quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Alemanha à beira de um ataque de nervos

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A polarização da sociedade alemã está chegando aos píncaros e aos nervos. Depois do arrastão da noite de Ano-Novo em Colônia, os desdobramentos se sucederam. No fim de semana houve três manifestações na cidade: uma das mulheres contra a violência; outra do movimento Pegida, de extrema-direita, contra os refugiados; e uma terceira, de esquerda, contra o Pegida. Até aí tudo bem, embora este “bem” não fosse nada bem.
Mas no domingo, dia 10/1, à noite, o caldo engrossou: bandos de extrema-direita saíram pela cidade atacando estrangeiros a esmo. Dois paquistaneses e um sírio, que nada tinham a ver com o arrastão, foram hospitalizados em estado grave. Na segunda-feira, dia 11/1, houve manifestações de direita e esquerda em Leipzig. Os Legida – grupo local da Pegida – saíram pela cidade em direção a bairros “de esquerda”, depredando lojas, apedrejando casas etc.
A polícia acorreu, fazendo 211 prisões. Em Potsdam também houve manifestações de direita e de esquerda. Um ônibus cheio de manifestantes de direita foi surpreendido pelos manifestantes contrários e apedrejado. A polícia interveio, foi apedrejada pelos de esquerda. Resultado: aplicaram o método Alckmin e baixaram o pau.
Ao mesmo tempo houve informações de que o arrastão do Ano Novo, contra mulheres, não foi coisa apenas de embriagados ou “espontânea”. Houve convocação pelas redes sociais, e um grande número dos mil jovens que se reuniram em frente à Estação Central da cidade vieram de fora. Até o momento, ninguém sabe o que fazer com toda esta carga pesada.
E ontem, nova bomba: desta vez literalmente. No ataque suicida de Istambul, dez turistas foram mortos, além do atacante. Primeiro, disseram que eram 8 alemães. Depois, nove. Na quarta-feira, dia 13/1, o ministro da Defesa alemão, Thomas de Maizière, disse que os dez eram alemães. Apesar de ele dizer que não havia indícios, o próprio ataque sugere que foi uma retaliação do Estado Islâmico contra a entrada da Alemanha na coalizão que luta contra ele na Síria e no Iraque.
Há 15 feridos, entre eles mais seis alemães, uma peruana e um norueguês, que não correm risco de morrer. A nacionalidade dos outros ainda não foi revelada.
Por outro lado, nesta quarta houve o anúncio de mais ataques suicidas: um em Camarões, perpetrado por duas mulheres, matando mais dez pessoas numa mesquita na fronteira com a Nigéria. Outro no Paquistão, matando 15 agentes de segurança envolvidos numa campanha de vacinação. O primeiro foi atribuído ao Boko Haram. O segundo, ainda não se sabe.
Parece uma epidemia pior do que a do ebola. Tudo está muito feio e tenso por aqui. A xenofobia cresce, condena-se aberta ou veladamente a “ingenuidade” dos que querem receber positivamente os refugiados, enfim, estamos regredindo em direção aos tempos da República de Weimar.
E a nova edição impressa do Main Kampf, agora que caiu no domínio público, se esgotou em poucos dias. É uma edição séria, anotada, contextualizada, antinazista, feita pelo Instituto Histórico de Munique. É bem-vinda, uma vez que era necessária uma edição deste tipo, abalizada por séria pesquisa de caráter acadêmico.
Mas que sombras pairam no horizonte, pairam. Como diz um ditado gaúcho, a coisa é feia e vem se debruçando.

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