Após consolidar a cultura de avaliações externas de desempenho de
estudantes, por meio de provas nacionais, estaduais e municipais que se
proliferaram na rede pública nos últimos anos, o País dá os primeiros
passos na avaliação de seus professores. O tema é controverso, desperta
reações sindicais e divide acadêmicos e gestores. Mesmo assim,
iniciativas isoladas e prerrogativas institucionais têm aberto caminho
para um modelo no qual docentes devem passar, mesmo que temporariamente,
de avaliadores a avaliados. "Avaliar o trabalho do professor é
imprescindível para a melhoria da qualidade do ensino", afirma Heloísa
Lück, diretora educacional do Centro do Desenvolvimento Humano Aplicado,
de Curitiba (PR).
A avaliação do trabalho docente está prevista até mesmo nas diretrizes
para os planos de carreira do magistério, elaboradas pelo Conselho
Nacional de Educação (CNE) e homologadas em junho pelo ministro Fernando
Haddad. O texto prevê que cada rede crie avaliações sistemáticas de seus
professores e gestores, e que isso possa ser usado dentro de uma
política de ascensão na carreira e de reajustes salariais.
Na mesma linha, o Senado discute projeto de lei que cria o Exame
Nacional de Avaliação do Magistério da Educação Básica (Enameb). Ele
poderá ser aplicado a cada cinco anos aos professores tanto das escolas
públicas quanto particulares. O projeto foi debatido em audiência
pública em 2008 e, neste ano, recebeu parecer favorável da Comissão de
Educação, Cultura e Esporte. Agora está pronto para ser votado.
As reações dos professores a propostas desse tipo podem surpreender.
Pesquisa feita pela Fundação SM em parceria com a Organização dos
Estados Ibero-americanos (OEI) com cerca de 8 mil docentes mostrou que
45% deles concordam com uma avaliação de seu trabalho. Cerca de 32% dos
entrevistados se mostraram indiferentes e 23% discordaram. Provavelmente
pelas condições de trabalho e progressão na carreira de cada sistema,
professores da rede pública foram os que mais discordaram da ideia (25%)
e os das escolas particulares os que mais concordaram (57%).
No entanto, quando colocados frente a frente com uma avaliação concreta,
as reações podem ser diferentes. Realizado pela Apeoesp, sindicato
paulista dos professores da rede pública, um levantamento com mil
docentes mostrou que 96% deles são contrários à proposta da secretaria
estadual de criar avaliações a cada três anos na rede, com reajustes
salariais de 25% para os mais bem colocados. "Não é esse tipo de
avaliação que queremos, que vai beneficiar apenas os 20% melhores",
afirma Maria Isabel Noronha, presidente da entidade.
A proposta da secretaria está em tramitação em regime de urgência na
Assembleia Legislativa, onde recebeu pareceres favoráveis. O objetivo do
governo é que a medida seja aprovada em breve para entrar em vigor a
partir do ano que vem. "O desempenho dos alunos já é a melhor maneira de
avaliar o professor", analisa Wanda Engel, presidente do Instituto
Unibanco. Para ela, exames como Prova Brasil e Saeb, feitos pelos
alunos, já funcionam como avaliações docentes.
Na análise de Ocimar Munhoz, da Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo (USP), os professores precisam ser avaliados, mas dentro de um
plano de carreira atraente e com perspectivas de crescimento. Além
disso, precisam de apoio para melhorar, por meio de uma formação melhor
e cursos mais eficientes de formação continuada.
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