quinta-feira, 14 de maio de 2015

Allianz Parque: O dia em que a Globo e a CBF censuraram um estádio

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O nome Allianz foi tampado em todo o estádio.
A 30 minutos do início do Campeonato Brasileiro de 2015, surgiu um branco. Alguns torcedores se entreolharam, outros forçaram a vista para entender melhor o que estava acontecendo.
Minutos depois, as redes sociais já estavam infestadas de informações e revoltas dos palmeirenses. Todas as placas do estádio Allianz Parque, palco da partida entre Palmeiras e Atlético Mineiro, foram parcialmente cobertas com faixas. Ficou o Parque, esconderam o Allianz, a seguradora alemã que pagou R$300 milhões pelo naming rights da nova casa alviverde.
A inusitada censura ganhou uma justificativa minutos depois. Segundo Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, um acordo com a TV Globo sobre os espaços publicitários fez com que a CBF recomendasse os tampões improvisados. No regulamento da Série A, consta que os letreiros do estádio são classificados como espaços estáticos secundários e não pertencem aos clubes.
CBF e Rede Globo não se pronunciaram até agora, mas qualquer cidadão menos ingênuo é capaz de elucubrar mais algumas hipóteses para o veto. A emissora que domina os direitos de transmissão do futebol brasileiro praticamente ignora o Palmeiras em sua grade de programação, mas, para promover o início do Campeonato Brasileiro, abriu o sinal do pay per view para a partida inaugural. E mais uma vez decidiu deixar claro quem manda no futebol brasileiro. Para quem já adulterou o distintivo do Red Bull Brasil para evitar propaganda involuntária, o tampão ao letreiro do Allianz Parque estava dentro do script.
Mas por que só agora o veto, e não, por exemplo, na primeira final do Campeonato Paulista, disputada no mesmo local? Aí entra a CBF, patrocinada pela Seguros Unimed, uma concorrente direta da patrocinadora do Palmeiras. Ou seja, ambas tinham o interesse de impedir a exposição demasiada de uma empresa que não contribui para os seus respectivos cofres. Foi o recado implícito que deram ao presidente palestrino. Como toda decisão arbitrária feita na base do improviso, a censura ajudou a expor ainda mais a marca. A hashtag #AllianzParque ganhou o topo do Twitter, o Facebook foi inundado com fotos e vídeos dos palmeirenses relatando o ocorrido.
Em um universo de clubes endividados, abarrotados de processos trabalhistas, e culpados pela bolha de salários astronômicos, a abertura para os acordos com patrocinadores parece um fio de esperança para evitar a falência completa. CBF e Globo parecem não se atentar que clubes financeiramente debilitados tornarão o produto cada vez pior, afetando audiência, venda de produtos agregados e até mesmo a chegada de novos investidores.
O branco que se viu nas arquibancadas do Allianz Parque antes mesmo do primeiro apito é um sinal claro da mesquinharia, da arrogância e do abuso de poder. É um sinal de que os clubes perderam o bonde da mudança e são reféns de um simples telefonema exigindo que se tampe aqui, retire ali e pinte lá. Os torcedores revoltados que arrancaram as faixas com as próprias mãos mostraram a mentalidade de revolta que inexiste entre os presidentes dos clubes que ano após ano entram na fila das cotas de tevê com o pires na mão.
Acho estúpido aplaudir renda de jogo, mas é ainda mais grotesco desrespeitar as empresas que ainda insistem em investir dinheiro nessa ofensa que se tornou o futebol brasileiro, nesse ambiente moldado por arenas modernas e mentalidade sempre arcaica. Mais uma vez, começou mal o maior torneio do país. Será um longo e tenebroso inverno.
Atualizado às 14 horas, do dia 10/5/2015Segundo reportagem da ESPN, a CBF afirma que o veto no Allianz Parque foi de responsabilidade de uma terceirizada por ela contratada para cuidar da operação dos jogos e que a seguradora, dona dos naming rights do estádio do Palmeiras, está autorizada a manter o nome na publicidade estática secundária.

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