Dois projetos de País entraram em choque nesta sexta-feira histórica. De um lado, o projeto representado pelo Grupo Globo, sem o qual não haveria Operação Lava-Jato, nem seus abusos que agora começam a ser percebidos pela opinião pública. De outro, o projeto representado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deixou a presidência da República com 80% de aprovação, projetando uma imagem positiva no Brasil e no mundo.
O projeto da Globo é o mesmo de 1964, quando os Marinho se uniram aos militares para golpear a democracia. Trata-se de uma visão subserviente de Brasil, alinhada com os Estados Unidos, e sem nenhum protagonismo regional. No mundo dos Marinho, riquezas nacionais, como o pré-sal, devem ser abertas à exploração de multinacionais, como Shell, Exxon e Chevron. O projeto de Lula, por sua vez, é o de um Brasil forte e respeitado internacionalmente. Daí a importância da diplomacia do Sul-Sul e da construção de novos eixos de poder como os Brics.
Na sexta-feira, dia 4/3, a Globo, atendendo a seus próprios interesses ou de terceiros, esperava celebrar seu dia de glória. Lula, afinal, seria preso pelo juiz Sérgio Moro, que recebeu, dos Marinho, o prêmio “Faz Diferença”. Seria o fim de um processo que já arruinou a economia brasileira, quebrou o setor de engenharia e desmoralizou empresas brasileiras que vinham suplantando concorrentes internacionais em mercados globais, como a Odebrecht. Hoje, seria o dia de estourar o champanhe – talvez, na famosa mansão em Paraty (RJ), registrada em nome de empresas offshore.
Antes mesmo que o sol raiasse, a Globo já havia sido beneficiária de mais um vazamento ilegal. Em seu Twitter, o jornalista Diego Escosteguy, editor de Época, anunciava um “dia especial, cheio de paz e amor” (leia aqui). Ao longo do dia, uma colunista da GloboNews, Eliane Cantanhêde, começou a celebrar “a morte do PT” (leia aqui).
Reversão de expectativasQuando os Marinho estavam prontos para celebrar a vitória de seu projeto de País, se é que assim pode ser qualificado, começou a virada. Nas redes sociais, a hashtag #ForaRedeGlobo se tornou um dos assuntos mais comentados do mundo. Assim como em 1964, os Marinho foram novamente associados a um projeto golpista e entreguista. A única diferença é que os tanques e baionetas foram substituídos por juízes, policiais e procuradores. Repórteres da emissora tiveram de trabalhar sem identificação para não serem agredidos nas ruas. E quando Eliane Cantanhêde dizia que a ação contra Lula turbinaria os protestos do dia 13 de março, a Globo foi surpreendida com a gigantesca rede de apoio ao ex-presidente Lula. Sindicatos e simpatizantes de movimentos sociais de todo o País anunciaram apoio incondicional a Lula e atos em defesa da democracia.
Ao longo do dia, a festa da Globo começou a azedar com manifestações de parlamentares, juízes, governadores e até de personagens ligados ao PSDB que condenaram o abuso da condução coercitiva de Lula e de todos os seus familiares. Manifestaram-se contra isso os governadores Ricardo Coutinho, da Paraíba, Flávio Dino, do Maranhão, e Jackson Barreto, de Sergipe, assim como José Gregori e Bresser Pereira, dois ex-ministros do governo FHC.
No Supremo Tribunal Federal, o ministro Marco Aurélio Mello reagiu com indignação. “Condução coercitiva? O que é isso? Eu não compreendi. Só se conduz coercitivamente, ou, como se dizia antigamente, debaixo de vara, o cidadão de resiste e não comparece para depor. E o Lula não foi intimado”, afirmou.
O mais importante, no entanto, foi a força e a contundência do pronunciamento de Lula. Primeiro, ele condenou a associação antidemocrática entre grupos de comunicação e setores do Poder Judiciário. Em seguida, voltou a denunciar a mansão dos Marinho em Paraty, registrada em nome de uma empresa offshore sediada no Panamá. Por último, ele mostrou estar pronto para viajar o País e voltar a lutar por seu projeto de País. “O que aconteceu hoje era o que faltava para que o PT voltasse a erguer a cabeça”, disse Lula. “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo e a jararaca está viva”.
Na sexta-feira, dia 4/3, Lula mostrou que é muito, mas muito mais forte do que a Globo, o maior monopólio de mídia do mundo, salva da bancarrota justamente pelo ex-presidente.
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