quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Sede de sensacionalismo também explica conduta da mídia

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Não há dúvida que a mídia acompanha a ideologia de quem a controla, no mundo todo. A governamental tem com poucas exceções, a do governo que detém o poder. Quanto a privada, para se ter uma mídia poderosa, é preciso ter muita grana e as relações com interesses econômicos vultosos é inevitável. Nada anormal que os proprietários pensem e ajam como classe dominante, que procurem usar seu jornal para defender ou fortalecer sua ideologia, sua liberdade de propagá-la, seus interesses.
Na outra ponta, existe a necessidade de se ter credibilidade junto aos diversos públicos. Certas mídias Estadão e Veja, por exemplo, apostam em um público cativo e não necessitam fazer muitas concessões à diversidade no plano político. Se as cartas a redação representam esse público, pode-se notar que ele deve ser praticamente 100% de perfil conservador. No Estadão, que ainda leio, de cada dez cartas onze são contra o governo federal e o PT. Não obstante o jornal ainda se preocupa em manter alguma preocupação com veracidade dos fatos, radicalizando apenas na parte editorial. Outros jornais se preocupam em buscar ou manter públicos mais ecléticos. É o caso da Folha, não obstante o conteúdo político nem sempre estar tão distante do Estadão. Sou dos que assinaram na época de Cláudio Abramo, e mantenho até hoje.
As mídias não são controladas apenas pelos proprietários e leitores (conquistam e formam determinados públicos, mas passam a depender deles). Também sofrem influência de anunciantes e agências de informação, que filtram notícias e versões, principalmente no plano internacional, de corpos editoriais que montam. Um anunciante é outro agente poderoso economicamente, que exige identidade ideológica do jornal. Há entre estes os anunciantes os governos, que na história raramente foram de esquerda. Isto não acontece no momento presente, com o federal, mas é fato eventual na história. Governos sempre tentam controlar ou influenciar mídias e tem diversos instrumentos para esse fim. Os governos do PT só não conseguiram devido ao equilíbrio de forças.
Outra influência na mídia é a necessidade de dar notícias surpreendentes, inovadoras, sensacionais, para vender, atrair leitores, ouvintes, espectadores. E de preferência com conteúdo negativo, que vende muito mais.
Há jornais que falam de crimes, quando mais sanguinários e violentos mais vendem; e são muito bem vendidos, mesmo na civilizada Inglaterra. Por aqui já tivemos vários que, torcendo, vertiam sangue. O Notícias Populares marcou época e temos seus seguidores.
No futebol é a mesma coisa. Não vende falar que um jogador é bonzinho, pois isso é obrigação, rotina. Mas se alguém surra o técnico, ofende o presidente do clube, cospe no público, terá certamente muitas manchetes, dará quantas entrevistas quiser. O mesmo acontece nas páginas artísticas e colunas sociais, sempre atrás de fofocas. Se o cara quebra o violão no palco, jamais será esquecido.
Ao noticiar política, mesmo mídias ideológicas e discretas também querem surpreender. Notícias ruins assustam e vendem mais. A mídia se interessa muito menos por notícias boas e educativas. Se uma delas se preocupasse apenas ou principalmente em divulgar boas ações, atividades de ONGs ambientais, filantrópicas, não venderia.
Não por outro motivo o que interessa não é a palestra do dirigente ou político, mas o detalhe interessante que pode acontecer no auditório ou nos bastidores. Ou a frase que poderá ser selecionada, e apresentada com alguma interpretação sensacionalista. Ou então a que espelha a ideologia. No domingo que o prefeito Haddad vetou o trânsito de veículos e abriu a Av. Paulista aos pedestres e ciclistas, certos jornais deram destaque a cerca de seis ou sete jovens que foram até lá para vaiar o prefeito. Idem Dilma nos EUA: em meio a tantas reuniões importantes, o fato de um admirador de Hitler aparecer para vaiá-la recebeu tanto espaço que ele se tornou famoso. O ideal é surpreender e divulgar a ideologia. Mas reconheça-se que, quanto a necessidade de surpreender e divulgar o negativo, ainda que em bem menor número, é tão forte que isso também acontece com políticos que não são de esquerda: certas ações de Alckmin, Serra ou Aécio são noticiadas também desse prisma. Afinal, é preciso, fabricar notícia, destacar o surpreendente, manter a atração do telespectador, vender o jornal ou obter assinaturas.

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