A barragem da Samarco que se rompeu em Mariana (MG) no dia 5 de novembro, deixando 19 mortos, voltou a apresentar um deslizamento de lama na quarta-feira, dia 27/1. A mineradora confirma a informação, mas diz que o incidente é de pequena proporção e que não há vítimas.
Em nota, informou que houve uma “movimentação de parte da massa residual” do reservatório de Fundão devido às chuvas das últimas semanas.
A massa caiu entre Fundão e a barragem vizinha, Santarém, e permanece no local, diz o comunicado.
Funcionários da empresa, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, foram evacuados do local. As Defesas Civis de Mariana e Barra Longa foram informadas do episódio.
Segundo a Samarco, não houve necessidade de acionamento de alarme.
A Prefeitura de Mariana diz que a mineradora informou que o incidente não representa risco à região e que os cursos de água não devem ser atingidos. O Ministério Público de Minas Gerais, que investiga a tragédia, enviou uma equipe ao local para apurar o problema.
Em nota, o governo de Minas Gerais disse que a Polícia Militar e a Defesa Civil Estadual vão analisar a situação “in loco”. Além disso, afirmou que representantes da Secretaria de Meio Ambiente irão apurar as consequências ambientais do deslizamento e “tomar as providências cabíveis”.
Além de Fundão, há outras duas barragens da Samarco no local, que ficaram de pé, mas sofreram danos estruturais: Germano e Santarém. Estudo encomendado pela mineradora aponta que o rompimento das duas pode causar um desastre maior que o anterior.
No comunicado desta quarta, a Samarco diz que “as estruturas das barragens de Germano e Santarém permanecem estáveis com base no continuo monitoramento”.
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PF ACUSA SAMARCO DE AMPLIAR REPRESA ALÉM DE LIMITE ANUAL
A Samarco ampliou acima do limite anual a barragem do Fundão, que ruiu em Mariana (MG). É o que aponta o despacho de indiciamento sob a acusação de crime ambiental da mineradora e de executivos da empresa feito pela Polícia Federal (PF) em 13 de janeiro. O documento mostra ainda que a leitura de equipamentos que medem o nível de água da represa estava com atraso de dez dias.
A reportagem teve acesso à documentação, assinada pelo delegado Roger Lima de Moura, chefe da equipe que investiga o rompimento da barragem, que aconteceu em 5 de novembro e deixou 17 mortos e dois desaparecidos.
Além da mineradora, foram indiciados a Vale – controladora da Samarco –, o ex-presidente da empresa Ricardo Vescovi e outros seis executivos e técnicos da companhia, além da Vogbr Recursos Hídricos e Geotecnia.
Segundo os delegados responsáveis pela investigação, funcionários da Samarco que prestaram depoimento afirmaram que o chamado alteamento anual da barragem chegaria a até 15 metros por ano.
O alteamento é a elevação da contenção da represa para que seja possível a colocação de mais rejeito de minério de ferro. Conforme um estudo obtido pela PF, cujo título é Técnicas Para Disposição de Rejeitos de Barragem, para represas como a de Fundão, o alteamento não pode ultrapassar de 5 a 10 metros por ano.
Os delegados apuraram ainda que a última leitura dos equipamentos que medem o volume de água na barragem, que em quantidades acima do permitido pode provocar o colapso da estrutura, foi feita em 26 de outubro, ou seja, 10 dias antes da tragédia.
Em depoimento, o então coordenador técnico de planejamento e monitoramento da Samarco, Wanderson Silvério Silva, um dos indiciados no caso, disse que “a leitura era semanal, e que os instrumentos estavam acertados para fazer uma leitura a cada seis horas”.
A última, de acordo com o técnico, foi feita em 2 de novembro. Ele disse, porém, que “desde agosto ou setembro de 2015 as obras feitas na barragem estavam interferindo nos sinais”.
Para os delegados, o envio de rejeitos de minério de ferro da mina da Vale, localizada em Mariana, para a barragem do Fundão também contribuiu para a tragédia.
Segundo as investigações, havia “falta de controle da quantidade de rejeitos que eram despejados na barragem de Fundão pela Vale, diferença entre o declarado primeiramente e o que foi constatado posteriormente, diferença entre o declarado pelas empresas Vale e Samarco e a quantidade real de rejeitos de lama despejados na barragem de Fundão”.
Além disso, conforme os delegados, não foi repassada a “informação de que rejeitos da Vale eram despejados na barragem de Fundão para os técnicos que iriam fazer a declaração de estabilidade [da represa]”.
Para a PF, a prática da Samarco era a de “aumento da produção mineral sem o desenvolvimento simultâneo de um plano para lidar com os rejeitos de forma segura”.
Os delegados apontam contradições entre os depoimentos do ex-presidente da Samarco Ricardo Vescovi e do então diretor de operações, Kleber Terra. Este disse que relatórios sobre problemas da barragem eram apresentados em reuniões de diretoria, às vezes com a participação de Vescovi.
O ex-presidente, no entanto, negou que isso tenha ocorrido. Após o indiciamento, ele e Terra foram afastados dos cargos. A lama liberada pelo rompimento da barragem destruiu a fauna e a flora do Rio Doce e chegou ao litoral do Espírito Santo.
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