domingo, 18 de janeiro de 2015

APÓS OS ATOS PRECONCEITUOSOS CONTRA NORDESTINOS APÓS ELEIÇÃO PRESIDENCIAL MAIS UM ATO XENOFÓBICO EM SÃO PAULO

O cotidiano da muçulmana S.G. (o nome está sendo mantido em sigilo porque ela recebeu ameaças após a publicação da matéria) não tem sido fácil. Nos últimos quatro anos, enquanto caminhava pelas ruas, já enfrentou golpes guardas-chuvas de idosos, puxões de seu véu por pedestres em ponto de ônibus, jatos de água e até agressões físicas por parte de pessoas que não a queriam por perto. Após o atentado ao periódico francês Charlie Hebdo, ela voltou a ser alvo de agressão explícita: S. recebeu uma pedrada que, por sorte, apenas atingiu sua perna. Seu agressor ainda gritou “muçulmana maldita” antes de fugir sem que pudesse ser identificado. Se o fato por si já é assustador, ele se torna ainda pior por ter acontecido na última quarta-feira (14) no Jardim Ibirapuera, bairro de São Paulo. É apenas mais um caso de um crescente preconceito contra muçulmanos por parte dos brasileiros, que até o momento ainda creem que a “islamofobia” se restringe a países europeus e aos Estados Unidos. — O preconceito acentuado com muçulmanos sempre existiu por causa da mídia, que insiste em generalizar tudo. Porém era um preconceito mais de olhares, as vezes uma piadinha aqui, uma palhaçada alí, mas nada tão agressivo. Mas depois do ocorrido na França e toda aquela sensibilização os muçulmanos aqui no Brasil de origem brasileira, estão sendo alvo fácil da ignorância — conta S. A jovem de 27 anos tem uma história um tanto peculiar para um país de maioria católica. Nascida em Pernambuco, mas criada desde cedo em São Paulo, G. descobriu o Islã há nove anos, enquanto estudava para ser freira. Ao ganhar um exemplar do “Alcorão”, livro sagrado para os muçulmanos, a pernambucana quis debater as passagens do profeta Maomé dentro do convento, mas sem sucesso: — Quando eu perguntava para meus superiores sobre o Alcorão, eles não queriam falar do assunto. Acabou que eu saí da igreja. Mas a conversão não foi automática. Por meio de uma colega de trabalho, S. começou a frequentar mesquitas e aprender valores muçulmanos: — Começamos uma amizade muito legal, e ela me levou pra conhecer uma mesquita. O Imam era o Sheikh Mohamad Bukai, que recitou uma surat do Alcorão. Eu nem tinha entendido o que ele recitou durante a oração, mas senti o coração pulsar. Então passei a ir àquela mesquita aso sábados para aula de religião e virei Muçulmana. Aos 27 anos e casada com um marido também muçulmano – que se converteu por influência da esposa –, G. afirma que o maior desafio para as mulheres seguidoras de Maomé no país é encontrar um emprego. A repulsa, segundo ela, deve-se muito também ao uso do “hijab” (véu feminino), algo ainda incomum no Brasil. Por causa do traje, uma colega de Ghuraba chegou a receber cusparadas em Belo Horizonte. — O hijab é a nossa identidade islâmica que carregamos com muito orgulho, mas para ocidentais desinformados, ele é um traje opressor, que reprime a mulher. Na verdade não é! O hijab para nós é o que completa o que Alá nos determina como proteção. Não é apenas um pano na cabeça, mas sim todo um comportamento islâmico — reafirma. S. confessa que tem receio de andar pelas ruas de São Paulo por conta da crescente onda de ataques. Diante dos recentes episódios de extremismo na França e perpetrados pelo Estado Islâmico (EI), G. faz questão de ressaltar que muçulmano não pode se confundir com terrorismo — Esse terrorismo que envolve muçulmanos não pode ser generalizado. Infelizmente há pessoas que estão praticando o terror em nome de Alá, em nome do Islã, quando na verdade minha religião não prega, nunca pregou! Falar que todo muçulmano é terrorista, é o mesmo que falar que todo cristão faz parte da Ku Klux Klan, que todo judeu é sionista, e afins. LEONARDO VIEIRA

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