sábado, 26 de junho de 2010

A escolha de Marina Silva


Ontem à noite, os telejornais – com destaque para o Jornal Nacional – deram talvez mais destaque à convenção do PV, na qual a ex-ministra Marina Silva foi sagrada candidata do partido à Presidência, do que têm dado ao candidato da grande mídia, ao tucano José Serra, apresentando um seu discurso de tom pretensamente apoteótico.
O discurso de Marina foi a quintessência do excludente conservadorismo da direita brasileira, mentalidade de classe e de raça que manteve a candidata verde analfabeta até os 16 anos. Pregou contra o “Estado Provedor que dá tudo”, ou seja, contra programas sociais como o Bolsa Família, no fim das contas.
Mas não é esse o maior drama que representa o desnudamento daquela que poderia ser um Lula, se quisesse, mas que optou por ser linha auxiliar de José Serra, pois é esse o papel de Marina nesta campanha, o de tirar votos de Dilma, de angariar simpatias à esquerda do espectro político para despejá-las no tucano no segundo turno.
Foi um erro de cálculo. Marina, nas pesquisas Sensus sobre a sucessão presidencial, aparece com a maior rejeição entre os candidatos a presidente. Mais de 34% do eleitorado disseram, em maio, que não votariam nela sob hipótese alguma. Isso se deu porque, para a esquerda, fica cada vez mais claro o papel que ela aceitou desempenhar.

Seus discursos pretensamente enaltecedores aos governos FHC e Lula tentam esconder apoio à versão da direita para a história brasileira dos últimos 15 anos ao conceder ao ex-presidente tucano méritos que ele não teve e ao endossar, de forma velada, a tese de que ele teria construído a base do sucesso de hoje do Brasil.
Marina é uma farsa por inteiro. Não tem pretensões de vencer, não tem base ou apoios políticos para vencer. Se vencesse por um desses fenômenos inexplicáveis da política, seu governo seria um governo do PSDB, do DEM, do PPS e, quem sabe, até do PV, partido pelo qual ela se candidatou.
O único objetivo da candidatura Marina Silva é o de enfraquecer a candidatura Dilma Rousseff com o bordão que a candidata “verde” entoou ao concluir sua fala na convenção partidária que a escolheu para disputar a Presidência da República, alguma coisa sobre pretender ser “a primeira mulher NEGRA a se eleger presidente”.
É uma enorme aposta da direita na qual está sendo investido muito dinheiro. A campanha, por um partido nanico, conta com um dos maiores e mais ricos empresários do Brasil como vice e com um investimento que beira os cem milhões de reais. Para se ter uma idéia, a campanha de Marina deverá custar quase tanto quanto as de Dilma e de Serra.
Só resta lamentar. Essa mulher destruiu a própria biografia aceitando o papel de mercenária a serviço do candidato daqueles que mais maltrataram o povo dela desde o descobrimento até hoje. Poderia ser um Lula, mas escolheu ser um FHC, ou melhor, no máximo um Alckmin, ou, no fim das contas, uma farsa.

Um comentário:

  1. Só agora tomei conhecimento desse texto, e nunca tinha lido algo tão coerente e correto do ponto de vista de uma análise política e porque não dizer psico-social da candidata Marina Silva... Também me surpreendi e ao mesmo tempo passei a desconfiar de suas intenções e de suas verdadeiras motivações. Seu discurso político me pareceu e me parece vazio demais para quem passou quase sete anos como ministra do governo Lula, e nada tem pra contar de si.. Se deixou usar, emprestou, ou melhor deu de mão beijada a sua história, seu nome e sua biografia, e com isso ajudando os abutres da direita, muitos deles verdes de araque...
    Será que foi o virus da vaidade e raivosidade perversa da elite brasileira, que tomou conta da mente e do coração da Marina?
    Então, agora só podemos esperar pra ver onde Marina estará depois dessa eleição...

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