Começo o texto fazendo uma confissão: errei.
Recebi, pelo Facebook, um texto de resposta à uma carta de um norte-americano, que vivia aqui, e que chega à conclusão de que o problema do Brasil é... você, brasileiro.
“Você é o problema”, diz o tal Mark Mason.
Achei que era uma bobagem tão grande que rebarbei a boa resposta feita – e enviada ao blog – pelo Diego Quinteiro. Mas comecei a ver a repercussão na rede, o uivar dos vira-latas que não podem ver um amontoado de besteiras escrito em inglês para sonorizar sua vira-latice.
Então respondo, certamente sem a paciência do Diego.
Mark usa como exemplo o que ele supõe ser a atitude do brasileiro: estar num carro que, de noite, esbarra “arranca o retrovisor de um carro supercaro” e que, encontrando o dono do carrão no dia seguinte, vai silenciar.
Pode até ser, Mark.
Mas, calma aí.
Vocês, mundo afora, fizeram mais que arrancar retrovisores.
Mataram milhões de pessoas. Saquearam países. Colocaram negros em currais muito depois de que aqui, com todos os perrengues racistas, não tivemos apartheid legalizado, nem Ku Klux Klan.
E quando não fizeram diretamente, como no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, ajudaram a fazer, com as ditaduras no Brasil, no Chile, na Argentina, no Irã, nas banana republics da América Central.
Nem por isso estamos dizendo ao povo norte-americano que “você é o problema”.
Em poucos lugares do mundo – e um deles é aqui – vocês podem andar na rua e serem bem tratados e admirados.
Você mesmo diz, em outro texto que “a menos que você esteja falando com um agente imobiliário ou uma prostituta, é provável que as pessoas não vão ficar animadas porque você é norte-americano”.
Mas você é capaz de dizer, numa redução abjeta, que até casou com “uma de suas garotas.”
Não, amigo, você casou com um ser humano, não importa se brasileira, japonesa, queniana, coreana.
Não com “one of your girls”.
Você diz que, durante algum tempo, achou que o colonialismo era a razão de nossas desgraças. Mas, agora, deixou de achar.
Então, faz o seguinte: manda devolver tudo o que se tirou deste país, do ouro que Portugal saqueava e ia parar com os ingleses ao ferro, ao açúcar, ao café, a tudo o que mandamos para fora num sistema de trocas internacionais injusto.
Aí você pode dizer à vontade que o problema do Brasil é o nosso “egoísmo”, que, pobre coitado, não vai além de querer proteger nossas famílias, não o nosso país.
Você diz que “brasileiros pagam tudo parcelado, porque eles querem sentir e mostrar que eles podem ter aquela supertevê mesmo quando, na realidade, eles não tenham dinheiro para pagar”.
Mark, você passou quatro anos no Brasil e não aprendeu nada. Eu compro remédio na farmácia parcelado, porque é o mesmo preço.
É, cara, o sistema financeiro que vocês impõem ao país é tão maluco que comprar asupertevê a vista ou em dez vezes custa o mesmo, o que quer dizer que se paga, automaticamente, um sobrepreço que, adivinha, o pessoal do sistema financeiro, que é todinho “agringalhado” nos impõe.
Sua turma, Mark, que acha o brasileiro “um povinho de merda” não consegue ver que as deficiências deste povo e até a cultura comportamental que frequentemente se vê é obra,sorry, do que sua cultura nos impôs de consumismo, de competitividade, de “money makes the world go around”.
Aqui tinha até uma lenda arcaica de que “dinheiro não traz felicidade”, que, claro, eu não ouso repetir. Mas, sabe, Mike, ainda resiste aqui um pouco, um pouquinho, de brio.
Você pode ser admirado por uns guris e gurias que acham que Miami é a Paris do século 21. E, por causa disso, com a delicadeza dos brasileiros que fazem tudo para que vocês nos entendam, sou gentil e pergunto: “Mark, what did you mean is vá catar... ‘vá catar coquinho’?”
Se quiser, senta aí e baixa a bola. Se não, “porta da rua, serventia da casa”. So if you wanna go, walk right out that door.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será avaliado pelo moderador, para que se possa ser divulgada. Palavras torpes, agressão moral e verbal, entre outras atitudes não serão aceitas.