domingo, 27 de setembro de 2009

O catecismo da conversão

A migração dos esquerdistas para a direita é uma trajetória comum na história republicana brasileira, embora não seja um fenômeno exclusivo do Brasil como é, por exemplo, essa curiosa fruta nativa da Mata Atlântica chamada jabuticaba.
Os caminhos dessa conversão política são muitos. E não há problema que isso ocorra, principalmente, quando ex-comunistas, como o agressivo Roberto Freire, ou ex-guerrilheiros, como o delicado Fernando Gabeira, mudaram por acreditar que a democracia política é melhor. Melhor que qualquer autoritarismo que imaginaram melhor para viver.
Agressivo e delicado são dois adjetivos usados intencionalmente para explicar aos que eventualmente não sabem que Freire e Gabeira usaram armas diferentes contra a ditadura militar brasileira. Agressivo era Gabeira que optou pela ação armada. Delicado era Freire que se lançou na oposição política.
O ruim é quando esses ex-militantes de esquerda passam a servir à direita e se esquecem de todas as outras ideias nas quais acreditavam e pelas quais se batiam.
Roberto Freire fundou o Partido Popular Socialista, que nada tem de socialista e, muito menos, de popular. No programa partidário exibido dias atrás, ele pontuou todo o roteiro das falas em oposição ao governo Lula. Atacou, por exemplo, a taxação de cadernetas de poupança acima de 50 mil reais, cuja finalidade, exposta pelo governo, é a de bloquear a utilização dos benefícios da poupança pelos grandes grupos de investidores que migraram das aplicações em virtude da queda nos juros.
Um parlamentar do PPS, Fernando Coruja, com destaque no Congresso, atacou a proposta de Lula de consolidar as leis sociais e torná-las permanentes, como Getúlio Vargas fez com as leis trabalhistas. A entrevista do deputado foi publicada no mesmo jornal em que Lula deu uma entrevista de valor capital. Entre outras coisas, o presidente lembrou:
"Sou de um tempo de dirigente sindical que, quando a gente falava de salário mínimo, as pessoas já falavam logo de inflação. Nós demos, desde que cheguei aqui, 67% de aumento real para o salário mínimo e ninguém mais fala de inflação”.
Embora aliado de Freire, Gabeira segue por caminho diferente. Protegido pela importante capa do ambientalismo ele ataca com outro viés as regras fixadas pelo governo para a exploração do pré-sal. Ambos servem, hoje, à candidatura presidencial conservadora dos tucanos.
Aí é que o bicho pega. Um escritor português, o anarquista Manoel de Souza, tratou desse trânsito político, esquerda-direita, na Europa. “Muitos outros comunistas, maoístas e trotskistas (...) comeram na mesa dos condes e das marquesas, ou nos seus leitos, nas amenas praias mediterrâneas, em nome da reconciliação nacional e de um mundo melhor. Para eles, pelo menos.”
Alguém já disse que eles trocaram o desejo de salvar o mundo pelo oportunismo de salvar-se no mundo.
Sobre eles, o português Souza despejou uma velha e contundente expressão popular da língua portuguesa, não se referindo à mãe que os deu à luz, e sim à condição de oportunistas, “alguém em quem nunca se devia confiar nem deve confiar”.
A invenção não é mesmo nossa, mas, sem dúvida, há brasileiros dando grande contribuição para aperfeiçoar esse comportamento.

ANDANTE MOSSO

Eros, 180 graus
O ministro Eros Grau enrolou-se ao negar, em liminar, competência ao TSE para julgar originalmente recursos contra a expedição de diplomas de eleições estaduais e federais.
A liminar chegou ao STF em abril. Ele não relatou porque viajava. Posteriormente, ao votar um processo sobre o caso, no TSE, reconheceu a competência daquele tribunal.
Aspas para a decisão de setembro: “Em 3 de abril, certificada a minha ausência, o eminente ministro Ricardo Lewandovski (...) encaminhou os autos à Procuradoria- Geral da República (...) até a presente data os autos não foram devolvidos ao meu gabinete...”
Donde se pergunta: ele julgou sem mesmo passar os olhos
pelos autos?

O giro de Temer e Quércia

Orestes Quércia e Michel Temer trocaram a posição.
Em 2002, Quércia apoiava Lula e tentou demover Temer que apoiava Serra. Agora, Quércia apoia Serra e tenta demover Temer que apoia Lula.
Na conversa entre os dois, Temer se sustentou na coerência para sair do cerco de Quércia. E disse:
“Tanto naquela época como agora meu argumento é um só: o PMDB está no governo e deve apoiar o candidato do governo”.

Luz amarela

Aumentou a preocupação no staff informal da candidatura de Dilma Rousseff.
As pesquisas de setembro mexeram até mesmo com quem se gaba de ter nervos de aço.
Lula mandou acelerar o acordo com o PMDB e o peemedebista Michel Temer já virou o “nome natural” do partido.
O PMDB não vai se descolar do governo.

Jogo sujo

A Procuradoria da República tem evidências de que José Renato Granado, vice-presidente da Associação dos Administradores de Bingos do Estado do Rio e sócio da Betec Games, manobrou para adiar o depoimento que faria na CPI dos Bingos.
Teria atuado nisso a dupla Wilber Corrêa da Silva e José Ferreira do Nascimento, o Zé Índio. Wilber é servidor da Câmara dos Deputados e foi preso na Operação Sanguessuga. Zé Índio, ex-deputado federal, teria manobrado “extensa rede de influência no Parlamento”.
Foram rastreados 20 mil reais depositados na conta corrente de Wilber, carimbados como parte do pagamento da empreitada.

Ordem unida

O ex-governador Anthony Garotinho acostumou-se à fantasia de secretário de Segurança, função que exerceu no governo de sua mulher, Rosinha.
Vale-se de bons informantes na PM e na Polícia Civil. E sabe de curiosidades como essa do comandante da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio.
“Depois de nomear sua esposa, major Viviane, como diretora de Assistência Social da corporação” conferiu a ela “medalha por lealdade e dedicação à PM”.
Garotinho concluiu: “Gosto muito da minha esposa, Rosinha, mas, conceder medalha à própria esposa não dá bom exemplo para a tropa”.

Dança das siglas

Abalado com a debandada de aliados no Rio, o ex-prefeito Cesar Maia, pai de deputado Rodrigo Maia, presidente nacional do DEM, pediu providências ao TSE.
Nos últimos dias perdeu Sergio Zveiter para o PDT, nome forte para as eleições em Niterói, e o ex-deputado Rubem Medina para o PP.
Cesar reclama, mas tem a trajetória marcada por essa dança partidária.
Começou no PDT e foi para o PMDB. Pulou para o PFL e de lá saiu para o PTB. Retornou ao PFL e, por fim, ajudou o partido a trocar o nome para DEM.
Como todos os outros ele também se valeu das oportunidades eleitorais.

Fator ambiental

Há uma novidade que passou despercebida na pesquisa do Ibope.
No item “áreas específicas” de atuação do governo “houve aumento destacado da aprovação” à política do meio ambiente, segundo os pesquisadores.
Não há registro de impacto negativo provocado pela renúncia de Marina Silva, ocorrida em maio.
O porcentual de aprovação subiu a 61%, um número recorde na sequência registrada desde abril de 2007.
Ninguém é mesmo insubstituível.

Deus ou diabo
Exorcista brasileiro


Nos próximos dias embarca para os Estados Unidos o pastor Marcos Pereira da Silva, cuja habilidade maior é a de expulsar demônios de encarcerados nas prisões do Rio de Janeiro.
Fundador da igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias (Adud), o pastor Marcos é uma figura bemconhecida no Rio de Janeiro.
Ele quer percorrer as bocas de fumo do Brooklyn, reduto negro em Nova York, palco de violência,prostituiçã o e drogas. Acha que lá será mais fácil do que aqui.
“Será mais fácil de chegar aos que precisam de orações, porque não ostentam armas pesadas como nas favelas cariocas”, crê.
Quem quiser pode duvidar da intimidade do pastor com o poder divino. Só não dá para duvidar da proximidade dele com certos poderes terrenos.
Silvana, a secretária dele, é irmã do traficante Marcinho VP. Outro secretário é Alvinho da Rocinha, ex-segurança do traficante Bem-Te-Vi, que a polícia já despachou para o outro mundo.
Há fiéis conhecidos como o bicheiro Aniz Abraão e Carminha Jerominho, vereadora de mandato cassado, acusada de chefiar um grupo de paramilitares, além do sargento PM Juracy Prudêncio, chefe do “Bonde
do Jura”, outro grupo miliciano.
Há muitos outros. Gente anônima ou celebridades como essas.
A polícia acha, entretanto, que o pastor Marcos não tem nada de santo.

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