quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Golpistas usam mentiras na rede para inflar protesto anti-Dilma

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A curiosa estratégia dos que afirmam enfrentar a corrupção enganando a população com mentiras tão absurdas que era mais simples dizer a verdade.
Na tarde de quinta-feira, dia 6/8, muitas pessoas perceberam que estavam confirmadas nos chamados eventos das redes sociais pelo impeachment da presidenta da República, Dilma Rousseff, mesmo sem nunca terem aceitado tal convite e nem sequer cogitarem participar, por posicionamento ideológico. Fato é que eventos criados com outros objetivos – do apoio a presidenta à repulsa ao clima de golpismo – tinham sido alterados propositalmente para aumentar o alcance da convocação para os protestos marcados para o dia 16 de agosto.
Um dos eventos modificados era relacionado às eleições do ano passado e se chamava “eu não voto em Aécio Neves”. Como o site não exclui eventos já realizados, alguém mudou o nome do evento para “16 de agosto eu vou pra rua #ForaPT”. E os defensores do impeachment ganharam, automaticamente, 70 mil apoiadores. No entanto, permaneceu a foto de fundo com o rosto do candidato tucano. Ao perceber a farsa, de de um dia para outro 30 mil retiraram seus apoios ao evento.
Esse tipo de prática tem sido comum entre os grupos que tentam convencer a sociedade de que a corrupção no Brasil foi inventada por Dilma, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo  PT. Utilizam de todo tipo de fraudes e enganações com a justificativa de “salvar o Brasil”.
O expediente não é novo, e ficou mais intenso com as redes sociais e o acesso à internet por dispositivos com celulares e tablets. No dia de ir às urnas na última eleição, uma mensagem de que o doleiro Alberto Youssef, primeiro delator relevante da operação Lava-Jato, havia sido envenenado na prisão inundou celulares em todo o país, a ponto de a Polícia Federal (PF) emitir nota garantindo que ele gozava de plena saúde.
16_Agosto02_MentirasAs informações falsas estão na estrutura na convocação das manifestações de rua. No ato realizado em 15 de março, seus organizadores bradavam dos carros de som que “Dilma cortou a internet na Avenida Paulista, para impedir a revolução”. Em uma aglomeração tão grande de pessoas é comum que a internet não funcione. O mesmo ocorre com rádio. É rara uma estação que pegue bem na Paulista devido à quantidade de transmissores instalados na região. Mas o que importa é o “efeito manada” com que a fúria se espalha.
Também naquele domingo, os golpistas exaltaram um “relatório de uma auditoria em Washington que garantiu que as eleições de 2014 foram fraudadas”. O “ativista” Marcello Reis, do grupo Revoltados Online, se emocionava ao berrar “Dilma não foi eleita”. Só não explicava de onde saía a tese fantasiosa – e de explicações convincentes os seguidores dessa onda de ódio não fazem mesmo muita questão. Como pode ter sido fraudada só a eleição presidencial, num pleito que elegeu governadores, deputados e senadores? Não importa.
Os usuários desse expediente são criativos: “Dilma vai proibir as religiões”, “Dilma vai pegar o dinheiro das poupanças”, “Dilma vai acabar com a família”, “o PT vai instaurar uma ditadura comunista no Brasil”, “O PT trouxe os haitianos para votar na Dilma”.
Até mesmo um “combo” de pedidos de impeachment publicado numa rede social viralizou. Segundo o boato, seria preciso registrar o pedido em um cartório, pedindo “combo de quatro impeachments”, para garantir que os petistas não assumissem de novo e o tucano Aécio Neves pudesse ser o novo presidente.
Mas não se mente à toa. O recurso tem fundamento. Uma pesquisa coordenada pelo professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, Pablo Ortellado, e pela professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Esther Solano, detectou que a crença em boatos era muito forte entre os participantes paulistas da manifestação de 12 de abril.
Os pesquisadores ouviram 541 pessoas na Avenida Paulista, e identificaram que 47,3% dos entrevistados “confiam muito” em informações obtidas pelo Facebook. Outros 26,6% têm a mesma percepção de informações repassadas pelo aplicativo de celular Whatsapp.
Nada menos que 71,3% dos manifestantes entrevistados acreditam que Fabio Luiz, o Lulinha, filho do ex-presidente Lula, é sócio da Friboi – aquela mesma que contratou Roberto Carlos e Toni Ramos como garotos-propaganda. A informação já foi desmentida muitas vezes, inclusive pelo presidente do grupo JBS, que controla a Friboi, José Batista Júnior.
Outros 53,2% dos manifestantes anticorrupção disseram acreditar que “o PCC é um braço armado do PT”. E 42,6% que “o PT trouxe 50 mil haitiano para votar na Dilma nas últimas eleições”.
Nas redes também são comuns postagens, vídeos e textos com “denúncias”, que precisam ser repassadas “antes que sejam censuradas”. Alguns grupos têm até “veículos de comunicação” próprios, para dar mais credibilidade às notícias forjadas, misturadas a notas retiradas de portais da grande imprensa. Nessa bagunça, os golpistas se esbaldam.
A “notícia” de de sexta-feira, dia 7/8, foi que a carta-renúncia de Dilma Rousseff estaria pronta, aguardando o momento certo para ser divulgada. Quem dá o “furo” é o colunista do jornal Metro e blogueiro limpinho Cláudio Humberto, que foi porta-voz do ex-presidente Fernando Collor de Mello e é uma espécie de Reinaldo Azevedo fora da Veja. Se os manifestantes estão lutando contra a corrupção, como podem crer em uma informação sem fontes, passada por um ex-aliado do Collor?
Os combatentes contra a corrupção parecem se importar tanto com a origem da corrupção no Brasil quanto com a veracidade das notícias que engolem, quando lhes convêm. Para acabar com Dilma, Lula e o PT, vale-tudo, até mesmo esses exemplos bem-acabados de corrupção da verdade como estratégia política.

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