, ainda no mês de março, reunindo partidos e movimentos democráticos, progressistas e socialistas que apoiam o governo Lugo, e que buscam representar “a unidade das forças que estão dispostas a condensar a vontade de todo um povo e transformá-la em propostas políticas de uma nova transformação que inclua as grandes maiorias”, segundo o Manifesto de Fundação da Frente Guasu (Frente Grande em guarani).
Outra iniciativa foi organizar, em 20 de abril, a comemoração do segundo aniversário da vitória do presidente Lugo, levando o povo paraguaio às ruas de Assunção em um ato político que reuniu 50 mil pessoas e foi uma forte resposta da mobilização popular às ações da direita golpista. Sob o lema: “Unidos defendemos a mudança”, os movimentos sociais e a esquerda paraguaia foram capazes de convocar e organizar a grande manifestação de massa e iniciar uma experiência de aliança democrática e popular inédita na história moderna do país.
De Eduardo Mancuso
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