sábado, 30 de janeiro de 2016

EUA: Um caminho para a esquerda?

EUA_Bernie_Sanders03
Nos EUA, nova arrancada de Bernie Sanders revela: é possível vencer preconceitos da mídia – desde que se apresente propostas concretas, em vez de discurso doutrinário.
Diminui a cada dia, nos EUA, a distância que separava a candidata oligárquica do Partido Democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, do outsider à sua esquerda, o senador Bernie Sanders. O próprio New York Times reconhece: em um mês, Hillary viu sua vantagem de 20%, entre os membros do partido aptos a votar nas eleições primárias, derreter para 7%. Outras sondagens já mostram uma virada nas primárias de dois estados importantes. Em Iowa, onde começa a disputa (em 1º/2) e New Hampshire (9/2), Sanders está à frente com 5%. Sua liderança concentra-se entre os candidatos mais jovens, onde tem o dobro de preferência. Quais as razões? A esquerda brasileira teria algo a aprender com elas?
A primeira grande barreira que Sanders parece saber enfrentar é a do preconceito. Para frear a ascensão do candidato, seus adversários apostam no desgaste da palavra que o senador emprega para definir a si mesmo: “Socialista”. Contudo, Sanders não se presta ao papel de espantalho, analisa Robert Reich, professor de Políticas Públicas da Universidade de Berkeley e ex-ministro do Trabalho (no governo de Bill Clinton). Segundo ele, as pessoas começaram a entender que o senador não é o socialista retratado nas caricaturas da Fox News, mas alguém semelhante a Franklin Roosevelt.
“Há um século, Roosevelt quebrou a Standard Oil porque ela representava um perigo à economia dos EUA. Hoje, os bancos de Wall Street representam um perigo ainda maior”, diz Reich. Refere-se a uma proposta de Sanders, que pretende restabelecer a lei rooseveltiana Glass-Steagall, revogada em 1999 pelo lobby de Wall Street. A lei tem dois objetivos: 1) combater a cartelização bancária; e 2) impedir a especulação desenfreada com ativos financeiros. Joseph Stiglitz, Nobel de Econômica, e Nouriel Roubini, o economista que previu a crise de 2008, concordam com a reforma em Wall Street proposta pelo senador. “O plano mais modesto de Hilary Clinton é inadequado”, conclui Reich.
O colapso financeiro de 2008, causado por Wall Street, parece não ter promovido apenas instabilidade econômica. Também abriu as portas para o que o sociólogo Immanuel Wallerstein chama de “o colapso do centro”, em muitas “democracias” ocidentais. As pesquisas norte-americanas revelam um cenário eleitoral semelhante ao registrado nas urnas espanholas, portuguesas e gregas, onde parte da esquerda conseguiu se reinventar e transformar a revolta dos 99% em novas esperanças.
Como na Europa, há dois grandes desafios. O primeiro é formular propostas mais ousadas e atraentes que os pré-candidatos da nova direita. Nos EUA, são hoje mais carismáticos e nacionalistas, gente como o bilionário Donald Trump e o religioso Ted Cruz. O segundo é superar velha esquerda, insossa, porém, poderosa, representada por Hillary Clinton.
Aparentemente, Sanders progride. Não decola somente nas pesquisas eleitorais, mas também nos sinais de um engajamento social massivo. O senador atingiu, há dias, nova marca histórica de doações individuais: 2 milhões de apoiadores. Bateu o recorde ao dobrar o inédito desempenho de Obama em 2008. Nos últimos três meses, angariouUS$33 milhões para sua campanha, apenas US$4 milhões a menos que Hillary – que aceitou doações de Wall Street e de lobistas das grandes redes de prisões privadas. Na soma total, Sanders continua em desvantagem: obteve U$73 milhões, enquanto Clinton angariou US$112 milhões.
Do lado do Partido Republicano, a maior dificuldade dos pré-candidatos tem sido propor saídas para estancar o aumento da pobreza, segundo aponta Eduardo Porter no New York Times. Entre os países da OCDE, os EUA figuram entre as piores colocações quando o assunto é desigualdade de renda e pobreza. Estão atrás até mesmo dos estigmatizados “PIGS” da Europa (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) e à frente apenas do México. Porter mostra como o plano de mais austeridade do histriônico bilionário Donald Trump e Ted Cruz, ligado ao movimento ultradireitista Tea Party e ex-assessor de George W. Bush, só aprofundariam ainda mais a crise no país. E, para azar dos dois, aliados do 1% da elite financeira, 63% dos norte-americanos acham a questão da desigualdade muito importante, mostra pesquisa recente do Gallup.
Por isso, mesmo tendo uma cobertura midiática 23 vezes menor que Trump, o socialista Bernie Sanders tem um potencial de vitória crescente, com uma vantagem de 13% nas eleições gerais sobre a principal liderança republicana; e uma rejeição nacional menor que Clinton (59% dos norte-americanos a consideram “desonesta e nada confiável”). Isso explica porque Sanders foi capaz de reunir multidões – mais de 100 mil pessoas, na soma de seus últimos comícios – além de uma onda de seguidores nas redes sociais. Tornou-se, de longe, a maior atração na campanha eleitoral. Enquanto os ventos sopram à direita nos países afetados recentemente pela crise, como na América Latina, parecem empurrar à esquerda nos países que hoje lutam contra a recessão imposta após a crise.

Investigado que delatou Zé Dirceu admite que mentiu em depoimento

Ze_Dirceu61_Fernando_Moura_Hourneaux
Fernando Moura foi ameaçado antes de sua delação.
Fernando Hourneaux (foto) confessou não ter recebido orientação do ex-ministro para deixar o Brasil.
O empresário Fernando Moura Hourneaux, investigado na Operação Lava-Jato, admitiu na quinta-feira, 28/1, em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), que prestou informações falsas durante interrogatório ao juiz federal Sérgio Moro. Moura culpou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu nas delações assinadas com o MPF. A confissão ocorreu após os procuradores abrirem procedimento para verificar se o réu quebrou acordo de delação premiada.
Aos procuradores, Moura disse que estava disposto a negar, perante Moro, as declarações prestadas nas delações. O empresário explicou que, um dia antes de embarcar para Curitiba para prestar depoimento, foi abordado por uma pessoa em Vinhedo (SP), onde mora. Segundo ele, o desconhecido perguntou sobre seus netos, que moram no Rio Grande do Sul. Diante da abordagem, o delator disse que ficou transtornado e passou a temer pela segurança de sua família.
“Eu ia negar toda minha delação. Eu só não iria negar dois fatos, o Duque [Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras] e a Hope [empresa acusada de fraudar contratos com a estatal], porque a pessoa que me abordou não tinha sotaque carioca, tinha sotaque paulista. Essa foi minha atitude”, informou aos procuradores.
No depoimento, Moura pediu uma segunda chance aos procuradores da Lava-Jato e ao juiz Sérgio Moro. “Se o juiz Moro quiser me ouvir, tenho coisas a falar e a acrescentar. Errei muito feio, não sei nem se tem justificativa o que fiz.” De acordo com o MPF, Moura entrou em contradição durante o primeiro depoimento prestado ao juiz, em 22 de janeiro.
No depoimento de delação, Moura afirmou que procurou Zé Dirceu em 2005 para saber o risco que corria de ser implicado nas investigações do processo do “mensalão”. “Foi nesse encontro que José Dirceu lhe deu a dica para sair do Brasil e ficar fora do país até a poeira baixar”, diz trecho da delação.
Na semana passada, ao ser questionado por Sérgio Moro sobre os motivos pelos quais deixou o Brasil, Moura entrou em contradição. “Aí nessa declaração, que depois que assinei eu fui ler, eu disse que foi o Zé Dirceu que me orientou a isso. Não foi esse o caso”, respondeu o investigado.
O empresário deve prestar um novo depoimento ao juiz. Na mesma audiência, estão previstas as oitivas de José Dirceu e do ex-executivo da Empreiteira Engevix Gerson Almada. Os depoimentos ocorrem na ação penal em que José Dirceu e mais 15 investigados foram denunciados pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A acusação contra o ex-ministro se baseou nas afirmações de Milton Pascowitch, em depoimento de delação premiada.
O delator disse que fez pagamentos em favor de Dirceu e Fernando Moura, empresário ligado ao ex-ministro. Segundo os procuradores, o dinheiro saiu de contratos entre a Engevix e a Petrobras e teriam passado por Renato Duque e Fernando Moura.
Dirceu está preso preventivamente desde agosto do ano passado em um presídio em Curitiba. A defesa do ex-ministro afirma que a denúncia é inepta, por falta de provas. De acordo com os advogados, a acusação foi formada apenas com declarações de investigados que firmaram acordos de delação premiada.

Um país que protege Eduardo Cunha e persegue Lula é um país doente

A Lava-Jato perdeu o pudor.
O nome Triplo X, referência sibilina ao mítico “Tríplex do Lula” é um acinte. Está claro que se trata de erradicar não a corrupção, mas de caçar Lula. Fosse outro o propósito você não teria um ataque tão sistemático a Lula enquanto um homem como Eduardo Cunha borboleteia, livre para armar as delinquências em que é mestre.
Era mais honesto batizar a operação como “Caça-Lula”.
Os suíços entregaram de bandeja documentos que comprovam corrupção em níveis pavorosos de Cunha. Ele mentiu, sonegou, inventou desculpas aterradoras e usou até a palavra “usufrutuário” para tentar encobrir sua condição de dono de milhões na Suíça.
Não foi apenas isso.
Depoimentos de fontes variadas coincidiram em relatar ameaças de paus mandados de Cunha contra pessoas que pudessem dizer coisas comprometedoras contra ele.
Vídeos mostraram expressões aterrorizadas de delatores ameaçados por homens de Cunha. Parecia coisa de máfia. Falaram até na família. Em filhos. Disseram que tinham o endereço para a retaliação.
Não foi um depoimento nesse gênero. Foram pelo menos três, dois de delatores e um de um deputado que era um problema para Cunha na Comissão de Ética que o julga.
Que mais queriam? Que um cadáver amanhecesse boiando num rio? E as trocas de e-mails com empresas beneficiárias de medidas provisórias?
Com esse conjunto avassalador de evidências, Eduardo Cunha aí está, na presidência da Câmara, ainda no comando de um processo viciadíssimo que pode cassar 54 milhões de votos.
Cadê a Polícia Federal? Cadê Moro? Cadê uma operação realmente para valer para investigar as delinquências conhecidíssimas de Cunha.
Nada. Nada. Nada.
É uma bofetada moral inominável nos brasileiros. É a completa desmoralização da política. Enquanto a vida é mansa para Cunha, para Lula é uma sucessão infindável de agressões.
Virou piada que até ser amigo de Lula se caracterize como algo capaz de incriminá-lo. Mas coloquemos o adjetivo certo: é uma piada repulsiva.
Um apartamento banal numa praia banal – a cidade plebeia do Guarujá – adquire ares de uma propriedade suntuosa que Lula jamais poderia comprar. É um tríplex, uma palavra feita para impressionar e ludibriar a distinta audiência.
Não interessa se quatro ou cinco palestras de Lula seriam suficientes para comprar o apartamento. Não interessa se ele tem documentos que comprovam que ele não comprou, afinal, o imóvel.
O que importa é enodoar a imagem de Lula. Caracterizá-lo como um corrupto, um ladrão, um monstro de nove dedos. O maior vilão da história do Brasil.
Alguém – PF, Moro, imprensa – deu um passo para saber se a residência de Eduardo Cunha é compatível com seus rendimentos de deputado? Alguém apurou se ele tem condições de bancar uma vida de fausto para a mulher, à base joias e extravagâncias como aulas de tênis no exterior?
Ninguém.
É um país doente aquele que protege Eduardo Cunha e investe selvagemente contra um homem que cometeu o pecado de colocar os excluídos na agenda nacional como nenhum outro desde Getulio Vargas.
Estamos enfermos – e Moro e sua Lava-Jato são sintomas eloquentes dessa nossa deformação moral.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Será que japoneses poderão libertar-se da maldição norte-americana?

EUA_Japao01
O mandato do prefeito da cidade de Ginowan da Prefeitura de Okinawa está terminando e, em 17 de janeiro, foi declarado o início da campanha pré-eleitoral. No contexto de deslocamento da base norte-americana em Okinawa, as eleições do prefeito atraem muita atenção pública.
Mais de metade dos militares norte-americanos instalados no Japão estão em Okinawa. A província foi controlada pelos EUA entre 1945 e 1972. A base militar norte-americana em Okinawa ocupa cerca de 10% do território na província e 18% da ilha de Okinawa. Nas eleições, o Partido Liberal-Democrata, que está no poder, prestará apoio máximo ao prefeito atual, Sakima Atsushi. Entretanto, seja qual for o resultado das eleições, o governo irá promover o deslocamento da base de Futenma para a região de Henoko. Assim, o governo está pronto para a derrota e não planeja levar em consideração a opinião dos habitantes da cidade de Futenma. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, explica isso dizendo que os problemas de segurança devem ser resolvidos por todo o país. O candidato Shimura Keichiro é a esperança de todos os que estão contra a construção da nova base em Henoko. Ele trabalhou na administração da prefeitura de Okinawa e recebeu apoio do governador atual, Takeshi Onaga, e já em outubro do ano passado declarou que pretende participar das eleições. A sua posição é que a segurança do país será garantida somente em caso de a base norte-americana ser fechada e todas as tropas do EUA serem retiradas do Japão.
“Para eliminar a ameaça da base militar de Futenma é necessário, primeiramente, recusar instalar ali convertiplanos Osprey”, disse Shimura em entrevista à Sputnik. “Destaco que o resultado mais adequado para nós não será o deslocamento da base, mas seu fechamento completo. O deslocamento da base, que levará 10 anos, não resolverá o problema”.
O candidato sublinha que é necessário criar uma petição sobre o seu fechamento, recolher assinaturas de 41 municípios e exigir por parte de toda a prefeitura ao governo japonês e aos EUA implementar as condições da petição. Na opinião de Shimura, a força da opinião pública obrigará o governo a recusar a ideia de construir uma nova base.

Quem são as 62 pessoas cuja riqueza equivale à de metade do mundo

Ricos_Mundo02_2016
ONG Oxfam, que fez o cálculo, se baseou em ranking compilado pela revista norte-americana Forbes. Dois brasileiros fazem parte da lista.
A organização não governamental britânica Oxfam, que atua na busca de soluções para a redução da pobreza e da desigualdade, divulgou os resultados de um estudo no qual afirma que o 1% mais rico do mundo já detém tanta riqueza quanto o resto dos habitantes do planeta.
Além disso, a ONG também destacou que as 62 pessoas mais ricas têm tanto dinheiro e bens quanto metade da população global.
A lista tem dois brasileiros: o empresário Jorge Paulo Lemann, que atua em uma série de setores – como de cervejarias e o de varejo –, e o banqueiro Joseph Safra.
A Oxfam se baseou no ranking anual de bilionários compilada pela revista norte-americana Forbes. Confira quem faz parte da lista:
1) Bill Gates – US$79,2 bi – Microsoft – EUA
2) Carlos Slim Helu – US$77,1 bi – telecom – México
3) Warren Buffett – US$72,7 bi – Berkshire Hathaway – EUA
4) Amancio Ortega – US$64,5 bi – Zara – Espanha
5) Larry Ellison – US$54,3 bi – Oracle – EUA
6) Charles Koch – US$42,9 bi – diversos – EUA
7) David Koch – US$42,9 bi – diversos – EUA
8) Christy Walton – US$41,7 bi – Wal-Mart – EUA
9) Jim Walton – US$40,6 bi – Wal-Mart – EUA
10) Liliane Bettencourt – US$40,1 bi – L’Oreal – França
11) Alice Walton – US$39,4 bi – Wal-Mart – EUA
12) S. Robson Walton – US$39,1 bi – Wal-Mart – EUA
13) Bernard Arnault – US$37,2 bi – LVMH – França
14) Michael Bloomberg – US$35,5 bi – Bloomberg LP – EUA
15) Jeff Bezos – US$34,8 bi – Amazon.com – EUA
16) Mark Zuckerberg – US$33,4 bi – Facebook – EUA
17) Li Ka-shing – US$33,3 bi – diversos – Hong Kong
18) Sheldon Adelson – US$31,4 bi – cassinos – EUA
19) Larry Page – US$29,7 bi – Google – EUA
20) Sergey Brin – US$29,2 bi – Google – EUA
21) Georg Schaeffler – US$26,9 bi – rolamentos – Alemanha
22) Forrest Mars Jr. – US$26,6 bi – doces – EUA
22) Jacqueline Mars – US$26,6 bi – doces – EUA
22) John Mars – US$26,6 bi – doces – EUA
25) David Thomson – US$25,5 bi – mídia – Canadá
26) Jorge Paulo Lemann – US$25 bi – bebidas – Brasil27) Lee Shau Kee – US$24,8 bi – imóveis – Hong Kong
28) Stefan Persson – US$24,5 bi – H&M – Suécia
29) George Soros – US$24,2 bi – hedge funds – EUA
29) Wang Jianlin – US$24,2 bi – imóveis – China
31) Carl Icahn – US$23,5 bi – investimentos – EUA
32) Maria Franca Fissolo – US$23,4 bi – Nutella – Itália
33) Jack Ma – US$22,7 bi – comércio digital – China
34) Prince Alwaleed bin Talal Alsaud – US$22,6 bi – investimentos – Arábia Saudita
35) Steve Ballmer – US$21,5 bi – Microsoft – EUA
35) Phil Knight – US$21,5 bi – Nike – EUA
37) Beate Heister & Karl Albrecht Jr. – US$21,3 bi – supermercados – Alemanha
38) Li Hejun – US$21,1 bi – equipamento de energia solar – China
39) Mukesh Ambani – US$21 bi – petroquímicos, óleo e gás – Índia
40) Leonardo Del Vecchio – US$20,4 bi – óculos – Itália
41) Len Blavatnik – US$20,2 bi – diversos – EUA
41) Tadashi Yanai – US$20,2 bi – varejo – Japão
43) Charles Ergen – US$20,1 bi – Dish Network – EUA
44) Dilip Shanghvi – US$20 bi – farmacêuticos – Índia
45) Laurene Powell Jobs – US$19,5 bi – Apple, Disney – EUA
46) Dieter Schwarz – US$19,4 bi – varejo – Alemanha
47) Michael Dell – US$19,2 bi – Dell – EUA
48) Azim Premji – US$19,1 bi – software – Índia
49) Theo Albrecht Jr. – US$19 bi – Aldi, Trader Joe’s – Alemanha
50) Michael Otto – US$18,1 bi – varejo, imóveis – Alemanha
51) Paul Allen – US$17,5 bi – Microsoft, investimentos – EUA
52) Joseph Safra – US$17,3 bi – financeiro – Brasil53) Anne Cox Chambers – US$17 bi – mídia – EUA
54) Susanne Klatten – US$16,8 bi BMW – farmacêuticos – Alemanha
55) Pallonji Mistry – US$16,3 bi – construção – Irlanda
56) Ma Huateng – US$16,1 bi – mídia – China
57) Patrick Drahi – US$16 bi – Telecom – França
58) Thomas & Raymond Kwok – US$15,9 bi – imóveis – Hong Kong
59) Stefan Quandt – US$15,6 bi – BMW – Alemanha
60) Ray Dalio – US$15,4 bi – Hedge funds – EUA
60) Vladimir Potanin – US$15,4 bi – metais – Rússia
62) Serge Dassault – US$15,3 bi – aviação – França
Leia também:

sábado, 23 de janeiro de 2016

O golpe de mestre de Perillo no desmanche da Eletrobras

Marconi_Perillo15_Esposa
A tão propalada privatização do setor elétrico nos anos 1990, que foi justificada como necessária à modernização deste setor estratégico, com as promessas de que o setor privado traria a melhoria da qualidade dos serviços e a modicidade tarifária, não se confirmaram.
Trecho de carta-manifesto à presidente Dilma disseminada pelo presidente da CUT Goiás, Mauro Rubem.
“Estamos aqui fazendo essa cobrança à Dilma porque ajudamos a elegê-la. E há bem pouco tempo estávamos aqui defendendo o governo contra o golpe e agora ela parece estar virando as costas pra gente”.
Maria dos Anjos, do MST, em reunião com o secretário de governo da Presidência
.
Movimentos sociais e sindicalistas se reúnem na terça-feira, dia 19/1, com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Eles querem suspender a privatização da Celg Distribuidora, prevista para acontecer nos próximos meses. A empresa goiana de distribuição de energia foi incluída no Programa de Desestatização pelo governo Dilma. Para entender:
VENDA DA CELG É PREJUÍZO PARA A ELETROBRAS, CATEGORIA E SOCIEDADE
A política é como um jogo de xadrez, precisa ter paciência para no momento certo partir para o xeque mate. Foi que o fez o governador goiano Marconi Perillo (PSDB) no esquema de privatização da Celg.
Ficou de rei na jogada e colocou “peões” para fazer o serviço sujo. A Eletrobras, que recebeu 51% da empresa como pagamento de dívidas na ordem de R$6,4 bilhões, ainda teve que investir R$1 bi na distribuidora.
Na melhor das hipóteses, conseguirá pouco mais da metade desse valor com a privatização, uma vez que 49% da distribuidora é do governo estadual. Já Perillo, que era devedor, encherá o cofre do governo pavimentando a sua reeleição.
A Celg será uma cobaia dentro do modelo mercantilista privatizador. Isso mesmo. A empresa de distribuição de energia no estado de Goiás foi incluída no Plano Nacional de Desestatização em maio deste ano [2015] com o intuito de servir de parâmetro para outras seis empresas distribuidoras que também poderão ser privatizadas, caso a venda dos ativos da Celg se mostre rentável. O que não será.
Especula-se, conforme divulgado por um jornal de circulação nacional, que a venda da distribuidora está prevista para novembro ao preço de R$8 bilhões. Sindicalistas avaliam que a negociata deva ser na ordem de R$6 bi. Em qualquer caso, a venda da empresa não será um bom negócio para a Eletrobras. Em ambos os casos, o governo não vai ver a cor do dinheiro que tinha a receber, muito menos o que investiu na Celg. Privatização é assim.
E ao que parece, o DNA da privataria parece ter sofrido mutações. Acostumados a privatizar o patrimônio público, desta vez os tucanos não quiseram botar a mão na massa. E o pulo do gato foi perfeito. O habilidoso governador Marconi Perillo (PSDB/GO) ainda soube colocar todo o ônus dessa iniciativa no colo de terceiros.
Em 2012, o governo goiano tinha 99% das ações da Celg-D. No entanto, como possuía uma dívida de R$6,4 bilhões com o governo federal (R$2,4 bilhões com a Eletrobras), o governo Perillo fechou um acordo que passaria 51% das ações para a Eletrobras.
No acordo ainda estava previsto que a Eletrobras realizasse investimentos entre R$800 milhões e R$1 bilhão para a construção de 37 novas subestações. O contrato de compra e venda foi definitivamente assinado em agosto de 2014. Desde então, a Celg ficou minoritária, com 49% do patrimônio da empresa.
Perillo, que antes tinha uma dívida bilionária, saiu lucrando financeiramente e politicamente com a privatização da Celg. Com dinheiro em caixa, ele terá recursos para realizar grandes investimentos no estado com a venda da empresa, pavimentando a sua reeleição em 2018. Foi ou não uma jogada de mestre?
Mais privatizaçõesNada é tão ruim que não possa piorar. Dependendo do que acontecer em Goiás, a Eletrobras ainda pode vender a sua participação majoritária em outras seis empresas de distribuição de energia. Estão na mira as distribuidoras de Alagoas, Piauí, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima.
Segundo um funcionário do governo que participa diretamente das negociatas e foi fonte do jornal, o processo de privatização das outras empresas deve começar com a finalização do processo de renovação das concessões. Segundo a publicação, a Ceal (Alagoas) e Cepisa (Piauí) serão as próximas e o leilão deve ocorrer no ano que vem [2016].
As últimas privatizações serão da Eletroacre (Acre), Ceron (Rondônia), Amazonas Energia a CEA (Amapá) e a CERR (Roraima).
Caso a venda desses patrimônios públicos se confirme, isso representará grande prejuízo a milhares de eletricitários e eletricitárias dessas empresas. Isso porque estarão sujeitos a salários mais baixos e perdas de benefícios históricos. Além disso, irão conviver de forma exponencial com assédio moral e mortes de trabalhadores com baixa qualificação técnica e profissional.
De outro lado, a sociedade ficará refém dos péssimos serviços prestados. Ainda terá que conviver com altas tarifas. Mas os contrários ao modelo estatal podem alegar “a conta de luz já está muito cara”. De fato, está.
Isso, claro, por causa do modelo mercantilista adotado no setor elétrico. Mas se o atual cenário é ruim, com a privatização será ainda pior. E não seria nada prudente pagar pra ver isso acontecer. Afinal, não faltam exemplos de casos malsucedidos de privatizações.

O cartel bancário que dirige o mercado petrolífero

Petrobras_Poco06
O início do novo ano foi acompanhado por uma queda recorde nos índices e nos preços de mercados financeiros e de commodities. O mercado do petróleo também estabeleceu novos recordes. Entre julho de 2014 e o fim de 2015 o preço deste recurso energético caiu em 70%. Parecia que havia atingido o fundo, mas na semana passada os preços do petróleo caíram mais de 10% – o pior arranque de um novo ano na história registada. Cada vez mais traders inclinam-se a pensar que os preços podiam cair abaixo dos U$30,00 por barril.
De acordo com índice agregado Bloomberg World Oil & Gas, na primeira semana do novo ano as 60 maiores companhias de petróleo do mundo perderam cerca de US$100 bilhões devido à queda de preços.
Uma discussão animada das causas da queda de preços sem precedente do ouro negro iniciou-se há muito. Cada vez menos pessoas ainda acreditam que um tal declínio é o resultado de mudanças “naturais” no mercado.
Muitas vezes as atuações da Arábia Saudita são mencionadas como uma razão para o mergulho dos preços no mercado global. É verdade que aquele país tem promovido unilateralmente (sem o acordo de outros membros da Opep) a sua produção de óleo e começou a despejar grandes quantidades do mesmo numa tentativa de dominar o mercado mundial do ouro negro. Isto poderia representar uma descida de apenas alguns dólares por barril nos preços globais, mas o fato é que o declínio total agora é cerca de US$100,00 (medido desde o seu pico em 2008). E se os cálculos forem baseados no preço médio de 2014, o qual era de quase US$100,00 (para o Brent), isso resulta num embaratecimento de quase US$70,00/barril até o princípio de 2016. Seria preciso um esforço concertado de todos os grandes países produtores do mundo para sacudir tanto assim o mercado.
Hoje dificilmente se encontra um perito sério que considere a Opep – a organização conhecida como o cartel do petróleo – um fator significativo. Naturalmente há suspeitas de que o mercado petrolífero está a ser manipulado. A acumulação de stocks é um método tradicional de manipular qualquer mercado. Montanhas de ouro negro, etiquetadas como reservas estratégicas, estão a ser acumuladas por muitos países, especialmente os Estados Unidos. Liquidar um stock acumulado pode forçar descidas de preços. E os EUA venderam parte de suas reservas antes, mas o efeito destas vendas tem vida muito curta e os impactos nos preços apenas nuns poucos dólares por barril.
Nos últimos dias de 2015 os media publicaram uma série de reportagens culpando o cartel bancário pelas flutuações dramáticas do mercado petrolífero. Uma das primeiras foi um artigo do consultor financeiro norte-americano Michael McDonald, afirmando que não é a Opep que pilota o mercado do ouro negro, mas sim que este é controlado pelo cartel bancário, o qual utiliza como ferramenta empréstimos relativos a energia feitos a companhias na indústria petrolífera e noutros setores energéticos. Segundo McDonald, o montante total dos empréstimos pendentes ao setor energético dos EUA (a indústria do petróleo e do gás) é de US$4 trilhões. E bancos estadunidenses atualmente possuem apenas cerca de 45% de todos os empréstimos dos EUA a companhias de energia, ao passo que outros 30% são possuídos por bancos estrangeiros e 25% por entidades não bancárias como hedge funds.
A primeira conclusão de McDonald parece razoável: é verdade que a Opep não tem controlado o mercado petrolífero desde há muito. E é mesmo razoável dizer que bancos a operarem como cartel começaram a pilotar o mercado. Mas a sua terceira conclusão – sua afirmação de que empréstimos energéticos estão a ser utilizados como ferramenta para dirigir o mercado – é questionável.
O próprio McDonald cita dados que lançam dúvidas acerca da sua conclusão. O autor declara que empréstimos ao setor energético constituem apenas 3% do total do mercado de empréstimos nos EUA. Isso não é suficiente para induzir mudanças importantes no mercado do petróleo e de outros recursos energéticos. Obviamente os bancos da Wall Street não veem a indústria da energia como sua prioridade de topo quando estabelecem suas políticas de empréstimos. Hipoteticamente, empréstimos bancários poderiam ser um meio para prosseguir uma política estrutural a longo prazo. Alguns peritos sugerem precisamente isso, afirmando que a queda nos preços do petróleo é “real e a longo prazo”. Mas tais opiniões têm de ser apoiadas com estatísticas que mostrem investimento no desenvolvimento das energias alternativas que estão a substituir o petróleo tradicional, mas não há tal evidência. Os bancos, pelo menos em anos recentes, não aumentaram perceptivelmente seus empréstimos para projetos de energia verde.
Isto sugere que a queda nos preços do ouro negro resulta da manipulação do preço. Empréstimos bancários não podem ser utilizados como instrumento de tal manipulação. Empréstimos naturalmente têm um impacto sobre preços, mas o efeito de um empréstimo não pode ser visto senão depois de vários anos. Contudo, os preços reagem à manipulação de imediato, ou dentro de algumas semanas no máximo. McDonald afirma que no ano passado bancos cortarem no seu financiamento à indústria petrolífera e provavelmente continuarão a fazê-lo em 2016. Mas alguém poderia esperar que isso terá o efeito oposto, resultando em preços mais altos para o ouro negro, uma vez que restrições de crédito reduzirão a oferta de petróleo.
Os manipuladores do mercado petrolífero são os grandes bancos. Eles fazem isto através da utilização de contratos futuros de petróleo e de outros derivativos ligados ao petróleo. Isto parece contra-intuitivo, mas preços diários (para transações spot) são estabelecidos pelos preços para entregas futuras (num prazo de um ano, por exemplo).
E os preços futuros são o resultado do que se chama “expectativas”. As “expectativas”, por sua vez, são criadas pelas agências de classificação, a comunidade de peritos, e os mass media. Tudo isto está sob o controle dos grandes bancos. Os bancos simplesmente encomendam (place an order) as expectativas “necessárias”.
Desde o fim da década de 1970 tem estado a crescer um mercado robusto para “petróleo de papel”, isto é, um mercado para contratos futuros que não culmina num despacho físico de petróleo. Isto é um jogo de azar para especuladores, o qual provoca um sofrimento para qualquer um que esteja no negócio de produzir, refinar ou utilizar petróleo ou produtos petrolíferos na economia real. Atualmente o número de transações no mercado para “petróleo de papel” é dez vezes maior do que no mercado de petróleo físico. O volume de trading para contratos futuros de petróleo nas duas maiores bolsas – o Nymex de Nova Iorque e o ICE de Londres – já é dez vezes mais alto do que o consumo anual global de petróleo.
Todos os mercados derivativos são controlados por bancos, principalmente bancos da Wall Street, bem como por alguns grandes bancos na City de Londres e na Europa continental. O mercado para “petróleo de papel” não é exceção. Segundo algumas estimativas, 95% do mercado global para derivativos de petróleo é controlado por bancos estadunidenses.
Os maiores dealers em derivativos de petróleo são o Goldman Sachs, o J.P. Morgan Chase e outros gigantes da banca que utilizam futuros de petróleo, acima de tudo para lucrar com flutuações nos preços do óleo e em segundo lugar para assegurar seu próprio papel como intermediários financeiros. Além disso, os clientes da banca incluem tanto atores no mercado de petróleo físico – companhias de petróleo, refinaria, linhas aéreas etc. – como atores financeiros tais como hedge funds. A fim de aumentar o impacto comercial do seu monopólio do mercado do “petróleo de papel”, muitos gigantes bancários também comerciam no petróleo físico (é óbvio que estes bancos têm uma vantagem sobre atores do chamado mercado livre quando se trata de arranjar preços para o ouro negro). Em 2003, o US Federal Reserve decidiu permitir aos bancos que atuassem como traders de commodities e o J.P. Morgan, Morgan Stanley, Barclays, Goldman Sachs, Citigroup e um certo número de outros grandes bancos saltou ansiosamente para a comercialização do petróleo físico.
A crise financeira de 2007-2009 foi disparada em grande medida pelo fato de que emergiram mercados derivativos nos quais gigantes da banca estadunidense podiam crescer de modo selvagem e que estava fora do controle dos reguladores financeiros. O US Federal Reserve, a US Securities and Exchange Commission, o Departamento da Justiça e reguladores financeiros europeus tentaram trazer algum sentido de ordem aos mercados derivativos. Em 2010, os EUA aprovaram o Dodd-Frank Act, o qual esboçava um plano para regulações mais apertadas no mercado financeiro, mas aquela lei é apenas um enquadramento. Sua aplicação prática exigiria uma grande quantidade de leis muito mais específicas e instrumentos regulamentares.
Durante vários anos os EUA têm investigado as atividades de bancos da Wall Street e dos maiores bancos europeus antes e durante a crise de 2007-2009. Em particular foram identificados laços que ligavam transações bancárias nos mercados futuros de petróleo às suas transações envolvendo petróleo físico. Em 2013, foi lançada uma investigação a ações do Goldman Sachs, Morgan Stanley e J.P. Morgan para manipular preços de commodities (inclusive petróleo) e em 2014 foram efetuadas acusações válidas contra aqueles bancos.
Por ora a maior parte dos grandes bancos permanece nos mercados de derivativos financeiros. Isto inclui o mercado de futuros de petróleo. Portanto devemos estar preparados para que o “mercado” do petróleo continua a desempenhar toda espécie de façanhas de circo.
Em conclusão, dever-se-ia notar que os bancos que estão a manipular os preços do ouro negro estão realmente a operar como um cartel. Contudo, este não é um cartel especializado, com atividade limitada a um único produto do mercado. Isto é um cartel global, ostentando o título oficial de “US Federal Reserve System”. Com acesso a uma impressora para fabricar dinheiro de curso legal global (dólares), os bancos regionais do Federal Reserve efetivamente controlam tudo do mercado financeiro e do mercado da maior parte do de commodities.

As tragédias nas megaminerações não são acidentes

Mariana_Tragedia20
Em menos de um mês assistimos a dois graves acontecimentos que materializam os impactos negativos da megamineração – um na Argentina, outro no Brasil. Os desastres não são acidentes. A voracidade das transnacionais pressiona governos por novas desregulamentações que garantam seu acesso aos recursos naturais e flexibilidade.
A ruptura da barragem Fundão e o grave dano da barragem de Santarém, na mina Samarco Mineração S.A., no dia 5 de novembro de 2015, em Mariana, Minas Gerais, produziu uma corrente de lodo com resíduos da exploração mineral que destruiu o povoado de Bento Rodrigues, provocando um número de vítimas mortais ainda não conhecido com precisão e contaminando a Bacia do Rio Doce, que abastece de água quinze importantes cidades. A Samarco explora minério de ferro por meio de uma joint venture integrada pelas empresas Vale (Brasil) e BHP Billiton (anglo-australiana). Essas empresas, as duas maiores mineradoras do mundo, descreveram o evento protagonizado pela Samarco como um “lamentável e triste acidente”.
Por sua vez, na Argentina, a mina de ouro e prata Veladero está a mais de 4,2 mil metros do nível do mar, sobre a cordilheira dos Andes, no departamento de Iglesias, acima da localidade de Jáchal, província de San Juan. Ela pertence à empresa Barrick Gold, com sede no Canadá, companhia que está entre as dez maiores mineradoras do mundo, a primeira em extração de ouro. Em 11 de outubro de 2015, ela deixou vazar 1 milhão de litros de água com cianeto, que atingiram o leito do Rio Potrerillos. A contaminação da água para consumo afetou o abastecimento de Jáchal e comprometeu gravemente a produção agrícola rio abaixo.
Em ambos os casos, caracterizá-los como acidente é uma forma a mais de naturalizar uma lógica que invisibiliza ou minimiza a importância dos impactos sociais e ecológicos da megamineração. Esses projetos geraram múltiplas e crescentes resistências. As estratégias empresariais incluem desde a coerção direta em alguns casos até campanhas de disseminação de fundos em instituições e comunidades, financiamento de campanhas eleitorais e pressão para que o Estado aprofunde e amplie as medidas de fomento e defesa da atividade. já promovidas pela estratégia mineral do Banco Mundial nos anos 1990. Um conjunto de normas legais, reformas constitucionais que outorgam a decisão sobre os recursos naturais a estados ou províncias e a criação de competências de controle ambiental dependentes das próprias áreas que têm como incumbência promover a mineração são parte das razões que tornaram possíveis projetos como os de Veladero e da Samarco.
A própria existência desses projetos é expressão de uma correlação de forças em que resistências foram ignoradas e sub-representadas politicamente com vistas a favorecer um modelo de “desenvolvimento” mineral que subordina as demais prioridades àquela de obter divisas. Desde as reformas estruturais operadas nos marcos do grande endividamento e dos condicionantes externos gerados pelo neoliberalismo, com sua aposta dogmática no capital estrangeiro, até as urgências dos governos progressistas ante a recorrente restrição externa, a obtenção de divisas é o principal fator interno de aceitação da megamineração.
Entre os motivos externos, encontra-se a demanda real por minerais, muitos deles estratégicos para os países compradores. Esse é claramente o caso da exploração de ferro para abastecer a demanda da China. Ademais, a hegemonia da valorização financeira, o comportamento especulativo dos capitais e a visão dominante, que incentiva a busca de lucros extraordinários, alimentam os investimentos na megamineração.
Graças às condições extremas que garantem alta rentabilidade para os projetos construídos na América Latina, as empresas conseguem se capitalizar nas principais bolsas de valores. Nesse sentido, o negócio da megamineração é uma atividade não apenas de extração, mas também de valorização das empresas de mineração e seus derivados financeiros.
Considerando os elevados custos dos processos de fechamento das minas e os eventuais ônus de enfrentar a responsabilidade para com eventos como os produzidos por Veladero e Samarco, é relevante levar em conta que parte substancial do negócio da mineração provém da externalização desses danos colaterais, para os quais é funcional o quadro jurídico flexível criado para atrair investimentos. Esse negócio também recorre a formas societárias e mecanismos que permitem obter lucro durante parte do ciclo de vida do projeto, quebrar em seguida a empresa e/ou transferir ao Estado e à sociedade uma parte substancial dos custos.
Nesse sentido, nos dois casos observa-se a estratégia das empresas de minimizar suas próprias responsabilidades econômicas e tentar transferi-las para os trabalhadores, sugerindo sua suposta negligência; para a natureza, argumentando que um terremoto poderia ter provocado a quebra da barragem da Samarco e que o intenso frio no congelamento de uma válvula teria causado o evento da Veladero; ou então para o Estado, alegando o atraso em um procedimento de controle ou avaliação. Em aparente paradoxo, a flexibilidade ambiental definida como uma condição para o investimento é o argumento apresentado para tentar não tirar as consequências da falta de cuidado para com a população e o meio ambiente.
De forma análoga, a justificativa para a megamineração em nome da criação de empregos não é apenas questionável à luz dos resultados. Os vazamentos de cianeto ou as rupturas de barragens põem em discussão não só a qualidade desses empregos em relação ao risco, mas também as consequências para as ocupações em todos os demais setores afetados pelos impactos negativos de tais eventos.
Em suma, a megamineração concentra localmente os impactos negativos e desloca para o exterior grande parte dos benefícios. Por isso, ela é o oposto de uma atividade que contribui para o desenvolvimento e menos ainda para o “bem viver”. Não é a estratégia de marketing de “mineração responsável” ou da “responsabilidade social corporativa” que permitirá evitar ou reduzir os danos irreversíveis e as externalidades da megamineração. Além disso, a construção de um imaginário que vê no extrativismo exportador um modelo sem alternativa a não ser discutir seus modos de fazer acaba obscurecendo outras possibilidades de produção. O mesmo ocorre quando se alegam “razões de Estado” para tentar justificar o sacrifício de alguns ecossistemas e modos de vida a fim de obter divisas em busca de equilíbrios externos. Em qualquer caso, expressa-se uma hierarquia de valores que os movimentos de resistência tornam visível e colocam em questão.
Qual é o valor da água e da vida perdidas em Bento Rodrigues e em todos os ecossistemas impactados? É essa incomensurabilidade que funda a permanência e o aprofundamento dos conflitos com a megamineração. Nem reduzir a probabilidade de ocorrência, nem mitigar os danos, nem indenizar ou compensar podem resolver os conflitos. Não se trata de um tipo de capital para ser convertido em outro, porque para grande parte da sociedade a vida não é capital.
É por isso que não se pode pensar o conteúdo do conflito de modo equivalente a uma disputa em torno de dinheiro. Mesmo supondo que existisse a disponibilidade de ferramentas mais sofisticadas de cálculo e as mais aprimoradas formas de “governança”, elas não poderiam resolver os conflitos gerados pela megamineração. Porque, antes de tudo, trata-se de uma questão moral e política: como usamos os ecossistemas? Quem decide sobre sua utilização? No entanto, a megamineração resulta da imposição de uma forma de uso que atende aos interesses de corporações internacionais sobre os demais atores e usos.
Nem os Andes podem ser reduzidos ao ouro que se explora em Veladero, na Argentina, nem o planalto de Minas Gerais se reduz ao ferro a ser extraído pela Samarco. Se esses projetos existem hoje é porque se impôs uma maneira de olhar para os ecossistemas envolvidos como se eles fossem territórios antes improdutivos e quase “desabitados”, aos quais seria necessário levar investimentos para “desenvolvê-los” e torná-los “competitivos”. Trata-se, porém, de uma construção social cuidadosamente naturalizada, com muitas dimensões implícitas que são subtraídas do debate público. Não por acaso a busca da “licença social para operar” é uma tarefa empreendida somente quando a exploração é um fato consumado; no melhor dos casos, trata-se de formas de gestão dos conflitos gerados pela pressão da atividade da mineração sobre os grupos sociais cujo uso preexistia ao uso imposto. O consentimento prévio e informado das comunidades ainda não saiu do papel. Enquanto isso, as questões-chave continuam pendentes: que mineração é necessária para que projeto de sociedade? Quais seriam os projetos alternativos de produção com capacidade de gerar mais e melhores postos de trabalho com qualidade e estabilidade, e com o protagonismo das populações locais nas áreas disputadas pela mineração? Quais seriam os resultados de projetos produtivos alternativos se estes tivessem a mesma promoção que tem hoje o setor da mineração?
Resolver a restrição externa apostando em ganhar divisas ao atrair investimentos em mineração para a exportação é muito caro não só porque isso primariza nossas economias, mas também porque se entrega um valor incomensurável em troca de algumas divisas que continuarão a ser insuficientes, reproduzindo-se o círculo de entrega da natureza em troca de capital. A restrição externa deve ser tratada de forma diferente. Um repertório tradicional de ações deverá incluir ainda a substituição de importações, moderando a importação de certos bens de consumo de luxo e o aumento do valor agregado das exportações. Essas políticas exigem apoio político da maioria para superar a inércia rentista das elites e dos grupos concentrados de poder. Além disso, considerando que tanto o Brasil quanto a Argentina exportaram no interior da América Latina mais produtos industriais que para o resto do mundo, o aprofundamento do Sucre, ou sua evolução para uma moeda de troca latino-americana, e a adoção de políticas ativas de complementaridade ajudariam a criar postos de trabalho reais e reduzir a restrição externa. Somos obrigados a explorar novas formas de equilíbrio externo e inovar. Isso porque os impactos da megamineração não são acidentes. A voracidade das transnacionais pressiona os governos para novas desregulamentações que garantam seu acesso aos recursos naturais e aumentem a flexibilidade das normas ambientais e trabalhistas. E elas estão avançando, dos Andes até a Amazônia.

Conheça a “planta milagrosa” que teria curado Fidel

Moringa_Planta_Medicinal01
A moringa tem propriedades nutritivas, mas médicos advertem que não deve ser usada indiscriminadamente.
Fidel Castro a colocou em moda em Cuba e assegurou tratar-se do segredo na luta contra a desnutrição e a razão para sua própria cura.
O ex-presidente cubano, de 88 anos, cuja saúde vem sido apontada como frágil há muitos anos, a chamou de “árvore milagrosa”. Chegou, inclusive, a anunciar à imprensa cubanana que o país iria “produzir maciçamente” a moringa, conhecida no Brasil como acácia-branca, “que tem também fontes inesgotáveis de nutrientes da carne, ovos e leite”, fazendo uma referência irônica às “dezenas de propriedades medicinais” e nutritivas da planta.
Mas a moringa tem, de fato, muitas outras propriedades. Veja, abaixo, o que se sabe dessa “erva mágica”.
Onde cresce?A moringa é originária do norte da Índia, Etiópia, Filipinas e Sudão, embora esteja presente em vários países tropicais e subtropicais. A planta se cultiva na África, Ásia tropical, América Latina e Caribe, Flórida e ilhas do Pacífico.
Moringa oleifera, dentre a espécie com maior valor econômico, cresce na região do Himalaia, mas se cultiva extensamente nos trópicos, explica a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, em inglês).
“À medida que se sabe mais sobre seus múltiplos usos, maior é a importância que teve no desenvolvimento de muitas áreas pobres de países em desenvolvimento”, explica John Sutherland, da Universidade de Leicester, Reino Unido.
Em alguns lugares a planta é conhecida como moringueiro e quiabo-de-quina. Na África, também é chamada de “melhor amiga da mamãe”. Na América Latina é conhecida principalmente em Cuba, República Dominicana, Paraguai e Argentina.
Cuba_Fidel_Moringa01
Fidel Castro e a “árvore milagrosa”, que teria ajudado a manter o líder cubano vivo.
Usos medicinaisSegundo o Centro de Internacional de Pesquisa Agroflorestal (Icraf, na sigla em inglês), a moringa pode medir até 8 m de altura. Abre-se, em geral, em forma de guarda-chuva e produz flores durante todo o ano. Seu fruto é grande e distinto. Quase todas as partes da planta podem ser utilizadas na medicina.
“O interesse por suas propriedades medicinais cresceu, há um grande número de estudos científicos sendo feito [sobre ela]”, explica Sutherland.
A FAO diz que as folhas da planta “são ricas em proteínas, vitaminas A, B e C, e minerais, muito recomendados para mulheres grávidas ou em período de amamentação, e ainda para crianças pequenas”. As folhas, com alto conteúdo de cálcio e ferro, podem substituir o espinafre, acrescenta o Icraf.
Também contêm altas doses de cistina e metionina, aminoácidos que funcionam como antioxidantes naturais para o corpo humano, e são encontrados em alimentos como ovos, carnes, produtos lácteos e cereais integrais.
Moringa_Planta_Medicinal02
O saber popular diz que a planta ajuda a combater 300 enfermidades.
As vagens jovens da moringa são comestíveis e seu sabor se assemelha ao do aspargo. As ervilhas verdes podem ser cozidas e as flores consumidas em forma de chá, também usado como remédio para resfriados.
De acordo com a FAO, os produtos derivados da moringa têm propriedades antibióticas, contra os parasitas tripanossomas e pressão baixa.
A planta também cura espasmos, úlceras e inflamações, e tem propriedades para reduzir o colesterol e os açúcares no sangue. As sementes e cascas são utilizadas para tratar problemas circulatórios.
“É uma espécie incrível e tem propriedades multifuncionais”, declarou Fernando Arancibia, da Fundação para a Inovação Agrária (FIA), do Chile.
O saber popular diz que a planta cura e previne até 300 enfermidades, incluindo diabetes, dores de cabeça ou acne, ainda que não existam estudos científicos que demonstrem tais propriedades. Talvez por isso muitos se refiram a ela como “a árvore da vida”.
RiscosNo entanto, os especialistas advertem que é preciso ter moderação no consumo da planta, pois entre seus efeitos secundários estão perda de sono, excesso de glóbulos vermelhos e acidez. O médico naturalista Reinaldo Reyes assegurou em entrevista à televisão dominicana que a moringa pode ser perigosa.
“Tem sido utilizada há anos para combater a desnutrição em países pobres. O problema é que agora as pessoas querem usá-la de forma indiscriminada, porque pensam que é inofensiva”, diz Reyes.
Já o médico naturalista Arcênio Estevez Medina afirma não ter “nada contra” o consumo de moringa”, mas advertiu que não se deve usá-la indiscriminadamente, assim como a nenhuma outra planta.

Juiz aceita denúncia sobre corrupção na Petrobras na gestão FHC

FHC_Boca_Aberta07
Denúncias sobre corrupção na Petrobras durante a gestão FHC já foram feitas por diversos delatores da Operação Lava-Jato.
O juiz substituto da 3ª Vara Federal do Rio, Vitor Barbosa Valpuesta, aceitou denúncia do Ministério Público Federal sobre pagamento de propina da empresa holandesa SBM Offshore a funcionários da Petrobras durante gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A denúncia, que teve a decisão publicada no dia 13 de janeiro, abrange o período entre 1999 e 2012. São réus da ação penal os ex-funcionários da Petrobras Jorge Zelada, Pedro Corrêa, Renato Duque, Pedro Barusco e Paulo Roberto Buarque Carneiro, além dos ex-representantes da SBM no Brasil Júlio Faerman e Luís Eduardo Campos Barbosa.
Apesar da negativa dos tucanos, as denúncias sobre corrupção na Petrobras durante a gestão FHC já foram feitas por diversos delatores da Operação Lava-Jato.
De acordo com Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras e delator da Operação Lava-Jato, a venda da petrolífera Pérez Companc resultou em propina no valor de US$100 milhõesao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, a transação aconteceu em 2002, quando a Petrobras comprou 58,2% das ações da Pérez Companc e 47,1% da Fundação Pérez Companc. A estatal brasileira pagou, na época, US$1,027 bilhão pela petrolífera.
Além disso, notícia divulgada em novembro do ano passado apontou que a Polícia Federal encontrou indícios de desvios de finalidade ou ocultação de origem em pagamentos feitos pelas empresas Odebrecht e Braskem ao Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC). As investigações também ocorrem no âmbito da Operação Lava-Jato.
Os laudos da PF apontam o recebimento de R$975 mil da Odebrecht pelo iFHC. Os pagamentos teriam sido realizados entre novembro de 2011 e dezembro de 2012.
O ex-gerente de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco Filho, também fez referência ao período FHC durante depoimento à Polícia Federal ao afirmar ter conhecimento do esquema de pagamento de propina antes de 1997.