O padre Paulo Ricardo é a resposta da Igreja Católica ao pastor Silas Malafaia. Calvo, sempre de batina, a cara do Salaminho da dupla com Mortadelo, menos histérico e mais culto que Malafaia – o que não quer dizer muita coisa, convenhamos –, Paulo Ricardo daria orgulho a Torquemada pelo reacionarismo e pela pregação paranoica anticomunista e antipetista a que submete seu rebanho.
Paulo Ricardo é da Arquidiocese de Cuiabá, onde trabalha (“trabalha”) como vigário judicial. No caprichado site oficial com seu nome, lê-se que nasceu em Recife em novembro de 1967. Aos 11, mudou-se para o Mato Grosso.
Foi ordenado sacerdote em 1992 pelo papa João Paulo 2º. Lecionou em lugares como as Faculdades de Filosofia e de Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco e o Instituto Regional de Teologia. Escreveu alguns livros e apresenta um programa na Rede Canção Nova de Televisão.
Virou mesmo uma subcelebridade na internet. Vídeos com sermões detonando qualquer coisa de esquerda têm uma ótima audiência. Um deles, 500 mil visualizações. Outro, mais de 100 mil. São dezenas. São filmados em sua igreja. (Quem paga esses vídeos? Quem paga o site?)
Paulo Ricardo de Azevedo Júnior ministra cursos e palestras em todo o Brasil, pelos quais embolsa uma grana. Alguns tratam de questões religiosas. “Demonologia”, “Tríduo Pascal”, “Introdução ao Direito Canônico” e por aí afora.
Está transfixado pela “ideologia de gênero”, um câncer para o planeta, mas gosta mesmo é de falar de “marxismo cultural”. Padre Paulo Ricardo tem uma obsessão olaviana com isso. “Somos um país com cada vez mais ignorantes, graças à esquerda e ao marxismo cultural. Gramsci, se vivo, estaria completamente realizado”, diz.
“As nossas universidades todas estão infiltradas de gramscismo. Para ensinar português, o que você faz? Não ensina mais gramática. Você vai e dá um texto para o aluno de um tema social. Os nossos alunos chegam à universidade analfabetos porque, ao invés de aprender português, aprendem marxismo”.
Suas ovelhas ouvem uma cantilena distópica conservadora de cortar os pulsos. Após a reeleição de Dilma, ele produziu um desabafo dividido em alguns pontos:
1) O PT não é um partido comum! Ele não pode ser subestimado.
2) Precisamos conhecer o nosso adversário para não cairmos em suas manobras e alertarmos os nossos!
3) ATENÇÃO: O PT quer que católicos, cristãos e pessoas de bem espalhem o discurso do ódio.
4) O PT quer justificativas para rotularem católicos, cristãos, famílias conservadoras de nazistas, preconceituosas, racistas etc.! Não caia nessa.
5) O PT deseja implantar gradualmente o mesmo sistema de Cuba com particularidades para o Brasil. O PT trabalha para o fim da democracia.
6) No 13º Congresso do PCdoB Dilma declara irmandade com este partido que radicalmente já rompeu com a União Soviética e China por os considerarem comunistas “light”!
7) ATENÇÃO: Esse regime socialista se dará como uma farsa de democracia! Será uma democracia falsa em que não haverá liberdade intelectual, religiosa, econômica etc.! Tudo será mascarado!
O papa é absolutamente ausente da vida do padre. A agenda de Francisco pelos pobres e seu combate à desigualdade são solenemente ignorados. A luta do padre Paulo Ricardo é para ficar famoso na web destruindo o demônio vermelho e denunciando o que chama de “imbecilização” do Brasil.
No mundo em que ele vive, aproximadamente no século 8, já teria excomungado e queimado na fogueira Bergoglio, aquele velhote comunista argentino safado. Paulo Ricardo é um lembrete importante de que os nossos evangélicos de estimação não detêm o monopólio do arquiconservadorismo do Senhor.
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