sábado, 26 de março de 2016

O mentor do golpe em curso é um defunto

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Um golpista imortal: Roberto Marinho
O mentor do golpe em curso é um morto.
O espírito de Roberto Marinho governa os golpistas. Seus três filhos, Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto, reproduzem o manual de guerra suja do pai contra a democracia.
Em 1954, Roberto Marinho conspirou intensamente contra Getulio Vargas. Dez anos depois, o alvo foi João Goulart. Hoje, pelos seus filhos, as vítimas são Lula, Dilma e 54 milhões de votos.
Entenda Roberto Marinho e você vai entender perfeitamente a louca cavalgada antidemocrática da Globo nestes dias.
Roberto Marinho compensava com a sensação de poder os complexos que tinha. Na biografia que escreveu sobre ele, Pedro Bial conta que Roberto Marinho passava pó de arroz para embranquecer a pele morena e salto no sapato para aumentar sua pequena estatura.
Não havia contraponto intelectual ou filosófico para oferecer resistência a suas angústias interiores. Bial conta, também, que ninguém jamais o viu com um livro nas mãos. Não se sabe também de um único artigo que ele tenha escrito. (Isso não o impediu de se tornar integrante da Academia Brasileira de Letras.)
Do ponto de vista empresarial, era um clássico paranoico. Cultivava a ideia de que nenhum empresário deve colocar os ovos num cesto só. Chegou a ser dono de uma fábrica de geleia de mocotó e outra de bicicletas.
A paranoia esteve sempre presente no negócio que transformou a Globo de uma pequena empresa paroquial num império nacional: a televisão.
Segundo os documentos de Geisel reunidos num livro sobre sua Presidência (Dossiê Geisel), Roberto Marinho dizia que empresa que não cresce começa a morrer.
Sob este argumento, ele caçava “favores especiais” – a expressão é dele mesmo – da ditadura em troca do apoio que lhe dava. Ele se autodefinia, como mostra o livro, como “o maior e mais constante amigo” dos militares na imprensa. Roberto Marinho organizava encontro de empresários em benefício do regime.
Os “favores especiais” eram mais e mais concessões, mesmo quando a ditadura já começava a se inquietar com o poder que estava lhe sendo dado.
Um ministro das Comunicações de Geisel fez a lista, certa vez, das concessões de rádio e tevê que estavam em nome não só de Roberto Marinho, mas, como sublinhou o ministro, de filhos e “testas de ferro”. Era enorme.
Entre os “favores especiais” estava, igualmente, o acesso irrestrito ao dinheiro público, na forma de publicidade e de financiamentos de bancos oficiais.
Não há uma única pastilha na sede da Globo no Rio de Janeiro que não tenha a marca, de um jeito ou de outro, do dinheiro do contribuinte.
A Era Digital é uma ameaça monumental à hegemonia da Globo. A mídia que é a fonte de seu poder de achacar e de fazer dinheiro, a tevê, vai rapidamente se transformando numa mídia secundária em face da internet.
Alguns anos atrás, seria simplesmente impossível imaginar audiências de novelas e do Jornal Nacional na casa dos 20 pontos. Mas é o que acontece, e o quadro só tende a piorar.
Será cada vez mais complicado para a Globo convencer os anunciantes a prestigiarem com verbas milionárias uma mídia de segunda classe.
Roberto Marinho gostava de dizer que estava “condenado ao sucesso”. Sua empresa, agora, está condenada ao fracasso.
Ela não vai apenas estacionar. Vai afundar.
A não ser – e é aí que entra a guerra movida agora contra a democracia – que chegue ao poder um presidente sob seu controle, como foi FHC.
Haverá, neste caso, dinheiro público em escala brutal para dar sangue artificial a uma corporação que a internet fará sangrar inexoravelmente.
Roberto Marinho sabia, em 1964, as chances que se abriam a ele ao apoiar a ditadura.
Seus herdeiros sabem que só um golpe evita que a internet faça de um império uma empresa “condenada ao fracasso”.

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