quarta-feira, 24 de junho de 2015

Malafaia, Boechat e o “vá procurar uma rola”. Infelizmente, “o buraco é mais embaixo”

Malafaia15
Silas Malafaia é daqueles de tirar a paciência e a serenidade de qualquer um. Tirou a do apresentador Ricardo Boechat, na BandNews, que reagiu aos desaforos de Malafaia mandando o coletor de dinheiro “procurar uma rola”.
Agora, Malafaia vira o “politicamente correto” e vai processar Boechat.
Boechat disse o que muita gente gostaria de dizer, mas disse de maneira que, apesar de entender seu “saco cheio”, não deveria dizer.
Vai pingar mais algum nos bolsos de Malafaia, de indenização por dano moral, com certeza. Não tanto quanto deseja, porque vai entrar na “compensação de ofensa”, por conta das bravatas do pastor-provocador. Malafaia terá um pouco menos do que procura e que não é bem “rola”.
Como no imperdível vídeo “Minha oferta, minha vida”, onde ele cobra do fiel que deposite um mês de aluguel para que o Senhor “possa abrir a porta para eu [ele] ter a casa própria”. Reproduzo, para quem não viu, ver, ao final do post o tipo de explorador religioso que este personagem é.
Malafaia não tem de ser xingado, por mais que seja algo que exija forças supremas evitar, tamanho é o embrulho que sua permanente gritaria agressiva faça. Aliás, a dele e dos que pregam o ódio religioso, político, ideológico. Porque é mais do que um caso isolado de fanatismo a serviço da intolerância.
Não é ela que se estimula, todos os dias, em todos os campos? Não é ao fanatismo, à acusação fácil, à generalização, à intransigência política, ao espetáculo vazio e provocativo que os meios de comunicação dão valor e projeção?
Não esvaziaram os sindicatos, as associações profissionais ou comunitárias, os partidos políticos como espaço de afirmação do progresso coletivo? Não restaram, praticamente, apenas igrejas como lugar de reunião, identidade e esperança? Não estimularam a crença de que só se avança individualmente, quando se competência, esperteza, sorte ou alguma forma de ser superior, inclusive ter a bênção divina?
Não tornaram o culto ao dinheiro, à riqueza, ao “Deus Mercado” como a única fé possível aos homens e mulheres?
É difícil, sei que é difícil resistir aos impulsos e, publicamente, mandar Malafaia ou outros energúmenos procurarem algo… Mas é preciso falar sério sobre o que está gerando esta histeria.
Isso não é uma condenação a Boechat – não sei se um dia eu não teria um rompante destes –, mas talvez sirva de alerta sobre os prejuízos que trazemos às melhores ideias quando perdemos o mínimo de razoabilidade.
Quantos de nós, jornalistas, não entramos nessa? Ou quantos movimentos de afirmação de gênero (e de outras causas) não topamos uma radicalização que só bota gente, dinheiro e voto nas alfaias, nas bandejas do reacionarismo?
E assim a gente contribui para o clima de ódio do qual os Malafaias, Felicianos e Bolsonaros da vida.
Duzentas vezes já disse isso: gente dessa natureza má só pensa no que pode lhe trazer vantagens. A primeira delas é a sua promoção entre os pobres de espírito, mas também entre os pobres de informação, onde o pastor e o culto são sua “Globo” dominical.
Não se subestime isso. Tome um trem, como tomei anteontem, para Olinda – não a de Pernambuco, mas o segundo distrito de Nilópolis – e você vai ver o tamanho do “tsunami” evangélico nas periferias.
Foi-se o tempo em que os bolsões conservadores eram as “senhoras católicas” da classe média. Hoje, pastores obtusos como Malafaia – e são aos centos – comandam máquinas eleitorais que produzem elementos como Eduardo Cunha e fenômenos assemelhados. Com o devido perdão dos muitos evangélicos que acreditam na humanidade como um valor essencial da religião.
Austeridade e seriedade não querem dizer mau-humor ou caretice, nem que não se faça gozações ou mesmo que, vez por outra, se diga umas verdades com “português de botequim”.
Mas que o Boechat tirou o que andava engasgado na garganta, isso tirou.
É um rompante destes a que só se chega porque há um silêncio cúmplice dos interesses políticos e econômicos com este tipo de fariseus, que servem como escudos da dominação.
E é uma pena, porque ando com saudades do tempo em que éramos todos mais civilizados.

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