domingo, 27 de junho de 2010

‘Até o último dia de fechar a chapa, muita água vai correr por baixo e também por cima da ponte’

Depois de sete anos e meio em Brasília, na função de subsecretário de Promoção dos Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República do Brasil, o histórico militante social, Perly Cipriano, retorna ao Espírito Santo para fazer política. Ele diz que veio “a pedidos” para cuidar da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República no Estado. Avisou também que vai acompanhar de perto a candidatura do colega Guilherme Lacerda, que concorre à Câmara dos Deputados pela primeira vez. Além disso, Perly deve ajudar articular a discussão em torno das embromadas proporcionais, que no chapão de apoio ao candidato ao governo Renato Casagrande reúne 15 partidos, por enquanto. “Até o último dia de fechar a chapa, muita água vai correr por baixo e também por cima da ponte”, avisa.

Perly se diz otimista quanto à campanha de Dilma Rousseff no Estado, onde a presidenciável registrou o pior desempenho nacional, cenário que foi apontado como a real motivação da reviravolta política do Estado, na substituição da candidatura palaciana ao governo do Estado, do vice-governador Ricardo Ferraço (PMDB) para o senador Renato Casagrande (PSB), conforme interlocutores do palácio do Planalto à época. Informação que contraria anúncio do governador Paulo Hartung (PMDB), de que havia sido uma decisão de última hora.

Uma das lideranças do bloco lulista – Construindo um Novo Brasil –, Perly já presidiu por duas vezes o PT regional e participou das administrações de Vitor Buaiz, na prefeitura de Vitória e no governo estadual.

O fim do ciclo em Brasília, para voltar à militância do Estado, já era algo previsto nos planos de Perly. Ele diz que volta sem intenção de disputar qualquer cargo político, mas sim de poder participar efetivamente da vida do partido.

Século Diário: - Quase oito anos depois de trabalhar no governo Lula – na Subsecretaria de Promoção dos Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República – o senhor decide voltar ao Espírito Santo. Qual o motivo do seu retorno?

Perly Cipriano: - Eu volto para a campanha da Dilma, para ajudar Guilherme Lacerda na campanha à Câmara e para ajudar, dentro das minhas possibilidades, a articulação da eleição de bancada para o governo da Dilma.

- Até bem pouco tempo, de acordo com as pesquisas, Dilma Rosseff tinha o pior desempenho na intenção de voto para presidente, no Espírito Santo, em relação a outros estados. Hoje, entretanto, a situação já mudou. Dilma já começou a abrir vantagem sobre José Serra. Entretanto, no início, mesmo com o apoio de diversos partidos, a candidatura de Dilma não decolava aqui no Estado. Qual é a sua avaliação desse fenômeno?

- Quando eu disputei a presidência do PT fiz muitos debates sobre esse tema. Eu costumava dizer que estava vendo uma campanha para Ricardo Ferraço ao governo, mas não para Dilma à Presidência.PS- (A parte de Fernanda Tardin comentando para os grupos de debates petistas ISTO é fato , o PT de Coser , que tem maioria de filiados no ES, tá nem aí pra Dilma, articulavam a sequencia das armações ilegais do governo PH, inclusive COSER contempla em licitação um empresario preso com firma laranja, comparsa de Hartung no caso CPI da LAMA que dentre outros fatos é apontado como mandante de varios assassinatos) Havia muitos prefeitos que abraçavam a candidatura de Ferraço, mas que ignoravam a de Dilma. A essa altura, Ferraço havia assumido compromisso de apoiar a candidatura de Dilma, Casagrande ainda não havia definido se sairia candidato ou não ao governo. Ciro Gomes também não havia decidido se seria candidato a presidente. Casagrande, até este momento, esperando a decisão de Ciro, não descartava a hipótese que poderia haver dois palanques para Dilma no Espírito Santo. Acho que agora as coisas, pelo menos. já foram definidas. Teremos dois projetos em disputa no Espírito Santo: um representado pelo candidato Renato Casagrande e outro pelo candidato Luiz Paulo Vellozo Lucas. E importante registrar também que a candidata Brice Bragato, do PSOL, também tem um terceiro projeto, embora com menor expressão no sentido promover grandes mudanças.

- O senhor acha que essa falta de apoio à candidata Dilma teve a digital de Hartung? Estaria o governador querendo manter o apoio à Dilma no banho-maria para ganhar tempo com a indefinição da candidatura de Casagrande, ou isso foi simplesmente um processo natural?

- Na verdade eu acho que não houve empenho.

- Do governador Paulo Hartung?

- Faltou empenho por parte de vários partidos. Não havia um expressivo apoio à candidatura de Dilma. Eu sempre dizia que era preciso articular os nossos candidatos em torno da candidatura da Dilma, mas o próprio PT acabou ficando mais mobilizado em torno da campanha de Ferraço ao governo. É importante lembrar que nesse momento Casagrande continuava no fio da navalha, na corda bamba, ainda sem revelar se sairia ou não candidato, mas mesmo assim ele foi trilhando seu caminho. Ele foi crescendo, se articulando e ganhando credibilidade e força. Mesmo quando o Ciro Gomes ainda era candidato, Casagrande assegurava que haveria dois palanques de Dilma no Estado. Mas agora esse cenário mudou completamente e os partidos que estão com Dilma estarão também no palanque de Casagrande, possivelmente nós teremos 15 partidos na base aliada e consequentemente esses mesmos partidos estarão no palanque de Dilma.

- Com uma base tão ampla, a definição das proporcionais tanto à Câmara dos Deputados quanto à Assembléia passa a ser uma tremenda dor de cabeça para as lideranças partidárias. Na sua opinião, qual será a melhor estratégia para acomodar as demandas desses 15 partidos? A solução seria criar pernas para viabilizar as candidaturas proporcionais?

- Você tem razão. As proporcionais são realmente delicadas. É muito mais simples escolher o candidato a governador. Depois que o candidato é definido, os partidos vão se aglutinando em torno dele. A porca torce o rabo na hora em que você precisa construir as chapas para atender essas diversas demandas dos partidos. Anteriormente, quando se falava em construir uma candidatura única no Espírito Santo, eu, particularmente, achava inviável. Especialmente para equacionar os anseios de todos os partidos nas proporcionais. Não haveria possibilidade de aglutinar todos os partidos no mesmo bloco. É claro que hoje nós teremos também varias chapas proporcionais a estadual e federal. Entretanto, à medida que as coisas forem avançando, alguns partidos vão perceber que podem perder e outros que podem ganhar. É assim a política. Neste momento a campanha começa a ganhar contorno. Agora que já definimos o candidato a governador, o esforço é para definir os candidatos estaduais e federais, que é de fato um trabalho que exige uma costura mais elaborada e delicada. Eu tenho insistido muito no PT na necessidade de estarmos dialogando com as lideranças desses partidos da base aliada, porque não podemos ficar esperando que as coisas aconteçam naturalmente, tem que correr atrás. Até o último dia de fechar a chapa,muita água vai correr por baixo da ponte e também por cima da ponte.

- A base do PT sofreu alguns processos ao longo dessas últimas escolhas muito interessantes. Por exemplo, a renúncia de João Coser à candidatura do governo do Estado em favor do PMDB. Você ainda tem o PMDB fazendo o senador. Além disso, o PMDB tem três candidatos à reeleição e o PT acaba entrando para dar legenda para eleger esses candidatos, que são muito fortes. O senhor não acha que o PT negociou mal esses acordos?

- Na verdade o PT esperava a candidatura de Coser ao governo. Embora dentro do PT a unanimidade seja difícil, havia muita gente apoiando essa candidatura. Mas Coser abdicou dessa candidatura para assumir a candidatura de outro partido. Essa decisão deixou parte da militância um pouco desorientada. Eram as pessoas que queriam o nome de Coser como candidato. De outro lado, nós tínhamos que assegurar o palanque da Dilma e trabalhar com essa lógica de unir uma grande base em torno da candidatura da Dilma. Com o apoio à candidatura do PMDB, a avaliação que nós tínhamos e que o palanque da Dilma estava assegurado. Porém, a essa altura Casagrande corria por fora e também queria fazer o palanque de Dilma. Teoricamente poderia haver dois palanques, como já disse. Esse acordo com o PMDB acabou sendo necessário para garantir o palanque da Dilma. Pelo lado das proporcionais, fica difícil para o PT se considerarmos que o PMDB tem três fortes candidatos com expressão à Câmara dos Deputados, embora o PT também tenha dois fortes candidatos.

- O senhor está se referindo a quais candidatos?

- O PMDB tem o Camilo Cola, a Rose de Freitas e o Lelo Coimbra. São políticos que têm um grande eleitorado, base e uma estrutura sólida. O PT, por sua vez, vem com Guilherme Lacerda, que esta concorrendo pela primeira vez e Iriny Lopes que esta no seu segundo mandato. O PMDB praticamente tem assegurada as suas cadeiras, o PT disputará as duas vagas. Além disso, nessa mesma coligação há o PSB, também com um candidato forte, o Audifax Barcelos. É claro que esta é uma situação difícil, não teremos muitos candidatos, mas teremos candidatos fortes. O PT terá que fazer um esforço muito grande para atingir suas metas. Essa dificuldade não é só do PT, é igual à dos outros partidos.

- E o senado?

- O palanque do senado já esta resolvido com Ricardo Ferraço e Magno Malta...

- Acho que não está resolvido porque o Paulo Hartung está apoiando o Ricardo Ferraço e a candidata tucana Rita Camata.

- Eu quero dizer resolvido no palanque. Magno Malta e o Ferraço estarão no palanque do Casagrande, que e o mesmo da Dilma. Do nosso lado está resolvido, se do lado de lá vão tentar fazer dobradinha à revelia do palanque da Dilma e impossível nós termos controle sobre isso. E muito importante ter o Magno Malta, o Sérgio Vidigal, o Neucimar Fraga no palanque da Dilma. Nosso esforço tem sido nesse sentido. Enfim, o governo e o Senado estão definidos, mas ainda tem muita coisa pela frente. É neste momento que as vagas começam a ficar cada vez mais disputadas e o tempo a encurtar. Este é momento mais crítico e complexo. Os descontentes começam a aparecer. Havia gente que já se julgava eleita, mas dependendo da chapa onde ele entrou, as chances podem diminuir significativamente. Agora começa o sobe e desce de candidatos, é federal que passa para estadual, estadual que sobe para federal, e assim vai. Toda eleição é assim. A mesma dificuldade que tem do lado do palanque do Casagrande tem do lado do Luiz Paulo.

- O senhor achou positivo o fato de a candidatura de Luiz Paulo ter evitado a chapa única como queria Paulo Hartung?

- A candidatura de Luiz Paulo é importante para o Espírito Santo e para a democracia. Foi importante o Luiz Paulo não ter se intimidado e mantido a sua candidatura. Se o Espírito Santo tivesse um candidato único seria uma tragédia para a democracia. É importante ter uma oposição qualificada, do contrário o processo democrático a partir de uma única visão fica míope.

- No cenário anterior, com Ferraço candidato a governador, Givaldo era o vice, entretanto, com a entrada de Casagrande e a saída de Ferraço, o presidente do PDT, Sérgio Vidigal, passou a questionar o nome de Givaldo e a reivindicar um candidato do PDT a vice. O senhor acha que esta pendência já está resolvida e a vice tenha que ficar mesmo com o PT ou essa é ainda uma questão passível de discussão, como quer Vidigal?

- Quando o Ferraço deixa de ser candidato e Casagrande assume, para alguns partidos, o processo teria que ser zerado novamente. Alguns partidos defendem que deveria uma nova discussão, inclusive também em torno da candidatura ao Senado. Com relação ao Senado, a discussão também não foi fácil, só mais recentemente que as coisas foram pacificadas. O PT pleiteia a vice, porém nos não podemos desqualificar em hipótese alguma a demanda de Vidigal. Neste momento, também estão pessoas buscando seus espaços e mostrando suas forças, sua capacidade de diálogo e de articulação. O fato de o PT ter o Givaldo como candidato, não pode desqualificar o PDT ou qualquer outro partido que queira apresentar nomes. Eu acho que o nome do vice de Casagrande continua em discussão. Acho também que os nomes, de fato, só fecham no último dia de inscrição no TRE. Governador já está decidido, senador também, mas vice e os candidatos proporcionais só mesmo na reta final.

- Hoje já há um consenso de que Paulo Hartung nestes dois mandatos conseguiu implantar um governo autoritário que segurou nas mãos as instituições do Estado e se manteve afastado dos movimentos sociais. O PT teve grande colaboração nesse sentido. Só para citar um exemplo, o Givaldo Vieira votou a favor de um veto que derrubou a eleição direta de diretoras de escola. O PT se descaracterizou muito a partir do momento em que decidiu compor essa parceria com o governo Paulo Hartung. Caso o Casagrande seja eleito, qual é a expectativa em torno do governo do socialista?

- Quando não se tem uma oposição forte com embate, com criticas, é porque a democracia está incompleta. Eu acho que no governo Paulo Hartung faltou a critica, o embate, o contraditório, que é saudável para o ambiente democrático. Quando isso não acontece, os partidos se anulam. Eu espero que em um governo com o Casagrande, a Assembleia volte, de fato, a exercer o papel que lhe cabe. Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário podem trabalhar em harmonia, mas precisam ter plena autonomia. Não é bom quando um poder se sobrepõe aos demais. É preciso que cada um dos poderes funcione independente, como prevê a constituição. Lamentavelmente, o Legislativo esteve muito aquém das expectativas da população capixaba. Eu espero que Casagrande com essa composição grande de partidos, qualifique melhor a Assembleia e permita que esse debate flua novamente. Porque não existe somente uma visão de governo, os partidos também precisam expressar suas opiniões para assegurar a representação que eles têm junto à população, junto aos movimentos sociais. Não é saudável, nem salutar que tenhamos uma Assembleia sem expressão. Um poder não pode ser sombra do outro.

- Recentemente, em entrevista a jornal Século Diário o ex-governador Max Mauro (PTB)disse que, se eleito candidato estadual, vai reabrir a Assembleia. Como os senhores do PT, que estiveram nessa ditadura com Paulo Hartung, avaliam uma crítica como essa de um companheiro de luta que esteve ao lado do PT enfrentando outras ditaduras?

- O Max Mauro é uma figura política muito importante no Espírito Santo,na luta pelo restabelecimento da democracia, o fato de ele avisar de antemão que vai fazer oposição cobrando e fiscalizando, é muito positivo. É isso que eu chamo de oposição qualificada E Max Mauro tem projeto, coragem, disposição e está credenciado a exercer este papel. Eu pessoalmente acho que o PT vai construir uma bancada maior e com mais autonomia. Eu acho que uma bancada não pode, e eu já fiz críticas públicas sobre isso, ficar em silêncio diante de certos fatos. Isso não pode acontecer. Nós ficamos em silêncio diante dos problemas do sistema penitenciário que é muito grave, na questão dos quilombolas, no escândalo do Judiciário, enfim, nós ficamos em silêncio em momentos que não podíamos ficar. Isso não quer dizer que teríamos que abandonar o apoio ao governados Paulo Hartung, mas poderíamos franca, aberta e lealmente dizer que determinada questão não está correta. Eu acho que o partido, mesmo para apoiar, precisa ter autonomia. A única coisa que o PT não pode abandonar nunca é a ligação que ele tem com os movimentos sociais, porque isso faz parte de história, de sua luta.

O senhor não teme que o eleitor que não se sentiu representado pelo PT nesses oito anos de governo Paulo Hartung dê sua resposta agora nas urnas?

- Eu acho que o eleitor está cada vez mais sábio e cada vez cobrando mais. Acho que nas próximas eleições, os eleitores vão cobrar muito mais propostas de governo e comportamento do que no passado. De outro lado, os movimentos sociais vão olhar mais nos olhos dos políticos, seja ele da situação ou da oposição, para saber qual é de fato o compromisso do candidato com determinada causa social. Eu acho que os movimentos sociais estarão mais atentos e passarão a cobrar muito mais. Talvez, se os partidos que acompanham o governo Paulo Hartung tivessem dado mais sugestões, fiscalizado mais e feito mais críticas nos momentos corretos, acho que teriam ajudado muito mais do que corroborando com o silêncio que muitas vezes prevaleceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será avaliado pelo moderador, para que se possa ser divulgada. Palavras torpes, agressão moral e verbal, entre outras atitudes não serão aceitas.