A morte de Jorge Wolney Atalla
Passou despercebido, mera notinha na seção de necrológio da Folha, a morte de Jorge Wolney Atalla. Para quem não se recorda, nos anos 70 tornou-se o primeiro empresário brasileiro a ter a ousadia da globalização.
Várias usinas se formaram em torno da Copersucar, os preços explodiram mundialmente, surgiu o Proálcool, criou-se uma potência. Atalla tornou-se personagem mundial. Investiu pesadamente na área de pesquisa da Copersucar, patrocinou a escuderia de Emerson Fittipaldi na Fòrmula 1, adquiriu empresas de café nos Estados Unidos.
De seu lado, enveredou por ma megalomania que o fez tomar investimentos pesados para aplicar em suas próprias empresas.
Ao mesmo tempo, tornou-se grande financiador da Operação Bandeirantes. Não sei se era lenda ou não, mas seu nome infundia receio até em altos funcionários do governo.
Quando houve a mudança de governo, e entrou Ernesto Geisel, houve alguma descompressão na mídia, com o novo governo abrindo espaço para denúncias, especialmente sobre escândalos financeiros permitidos pelas liberalidades do goveno anterior.
Na época, aconteceu a quebra do Banco Independência-Decred. Tempos depois, a Veja publicou uma matéria sobre o envolvimento da Copersucar com a Oban.
Segundo Luis Nassif, jornalista, ele tinha procurado o Paulo Belotti, supertecnocrata, muito ligado a Geisel, que tirou o corpo fora, com receio. Levantou material, mas não pode publicar. Acabou enviado para o Bernardo Kucinsky, que era correspondente do Sunday Times.
Pouco tempo depois, ocorreram dois movimentos. Primeiro, a Abril convidou Atalla para conversar e propôs parcerias em alguns projetos. Depois, Atalla convidou o diretor de relações institucionais da Abril, o Ernâni Donato, para ser assessor da Copersucar. E o sujeito comentou o trabalho de Nassif com Atalla que foi convocado para uma conversa.
Se sentiu rifado pela Abril e sem saber a quem recorrer. A única coisa que lhe ocorreu foram os amigos de seu pai na colônia sírio-libanesa, à qual Atalla pertencia. Antes de sair de casa orientou sua mulher: se acontecesse alguma coisa com ele, que ligasse para o Fuad Nader, padrinho de crisma e filho do Aziz Nader, patriarca da colônia.
A conversa com Atalla foi tenebrosa. Ele o recebeu e foi direto ao assunto:
- Soube que você anda falando por aí que ajudo a matar pessoas. Queria te dizer que “batrício não f… batrício”.
NAssif nem lembra qual foi sua reação, mas não deve ter sido muito diferente da do Pedro Simon enfrentando Collor no Senado.
Depois disso, perdeu-se contato com Atalla. Nos anos seguintes, gradativamente assistiu-se seu império se desmoronando. Quando as cotações de açúcar despencaram, houve uma rebelião no setor que levou várias usinas a sairem da Copersucar. Depois, apareceram problemas sérios do grupo de Atalla com o BADESPAR, o banco de desenvolvimento do Paraná. Atalla contraiu financiamentos altíssimos, ficou inadimplente e estava sendo executado. Ele conseguiu segurar as execuções na Justiça, mas saiu do jogo.
Nassif o reencontrou anos depois em Brasília, no elevador do Hotel Nacional. Era um sujeito que andava de cabeça baixa, surpreendeu-se quando Nassif o cumprimentou.
Anos atrás Nassif escreveu sobre a importância de Atalla para o setor, nos anos 70, e recebeu uma carta de agradecimento.
Até hoje não sabe se a imagem de terrível se aplicava a ele.
Mas, que Atalla patrocinou muita morte, ah, isso, não tenho dúvidas!!!
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