O ex-ministro da Defesa Waldir Pires analisa que o refúgio do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira em Tegucigalpa, reflete a fragilidade das organizações internacionais. Para o ex-ministro, o governo brasileiro acertou ao abrigar Zelaya e "deve convocar a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OEA (Organização dos Estados Americanos)" a intervirem.
- O governo brasileiro agiu bem no momento em que concedeu o asilo. O Brasil tem, como a América do Sul toda, desde o Tratado de Havana, de conceder o asilo político nos casos típicos de privação de liberdade por motivos políticos. Em Honduras deu-se um golpe de Estado. Isso é a demonstração da fragilidade de nossas instituições internacionais. Creio que o Brasil agiu muito bem e deve manter essa demonstração firme de não tolerar um golpe de Estado.
Consultor geral da República no governo de João Goulart, deposto em 1964 pelos militares, Waldir Pires destaca o caráter inusitado do retorno de Zelaya ao País, depois de ser expulso em 28 de junho. Milhares de simpatizantes do presidente deposto se reuniram em frente à embaixada brasileira e foram reprimidos pela polícia. A OEA aprovou por unanimidade uma resolução que pede a recondução de Zelaya ao poder. Numa comparação histórica, Pires se recorda que Goulart só retornou morto ao Brasil, ainda assim enfrentando resistência militar.
- O presidente João Goulart sempre desejou voltar. Sem condições, ele iria diretamente pra cadeia. Quando morreu, eu estava lá no Rio Grande do Sul, ele teve dificuldade de ser enterrado no território brasileiro. O caixão estava na fronteira, pra ser enterrado em sua terra natal. Entrou por causa da pressão do povo gaúcho. Entre as figuras mais exponenciais, que era tolerado, somente Tancredo Neves. Penso que o instituto do asilo político é absolutamente indispensável numa ordem internacional muito frágil. O Brasil deve permanecer nessa linha - completa Waldir Pires.
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