terça-feira, 1 de setembro de 2015

A pobreza presente em Nova Iorque se espalha por cidades dos EUA

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Bairro periférico de Nova Iorque.
Durante seu discurso de posse no cargo, em 1º de janeiro de 2014, o novo prefeito da cidade de Nova Iorque, Bill de Blasio, se comprometeu a enfrentar como prioridade principal a obscena diferença na distribuição de riqueza na Grande Maçã, como a cidade é conhecida nos Estados Unidos. Ele havia chamado este problema de uma “história de duas cidades” ao longo de sua campanha, mas no discurso de posse reafirmou que o fim das “desigualdades econômicas e sociais que ameaçam desintegrar a cidade que amamos” não era um discurso barato, uma promessa eleitoral, mas o princípio básico do programa de sua administração.
Os outros altos funcionários da cidade que acabavam de assumir o cargo, a defensora pública Leticia James e o procurador Scott Stringer, também fizeram promessas semelhantes, embora tenham ampliado ainda mais o alcance delas. Leticia, a primeira negra eleita para ocupar um cargo oficial, que é responsável por toda a cidade de Nova Iorque, criticou as políticas favoráveis a Wall Street aplicadas pelo prefeito que deixava o cargo, Michael Bloomberg, e que levaram a cidade “à idade dourada da desigualdade, na qual refúgios para desamparados e projetos de urbanização decrépitos para pessoas de recursos escassos foram esquecidos para dar lugar a brilhantes condomínios de vários milhões de dólares”.
Stringer disse que adotaria uma agenda progressista, baseada na “responsabilidade fiscal” que pudesse “levantar a todos os nova-iorquinos”, destacando que os dois elementos não são mutuamente excludentes.
Nova Iorque é uma cidade excepcional, mas seus problemas não são únicos. O que de Blasio descreveu como uma “crise silenciosa” das disparidades em matéria de riqueza afeta a todas as cidades dos EUA. De fato, se trata de um trem fora do controle que ameaça criar o caos, não só para os setores urbanos, mas também para as periferias, reservas e povoados de forma geral. Para o escritor, procedente de Chicago e onde o atual prefeito ganhou o título de “prefeito do um por cento”, a promessa de mudar as políticas que favorecem os multimilionários é música para os ouvidos.
Entretanto, a crise não é igual em todos os lugares. Detroit – uma cidade que também poderia ser descrita como singular – enfrenta uma falência provocada por anos de desigualdades raciais e de classe, condições econômicas e sociais que, talvez somente nos detalhes, sejam muito diferentes das de Nova Iorque, mas todas as cidades estão com dificuldades, de um modo ou de outro, em áreas de interesse público, como educação pública, aposentadorias, impostos, empregos e salários, moradias acessíveis e prejuízos raciais nas políticas de aplicação das leis e da justiça penal.
Os moradores das grandes e pequenas cidades veem que suas escolas públicas precisam desesperadamente de financiamento, enquanto que as corporações privadas e as escolas particulares seguem absorvendo recursos públicos. Os empregos com baixos salários na indústria de alimentos e no comércio varejista travam as economias urbanas. Os sistemas de transporte em massa são sucateados e as políticas em matéria de policiamento são dirigidas para acossar a juventude negra e seguir alimentando o “complexo industrial de prisões”, com novas gerações de jovens.
A lista poderia continuar indefinidamente e com cada problema aumentam e intensificam as desigualdades raciais e de classe. Alguns chamam isto de “o urbanismo neoliberal”, no qual os mercados de capitais regem livremente a economia local e, com isso, assumem o controle social, político e ideológico. Para dizer de outro modo, a crise das cidades tem sua origem no capitalismo.
A luta pelo progresso tem muitas formas e é livrada em muitos âmbitos, com diferentes coalizões e movimentos. A vitória de de Blasio ofereceu uma nova esperança de que se pode produzir uma mudança progressiva nacionalmente, em relação à luta contra as desigualdades raciais e de distribuição da riqueza que assolam as cidades dos Estados Unidos.
No início de dezembro, de Blasio e mais de uma dezena de outros prefeitos eleitos foram convidados para a Casa Branca, para se encontrarem com o presidente Obama. Depois do evento, de Blasio descreveu o que se poderia definir como um “consenso de interesses” entre os prefeitos que poderia ser a base de um movimento nacional.
“Algo está ocorrendo aqui”, quando prefeitos de todo o país dizem ao presidente o mesmo com relação à pobreza e à educação infantil”, disse de Blasio depois da reunião.
“A luta contra a desigualdade é a missão da nossa era”, disse.
Esse movimento – que combina as lutas contra as desigualdades raciais e de classe – tem preocupado os titãs corporativos e seus cães de guarda. De Blasio, da mesma forma que Obama, será desafiado pelos acontecimentos e uma oposição feroz, em primeiro lugar por parte da extrema-direita. Wall Street se assegurará disso. As grandes corporações se alimentaram dos contribuintes durante décadas, seja mediante a privatização dos recursos públicos ou por meio de incentivos fiscais e créditos com a promessa de criar postos de trabalho.
Um exemplo, há pouco tempo a Bolsa de Mercadorias de Chicago (CME na sigla em inglês) – uma das maiores instituições financeiras do mundo – recebeu US$15 milhões da cidade de Chicago para pagar a renovação de seu balneário, em troca de algumas centenas de postos de trabalho e a promessa de permanecer em Chicago até o ano de 2017. Em outras palavras, a cidade estava disposta a pagar o “resgate” depois que a Bolsa ameaçou abandonar a cidade. Depois que os cidadãos repudiaram e protestaram contra a negociata, a Bolsa voltou atrás e “recusou” o dinheiro.
O movimento progressista também terá o objetivo de sair de sua zona de conforto e construir coalizões com aliados, começando com o movimento operário, para ampliar seu alcance. Para fazer frente aos problemas da desigualdade é essencial aplicar uma nova política industrial, verde, que seja baseada nos salários propostos pelos sindicatos. Reconstruir pontes e fábricas e proporcionar moradias acessíveis é inevitável. Isso significa soluções a nível nacional e estatal. Entretanto, as eleições legislativas de 2014 foram parte do desafio e a derrota para os republicanos e para o Tea Party, renovando o domínio deles sobre o Congresso, criou um obstáculo muito maior para o movimento progressista nos Estados Unidos.

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