sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O dia em que a Folha mostrou como foi o encontro triunfal de Dantas com FHC. (e Serra no meio)



Mais um exemplo de como o presidente Fernando Henrique Cardoso trabalha nos bastidores para ajudar a candidatura de José Serra ao Palácio do Planalto.
O encontro de FHC com o banqueiro Daniel Dantas, no início deste mês, deveria ser reservado. Vazou. Aos poucos, surgem detalhes da conversa da noite de 3 de maio no Palácio da Alvorada.
Teve participação ativa no contato o empresário Roberto Amaral (**), ex-funcionário de empreiteira (**) e ajudante de FHC nas horas difíceis. Amaral hoje pode pegar em um telefone e falar tanto com o presidente da República como com Daniel Dantas.
O encontro tratou de vários temas. Um deles foi a relação da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) com o Opportunity, o banco de Daniel Dantas.
A Previ anda às turras com o Opportunity. Há risco real de o banco perder ou ver reduzido seu papel de gestor do dinheiro desse fundo. Seria catastrófico para o banqueiro.
Acertou-se então que uma pessoa de confiança do ministro da Fazenda, Pedro Malan, colocará “ordem” (sic) na Previ. Na prática, trabalhará para realinhar os interesses do fundo de pensão com os do banco Opportunity. Grande negócio.
Esse realinhamento pode não ter nada de ilegal. É uma decisão política. Trará frutos imediatos. Daniel Dantas é um dos responsáveis, não o único, pela onda de notícias desagradáveis sobre o processo de privatização. A idéia de ter havido um “propinoduto” em favor de gente ligada a tucanos não é boa para Serra.
Pacificada a Previ com o Opportunity, supõe-se que Daniel Dantas vá ser uma aresta aparada nesse jogo de contra-informação.
O realinhamento pode durar pouco. Por razões diferentes, Lula (PT) e Serra (PSDB), no Planalto, criarão obstáculos para o banqueiro recebido pelo presidente. Mas esse é um problema para o longínquo 2003. Por enquanto, FHC faz a sua parte a favor de si próprio e de Serra.
Sobre FHC, em particular, quero me arriscar a deixar aqui uma crônica, de modo a fazer alguns humildes comentários.

Quando os fins contradizem os meios

Por Ana Helena Tavares

Desde que saiu da presidência, a que papel FHC tem se prestado senão a tentativas vãs de criar um descrédito sobre a figura de Lula para ver se alcança uma nesga de esperança de voltar a ter alguma importância na cena política brasileira? FHC é de tão triste figura que nem sequer percebe que há muito já perdeu a graça.
Ao que parece, há quem consiga fazer da política um jogo de tal maneira contraditório, que é de dar nó na cabeça do mais maquiavélico jogador de pôquer. Roberto Marinho entendia dos dois jogos. FHC lecionou sobre Maquiavel. Conhece bem os tortuosos túneis da política (ou seriam “passagens secretas”?), aqueles da “arte” do bem encobrir, dos “alguéns” a proteger.
como será mesmo que conseguiu o apoio da maioria dos deputados para a aprovação da sua reeleição em 98, sem uma consultazinha popular sequer? Ah, já sei, distribuía balas no Congresso no dia de São Cosme e Damião, não é?
Há quem diga que os opostos se atraem, na vida afetiva pode ser. Mas, no jogo político, talvez o ditado mereça uma inversão. Por mais que haja misturas, uma hora fica claro quem está ao lado de quem. Recentemente, (em vídeo que pode ser encontrado aqui mesmo neste blog) FHC só faltou prestar reverência a Gilmar Mendes, o definindo como “um homem de coragem e competência”. No mesmo dia, conseguiu falar sobre o “brilhantismo” de Daniel Dantas, ainda que tenha alegado “conhecê-lo pouco”. É, a idade tem dessas coisas, causa crises seríssimas de amnésia.
Faz a pessoa esquecer, por exemplo, qual é mesmo o significado daquela palavra bonita da língua portuguesa chamada coerência. Que o diga Maria Augusta Tibiriçá Miranda, autora do livro “O Petróleo é nosso – a luta contra o entreguismo” que recentemente, em entrevista a esse mesmo Paulo Henrique Amorim (clique aqui para conferir a entrevista), revelou o passado de militante nacionalista do ex-presidente e de sua família, afirmando enfaticamente que ao adotar sua política de privatizações “FHC traiu o tio, o pai e a si próprio”.
Fico imaginando a pose que ele desfilava pelos púlpitos da Sorbonne e chego à conclusão de que, definitivamente, pose não é classe. Para os alunos de Monsieur FHCÊ, “o príncipe dos sociólogos”, deve ter sido o “suprassumo da coerência” aprender nas cadeiras da sacrossanta universidade parisiense os ensinamentos de Marx e, anos mais tarde, em 2002, ao final do governo neoliberal de FHC aqui no Brasil, ouvirem dele: “Nunca houve nenhuma chance de neoliberalismo aqui. Este é um país muito pobre e o Estado sempre terá um papel importante na atenuação de diferenças sociais.” (declaração dada ao “Financial Times”). Acho que ele queria que a gente risse, mas nem por isso.
Talvez ele tenha querido também ser, por assim dizer, “engraçadinho” ao soltar a seguinte “pérola” no início deste ano: “Ai, que saudade do governo militar, onde eu podia falar” .
Depois dessa, sinceramente acho que só merecia mesmo retornar à Sorbonne e perceber que, hoje em dia, os alunos de lá preferem ouvir o Lula

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