quinta-feira, 14 de maio de 2015

Dia histórico para a França: O Ocidente redescobriu Cuba


Dia histórico para a França: O Ocidente redescobriu Cuba

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O Ocidente redescobriu Cuba. A visita do presidente da França, François Hollande, que chegou no domingo, dia 10/5, a Havana para uma visita oficial à Ilha está sendo comemorada pela imprensa francesa com um dia histórico. Há 55 anos um chefe de estado francês não aparecia por lá.
Hollande se reúne na segunda-feira, dia 11/5, com o presidente Raul Castro. A viagem também tem caráter econômico. A França quer fomentar o comércio com Cuba, com quem teve no ano passado negócios no valor de US$200 milhões, número inferior ao de 2013 e longe dos fluxos que Cuba mantém com outros parceiros europeus como Espanha, Holanda e Itália.
O presidente encerrará um fórum no qual participarão diretores da extensa delegação empresarial que o acompanha, integrada por companhias como a de bebidas Pernod Ricard, a hoteleira Accor, a companhia aérea Air France, o grupo de distribuição Carrefour, o de telecomunicações Orange e vários bancos.
A visita de um líder de um país europeu a Cuba acontece cinco meses depois da investida do presidente Barack Obama contra o fim do isolamento da Ilha, quando anunciou o restabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos. O país de Barack Obama também está de olho nas relações comerciais com o país.
O protagonista FranciscoO papa Francisco é um personagem importante nos avanços obtidos por Cuba com os Estados Unidos. A intervenção do Vaticano foi fundamental para a retomada histórica em dezembro das relações diplomáticas entre os ex-adversários depois de mais de meio século de antagonismo.
O presidente Raul Castro esteve no domingo, dia 10/5, com Francisco e agradeceu ao papa pela sua atuação na reaproximação entre Havana e Washington. Ele disse ter ficado tão impressionado com o pontífice que poderia voltar à Igreja, apesar de ser comunista.
Francisco, que deve visitar Cuba e os Estados Unidos em setembro, é membro da ordem religiosa jesuíta. Raul brincou dizendo que “até mesmo eu sou um jesuíta, em certo sentido”, já que ele foi educado por jesuítas antes da Revolução. “Quando o papa for a Cuba em setembro, eu prometo ir a todas as suas missas e ficarei feliz em fazê-lo”, disse.
Brasil apostou antes no fim do isolamentoA movimentação de potências econômicas do Ocidente em direção a Cuba, de olho no potencial comercial do país caribenho, demonstra a vanguarda do governo brasileiro em antever o fim do isolamento econômico.
O exemplo mais sintomático é o Porto de Mariel, intensamente criticado pela direita brasileira. Inaugurado em 27 de janeiro de 2014 com participação da presidente Dilma Rousseff, o porto foi construído pela empreiteira Odebrecht, e recebeu financiamento de US$800 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além do Brasil, o empreendimento recebeu capital de chineses e outros países asiáticos. Situado a menos de 200 quilômetros da Flórida, Mariel é atualmente o porto mais próximo do território norte-americano.
O empreendimento, alvo de mote pejorativo da direita brasileira, estimulou a ida de uma cadeia de indústrias brasileiras que devem aumentar as relações comerciais entre os dois países. Na última década, as exportações brasileiras para a Ilha quadruplicaram a US$450 milhões, elevando o Brasil ao terceiro lugar na lista de parceiros da Ilha, atrás apenas de Venezuela e China.
O Brasil também pretende aumentar as exportações de alimentos para Cuba, que importa mais de 80% dos alimentos que consome a um custo de cerca de US$2 bilhões por ano.
O “milagre econômico de Cuba” já desperta claramente o interesse do mundo ocidental. Por ter visto e acreditado antes, o Brasil saiu na frente e deve colher seus frutos, apesar da torcida contrária da direita brasileira.
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O presidente da França, François Hollande, é recepcionado pelo vice-ministro das Relações Exteriores cubano, Rogelio Sierra, na chegada a Cuba.
Presidente francês pede fim de bloqueio norte-americano a Cuba
Visitando Cuba para defender os interesses franceses e europeus, o presidente François Hollande apelou na segunda-feira, dia 11/5, pela “anulação” do bloqueio econômico norte-americano à Ilha, que “tanto prejudicou” o desenvolvimento da nação comunista.
Primeira visita de um chefe de Estado ocidental desde o anúncio do degelo entre Washington e Havana, Hollande considerou que sua viagem acontece “em um contexto particularmente importante, mas ainda incerto”, em um discurso na Universidade de Havana.
A França fará o possível para contribuir para que “a abertura possa se confirmar, que as medidas que tanto prejudicaram Cuba possam enfim ser anuladas, suprimidas”, acrescentou, em referência ao bloqueio que penaliza a economia da Ilha desde 1962.
“Vocês sabem qual sempre foi a posição da França para levantar o bloqueio que entrava o desenvolvimento de Cuba”, insistiu o presidente francês.
Todos os anos desde 1991, Paris vota a favor da resolução que pede o levantamento do bloqueio na Assembleia Geral da ONU.
Desde o anúncio da reaproximação com Cuba no final de 2014, o presidente democrata Barack Obama pediu que o Congresso, controlado pelos republicanos, trabalhe para levantar o bloqueio, porque só ele tem a prerrogativa institucional para o fazer.
Obama também adotou uma série de medidas de flexibilização do bloqueio, dentro dos limites das suas competências, mas elas foram consideradas insuficientes por Havana.
Em sua viagem de cinco dias pelo Caribe, o presidente francês deve encontrar nesta segunda à noite o seu colega Raul Castro, que substituiu seu irmão Fidel em 2006.
O Eliseu também expressou sua “disponibilidade” para organizar um encontro com o pai da revolução cubana, mas isto não foi confirmado por Havana.
Direitos humanos na agenda“Vim a Cuba com grande emoção, porque é a primeira vez que um presidente da República francesa visita Cuba”, declarou Hollande em sua chegada domingo à noite.
Com esta visita, o presidente francês também passa à frente de outros chefes de Estado ocidentais atraídos pelas perspectivas de abertura desde o anúncio no final de 2014 da reaproximação com Washington.
Paris tem a intenção de capitalizar nos laços aprofundados há pouco mais de um ano com uma visita à Ilha de seu ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius.
Desde então, a França tem se posicionado na linha da frente em favor da aproximação entre a UE e Havana.
Quanto aos direitos humanos, um assunto sobre o qual o regime cubano frequentemente é alvo, Hollande disse que seria “necessariamente mencionado.”
Seu primeiro gesto nesta segunda foi entregar a Legião de Honra ao cardeal Jaime Ortega, que desempenhou um papel de mediação na promoção da libertação dos presos políticos em 2010.
Décimo parceiro econômico da Ilha, a França quer reforçar a sua presença no mercado cubano e não deixará passar o processo de liberalização econômica em Cuba. Muitos líderes empresariais acompanham Hollande nesse passeio em uma delegação com nada menos que sete ministros e secretários de Estado.
Alguns contratos devem ser assinados nesta segunda-feira, mas o presidente francês disse que queria aproveitar a influência de Cuba no continente para desenvolver as suas relações econômicas com a América Latina.
Há “uma vontade da França para aumentar o intercâmbio cultural”, mas “também econômico com a América Latina”, observou ele, ressaltando “o papel que Cuba desempenha” no continente.
No caminho para a normalização das relações com os Estados Unidos, mas também com a Europa, Cuba também está envolvida em um processo de “atualização” de sua economia herdada do modelo soviético.

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