terça-feira, 1 de março de 2016

Samarco vai ter de explicar ao MPF propaganda estimada em R$3 milhões na Globo

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O Ministério Público Federal de Minas Gerais pediu à mineradora Samarco explicações sobre as propagandas veiculadas em horário nobre na tevê aberta.
De acordo com o G1, o MPF não entende como a empresa pode alegar dificuldade financeira e ter recursos para pagar uma campanha publicitária.
No mês passado, a Vale, uma das donas da Samarco junto com a BHP, alegou que a mineradora não tinha dinheiro para pagar a multa de R$2 bilhões.
De acordo com uma publicação que circula no Facebook, cada 30 segundos no intervalo do Fantástico custam mais de R$500 mil. Pelos cálculos da página, a mineradora pagou pelo menos R$3 milhões à Rede Globo.
Além dos procuradores, a campanha também causou estranheza a alguns telespectadores. Desconfiados das informações do comercial, mais de 50 pessoas fizeram queixas ao Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar).
As denúncias sobre a veracidade das informações contidas nos comerciais estão sendo investigadas. Caso o conteúdo das inserções sejam reprovados, elas terão que sair do ar.
Em nota ao HuffPost Brasil, a Samarco afirmou que “não recebeu qualquer ofício do Ministério Público Federal sobre esse assunto”. A mineradora, porém, não confirmou os valores gastos com a publicidade.
DesastreA barragem de Mariana rompeu no último dia 5 de novembro, gerando um tsunami de lama que destruiu o distrito, a fauna e a flora da região.
A tragédia causou pelo menos 19 mortos e mais de 600 desabrigados. O desastre deixou cidades sem água e, recentemente, a lama chegou ao litoral baiano, depois de passar pelo Espírito Santo.
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A falsa percepção da sociedade brasileira de que a iniciativa privada é blindada contra erros e corrupção é um dos nossos maiores pecados. Mesmo depois do desastre em Mariana, parece que não aprendemos absolutamente nada com isso: preferimos bater panelas durante o discurso de Dilma sobre o zika, e ignoramos completamente o absurdo comercial da Samarco na tevê.
Em um país onde planos de saúde cobram valores absurdos, escolas e faculdades privadas preferem visar o lucro do que a qualidade de ensino e construtoras estão diretamente envolvidas em casos de corrupção, ainda me espanta a noção que parte da população tem de que “se privatizar, é melhor” – como se os empresários que financiam campanhas políticas e são a base da corrupção fossem mais dignos do que burocratas de estatais.
Pois bem. A Samarco, empresa privada e principal responsável pelo desastre ocorrido em Mariana no ano passado, lançou recentemente uma propaganda de cerca de um minuto para a televisão. Sua primeira exibição foi estratégica: justamente durante o comercial do programa Fantástico. Trata-se do programa com maior audiência no domingo, no canal de televisão mais popular do País. Provavelmente milhões de pessoas assistiram. Mas não se ouviu nenhum panelaço.
Sobre a peça de propaganda da Samarco, é importante destacar o que uma colega no Facebook havia dito: interessante o fato da empresa colocar seus funcionários, trabalhadores que não são responsáveis pelo desastre, como centro do comercial.
“Todo mundo vestiu a camisa e tá fazendo o possível para minimizar os danos que a gente causou”, diz a funcionária Luísa Nunes durante a propaganda. Não Luísa, não foram vocês que causaram o maior desastre ambiental das últimas décadas no Brasil, e sim os CEOs e chefões da Vale e da Samarco. Pra você ver: até quando algo é causado pela ganância e prepotência das grandes empresas privadas, quem paga o pato são os funcionários, que colocam sua cara a bater em rede nacional defendendo uma causa perdida.
“Mas as empresas privadas são mais transparentes e menos corruptas do que estatais, como a Petrobras”, diz o senso comum.
ErradoA corrupção no sistema político vigente tem como um dos seus fatores o financiamento privado de campanha, onde grandes empresas privadas fazem doações de valores exorbitantes para deputados, senadores, governadores e prefeitos. Tudo com o objetivo de manter acordos em benefício da própria empresa. Por exemplo, as mineradoras, principais responsáveis por crimes ambientais no Brasil, ocupam a 4º posição no ranking de setores que contribuíram para a eleição de deputados, perdendo apenas para alimentação, bancos e construção.
Somente a Vale, que tem participação na Samarco, doou cerca de R$22,6 milhões, segundo levantamento do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração. Posteriormente, talvez como “troca” pelo dinheiro dado na campanha, deputados que receberam doações da Vale-Samarco acabaram integrando a comissão na Assembleia Legislativa encarregada de fiscalizar a tragédia em Mariana. Os financiados pela Samarco no grupo de acompanhamento são: Guerino Zanon (PMDB), Luzia Toledo (PMDB), Janete de Sá (PMN), Bruno Lamas (PSB), José Carlos Nunes (PT), Gildevan Fernandes (PV) e Rodrigo Coelho (PT).
O que torna os nossos políticos reféns da corrupção como algo natural são os interesses privados. A própria operação Lava-Jato mostra como funciona: são construtoras privadas que, interessadas em monopolizar os negócios, fazem acordos “fora da lei” com políticos e funcionários de estatais. O resultado é o que vemos hoje todos os dias nos jornais.
Talvez a parte mais cômica e lamentável disso tudo seja a nossa oposição, encabeçada por tucanos e conservadores. Enquanto prometem combater a corrupção do governo petista, acabam mantendo a mesma política de financiamento de campanhas, com os mesmos aliados de multinacionais e corporações privadas. Enquanto isso, movimentos pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff preferem ignorar a participação de gigantes do setor privado em diversos casos de corrupção e desastres ambientais, colocando a iniciativa privada em um pedestal que se fosse por eles, seria inatingível, como propõe o próprio Movimento Brasil Livre, do nosso colega Kim Kataguiri.
Movimentos pelo impeachment que adoram organizar panelaços durante pronunciamento da presidenta ou propagandas do Partido dos Trabalhadores, mas ironicamente resolveram se calar diante do comercial da Samarco.
Me parece que os interesses pessoais e projetos políticos acabam se tornando mais importante do que a vida humana no Brasil.

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