segunda-feira, 14 de setembro de 2015

E então Eduardo Cunha falou o que a classe média queria ouvir

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“Muitos programas sociais vão ter de acabar, não tem outro jeito”.
Finalmente Eduardo Cunha disse o que as classes média e alta tanto queriam ouvir. Pelo meu palpite, depois de um pronunciamento desses, se Cunha se candidatasse à presidência da república hoje seria barbada.
“É preciso ter arrecadação de impostos para sustentar tudo isso. A sociedade vai ter que decidir se quer manter esses programas. Para isso, é preciso aumentar impostos, o que vai ser difícil de passar no Congresso. Será necessário, então, fazer uma opção”.
É batata, quando se fala em impostos a classe média tem urticária.
Ela, que se vê como independente do estado, afinal já paga tudo em regime de iniciativa privada (escola, plano de saúde, transporte – que é em forma de financiamento do carro – plano de previdência privada) engole facilmente esse discurso.
Não quer nem 0,01% a mais de encargos, comete suas sonegações que considera menores e inocentes (afinal, quem nunca) e depois passa o resto do tempo dizendo que já paga muito e não tem nada em troca.
Ela concorda e assina embaixo que os programas sociais são apenas e tão somente fábricas de vagabundos, mas revolta-se com cortes no Ciência sem Fronteiras, em que muitos de seus filhos foram enviados ao exterior para estudar.
Trata seus empregados domésticos em regime de semiescravidão mas posta nas redes sociais que acha “um absurdo” terem barrado o negro Carl Hart na entrada de um hotel. Além de ter sido um boato, essas pessoas nunca tinham ouvido falar no neurocientista norte-americano. Se ouviram, certamente não concordam com as ideias dele sobre o crack e se o encontrassem na rua durante a noite, com aquelas tranças rastafári e roupas informais, mudariam de calçada.
Refiro-me à classe média como um grupo homogêneo. Generalizo, claro. Ela tem indivíduos esclarecidos e bem-intencionados, mas no seu bojo, quando pensa em grupo, é retrógrada, xenófoba e racista. Infelizmente.
E como se não bastassem todos esses “pequenos defeitos”, é desinformada o suficiente para adotar os Cunhas, os Bolsonaros, os Aécios como exemplos de correção.
Para muitos políticos, ser citado na operação Lava-Jato significa receber imediatamente sentença de culpa. Afinal, o delator afirmou, quem irá desmentir? Se Júlio Camargo da Toyo Setal alega que Eduardo Cunha recebeu pelo menos US$5 milhões, é um dedo-duro e não tem credibilidade.
Todo o escândalo da Petrobrás teve a anuência de Dilma, roubo da quadrilha do PT, o conchavo das empreiteiras financiadoras de campanha. Nenhum desses raciocínios se aplica a Geraldo Alckmin e seu encalhado metrô. As empresas contratadas pelo tucanato paulista pagarão alguma multa e ficarão como as únicas vilãs de todo o esquema.
Na semana da independência, quando a classe média está achando maravilhoso o discurso rasteiro do “cantor” Fábio Júnior em Nova Iorque e replicando nas redes sociais com comentários do tipo “Lindoooo!”, poucos sabem que PT, PSOL, PCdoB, votaram favoravelmente ao fim do financiamento empresarial de campanha. Os votos para manutenção desse sistema vieram dos partidos de direita que hoje puxam a gritaria de “Chega de corrupção”.
Eduardo Cunha e companhia podem ser citados e passam ilesos. Continuam a ter os microfones abertos para uma mídia desonesta que fala a língua da tal classe média com técnica minuciosamente pensada. Basta ver o perfil dos pré-candidatos à prefeitura de São Paulo.
Eduardo Cunha para presidente! Eu, para refugiado na Macedônia.

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