sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ativistas preparam novos comboios humanitários para furar bloqueio israelense a Gaza

Ativistas prometeram enviar nos próximos dias mais dois barcos para desafiar o bloqueio israelense na Faixa de Gaza. "Esta iniciativa não vai parar", disse à Agência Estado Greta Berlin, do Movimento Gaza Livre, falando do Chipre, onde fica a sede do grupo.

Greta Berlin ressaltou que o Movimento Gaza Livre, que organizou a flotilha atacada na segunda-feira (31/5) pelo exército israelense, não será detido e que outro navio de carga estava na costa da Itália a caminho de Gaza. Um segundo navio carregando mais de 30 passageiros deve se juntar ao primeiro navio, disse Berlin. Ela disse que os dois navios devem chegar à região no final desta semana ou no início da próxima semana.

"Esta iniciativa não vai parar", avisou. "Nós achamos que eventualmente Israel vai ter um pouco de bom senso. Eles vão interromper o bloqueio a Gaza e uma das formas de fazer isso, para nós, é continuar a enviar navios."

O Exército israelense recusou-se a dizer como vai responder à chegada de mais navios com direção a Gaza. No entanto, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Yigal Palmor, disse que "não há mudança na nossa política" e pediu aos ativistas que enviem a ajuda humanitária a Gaza pelos meios autorizados.

A flotilha da liberdade se dirigia a Gaza com toneladas de ajuda humanitária e, inclusive, brinquedos. Após dias de advertência, Israel interceptou os navios durante a madrugada e deu início a um confronto que deixou nove ativistas mortos e dezenas de feridos, dentre eles sete soldados. Houve condenação mundial ao ataque.

Navio irlandês

Hoje, o governo da Irlanda pediu a Israel que libere a passagem do navio irlandês Rachel Corrie, que também carrega mantimentos, remédios, material hospitalar e cimento para a Faixa de Gaza. O governo israelense, no entanto, já negou permissão - lembrando que a entrada de cimento no território palestino está proibida - e se ofereceu para escoltar o navio até um porto, de onde levaria o carregamento por terra. A tripulação, entretanto, rejeitou a oferta por receio de que a carga não chegue ao destino final.

"Tivemos uma reunião depois do que aconteceu na segunda de manhã e estamos mais determinados que nunca em continuar a nossa missão", disse o tripulante Derek Graham à televisão estatal irlandesa RTE na terça-feira (1º/6). "Vou aconselhar aos tripulantes e aos passageiros que permaneçam sentados com as mãos à mostra para que não façam conosco o que fizeram na segunda-feira e depois digam que atacamos".

O comando do Rachel Corrie já disse que Israel será avisada constantemente das posições exatas dos tripulantes Neste momento, o navio está navegando junto à costa da Itália depois de ter zarpado de Malta.

O navio irlandês, que leva 15 ativistas, é batizado em homenagem a Rachel Corrie, ativista norte-americana assassinada em Gaza em 2003.



ÚLTIMAS NOTICIAS / RIA-NOVOSTI

Nicaragua suspende relaciones con Israel tras ataque contra flotilla humanitaria

Rebanadas de Realidad - RIA Novosti, Moscú, 02/06/10.- Nicaragua suspende a partir del pasado martes las relaciones diplomáticas con Israel como protesta por su ataque a la Flotilla de la Libertad que llevaba ayuda humanitaria a la Franja de Gaza, escribe hoy la prensa latinoamericana.

Rosario Murillo, portavoz del Gobierno nicaragüense y esposa del presidente Daniel Ortega, anunció esta decisión en un comunicado que se dio a conocer en las emisoras nacionales.

En su intervención, reafirmó también "el apoyo incondicional" de Managua a la lucha de los palestinos "para lograr su derecho inalienable a vivir en paz y seguridad en su propio territorio".

Entretanto, el primer ministro israelí, Benjamín Netanyahu, afirmó hoy que el embargo naval contra el enclave palestino "tiene importancia vital para garantizar la seguridad" del Estado hebreo.

Calificó de "acto de defensa legítima" el asalto contra la flotilla humanitaria que, según diversas fuentes, causó entre 9 y 19 muertos y decenas de heridos.



Texto integral do discurso do ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, perante o Conselho de Segurança da ONU

por Ahmet Davutoðlu [*]

Sr. Presidente:

Compareço hoje diante de si em resultado de um acontecimento muito triste e trágico em que um estado membro desta augusta casa cometeu um crime grave em desrespeito total a todos os valores que jurámos manter desde o estabelecimento do sistema das Nações Unidas.

Estou perturbado pelo facto de que as Forças de Defesa Israelenses atacaram uma iniciativa multinacional e civil que transportava ajuda humanitária para Gaza em águas internacionais, a 72 milhas náuticas [133,34 km] da costa para ser exacto, matando e ferindo muitos civis. Esta acção foi desnecessária e inadequada. As acções israelenses constituem uma grave ruptura do direito internacional.

Em termos simples, isto é o equivalente a banditismo e pirataria. Isto é assassínio efectuado por um estado. Não há desculpas, não há justificação possível. Um estado-nação que segue este caminho perdeu a sua legitimidade como membro respeitoso da comunidade internacional

A flotilha civil multinacional composta por uns poucos navios e um total de cerca de 600 pessoas de 32 países, transportando ajuda humanitária para a empobrecida Gaza foi ilegalmente atacada na manhã de hoje. O único objectivo desta missão civil era providenciar o alívio muito necessário aos filhos da Gaza ocupada que têm estado sob o ilegal e desumano bloqueio israelense durante anos. Os navios não representavam uma ameaça ao Estado de Israel ou a qualquer outro estado. A ajuda humanitária estava a caminho de criança que foram despojadas das suas oportunidades de viverem como crianças e desfrutarem todos os confortos básicos que a sua e as nossas crianças têm como garantido. Estas crianças não sabem de onde virá a sua próxima refeição. Elas não têm abrigo ou vivem em condições extremamente desprovidas. Elas não recebem educação; elas não têm futuro em que possam contribuir para uma Palestina e região pacíficas e estáveis.

Sr. Presidente,

Os navios transportam bens de conforto e instalações tais como playgrounds que recordariam às crianças a sua condição de crianças. Eles transportavam necessidades muito básicas como medicações para câncer e leite em pó para fortalecer o crescimento e a saúde das crianças na ausência de leite adequado. A comunidade internacional tem sido testemunha desta tragédia humanitária durante anos, deixando de actuar. E hoje é onde nos encontramos. Hoje observámos através da cobertura ao vivo um acto de barbárie em que a provisão de ajuda humanitária foi punida através da agressão em alto mar, a 72 milhas das águas internacionais. Hoje muitos trabalhadores da ajuda humanitária retornam em sacos para cadáveres. E Israel tem sangue nas suas mãos. Isto não foi ao largo da costa da Somália ou nos arquipélagos do Extremo Oriente onde a pirataria ainda acontece. Isto foi no Mediterrâneo onde tais actos não são a norma. Isto foi onde precisamos de bom senso. Isto foi onde a civilização emergiu e floresceu e onde as religiões abrâmicas ganharam raízes. Estas são religiões que pregam a paz e ensinam-nos a estender a nossas mãos quando outras estão em estado de necessidade.

A utilização da força foi não só inapropriada como também desproporcionada. O direito internacional dita que mesmo em tempo de guerra, civis não devem ser atacados ou feridos. A doutrina da auto-defesa não serve de modo algum para justificar as acções tomadas pelas forças israelenses. A liberdade em alto mar constitui um dos mais básicos direitos sob a lei internacional do mar, incluindo o direito internacional costumeiro. A liberdade de navegação é uma das mais antigas formas das normas internacionais, datando de há muitos séculos. Nenhum navio pode ser travado ou abordado sem o consentimento do capitão ou do estado bandeira. A lei permitindo tal acção em casos excepcionais está claramente declarada. Além disso, qualquer suspeita de violação da lei por parte do vaso e da sua tripulação em alto mar não absolver o estado interveniente dos seus deveres e responsabilidades sob a lei internacional aplicável. Tratar a entrega de ajuda humanitária como um acto hostil e tratar os trabalhadores da ajuda como combatentes é um reflexo de um perigoso estado mental, com efeitos deletérios para a paz regional e global. Portanto, as acções israelenses não podem ser consideradas legais ou legítimas. Qualquer tentativa de legitimar o ataque é fútil.

Sr. Presidente,

Esta acção inaceitável foi perpetrada por aqueles que no passado aproveitaram de navios a transportar refugiados e que escapavam de uma das piores tragédias do século passado. Eles deveriam estar mais conscientes da importância da assistência humanitária, dos perigos e da desumanidade de guetos como aquele que actualmente testemunhamos na Gaza ocupada.

Tenho orgulho em representar uma nação que no passado ajudou aqueles que necessitavam a escaparem do extermínio.

Após o acto de agressão, ouvi declarações oficiais a afirmarem que os civis nos navios eram membros de um grupo islâmico radical. Entristece-me ver que responsáveis de um estado caiam tão baixo a ponto de mentir e lutar para criar pretextos que legitimariam as suas acções ilegais. Contudo, a flotilha consiste de cidadãos de 32 países. Todos eles civis, representando muitas fés, a cristandade, o Islão, o Judaísmo e pessoas de todos os credos e origens. Ela representa a consciência da comunidade internacional. Ela é um modelo das Nações Unidas. Portanto, isto foi um ataque às Nações Unidas e aos seus valores. O sistema internacional sofreu uma pancada brutal e agora é da nossa responsabilidade rectificar isto e fazer com que o bom senso e o respeito para com o direito internacional prevaleçam. Devemos ser capazes de mostrar que a utilização da força não é uma opção a menos que claramente declarada em lei. Devemos manter nossos compromissos e punir aqueles que os infringem. O sistema deve consertado. Caso contrário a confiança das pessoas no sistema, nos seus líderes, em nós, será demolida.

Nenhum estado está acima da lei. Israel deve estar preparado para enfrentar as consequências e ser responsabilizado pelos seus crimes.

Sob tais condições, qualquer mínima oportunidade que existia respeitante à paz e à estabilidade na região sofreu um sério retrocesso. O processo em curso foi sufocado por este simples acto único. Aparentemente é como se Israel houvesse efectuado um esforço extra a fim de negar quaisquer desenvolvimentos positivos e esperanças quanto ao futuro. Eles tornaram-se advogados da agressão e da utilização da força.

Em vista de tudo isto, hoje, apelo ao povo de Israel a que exprima o seu horror em relação a esta malfeitoria. Ele não deve permitir outra acção flagrante que permita mais uma vez apresentar Israel como um agressor. Ele deve dar passos para restabelecer o seu status como um parceiro crível e membro responsável da comunidade internacional.

A Turquia gostaria de ver o Conselho de Segurança a reagir fortemente e adoptar hoje uma Declaração Presidencial condenando fortemente este acto israelense de agressão, exigindo um inquérito urgente ao incidente e apelando à punição de todas as autoridades e pessoas responsáveis. Apelo a este Conselho a que avance e faça o que dele se espera.

Esperamos que seja incluída na decisão o que se segue.

Israel deve desculpar-se junto à comunidade internacional e às famílias daqueles que foram mortos e feridos no ataque.

Um inquérito urgente deve ser empreendido.

Um severo sentido de desgosto e advertência deve ser emitido pelas Nações Unidas. Israel deve ser instado a obedecer o direito internacional e os direitos humanos básicos.

Aos países envolvidos deve ser permitido recuperarem seus mortos e feridos de imediato.

Os navios devem ser expressamente libertados e permitidos entregarem a assistência humanitária ao seu destino.

As famílias dos mortos, feridos, ONBs e companhias de navegação envolvidas devem ser plenamente compensadas.

O bloqueio de Gaza deve ser finalizado imediatamente e toda assistência humanitária deve ser permitida que entre.

Gaza deve ser tornada um exemplo desenvolvendo- a rapidamente, para torná-la uma região de paz. A comunidade internacional deve ser convidada a contribuir.

Sr. Presidente,

Este é um dia negro na história da humanidade pois a distância entre terroristas e estados foi borrada. Qualquer um que obstrua o restabelecimento da dignidade e do respeito da ordem internacional mundial terá de responder perante a opinião pública mundial.

Cabe-nos mostrar que todos os estados estão limitados pelo direito internacional e pelos valores humanos. A Turquia está preparada para arcar com a sua responsabilidade quanto a isto. Estou certo de que este é o nosso objectivo comum.

Para finalizar, saúdo todos os trabalhadores humanitários que diligenciaram proporcionar ajuda. Trata-se de pessoas na vanguarda. Apresento as minhas condolências às famílias daqueles que deram as suas vidas nesta tentativa quaisquer que sejam os seus antecedentes, a sua religião ou a sua etnicidade. Partilho da sua dor.

De acordo com a tradição abrâmica e a minha crença, matar um ser humano é matar a humanidade como um todo. Ontem a humanidade afogou-se nas águas internacionais do Mediterrâneo.

[*] Ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia.

Este discurso encontra-se em http://resistir. info/

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