Em janeiro, a Folha noticiou que a primeira-dama do estado de São Paulo, Maria Lúcia Alckmin, utilizou as aeronaves oficiais em mais ocasiões do que os 25 secretários juntos.
Ela fez 132 viagens de 2011 a 2015, enquanto o secretariado ficou com 76. Uma resposta do governo foi produzida imediatamente.
“É fato público e notório que a primeira-dama Lu Alckmin é presidente do Fundo Social de Solidariedade, entidade oficial voltada à assistência social e geração de renda e de emprego”, diz a nota. “De cada dez deslocamentos, apenas um contou com o uso de aeronaves.”
Tudo muito “transparente”, apesar de não haver registro dessas incursões no site da entidade que Dona Lu comanda.
Mas a história ficou pela metade.
O DCM obteve a planilha dos voos através da Lei de Acesso à Informação. Embora a justificativa da assessoria de imprensa para os deslocamentos de Lu seja seu trabalho à frente do tal Fundo, a maioria deles foi para dois locais onde a agenda era outra: Pindamonhangaba, onde a família tem um sítio, e Campos do Jordão.
Em Campos está situado o Palácio Boa Vista, residência de inverno e de descanso. Os passeios de Lu a esses destinos ocorreram, em sua imensa maioria, no helicóptero Sikorsky, modelo S-76 A, estacionado no Palácio dos Bandeirantes (seu concorrente é um turbo hélice King Air, tornado famoso por Aécio Neves).
O registro das comitivas só passou a ser adicionado a partir de junho de 2012. Até então havia apenas data, destino e “passageiro principal”, na verdade o requisitante, identificado por uma sigla – GE para Alckmin, PE para a mulher, VGE para o vice.
Não tem regra clara. Aécio baixou um decreto em 2005 regulamentando o uso desses aparelhos. Em São Paulo, há apenas normas da Casa Militar, subordinada ao gabinete de Geraldo, sobre “diárias”. Cabe à CM “planejar o uso e a operação” para usufruto do “governador do Estado e da primeira-dama, bem como, excepcionalmente, de secretários de Estado e agentes públicos a serviço”.
Pinda é o berço político de Geraldo, onde ele nasceu, foi criado, virou prefeito e conheceu Lu Alckmin. Nos relatórios, a cidade está identificada pelo nome ou pelo aeroporto (Fazenda Santa Helena). Fica a 146 quilômetros de São Paulo, ou uma hora e meia de carro.
No patrimônio declarado de Geraldo, de pouco mais de 1 milhão de reais, estão um apartamento no Morumbi, um carro, aplicações financeiras e a supracitada propriedade rural, sobre a qual pouco se sabe, a não ser que existe.
Lu Alckmin voou para lá na companhia dos filhos Sophia, José Geraldo Alckmin Neto e Thomaz (falecido em abril de 2015), além de agregados.
2012 foi especialmente frutuoso. Em julho e agosto, Lu e filhos pegaram carona para Pinda e Campos. O marido de Sophia, Mário Sérgio Ribeiro, estava entre os passageiros. Campos é um dos points preferidos do amigo João Dória, pré-candidato à prefeitura de SP e favorito de Geraldo. Dória faz “passeio” de cães tradicional na cidade.
Na gestão anterior (2001-2006), Lu organizava missas aos domingos na capela projetada por Paulo Mendes da Rocha. Em 2006, a mulher de Cláudio Lembo, então vice, se recordou de ter voado com o pitbull da colega para as montanhas.
Em dezembro do mesmo ano de 2012, Alckmin e Lu foram buscar filho, nora e dois netos em Cumbica. A turma desembarcava do México. Lu postou uma foto no Instagram, apagada posteriormente. De Guarulhos a galera se encaminhou para o Palácio dos Bandeirantes.
Recentemente, Paulo Maluf falou sobre Geraldo Alckmin à revista piauí. Primeiro citou Churchill, segundo o qual “não há opinião pública, há opinião publicada”. Explicou: “Por isso se diz que em Minas não tem governador ruim, porque o que O Estado de Minas fala é bíblia. No news is good news. E o Alckmin é um pouco isso. Como não tem escândalo, o governo dele é tido como sério, e é sério.”
Não consta que Lula tenha mergulhado no lago do sítio dos Alckmin em Pinda. Portanto, está tudo nos conformes.
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