sábado, 19 de junho de 2010

Afinal, quem são os inimigos da paz?

O presidente do Irã, Mahmmoud Ahmadinejad, é tido pela mídia hegemônica ocidental – a brasileira sendo uma das mais entusiastas – como o "tirano", o "inimigo público nº 1 do mundo livre", isto é, da parte ocidental do mundo. Volta e meia, em debates e conferências em que participo, indago aos presentes e interlocutores sobre o seguinte: quantos países o Irã invadiu nos últimos 50 anos; e quantos países foram invadidos pelos Estados Unidos? Surpresa e silêncio. Não há respostas.

O ataque de Israel a um navio da Frota da Liberdade, embarcações que atravessaram o Mediterrâneo para levar ajuda humanitária à numerosa população da Faixa de Gaza, demonstra com muito mais evidência, sem dúvida e nem qualquer possibilidade de equívoco, quem são realmente os amantes da guerra, os tiranos que infernizam a paz, construindo muros, realizando bloqueios e ataques "preventivos" em águas internacionais e mesmo em fronteiras alheias, como nas invasões recentes ao Iraque e ao Afeganistão, e na tomada de Granada, no Caribe, em fins dos anos 1970, ou o Panamá, ou... Quantos mais?

Dias após o presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, e o primeiro ministro da Turquia, Recep Erdogan, assinarem com o Irã um tratado a respeito do uso pacífico da energia nuclear por aquele país, para o atendimento às demandas econômicas e sociais da sociedade iraniana – iniciativa bombardeada pelas nações hegemônicas e que teve repercussão extremamente negativa na chamada "grande imprensa" brasileira –, pois o que aconteceu? Como uma trágica ironia da história, as Forças Armadas de Israel invadem um navio turco, com dezenas de ativistas da paz que levavam alimentos e auxílio à população palestina de Gaza, matam número ainda impreciso desses pacifistas, promovendo uma das maiores barbáries da história moderna. Israel, sim. Não foi o Irã de Ahmadinejad, mas o país que para ser cri ado tomou as terras árabes da Palestina, ex pulsando o povo palestino e instaurando uma sucessão das mais trágicas carnificinas da história humana contemporânea.

Agora, Israel impede a população de Gaza de ter acesso livre e receber, livremente, por terra, por mar e por ar, visitantes a seu país. E Israel promove este bloqueio diante do silêncio mais cínico da chamada "comunidade internacional" , isto é, a ONU e seus "líderes mandatários", os Estados Unidos à frente. A alegação israelense é a mais hipócrita. O governo de Israel "justifica" sua atitude de bloqueio, em razão de o grupo islâmico Hamas controlar o poder político e militar em Gaza. Obviamente, o governo israelense não admite que o Hamas tenha sido eleito por ampla maioria do povo palestino de Gaza. Isto é apenas um detalhe. Mas a fúria assassina de Israel ficou à mostra, coincidentemente, no mesmo momento político em que o governo estadunidense, com a ex-primeira- dama Hillary Clinton à frente, elevava o tom contra o acordo ace rtado pelo Brasil e a Turquia com o Irã, no sentido de promover a paz no Oriente Médio.

Agora é Israel e seu governo, com Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro e Shimon Peres como presidente, que despertam as atenções mundiais, intensificando as tensões militaristas. Pacifistas de todo o globo se movimentam contra o bloqueio e as atrocidades de Israel. As grandes potências, Estados Unidos e Grã-Bretanha à frente, se calam. A enfraquecida Organização das Nações Unidas pede um relatório "crível", como se algo mais precisasse ser apurado, após relatos e imagens do que foi a invasão de um navio da Frota da Liberdade.

Calam-se os que vociferavam, cheios de ódio, contra Ahmadinejad. Até porque não sabem como responder, agora, sobre aonde realmente mora o perigo e o terrorismo, inclusive, nuclear, dos nossos dias presentes. Um terrorismo que, como denunciou recentemente um jornal britânico, vem de décadas, antes mesmo de o hoje presidente israelense Shimon Peres oferecer armas atômicas ao regime de apartheid da África do Sul.

O rei e a mentira estão nus e armados. A hipocrisia impera nas Nações Unidas. E não é hora para se ficar calado. Cada voz, por mais frágil, será um grito pela paz e pelo fim dos assassinatos da gente palestina.

De Nilo Sergio S. Gomes

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