segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Economist: México morre de inveja do Brasil

Inveja do Brasil campeia na outra grande economia da América Latina

Quando o Brasil foi não apenas incluído, mas nomeado primeiro entre os BRCs, a sigla usada amplamente para as principais economias emergentes, os líderes empresariais mexicanos protestaram que seu país deveria fazer parte. Bem, talvez. Mas acrescentar um "M" às letras iniciais do Brasil, Rússia, Índia e China tornaria a sigla muito menos atraente (MBRICs? BRIMCs?). E o homem que inventou a sigla em 2001, Jim O'Neill da Goldman Sachs, disse que o México (junto com a Coreia do Sul) foi considerado, mas não se encaixava no grupo.
A inveja mexicana do Brasil está mais intensa do que nunca, como este colunista descobriu na semana passada na Cidade do México. Um líder empresarial disse que estava otimista sobre o futuro econômico, mas isso porque "eu escolhi ser assim, por não ter alternativa -- e, além disso, o próximo ano não pode ser pior que este, pode?" Outros pareciam preocupados, prevendo vários anos difícies adiante.
A economia mexicana foi atingida fortemente pela crise que se seguiu ao colapso da Lehman Brothers no ano passado. A economia do Brasil sofreu bem menos -- e já está acelerando de volta, em forte contraste com a do México. Isso é simbolizado pela força do mercado de ações do Brasil. Na semana passada o Santander, banco espanhol, levantou 7 bilhões de dólares vendendo ações de sua subsidiária brasileira, a maior oferta de ações que o país já viu. Em junho a oferta pública inicial (IPO) da Visanet, uma empresa brasileira de cartões de crédito, levantou quase 5 bilhões de dólares, e há várias outras grandes ofertas locais a caminho. Por contraste, o IPO mais recente do México foi em junho de 2008.
Parte do problema do México, especialmente depois da criação da Área de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), é que o país se especializou crescentemente em fazer coisas baratas para exportar para os Estados Unidos, uma estratégtia que parece menos brilhante agora que os consumidores americanos estão em greve. Enquanto isso, o Brasil rico em commodities se beneficia das exportações para a China, que compensa as exportações mais fracas para os Estados Unidos com uma escalada de gastos domésticos que, entre outras coisas, requer a importação de muitos materiais para construir nova infraestrutura.
Mas essa não é nem de longe a única diferença entre as duas economias. O México recentemente foi praguejado por sérias gafes de gerenciamento. A Cemex, uma empresa de cimento que até recentemente era um exemplo da tendência de multinacionais que emergiam nas economias em desenvolvimento, está sofrendo séria indigestão depois de emprestar pesadamente para fazer aquisições estrangeiras no pico do mercado.
A Comercial Mexicana, a terceira maior empresa varejista do país, perdeu uma fortuna depois de apostar contra o dólar quando o dólar subiu durante a crise financeira. Isso deu oportunidade ao Wal Mar, o varejista americano que é líder de mercado no México. O Wal Mart tirou proveito da fraqueza do rival com uma expansão rápida, abrindo algumas centenas de novas lojas no país este ano. O único outro negócio com tamanha ambição no México no momento é o império de Carlos Slim, o magnata das telecoms, que está ocupado se expandindo durante a crise. Mais sucesso para o poderoso sr. Slim -- agora talvez o homem mais rico da terra -- é considerado mesmo pelos mexicanos um benção duvidosa.
Os empresários mexicanos também estão deprimidos pelos crescentes riscos à sua própria segurança. A violência está aumentando no país no momento em que o governo enfrenta os cartéis ilegais de drogas, levando os grupos a retaliar pesadamente. O México está no topo da lista dos países onde há risco de sequestro. O crime nas cidades do Brasil também é sério, mas não parece se tornar notavelmente pior.
Aos olhos dos empresários a falta de sucesso do governo do México contra o crime organizado se compara ao fracasso para reformar a economia. Embora alguns homens de negócios estejam contentes com o fato de que a economia mexicana é dominada por um grupo pequeno e poderoso, muitos acham que a falta de competição é um problema sério. Muitos lamentam o fracasso do governo em reformar o monopólio do petróleo e gás, da Pemex, que continua em decadência no momento em que as reservas do Brasil e sua empresa estatal, a Petrobras, decolam. Também preocupante é o lento progresso para reformar o sistema tributário. O México tem uma das piores taxas de coleta de impostos/PIB, o que faz com que o governo não tenha fundos para fazer o que se espera dele.
Os empreendedores brasileiros descobriram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu Partido dos Trabalhadores eram muito menos hostis em relação aos negócios no governo do que quando estavam na oposição. O sucessor mais provável de Lula nas eleições do ano que vem é uma figura experiente do amigável-dos- negócios Social Democratas, que em sua última passagem pela presidência aprovou reformas que assentaram as fundações para o recente crescimento forte do Brasil.
No México, a julgar pelo humor na conferência da Economist na Cidade do México, os empresários acreditam que o presidente Felipe Calderón poderá frustrar a comunidade de negócios, ainda assim mostram pouco entusiasmo pelo favorito para sucedê-lo, o governador-namorado r-de- estrelas-de- telenovelas do estado do México, Enrique Peña Nieto. Mas pelo menos eles se confortam com o fato de que o candidato da esquerda dura, Andrés Manuel López Obrador, que quase derrotou o sr. Calderón para a presidência três anos atrás, está mal nas pesquisas.
Os empresários mexicanos temem que seu presidente, depois da derrota em recentes eleições parlamentares, pode passar os próximos três anos enfraquecido. A esperança é que, vendo que as coisas estão ruins, o sr. Calderón pode ser provocado a embarcar nas reformas fundamentais das quais a economia mexicana precisa tanto. Sob essa luz, o que poderia ser mais encorajador que a decisão do governo de, em 12 de outubro, enfrentar um dos sindicatos mais poderosos do país ao fechar uma grande empresa estatal de fornecimento de energia? Se ele vencer essa batalha, talvez os empresários mexicanos possam começar a acreditar que seu governo fará o que é preciso para tornar o México mais competitivo que seu grande rival ao sul. Se não, novas trevas e perdições vão se seguir.
Nota do Viomundo: O Viomundo tem memória de elefante. O Viomundo se lembra muito bem quando a TV Globo mandava repórteres ao Chile para dizer que lá, sim, estava o paraíso capitalista. O Viomundo se lembra muito bem quando a revista Veja mandava repórteres ao México para dizer que lá, sim, estava o futuro da América Latina. O Viomundo é suficientemente informado para declarar que o texto acima é um primor de desfaçatez, ao atribuir os problemas do México a mau gerenciamento de algumas empresas privadas. O México está nessa pindaíba por ter acoplado sua economia à dos Estados Unidos, como fornecedor de mão de obra barata. O México está nessa pindaíba por ter promovido privatizações que concentraram o controle da economia na mão dos amigos do rei. Se o México fizer o que o autor do Economist sugere, "aprofundar" o estado mínimo, o México vai implodir. O México precisa desesperadamente de um mercado interno, mas promover um mercado interno no México atrelado ao NAFTA implica em perder a vantagem competitiva que sobrou ao país: mão de obra barata para produzir as mercadorias que os americanos agora não querem comprar. Quando é que os neocons vão admitir que a política de distribuição de renda -- no Brasil, via salário mínimo e Bolsa Família -- foram responsáveis por fortalecer o mercado interno, que ajudou a salvou o Brasil na crise? Podem esperar sentados. Eles ainda vão culpar o Obrador pela atual crise do México. Ou o Lula.

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