sexta-feira, 11 de março de 2011

A gravidade, as ideologias e os jovens

"Os adultos jovens, em todos os cantos do mundo, principalmente no Oriente Médio, tomaram as ruas e derrubaram ditaduras. E, isso, sem disparar um único tiro. A coragem deles inspira outros. Vivemos hoje momento de imensa força, uma onda empurrada por adultos jovens está em marcha e não será detida.” - Michael Moore, em carta aos estudantes de Wisconsin

Um certo filósofo do século 18 supôs que os homens só se afogavam por estarem imbuídos da ideia da gravidade. Se tirassem essa ideia da cabeça, considerando-a apenas uma superstição, eles não mais se afogariam.

Algo parecido acontece com a definição do que seja a ideologia. Os pensadores da escola de Frankfurt afirmam que a ideologia é uma ideia, um discurso que mascara um fato, mostrando apenas sua aparência e escondendo as demais facetas. O sociólogo John Thompson, por sua vez, dá uma definição crítica ao termo. Retira dele o caráter de ilusão da realidade e se fixa no aspecto das relações sociais de dominação que agem por técnicas persuasivas executadas intensa e efetivamente pelos meios de comunicação, pela família, pela escola. Então, assim como a gravidade domina nosso corpo, as ideologias dominam nossa mente e delas não podemos nos livrar.

Na verdade, em nossas sociedades tudo e todos estão impregnados de ideologias, quer as percebamos, quer não, e o discurso ideológico domina a tal ponto a elaboração de todos os (pre)conceitos, que muitas vezes não temos a mais leve suspeita de que fomos levados a aceitar acriticamente um conjunto de valores, sem ao menos termos condições de pensá-los. É, pois correto, o aforismo de J.P. Feinmann: “Não pensamos, nos pensam”.

Assim, há dois preconceitos da direita conservadora: um é de que o termo “ideologia” só se aplica às ideias da esquerda e com isto tentam desqualificar qualquer e toda argumentação oriunda dessa facção política, como se tal tática já não fosse uma clara postura ideológica. O outro é de que – como afirmava Fukuyama – as ideologias morreram, pela equivocada suposição de que os jovens da atual geração não pensam politicamente, são alienados culturais, que seus neurônios são meros bips.

Também não é verídica a ideia de que os jovens das gerações dos sessentões atuais só pensavam na técnica da revolução e que os garotões de hoje só pensam na revolução da técnica. Tanto que, como estamos assistindo ao vivo e a cores, as revoltas nos países muçulmanos onde jovens lutam e morrem para depor velhos e corruptos ditadores estão sendo desencadeadas através das modernas tecnologias de comunicação.

Na verdade, lá como aqui, eles estão a se recuperar de muitos anos de intensas lavagens cerebrais, impostas por regimes ilegítimos e cruentos, regimes esses conquistados e dirigidos por velhas figuras da política que não deixaram saudade, mas que algumas vozes, sinceramente equivocadas, lamentam seu passamento.

Franklin Cunha

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