sexta-feira, 29 de maio de 2015

O escândalo da Fifa “é só o começo”, diz polícia norte-americana

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Além de José Maria Marin, o empresário José Hawilla, dono do grupo Traffic e proprietário de filial da Rede Globo no interior de São Paulo, estaria está envolvido no esquema de corrupção. Em setembro de 2014, Andrew Jennings já anunciava: há mais documentos e mais descobertas.
O escândalo da Fifa, que resultou na detenção de sete cartolas, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, em operação surpresa na manhã de quarta-feira, dia 27/5, abre as portas para outros escândalos envolvendo os empresários. Assim como divulgou o The New York Times, “o inquérito é só o começo”.
O Departamento de Justiça norte-americano, a FBI e a IRS investigam o blindado sistema de corrupção que circula pelos campeonatos e organizações de futebol, como os altos funcionários tratavam de decisões de negócios da FIFA como vales para serem trocados por riqueza pessoal. A procuradora Geral Loretta E. Lync afirmou em coletiva que somente um dirigente de futebol arrecadou mais de US$10 milhões em subornos.
José Maria Marin; o dirigente da Concacaf Jeffrey Webb, visto como provável sucessor de Joseph Blatter; Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel foram detidos pela polícia suíça. Eles foram presos, enquanto estavam no Hotel Bar Au Lac, onde participariam de um congresso da Fifa na sexta-feira, dia 29/5, que deveria reelegerSepp Blatter à frente da Fifa. Todos devem ser extraditados para os Estados Unidos.
O foco das investigações são as propinas que teriam recebido os dirigentes com executivos do setor de comercialização de jogos e direitos de marketing de campeonatos, entre eles eliminatórias da Copa do Mundo na América do Norte, a Concacaf – entidade que engloba os países das Américas do Norte e Central e Caribe –, a Copa América, a Libertadores e a Copa do Brasil. Seriam mais de US$150 milhões em propinas pagas.
Referente ao Brasil, as autoridades norte-americanas investigam o pagamento de propina envolvendo o patrocínio da CBF “por uma grande empresa dos EUA”, assim divulgou os meios de comunicação. Trata-se da Nike, patrocinadora da seleção brasileira desde os anos de 1990.
Além de Marin, o empresário José Hawilla, dono do grupo Traffic, estaria está envolvido nesses pagamentos, intermediando contratos da CBF e negociando acordos de direitos de tevê da Copa Libertadores e da Copa América.
“Duas gerações de dirigentes de futebol abusaram de suas posições de confiança para ganho pessoal, frequentemente através de aliança com executivos de marketing inescrupulosos que barraram concorrentes e mantiveram contratos lucrativos para si mesmos através do pagamento sistemático de propinas. Os dirigentes são acusados de conspiração para solicitar e receber mais de US$150 milhões (cerca de R$400 milhões) em subornos em troca do apoio oficial dos executivos de marketing que concordaram com pagamentos ilegais”, divulgou o Departamento de Justiça.
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Tutti buona gente: Em 2011, o delator J.Havilla (1º da esq.) na companhia do acidentado Luciano Huck, empresário José Victor Oliva, narrador global Galvão Bueno, #EuVoteiNoAécio Ronaldo Nazário, ladrão Ricardo Teixeira e ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez (agachado).
O cartola brasileiro J. Hawilla confessou culpa em dezembro do ano passado, pelas acusações de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça. Hoje, o governo norte-americano divulgou que ele teria concordado com o confisco de US$151 milhões de seu patrimônio, sendo que US$25 milhões já teriam sido pagos no momento da confissão.
A influência de Hawilla ia além. Considerado o “dono do futebol brasileiro”, J. Hawilla fundou a Traffic Sports, maior empresa de marketing esportivo do Brasil, é proprietário da TV Tem, filiada da Rede Globo no interior paulista, e amigo de longa data de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF.
O atual presidente da confederação, que assumiu este ano, Marco Polo Del Nero, não está na lista de investigados da polícia norte-americana, o que foi lamentado pelo senador Romário. “No ano passado, se eu não me engano, o Ministério do Esporte fez um aporte de R$10 milhões a R$15 milhões para ajudar o futebol feminino e, por curiosidade, não foi via CBF. E sim através de uma empresa chamada Sports Promotion, que também é ligada ao atual presidente da CBF, esse safado, ladrão e ordinário Marco Polo Del Nero”.
“Infelizmente não foi a nossa polícia que prendeu esses dirigentes da Fifa, mas alguém tinha de prender um dia, né? Ladrão tem de ir para a cadeia. Gostaria de parabenizar o FBI e principalmente a polícia suíça. Espero que isto repercuta positivamente e que essas ações sirvam como exemplo para a América do Sul e para o Brasil”, disse Romário, comemorando a prisão de Jose Maria Marin, durante os trabalhos da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, em Brasília.
Em entrevista coletiva, Del Nero defendeu Marin e mostrou-se surpreso com a prisão de seu antecessor. “Foram contratos firmados antes da administração do Marin. Não tem nenhum contrato firmado depois. [...] Temos de analisar, como que vou saber? Tem que ver a conduta. [...] Não tenho a menor ideia. [...] Lógico que não é uma coisa boa, é péssimo para a entidade. Mas temos de saber o que se passa”, disse, de forma confusa, jogando a responsabilidade para Ricardo Teixeira.
O terceiro brasileiro investigado pelo FBI é José Lazaro Margulies, proprietário das empresas Valente Corp. e Somerton Ltd., também ligadas a transmissões esportivas.
A abertura da operação pela polícia dos Estados Unidos já alcança reflexos em outras apurações. A operação na Suíça motivou a abertura de uma investigação também no país europeu, sobre o processo de escolha dos países-sede das Copas de 2018 (Catar) e 2022 (Rússia). A polícia suíça entrou na sede da Fifa, em Zurique, e apreendeu provas eletrônicas.
A Copa do Mundo de 2014, no Brasil, não foi citada ainda pelo Departamento de Justiça norte-americano. Tampouco o presidente da Fifa, Joseph Blatter, o homem mais poderoso do futebol mundial não está entre os citados nos indiciamentos dos Estados Unidos.
Em setembro do ano passado, o jornalista Andrew Jennings, apontado como o inimigo número 1 da Fifa, foi recebido e entrevistado pelo Jornal GGN, quando contou alguns episódios que teria descoberto envolvimentos de corrupção de dirigentes de futebol.
Entre as narrativas, explicou como chegou à conclusão que o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Juan Antônio Samaranch, era fascista; as denúncias de prática de suborno pelo ex-presidente da Fifa, João Havelange, do atual Joseph Blatter e do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Quando questionado se não teria investigado algum cartola, Andrew Jennings afirmou que seria impossível, uma vez que se procurasse práticas de corrupção em todos, encontraria. “Sempre tive interesse no grupo de Blatter porque eles corrompem tudo a sua volta. Corrompem países pelo mundo, centenas recebendo dinheiro. Então é impossível investigar todos!”, afirmou.
Para ele, Blatter, Havelange e José Maria Marin são todos iguais. E acrescenta: “Toda vez que eu ouço o nome Marin, não posso parar de ver a fotografia horrível de Vladimir Herzog. E vocês deixam esse homem representar seu futebol!” E já anunciava: “Existem mais documentos, o London Sunday Times tem mais documentos”, quando acreditava que o sumiço de ingressos da Copa do Mundo no Brasil apontaria para provas de corrupção de Sepp Blatter.

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