Vocês lembram do episódio das vaias de um grupo de jovens médicos cearenses aos cubanos que chegavam a Fortaleza, em 2013, para o “Mais Médicos”?
Por ironia, acabei caindo numa página, não datada, da Associação Médica Cearense, que denunciava as condições aviltante com que os planos de saúde remuneravam seus médicos conveniados, escrito pelo dr. Antônio Celso Nunes Nassif.
Lá, como você pode conferir, o médico – com consultório particular e as despesas correspondentes a ele – recebia R$42,00 por consulta, segundo a tabela então vigente de Classificação Brasileira de Hierarquização de Procedimentos Médicos (CBHPM) e fazia o cálculo de quanto ele ganharia se tivesse 170 pacientes “novos” por mês – “reconsulta no mesmo mês não remunera”, segundo o site da AMC –, ninguém faltasse e não houvesse um horário vago, daria quatro horas de “expediente” no consultório. Sem férias, feriados etc.
Com isso, o médico – depois das despesas de consultório, recepcionista, telefone, limpeza etc. e antes do Imposto de Renda – ficava com uma renda de R$2.220,77.
Apliquei os índices atuais da CBHPM, recém-atualizada, que fixa a consulta simples (código 10101012) em um valor de R$63,00, o que muitas das operadoras de planos não pagam ainda, aliás. Em 2012, um diretor do Sindicato dos Médicos da rica São Paulo dizia que “tem planos que pagam R$12,00 por consulta”.
Mas vamos pela melhor hipótese e apliquemos o aumento de 50% no valor da CBHPM. Aplicando este fator de reajuste para receitas e despesas, a renda daquele médico – nos mesmos critérios do dr. Nassif – será R$3.331,15.
Mas o médico cubano não foi chamado de “escravo” com um salário de R$3 mil, mais alimentação, moradia, férias, passagens e ainda mantendo seu salário que recebia em seu país?
É, de fato, muito pouco, mas é, na prática, mais que o pago médico brasileiro descrito pelo dr. Nassif em seu artigo, do qual não tenho porque duvidar.
Tanto não duvido que é cada vez mais difícil encontrar médicos que atendam em consultório pelos planos de saúde, sobretudo os mais modestos e a qualidade do atendimento aos segurados esteja caindo vertiginosamente.
Mas os médicos mais jovens, que não têm grande clientela formada, têm de aderir aos planos para ter pacientes ou se submeterem a clínicas que não lhes pagam mais que estes valores.
Curiosamente, não há uma grita generalizada da mídia contra isso. Muito menos se faz manifestações para chamá-los de “escravos”.
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